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Resenha: Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras, de Rodrigo llari

Foto: Arte digital / Divulgação

 

APRESENTAÇÃO

Em um livro lúdico - e valendo-se da experiência e da qualidade de trabalho desenvolvido como um dos maiores linguístas brasileiros da atualidade - Rodolfo Ilari apresenta-nos uma grande obra sobre as possibilidades de estudo das palavras no português do brasileiro. Mais do que isso: Ilari nos faz percorrer o caminho do jogo, perceber nas construções mais cotidianas (como a piada entre amigos ou o jogos de adivinha) os mecanismos de que o falante se utiliza na construção da linguagem. Homônimos, sinônimos, antônimos, ambiguidades e anglicismos são alguns dos assuntos abordados nesta obra fundamental para alunos de Letras, professores de Português e demais interessados em compreender nossa língua mais a fundo.


RESENHA


O livro "Introdução ao estudo do léxico - brincando com as palavras" de Rodolfo Ilari aborda a importância das palavras na construção de mensagens linguísticas com foco no significado. O autor, conhecido por sua expertise na linguagem, conduz os leitores a uma reflexão sobre a linguagem, visando preparar futuros professores para ensinarem de forma crítica e independente. Ilari destaca-se pela profundidade de seus conhecimentos, versatilidade na ciência da linguagem e preocupação com o ensino de língua e formação de professores. O livro é um guia essencial para quem busca compreender e ensinar a linguagem de forma eficaz.


Em 'ambiguidade', o autor aborda a ambiguidade na linguagem, que consiste na característica das sentenças que apresentam mais de um sentido. São mostrados diversos fatores linguísticos que podem gerar ambiguidades, como a possibilidade de uma sentença ter duas análises sintáticas diferentes, um pronome com dois antecedentes, uma palavra com dois sentidos diferentes, um mesmo operador aplicado de duas maneiras diferentes, entre outros. Além disso, a ambiguidade também pode decorrer da dificuldade em discernir se as palavras foram utilizadas de forma literal ou indireta. O texto propõe um teste para identificar a ambiguidade em sentenças e apresenta exemplos de manchetes de jornais ambíguas. A atividade proposta é relatar um caso de interpretação equivocada de uma informação ou ordem, e é sugerida uma série de exercícios para analisar a ambiguidade em manchetes de jornais.


Em 'anglicismo', aborda o fenômeno dos anglicismos no português do Brasil, que são palavras e construções gramaticais que foram incorporadas do inglês ao longo do tempo. Essa incorporação acompanha a assimilação de artefatos, tecnologias e hábitos que esses termos nomeiam. Muitas palavras foram recebidas do inglês nos séculos XIX e XX, especialmente ligadas ao vestuário, comércio, esporte, cinema e tecnologia. Um exemplo é a informática, que trouxe uma grande quantidade de anglicismos para o português do Brasil. O texto também apresenta exercícios para identificar e compreender o significado de anglicismos em diversas áreas, como política, esporte e produção. Além disso, explora a origem e curiosidades de palavras inglesas incorporadas à língua portuguesa.


No capítulo 'antonímia',  o autor explica que antonímia é a exploração de palavras e frases que podem ser colocadas em oposição, com o objetivo de enriquecer a reflexão e a expressão. Antônimos são palavras que se referem a realidades opostas, como ações, qualidades, relações, entre outros. Essas oposições podem ter fundamentos diferentes, como diferentes posições numa mesma escala, início e fim de um mesmo processo ou diferentes papéis numa mesma ação. A antonímia pode ser encontrada em substantivos, adjetivos, verbos, advérbios, preposições, entre outros. Além disso, textos podem construir oposições entre palavras e expressões que não consideramos como antônimas. Atividades e exercícios são propostos para explorar esse recurso na linguagem.


O capítulo 'arcaísmo', somos levados à compreensão de que são expressões que caíram em desuso na língua, refletindo um estado mais antigo. Podem ser encontrados em diversos domínios da língua, como no vocabulário, morfologia e sintaxe. O uso de arcaísmos é mais comum na literatura e em autores que fazem do arcaísmo um recurso de estilo. Palavras e construções se tornam arcaicas devido a objetos, técnicas e hábitos em desuso, ou pela perda de ligação com outras palavras de origem comum. Exemplos de arcaísmos incluem expressões como "senhor" em substituição a "senhora", ou a palavra "dulcidão" em vez de "doçura". Além disso, foi apresentado um trecho de uma carta do século XVIII como exemplo de arcaísmos e foram propostos exercícios para identificar e compreender o uso de arcaísmos.


Foto: Arte digital / Divulgação


No capítulo 'campos lexicais', o autor esclarece que campos lexicais são conjuntos de palavras que nomeiam experiências semelhantes, como cores ou animais. A organização desses campos pode ser feita por meio da análise componencial, que quebra a significação das palavras em unidades menores, ou pela análise por protótipos, identificando indivíduos representativos da categoria. Exercícios propostos envolvem a aplicação desses conceitos, como associar marcas a produtos, distinguir palavras com traços específicos, e criar gráficos ou diagramas com palavras relacionadas. Além disso, é discutida a relação entre antigos fabricantes e marcas após fusões de empresas.


