[#LeiaNacional] Entrevista com Alex Adrade, autor de ❝Para os que ficam❞


  1. Apresentação:


Meu nome é Alex Andrade e sou escritor. Desde criança, sempre fui um grande ouvinte de histórias. Quando finalmente aprendi a ler, devorava todos os livros que eu conseguia. Foi minha mãe quem mais incentivou essa paixão por contar histórias. Ela comprava aquelas enciclopédias que se vendiam na porta de casa naquela época e, entre essas enciclopédias, havia uma em especial que trazia poesias de Fernando Pessoa e Camões, o que me deixou louco. A escola também foi fundamental na minha formação como leitor, escritor e ser humano. As professoras de redação e português indicavam livros e foi assim que conheci a série Para gostar de ler e Vaga-lume. Estes livros me apaixonaram e me trouxeram contatos com grandes autores brasileiros e portugueses, como Clarice Lispector, Murilo Rubião, Drummond, Aníbal Machado, Lygia Fagundes Telles, entre outros. Desde então, meu amor e fascínio por contar histórias é cada vez maior.


  1. Há quanto tempo você escreve, como começou?



Escrevo desde cedo. Na época de escola fazia livros com cadernos, criava capa, titulo e até nome de editora e emprestava para os amigos lerem. Acho que estava ensaiando um futuro. Hoje tenho 13 livros publicados, entre literatura para crianças e literatura adulta.



  1. Você teria algum segredo de escrita? Algo que faça com que você se sinta inspirada/o antes de iniciar um novo livro?



Não tenho segredo e nem fórmula. Escrevo quando sinto vontade e quando tenho tempo. É um exercício prazeroso, mas que me tira do sério às vezes. Ouço música, a música me inspira, gosto de ir ao teatro, teatro me acende. E cinema! Cinema abre muitos leques.


  1. Quais foram suas principais referências na literatura, arte e/ou cinema?


Muitas referências!


Clarice Lispector, Pessoa, Fellini, Truffaut, Villa Lobos, Chopin, James Joyce, esses são alguns.


  1. Qual foi seu trabalho mais desafiador até hoje em relação à escrita?


Escrever. Escrever sempre é um desafio, seja qualquer livro, tanto os livros dedicados às crianças quanto os para o público adulto. Não há como negar que a escrita é estimulante e perigosa e essa inconstância faz o exercício se tornar pleno e desafiador.


  1. Qual a parte mais difícil de se escrever um livro?


Acho que é por onde começar. O começo te joga no meio de um turbilhão de vazios e de imagens também. Muita coisa pode acontecer dependendo de como você inicia a história, os caminhos, as estruturas, a forma como você se encaminha para os outros olhares.



  1. Qual foi seu primeiro livro, o que pensou ao iniciar sua escrita? o que te incentivou?


Meu primeiro livro publicado foi um livro de contos, A suspeita da imperfeição. Eu já vinha treinando esse momento com os livros caseiros, certo? Então quando veio a oportunidade, me lancei sem medo. E o incentivo veio de tantas histórias ouvidas, lidas, vividas.



  1. Tem algum personagem que você tenha criado ao qual foi difícil desapegar?


Ah, sim! Ultimamente vivo apegado a Ana do meu último livro, o romance Para os que ficam editado pela Confraria do Vento em 2022.


  1. Quais são suas principais referências literárias na hora de escrever?


Geralmente uso a memória afetiva. Os livros que li, são as escritoras que admiro e li, são tantas referências.


Capa do livro para os que ficam, Alex Andrade / foto: colagem digital / post literal

  1. Você teria algum segredo de escrita? Algo que faça com que você se sinta inspirada/o antes de iniciar a escrita de um novo livro?


Observar o mundo. As histórias das pessoas. Cada um é único e carrega consigo histórias jamais compartilhadas. Fico olhando pela janela do carro, pela rua olho as janelas dos edifícios, cada historinha que tem em cada canto. Um morador de rua, um vendedor. Quantos mistérios cada um de nós carregamos? Isso me inspira profundamente.


  1. Você reúne notas, anotações, músicas, filmes e/ou fotografias para se inspirar durante a escrita?


Eu as guardo comigo, na memória. As nuances, às vezes uma frase ouvida, ou uma notícia na televisão. Quase não anoto em papel, ficam registradas aqui na cabeça mesmo.


12. O que você faz para driblar a ausência de criatividade que bate e trava alguns momentos da escrita? Existe algo que você faça para impedir ou driblar estes momentos?


Eu respeito esse momento.


Não há muito o que fazer. Uma hora a inspiração vem e a gente vai às forras.


13. A maioria dos autores possuem contatos e amigos de confiança para mostrar o progresso do seu trabalho durante o percurso da escrita. Você teria um time de “leitores beta”, para analisar seu livro antes de prosseguir com a escrita?