Em '(In-) compatibilidades entre partes de uma sentença',  aborda as incompatibilidades entre as partes de uma sentença, tanto no aspecto linguístico quanto no prático. São apresentados exemplos de combinações de palavras que causam estranheza ou não fazem sentido, devido às restrições de seleção lingüística. Além disso, são propostos exercícios práticos para identificar e compreender essas incompatibilidades, como completar frases corretamente, identificar coletivos, interpretar anúncios imobiliários e analisar diálogos que apresentam equívocos de entendimento. Através dessas atividades, mostra-se a importância de compreender as restrições de seleção nas sentenças para uma comunicação eficaz.


Em  'definições',  aborda a importância de formular definições claras e corretas, destacando os defeitos mais comuns encontrados nesse tipo de texto. Ele mostra exemplos de definições bem formuladas e ressalta que uma boa definição ajuda a aumentar o vocabulário, eliminar ambiguidades e tornar preciso o uso de palavras vagas. São apresentadas características do que uma boa definição não deve ser, como uma simples enumeração de exemplos, definições circulares, obscuras, amplas, estreitas, figuradas, negativas e atividade de resolução de exercícios sobre definições.


Em 'Distribuição: os constituintes da oração',  aborda a distribuição dos constituintes da oração, destacando a importância da combinação de palavras de acordo com esquemas sintáticos conhecidos intuitivamente pelos falantes da língua. São apresentadas noções como oração bem formada, distribuição e constituinte, ilustradas com exemplos. São propostos exercícios para prática e análise da distribuição dos constituintes em frases, bem como sugestões de atividades e testes para aplicação prática dos conceitos apresentados.


Em 'estrangeirismos', explica que estrangeirismos são palavras ou expressões de outras línguas que são incorporadas ao português ao longo da sua história. Essa influência linguística enriquece a língua, mas também gera polêmicas e debates sobre a preservação do idioma. O uso de estrangeirismos é visto como uma forma de enriquecimento, mas também pode ser considerado um vício de linguagem. Além disso, existem projetos de lei, como o Projeto de Lei No 1676/99, que buscam regular o uso de palavras estrangeiras no Brasil. Argumentos contrários ao uso excessivo de estrangeirismos incluem a proteção da integridade da língua e a valorização do idioma nacional.


Em 'etimologia', o autor esclarece que etimologia é o estudo da origem das palavras e pode ser científica ou popular. A etimologia científica investiga a origem das palavras de forma histórica, mostrando a continuidade entre a forma e o sentido atual das palavras e suas formas mais antigas. Já a etimologia popular é uma prática não científica onde as pessoas modificam as palavras para explicar sua significação. A língua portuguesa no Brasil possui palavras de várias origens, como latina, grega, germânica, árabe, indígena e africana, além de palavras emprestadas de outras línguas ao longo dos séculos. A formação de novas palavras a partir de palavras pré-existentes na língua é um mecanismo importante na evolução da língua. Diversos exercícios são propostos para explorar a etimologia e a formação de palavras.


Em 'flexão nominal',  aborda a flexão nominal, que engloba variações de gênero, número e grau em substantivos e adjetivos. São apresentados exemplos de flexões e atividades para refletir sobre o tema, como a formação do feminino de palavras, o uso de adjetivos no comparativo e superlativo, e a intensificação de adjetivos. Também é discutida a diferença entre o uso genérico e específico do singular em manchetes de jornais.


Em 'Formação de palavras novas e sentidos novos na língua',  discute os principais processos de formação de palavras na língua portuguesa, como a sufixação, a prefixação e a composição. Ele também destaca a criação de novos sentidos para palavras já existentes. São apresentados exemplos de palavras formadas por esses processos, assim como atividades e exercícios para explorar a criação de novas palavras e significados na língua. Além disso, são mencionados neologismos que surgiram nos últimos anos.


Em 'Homonímia',  trata da homonímia, que são palavras que se pronunciam da mesma maneira, mas têm significados distintos. Exemplos dados incluem palavras que pertencem a classes gramaticais diferentes e palavras que se escrevem de maneiras diferentes. Apesar de causar ambiguidade, o contexto geralmente elimina as dúvidas causadas pela homonímia. O texto também apresenta atividades para identificar palavras de duplo sentido e explorar piadas e brincadeiras que utilizam a homonímia. Por fim, inclui um exercício que exemplifica como a interpretação de uma pergunta pode variar de acordo com o sentido de uma palavra.


Em 'Motivação icônica',  discute a motivação icônica na linguagem, que se baseia na relação entre forma e sentido. São apresentados exemplos de como essa motivação é utilizada na comunicação, como na onomatopeia, na ordem do texto e na proximidade das formas. Um experimento realizado por um psicolinguista é descrito para exemplificar como a linguagem pode ser intrinsecamente motivada. São propostos exercícios para explorar a motivação icônica na linguagem, como identificar nomes de pássaros que imitam a voz do próprio pássaro e analisar a representação de diferentes ruídos e sons na linguagem. O texto também discute a distinção entre onomatopeia primária e secundária, citando exemplos de como a linguagem pode ser icônica e simbólica em diferentes idiomas.


Em 'Nexos entre orações',  discute a possibilidade de estabelecer nexos entre orações para compreender melhor o papel das conjunções. Tradicionalmente, orações são descritas na sintaxe do período como coordenação e subordinação. São apresentados exemplos de conversão de orações em elementos substantivos, adjetivos e adjuntos. Além disso, são propostos exercícios práticos para identificar e analisar o uso de conjunções em diferentes contextos.


Em 'números',  aborda a importância dos números na nossa vida cotidiana, especialmente na linguagem. Os diferentes tipos de numerais são discutidos, assim como suas aplicações em diversas construções linguísticas. São propostos exercícios práticos para explorar a relação entre números e palavras, como analisar expressões que contêm numerais, realizar conversões de unidades de medida e refletir sobre o uso de numerais em diferentes contextos. O texto também destaca a presença de antigos numerais em formações linguísticas atuais e aborda a importância de interpretar corretamente informações numéricas em notícias e manchetes.


Em 'As palavras-pro', aborda o uso dos pronomes na língua portuguesa, questionando a ideia tradicional de que os pronomes "substituem" os nomes. Além disso, apresenta exemplos de diferentes usos dos pronomes, como identificar os participantes de um diálogo e funcionar como variáveis matemáticas. O texto também propõe atividades, como analisar diálogos e redigir regulamentos de jogos, que envolvem o uso correto dos pronomes na língua portuguesa.


Em 'Reconhecimento de formas de um mesmo paradigma flexional',  aborda a importância do reconhecimento de formas de um mesmo paradigma flexional, como verbos, substantivos e adjetivos, para fortalecer a noção de paradigma de conjugação. São apresentados exemplos de como identificar essas formas e exercícios para praticar esse reconhecimento, além de reflexões sobre a irregularidade da flexão, a utilização de adjetivos e verbos e a relação entre diferentes formas verbais. Diversos exemplos e atividades são propostos ao longo do texto para exemplificar e aprofundar o tema.


Em 'Polissemia',  aborda o conceito de polissemia, que se refere aos diferentes sentidos que uma mesma palavra pode assumir, tornando-a apta a ser utilizada em diferentes contextos. A polissemia é contrastada com a homonímia, pois para que haja polissemia é preciso que haja uma única palavra, enquanto a homonímia envolve mais de uma palavra. Além das palavras, a polissemia também afeta construções gramaticais. O texto apresenta exemplos de diferentes sentidos da palavra "velar" e propõe exercícios para explorar a diversidade de significados das palavras em diferentes contextos.


Em 'Predicados de predicados; predicados de eventos',  aborda a ideia de predicados de predicados e predicados de eventos, apresentando exemplos e diferentes formas de modificação dos predicados em uma frase. São discutidos também os diferentes tipos de advérbios, locuções adverbiais e verbos que podem ser utilizados para modificar predicados. Por fim, são propostos exercícios relacionados à aplicação dos conceitos discutidos no texto.


Em 'Sinonímia',  aborda a distinção entre substantivos contáveis e não-contáveis e explora o uso eficaz de ambos. Substantivos contáveis designam objetos discretos que podem ser contados no plural, enquanto os não-contáveis designam porções de substância que não são contáveis no plural. São fornecidos exercícios práticos para compreender essa distinção, como identificar palavras contáveis e não-contáveis em textos, completar frases com palavras adequadas do par, entre outros.


Em 'Sufixos', o autor esclarece que sufixos são unidades significativas adicionadas à direita de um radical para formar novas palavras. Existem diversos sufixos na língua portuguesa, como -ismo, -ista, -ando, -ento, -ável, -udo, entre outros. Eles podem ter mais de um sentido e são utilizados para formar palavras de classes específicas. Um exemplo é o sufixo -izar, que forma verbos transitivos a partir de substantivos e adjetivos. Alguns sufixos, como -ismo, -ista, -ável, podem indicar uma opinião negativa em certas palavras. Os sufixos não são aplicados aleatoriamente e cada um se aplica a palavras de uma classe determinada, criando palavras também de classes específicas.


Em 'termos genéricos e termos específicos',  discute a diferença entre termos genéricos e termos específicos, mostrando que os termos genéricos são mais abrangentes, enquanto os termos específicos são mais precisos. Ele exemplifica essa ideia com o uso de hipônimos e menciona a importância de usar termos específicos para fornecer mais informações sobre um objeto. Em seguida, propõe exercícios para praticar a distinção entre termos genéricos e específicos. Além disso, apresenta situações cotidianas em que o uso de termos genéricos pode gerar problemas de comunicação. Por fim, inclui uma anedota e uma questão de vestibular que abordam o tema.