Sim, sempre! É de suma importância que esses amigos, parceiros estejam disponíveis para ler, analisar, dar um feedback. E eu me apoio na opinião de cada um deles.


Capa do livro as horas, Alex Andrade / foto: colagem digital / post literal


14. Qual a parte mais complicada durante a escrita?


Manter o foco. Hoje em dia com o advento da tecnologia, que muitas vezes nos auxilia também, mas, pode nos distrair. E é por isso que é importante ter foco.


15. Você prefere escrever diversas páginas por dia durante longas jornadas de escrita ou escrever um pouco todos os dias? O que funciona melhor para você?


Escrever um pouco todos os dias. Mas como disse anteriormente, não me desgasto, escrevo quando sinto vontade.



16. Em relação ao mercado literário atual: o que você acha que deve melhorar?

O acesso das editoras independentes ao mercado literário, as livrarias. É certo que os prêmios já estão bem adaptados, muitas obras de autores independentes ganharam prêmios importantes e isso é um avanço para que cada vez mais escritores possam chegar mais perto da realidade do mercado literário.



17. A maioria das pessoas não conseguem se manter ativas em vários projetos, como funciona para você, você escreve vários rascunhos de diferentes obras ou se mantém até o final durante o processo de um único livro?

Eu me dedico a uma obra. Escrever é um exercício tão meticuloso e solitário que nem mesmo a escrita dá pra ser dividida em duas ou sei lá quantas obras.



18. O que motiva você a continuar escrevendo?


Me sentir vivo. Eu escrevo porque sei que a vida é passageira e isso de escrever me faz me sentir vivo, as emoções, as características das personagens, tem um furacão ativo quando escrevo.


Capa do livro poemas, Alex Andrade / foto: colagem digital / post literal


19. Que conselho você daria para quem está começando agora?

Leia. Leia muito. Principalmente os clássicos e também a literatura contemporânea. E escreva. Rabisque, experimente, não tenha medo.



20. Para você, qual o maior desafio para um autor/a no cenário atual? Você tem algum hábito ou rotina de escrita?

Se manter no mercado literário. Tem muita gente boa surgindo. E quanto ao hábito ou rotina de escrita, não. Eu apenas sento e escrevo.



21. Como você enxerga o cenário literário atual e a recepção dos leitores da atualidade em relação aos novos autores?

Ainda observando. Muitos leitores se mostram interessados, mas poucos consomem. Um lançamento de livro de autor independente vão os 6 amigos e a família. Mas a gente consegue virar esse jogo.



22. Se pudesse indicar quatro obras literárias que te inspiraram, quais seriam?

A legião estrangeira – Clarice Lispector


O triste fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto


Toda poesia do Fernando Pessoa


Ciranda de pedra – Cecília Meireles


Capa do livro para os que ficam, Alex Andrade / foto: colagem digital / post literal



23. O que esperar para o ano de 2023 em relação à sua escrita?

Muita coisa. Acabei de lançar o meu décimo terceiro livro, dessa vez o infanto-juvenil A menina que entrou na história editado pela Quase Oito editora que saiu em janeiro de 2203. Estou ainda trabalhando com o lançamento do romance Para os que ficam que foi publicado em 2022 e estou escrevendo um livro infantojuvenil novamente e preparando um novo romance para 2024. Fora os projetos literários que estou envolvido .


Resenha: O segredo da alegria, de Alice Walker

Apresentação:O segredo da alegria apresenta a história de vida de Tashi, heroína africana cindida entre a imposição da tradição e a felicidade de descobrir-se sujeito da própria vida. Aqui, Alice Walker, ganhadora do Prêmio Pulitzer e do American Book Awards por A cor púrpura, presenteia o público, mais uma vez, com o seu dom e coragem de narrar histórias de violência e bravura de maneira fascinante.

Tashi tem sua primeira aparição em A cor púrpura, representando o povo (ficcional) Olinka. A força da personagem foi tão intensa que impeliu a autora a explorar seu universo em outro livro. Aqui, a história de Tashi não é uma continuação do primeiro romance, mas uma novela própria. Criada na África e posteriormente levada para os Estados Unidos, seu desejo de honrar as tradições faz com que buscasse a prática da mutilação genital feminina. A escolha corajosa, no entanto, revela o início de um doloroso processo físico e psíquico que irá envolver todos aqueles tocados por sua trajetória – até mesmo o célebre psicanalista Carl G. Jung. Os caminhos tortuosos da mente de Tashi serão responsáveis por levar as personagens e seus leitores e leitoras por uma batalha representativa até o mito de origem da opressão das mulheres.

Em O segredo da alegria Alice Walker dá mais uma prova do poder da ficção em fascinar e revelar a todos nós um pouco do mistério da resistência e da felicidade frente a opressão e a angústia.