Em 'Variação diastrática e de registro',  aborda a variação diastrática e de registro na linguagem, destacando a convivência de diferentes variedades linguísticas na sociedade brasileira e a influência de fatores como a educação formal e a informalidade da situação de fala. Apresenta características do português substandard, como a tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas, redução de ditongos, trocas de letras e o uso de formas específicas. Além disso, discute a importância do registro na linguagem, que varia conforme a situação de comunicação, como o número de participantes, formalidade, assunto e veículo de comunicação. Também menciona as linguagens próprias de grupos sociais, como gírias e expressões técnicas, e propõe atividades e exercícios para reflexão sobre essas questões.


O livro "Introdução ao estudo do léxico - brincando com as palavras" de Rodolfo Ilari é uma obra completa e essencial para quem deseja compreender de forma profunda a linguagem e o significado das palavras. O autor, com sua vasta experiência na área, conduz os leitores em uma jornada reflexiva sobre diversos aspectos da linguagem, preparando futuros professores de forma crítica e independente. Os capítulos abordam temas como ambiguidade, anglicismos, antonímia, arcaísmo, campos lexicais, incompatibilidades entre partes da sentença, entre outros, proporcionando uma visão abrangente e enriquecedora sobre o léxico. Os exemplos e exercícios propostos ao longo do livro são um grande diferencial, permitindo aos leitores uma compreensão prática e aprofundada dos conceitos apresentados. Em suma, o livro é uma fonte de conhecimento indispensável para quem busca aprimorar sua compreensão e ensino da linguagem de forma eficaz.

Resenha: O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos, de Rodrigo llari e Renato Basso

Foto: Arte digital / Divulgação


APRESENTAÇÃO

O português do Brasil é falado por mais de 170 milhões de pessoas em um imenso território, mas muita gente teima em afirmar que ele não existe, ou, pior, não deveria existir. Ilari e Basso, seguindo uma tradição iniciada nos anos 20 por Mário de Andrade e Amadeu Amaral, oferecem-nos, em O português da gente, um estudo da língua que nós falamos e que pouco a pouco vai conquistando seus direitos. Este é um livro para ler, estudar e discutir, na sala de aula e fora dela.

RESENHA

ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 151-196.

O livro 'o português da gente' aborda a língua portuguesa falada no Brasil, com o objetivo de apresentar informações sobre sua história, variedades e desmistificar preconceitos. Os autores enfatizam a importância de entender a variabilidade linguística como um fato natural. O conteúdo inclui exposições temáticas, encartes sobre variedades do português e uma cronologia de eventos relevantes para o desenvolvimento da língua no Brasil. O livro não busca impor respostas, mas sim propor boas perguntas para que os leitores possam aprofundar seu conhecimento sobre o assunto. É destinado a estudantes, professores e a todos que se interessam pela língua portuguesa.

O português foi implantado no Brasil pela colonização portuguesa, que começou com o descobrimento da terra por Pedro Álvares Cabral em 1500. As origens da língua remontam ao ano 1000, com a formação da nação portuguesa e o desenvolvimento de uma língua própria. A língua portuguesa deriva do latim vulgar, que foi uma variedade falada do latim romano durante o Império Romano. Os movimentos de Reconquista na Península Ibérica também tiveram influência na diferenciação do português e na expansão da língua para o Brasil. A convivência entre árabes e cristãos também influenciou a língua, resultando em palavras de origem árabe presentes no português. Ao longo dos séculos, a língua portuguesa se desenvolveu e se diferenciou em relação às outras línguas românicas, mantendo sua identidade e riqueza linguística.


Foto: Arte digital / Divulgação



O português chegou ao Brasil no século XVI e se expandiu ao longo dos séculos através da ocupação territorial, incorporando novas regiões ao país. A formação do território nacional foi marcada por ciclos econômicos e movimentos de exploração e colonização. A expansão territorial do português resultou na formação do maior país de língua portuguesa em extensão territorial e número de falantes. O processo de ocupação foi feito por um português marcado por influências de línguas indígenas e africanas, resultando na difusão de línguas como o nheengatu. As disputas territoriais na região sul do Brasil e mudanças de mãos de cidades e regiões resultaram em situações linguísticas complexas. O Tratado de Madri dividiu a região dos rios Uruguai e Prata entre Portugal e Espanha, culminando nas Guerras Guaraníticas. Na Amazônia, a aquisição do Acre foi marcada pela construção da ferrovia Madeira-Mamoré, envolvendo trabalhadores de diversas origens linguísticas.

O autor também discute algumas características do português brasileiro, destacando diferenças em relação ao português europeu. Aponta que o português do Brasil é considerado uma "língua mais antiga" do que o português europeu, através de análises filológicas. O texto também aborda a influência de diferentes pronúncias e construções sintáticas, além de características fonéticas e fonológicas específicas do português brasileiro. Também explora as flexões dos verbos e dos nomes na língua, apontando diferenciações em relação às demais línguas românicas e a presença de algumas irregularidades linguísticas.

O capítulo que mais me chamou atenção foi Português do Brasil: a variação que vemos e a variação que esquecemos de ver,  abordando a variação linguística do português do Brasil, destacando a existência de nacionalismo na afirmação da uniformidade da língua, mas ressaltando que a variação é um fenômeno normal. São apresentadas as variações diacrônica, diatópica e diastrática da língua, enfatizando que o português brasileiro não é uniforme. São citados exemplos de variação diatópica do português brasileiro, mostrando a influência das migrações internas no país. Há também a análise de anúncios do século XIX, evidenciando as mudanças linguísticas ao longo do tempo.

Já em Linguística do português e ensino,  aborda a relação entre a linguística do português e o ensino da língua materna, destacando a importância da estandardização e da fixação de uma norma para a estabilidade da língua. Fala-se também sobre a ortografia do português ao longo da história, destacando os processos de evolução e as reformas ortográficas. Além disso, são abordados o papel dos lexicógrafos na fixação da língua, a importância dos dicionários na normatização do vocabulário e a história da lexicologia do português, com destaque para autores brasileiros. É destacada a importância da ortografia, do dicionário e do registro civil das palavras na normalização da língua portuguesa.

Em síntese, o livro aborda a evolução do português, desde sua origem em Portugal até sua chegada ao Brasil, destacando a influência de diferentes povos na formação do português brasileiro. Discute também a coexistência de duas normas linguísticas, a culta e a substandard, e questiona a abordagem da escola em relação a essa última. Destaca a importância de compreender e valorizar a diversidade linguística, além de combater o preconceito linguístico e promover a inclusão social. O livro enfatiza a importância de amar, conhecer e estudar o português brasileiro, buscando compreender sua história e sua diversidade, em vez de simplesmente impor regras e correções. O livro "O Português da Gente" é uma obra extremamente relevante e esclarecedora sobre a língua portuguesa falada no Brasil. Os autores conseguem apresentar de forma clara e acessível informações sobre a história e as variedades linguísticas do português brasileiro, desmistificando preconceitos e enfatizando a importância de compreender a variabilidade linguística como algo natural. Além disso, o livro propõe boas perguntas aos leitores, estimulando o aprofundamento do conhecimento sobre o assunto. Destinado a estudantes, professores e a todos que se interessam pela língua portuguesa, a obra é fundamental para ampliar a compreensão da riqueza linguística do país. Em suma, "O Português da Gente" é uma leitura enriquecedora e esclarecedora, que contribui significativamente para a valorização e o entendimento do português brasileiro.

Resenha: A linguística hoje: Múltiplos domínios, contexto e paradigmas, org. Gabriel Ávila Othero e Valdir do Nascimento Flores

Foto: Arte digital / divulgação

APRESENTAÇÃO

A linguística é um campo amplo e complexo. Mesmo com o interesse comum pela linguagem humana, não existe uma única maneira de se fazer linguística. Os objetos de estudo e as perspectivas escolhidas para abordá-los são muito diversos. Esta obra, escrita principalmente para estudantes da área, traz um panorama inédito, atual e abrangente da linguística contemporânea. De caráter introdutório, o volume está organizado de modo a abarcar todos os grandes vieses de investigação (o social, o biológico, o formal, o cultural, o tecnológico, o aplicado etc.). Os capítulos, escritos por especialistas, apresentam de forma didática cada um dos domínios: da geolinguística à linguística forense, da linguística computacional à neurolinguística, entre outros.

Autores: Alena CiullaAna Suelly Arruda Câmara CabralAniela Improta FrançaCarlos PiovezaniCarmen Rosa Caldas-CoulthardCléo Vilson AltenhofenEduardo KenedyElisa BattistiIngrid FingerLeonel Figueiredo de AlencarLilian FerrariMarilisa ShimazumiSanderson Castro Soares de OliveiraSimone SarmentoSimone Vieira ResendeSírio Possenti e Tony Berber-Sardinha

RESENHA

A linguística hoje: Múltiplos domínios, contexto e paradigmas é um livro de estudos linguísticos organizados por Gabriel Ávila Othero e Valdir do Nascimento Flores, que conta com contribuições dos autores Alena CiullaAna Suelly Arruda Câmara CabralAniela Improta FrançaCarlos PiovezaniCarmen Rosa Caldas-CoulthardCléo Vilson AltenhofenEduardo KenedyElisa BattistiIngrid FingerLeonel Figueiredo de AlencarLilian FerrariMarilisa ShimazumiSanderson Castro Soares de OliveiraSimone SarmentoSimone Vieira ResendeSírio Possenti e Tony Berber-Sardinha. A obra é o segundo de dois volumes publicados que se propõe à apresentar o panorama atual do campo disciplinar linguística, sendo o segundo a obra A linguística hoje: historicidade e generalidade.