RESENHA



O segredo da alegria é uma obra de ficção escrita pela autora americana Alice Walker, autora do Best-Seller a cor púrpura. A obra conta a vida de Tashi, uma mulher afriana da tribo dos Olinkan que sofre de problemas mentais e se casa com o americano Adam, com quem muda-se para viver no Ocidente, o que a faz não se reconhecer pela dualidade de culturas que experiencia: ocidente e oriente. Tashi possui um bom relacionamento com Olivia, irmã de Adam, à quem está sempre próxima aconselhando, ouvindo e dando respaldo às decisões de Tashi. 

A irmã de Tashi, dura, morrera durante um procedimento de mutilação genital na aldeia, o que deixa Tashi com cicratizes profundas e dores incomensuráveis.


Não sabíamos que uma das irmãs de Tashi havia morrido na manhã em que chegamos à aldeia. Seu nome era Dura, e ela havia sangrado até a morte. Isso foi tudo o que disseram a Tashi; tudo o que ela sabia [...] (p.218)


A dor começa se intensificar, quando, Tashi vê-se proibida de falar da irmã ou chorar sua perda. A tribo acreditava que receber visitantes estrangeiros com choro, tristeza ou qualquer sentimento negativo ocasionava em azar. O não cumprimento acarretaria em isolamento social por longo períodos.


Como eu poderia acreditar que aquelas eram as mesmas mulheres que havia conhecido a vida inteira? [...] Era um pesadelo. De repente, era proibido falar de minha irmã. Ou chorar por ela. (p.264)


Após o casamento e mudança de país, Tashi conversa com Olivia sobre passar pelo procedimento de mutilação genital, o que claro, Olivia se opõe:


Olivia implorou que eu não fosse. Mas ela não entendia [...] só não faça isso consigo mesma, por favor, Tashi. (p.326)


Após a falha no procedimento, Tashi passa a não se reconhecer e mudar radicalmente. Antes, ela era vista como uma mulher alegre e repleta de causos e sorrisos, mas agora sua luz se apagou. Tempos depois, Tashi engravida, mas devido à um erro médico, seu filho nasce com problemas mentais e deformações no crânio, seu nome? Benny.


O obstetra quebrou dois instrumentos na tentativa de fazer uma abertura grande o suficiente para a cabeça de Benny [...] sua cabeça era amarela e azul, e totalmente deformada (p.624)


Tashi começa a sofrer com problemas em sua relação, devido ao procedimento mal feito em seu corpo, não conseguindo sequer ser tocada por seu marido, Adam.


Toda vez que me tocava, eu sangrava. Toda vez que se movia em minha direção, eu estremecia. Não havia nada que ele pudesse fazer comigo que não machucasse (p. 635)



Tashi passa por inúmeros problemas, até começar a se tratar com diversos psicólogo e terapeutas, o que acaba não funcionando muito bem. A união da perda da irmã, com o procedimento mal sucedido, o casamento ruim, o relacionamento com suas raízes culturais enfraquecidos, os problemas mentais e o filho com retardado enfraquecem muito Tashi, que agora vê toda sua alegria transforma-se em raiva, o que a faz retornar para tribo Olinkan em busca de M.Lissa, a curandeira responsável pelos procedimentos de mutilação na aldeia, buscando por vingança.


A obra é dividida em vinte capítulos com descrições elaboradas por Tashi, Olivia, Adam e por Evelyn (nome de casada de Tashi), as vezes por Tashi e Evelyn ou por Tashi Evelyn.


O livro é um retrato dolorido e difícil de se ler, a obra conta com descrições precisas de momentos dolorosos e tristes vividos pela personagem. Seus medos e angústias podem ser sentidos a cada novo folhear de páginas, sobretudo, se levarmos em consideração o tema árduo e difícil compreensão como a mutilação genital como instrumento de contenção feminina disfarçado de cultura, apenas como uma ferramenta machista de frear o poder da mulher por meio de ações que mitigam ou acabem com a segurança e direitos da mulher.


Um livro indicado para todo leitor ávido, fã de um bom livro e um roteiro. Alice Walker novamente acerta-nos de modo certeiro ao nos convidar pra conhecer sua nova obra magistral.



A AUTORA

Alice Walker, uma das mais proeminentes escritoras dos Estados Unidos, é uma premiada autora de romances, contos, ensaios e poesia. Em 1983, Walker se tornou a primeira mulher afro-americana a ganhar um Prêmio Pulitzer de ficção com seu romance The Color Purple , que também ganhou o National Book Award. Seus outros livros incluem The Third Life of Grange Copeland , Meridian , The Temple of My Familiar e Possuindo o Segredo da Alegria . Em sua vida pública, Walker trabalhou para resolver problemas de injustiça, desigualdade e pobreza como ativista, professora e intelectual pública.
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