No contexto da atual heterogeneidade da linguística, diversas questões emergem sobre as teorias, métodos, escolas de pensamento, autores e interfaces disciplinares presentes na área. A principal indagação é se há algo capaz de unificar a linguística de forma que o uso do artigo definido "a" indique uma expressão referencial definida. Contudo, a busca por essa unificação esbarra na diversidade de opiniões sobre o objeto e a configuração científica do campo. No livro "Conceitos básicos de linguística" (Battisti, Othero e Flores, 2022), os autores enfatizam a complexidade do tema e, baseando-se em Saussure, defendem a existência de linguísticas no plural, cada uma com seus próprios objetos de estudo. Assim, fica evidente a necessidade de superar respostas simplistas em relação à natureza da linguística e considerar sua diversidade epistemológica.

A partir da abordagem foucaultiana, a linguística se apresenta como um campo epistemológico, no qual se reconhecem as diversas formas de conhecimento empírico que o constituíram ao longo da história. Esta perspectiva permite não apenas compreender a complexidade teórica e metodológica do campo, mas também reconhecer as condições e configurações que possibilitam a validade do saber linguístico em relação a outras áreas de conhecimento.

No entanto, a heterogeneidade do campo linguístico apresenta desafios epistemológicos que exigem uma reflexão mais profunda. Como abordar essa diversidade? Qual ponto de vista adotar? Quais princípios orientam as escolhas dentro desse campo?

Essas questões levantam a necessidade de uma análise cuidadosa sobre a natureza e os fundamentos da linguística como disciplina acadêmica. Ao reconhecer a multiplicidade de abordagens teóricas e metodológicas que caracterizam o campo, é possível desenvolver uma visão crítica e reflexiva sobre as diferentes perspectivas que o constituem.

A linguística se apresenta como um campo epistemológico rico e complexo, que demanda uma constante reflexão sobre suas bases e fundamentos. A abordagem foucaultiana permite uma compreensão mais profunda da diversidade do campo linguístico e das condições que o tornam um saber válido e relevante no contexto acadêmico.

A linguística é uma área do conhecimento complexa, que envolve diversos paradigmas, escolas, teorias, níveis de análise, fenômenos e interfaces. Diante dessa realidade, é necessário um estudo epistemológico detalhado para compreender as diferentes abordagens e perspectivas dentro da linguística.

A aquisição da linguagem, por exemplo, pode ser estudada de diferentes maneiras, como a partir de uma perspectiva gerativa, no quadro da teoria de princípios e parâmetros, ou sob a ótica da teoria do valor de Ferdinand de Saussure. Esses dois exemplos ilustram a intersecção de paradigmas, teorias e níveis de análise linguística para investigar o fenômeno da aquisição da linguagem.

Assim, a epistemologia da linguística se torna essencial para compreender como essas diferentes abordagens se relacionam e contribuem para o conhecimento sobre a linguagem. É a partir dessa reflexão epistemológica que podemos avançar no entendimento da linguística como campo de estudo e pesquisa, ou seja, a reflexão sobre como se produz e se valida o conhecimento em uma determinada área do saber. Nesse sentido, os livros procuram apresentar não apenas diferentes abordagens teóricas da linguística, mas também discutir como essas abordagens se relacionam com o conhecimento produzido e validado na área.

Assim, os exemplos apresentados nos livros demonstram que a linguística é uma disciplina diversa e em constante evolução, com múltiplas maneiras de ser praticada e compreendida. A partir de diferentes perspectivas ético-políticas e epistemológicas, os autores dos textos buscam oferecer uma visão ampla e representativa das diversas correntes teóricas e metodológicas que permeiam o campo da linguística.

Os autores discutem a ideia de pensar a linguística como uma epistemologia, seguindo o pensamento de Benveniste. Para tornar essa abordagem consistente, é necessário estabelecer as condições de existência da linguística como forma de conhecimento e mostrar como ela se torna uma ciência. No próximo item, a ideia de "linguística como uma epistemologia de si própria" é desenvolvida, resumindo a proposta para entender a linguística atualmente.

Para ilustrar esse processo, suponha que um linguista esteja investigando a hipótese de que a ordem das palavras em uma frase afeta o seu significado. Para testar essa hipótese, ele utiliza ferramentas experimentais, como a análise de corpus linguísticos ou experimentos de produção e compreensão de frases. Essas ferramentas permitem ao linguista construir um observatório, ou seja, um conjunto de observações que serão utilizadas para refutar ou confirmar a hipótese. No entanto, segundo Milner, para que esse processo seja válido, as ferramentas experimentais devem ser independentes das proposições teóricas em análise, ou seja, elas não devem estar subordinadas a uma teoria específica. Isso garante que as observações feitas sejam imparciais e objetivas, permitindo uma análise mais precisa e confiável dos dados linguísticos. Dessa forma, a linguística se torna uma ciência experimental, capaz de testar e refutar teorias com base em evidências empíricas sólidas.

Nesse sentido, "A linguística hoje: Múltiplos domínios, contexto e paradigmas" é um livro fundamental para aqueles que desejam se aprofundar na complexidade e diversidade da linguística como campo disciplinar. Ao reunir contribuições de diversos autores, a obra oferece um panorama abrangente das diferentes abordagens teóricas e metodológicas que permeiam a área, proporcionando uma reflexão profunda sobre os fundamentos epistemológicos que norteiam o estudo da linguagem. A diversidade de temas abordados e a pluralidade de perspectivas apresentadas tornam o livro uma leitura imprescindível para estudiosos e estudantes de linguística que buscam ampliar seus horizontes e enriquecer seu entendimento sobre a complexidade da linguagem e seus múltiplos aspectos.

Revisão atualizada e instigante do pensamento de Bakhtin: Uma leitura necessária.

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Mikhail Mikhailovitch Bakhtin (1895-1975) é um renomado teórico da linguagem que, apesar das dificuldades enfrentadas, deixou uma importante contribuição para as Ciências Humanas. Suas teorias têm sido amplamente estudadas e difundidas desde a publicação de um estudo de Julia Kristeva em 1967. Bakhtin desenvolveu uma teoria inovadora, abordando temas como literatura, cultura, povo e produção cultural, mantendo a centralidade da linguagem em sua obra interdisciplinar. Ele acreditava que a compreensão de um texto implica uma resposta ativa do leitor, que pode concordar, adaptar, acrescentar, retirar informações ou exaltar o texto lido. José Luiz Fiorin, professor da USP, busca uma compreensão responsiva ativa dos conceitos de Bakhtin em seu livro Introdução ao pensamento de Bakhtin.


A obra de Fiorin se desdobra em seis capítulos e numa breve introdução, onde o autor expõe seus objetivos e justifica a seleção dos conceitos presentes. Destaca-se a importância de Bakhtin como estudioso da linguagem, cujas concepções muitas vezes são citadas, mas nem sempre compreendidas. Para facilitar a compreensão, Fiorin destaca apenas os termos mais utilizados, deixando de lado ideias como ideologia, arquitetônica, evento estético, tema e significação. Além disso, não aprofunda nas concepções filosóficas e éticas da obra bakhtiniana.


Foto: divulgação / contexto


Fiorin ressalta a complexidade do trabalho de Bakhtin, que não elaborou uma teoria ou metodologia prontas, resultando em obras diversificadas e inacabadas. A polêmica em torno da autoria de alguns livros assinados por outros nomes também é abordada, gerando discussões até os dias atuais. As diferentes posições sobre a autoria são apresentadas, com Fiorin simpatizando com a ideia de co-autoria entre Bakhtin e outros autores.


Vida e obra, apresentando aspectos biográficos do filósofo Bakhtin, nascido ao sul de Moscou. Concluiu seus estudos em São Petersburgo, formando-se em Letras, História e Filologia, e cercando-se de amigos intelectuais, formando o Círculo de Bakhtin. Preso em 1929 por ligações filosófico-religiosas banidas na União Soviética, cumpriu exílio em Kustanai. Apresentou sua tese de doutorado em 1940, defendida em 1946, mas teve o título de doutor negado em 1952. Faleceu em Moscou em 1975. No segundo capítulo, destaca-se o Dialogismo como princípio central em sua obra, onde Bakhtin analisou as diversas vozes presentes em um discurso e sua historicidade.


Fiorin ressalta a importância dos diferentes significados que o conceito de enunciado pode assumir: a) aquele não expresso no próprio enunciado, mas construído em oposição a outro. Ou seja, todo enunciado é uma resposta a outro, originando-se a partir dele. Sempre se ouvem, pelo menos, duas vozes, mesmo que não se manifestem explicitamente no discurso; b) aquele que se manifesta pela incorporação de vozes de outros enunciados, podendo ser citado abertamente e separado do discurso citante ou de forma mais sutil, chamado bivocal; c) aquele relacionado ao indivíduo e à sua ação, ou seja, a resposta que cada pessoa dá às diversas vozes presentes na realidade em que está inserida


Os gêneros do discurso são discutidos no terceiro capítulo, onde Fiorin destaca que Bakhtin não se interessa pelas propriedades normativas dos gêneros, mas sim por como estes se constituem, sua conexão e interação com as atividades humanas, ou seja, seu processo de produção. Isso significa que os gêneros estabelecem uma interligação da linguagem com a vida social.


No quarto capítulo, intitulado Prosa e Poesia, são abordados os conceitos de polifonia e monologia. Bakhtin enfatiza que no romance está presente a pluralidade de vozes, caracterizando-se pela descentralização e interação com discursos alheios, ao contrário da poesia, que é monológica. Fiorin destaca as discordâncias em relação à interpretação da concepção bakhtiniana, mencionando autores como Cristóvão Tezza e Boris Schnaiderman.


A carnavalização é o foco do quinto capítulo, onde se explora a apropriação, pela literatura, das expressões da cultura popular. Essas ações são não oficiais e, segundo Bakhtin, representam uma segunda vida do povo, onde hierarquias são suspensas e o mundo real é transformado de forma invertida. A perspectiva carnavalesca permite uma familiaridade entre elementos diversos, possibilitando a expressão do reprimido através de uma linguagem obscena, sem as restrições da etiqueta, com atos e palavras excêntricos e profanos.

Neste capítulo, Fiorin discorre sobre a origem da literatura carnavalesca, que vem se renovando e ressignificando ao longo da evolução literária. Ele aborda de forma resumida o período helenístico, o diálogo socrático, a sátira menipéia e o carnaval na Idade Média.


O capítulo seguinte, intitulado "O romance", explora a teoria de Bakhtin sobre este gênero literário. O romance é considerado a expressão máxima do dialogismo, incorporando todos os outros gêneros, mesclando estilos e não respeitando os limites impostos pelo sistema literário. Bakhtin estudou sua natureza e evolução a partir de dois parâmetros: percepção da linguagem e representação de espaço e tempo. Para ele, o romance não está restrito à sociedade burguesa, mas permeia toda a história da literatura.


O livro se encerra com uma bibliografia comentada das obras de Bakhtin e de outros estudiosos nacionais com os quais Fiorin dialogou. Porém, é importante ressaltar que o autor poderia ter feito referência a outras obras, nacionais e estrangeiras, que contribuíram para a compreensão da obra de Bakhtin, como exemplificado com alguns títulos no final desta resenha.


Um segundo ponto a ser destacado é a fragilidade do argumento de Fiorin em relação à polêmica sobre a autoria das obras de Bakhtin. Ao defender a co-autoria dos textos, mesmo sendo simpatizante da ideia de que o teórico russo seja o único autor dos escritos em seu nome, Fiorin levanta a questão de por que não defende seu ponto de vista em vez de seguir a tradição.


Apesar desses problemas, os conceitos abordados por Fiorin são revisados de forma atual, analisando textos de diferentes gêneros e autores como Machado de Assis, José de Alencar, Gregório de Matos, entre outros. O livro desperta no leitor o interesse em aprofundar suas leituras, buscando outros autores e obras de Bakhtin. A grandiosidade dos escritos bakhtinianos, com conceitos se apoiando uns nos outros, sua heterogeneidade e contínuo inacabamento, demanda a consulta de outras publicações especializadas para compreender como esses conceitos foram construídos. Esta é a expectativa proposta pelo autor na introdução de seu livro.


Introdução ao Pensamento de Bakhtin é uma obra valiosa para estudantes, professores e pesquisadores que desejam compreender a obra de um dos mais importantes pensadores do século XX. A leitura do livro é um convite para mergulhar no universo do dialogismo e da polifonia, abrindo novas perspectivas para a análise da linguagem e da literatura.

Lançamento do livro LGBT + NA LUTA: Avanços e retrocessos, de Laura A. Belmonte


O lançamento do livro "LGBT+ na luta: avanços e retrocessos" promete ser um marco na literatura sobre a história da população LGBT+ e sua jornada de luta por direitos e igualdade. Escrito pela renomada historiadora Laura A. Belmonte, o livro aborda de forma detalhada os desafios enfrentados pela comunidade LGBT+ ao longo dos séculos, assim como os avanços conquistados com muita determinação e resistência.

A autora, que tem uma vasta experiência acadêmica e ativista, traça um panorama abrangente das estratégias de luta adotadas pela comunidade LGBT+, destacando as vitórias emocionantes e as derrotas esmagadoras que marcaram a trajetória dessa luta. Com uma abordagem interseccional, Belmonte ressalta a importância de considerar o sexo, a cultura, a classe social, a raça, a região e o contexto na análise dos avanços e retrocessos da causa LGBT+.

Além disso, o livro apresenta um olhar comparativo sobre os avanços institucionais e práticos em diferentes países, destacando aqueles que se destacaram na promoção dos direitos LGBT+. Também são explorados os principais desafios enfrentados pela comunidade LGBT+ nos dias de hoje, evidenciando a importância da continuidade da luta por igualdade e respeito.

Laura A. Belmonte, conhecida por seu trabalho acadêmico e ativismo em defesa dos direitos LGBT+, traz uma expertise única para esta obra que certamente se tornará uma leitura indispensável para todos aqueles interessados na história e na luta da comunidade LGBT+. O lançamento do livro promete abrir novos horizontes para o debate sobre diversidade e inclusão, reforçando a importância da união e da persistência na busca por uma sociedade mais justa e igualitária. A luta continua - aqui e no resto do mundo.

Compre o livro no site oficial da editora contexto: https://www.editoracontexto.com.br/lgbt-na-luta?lgbtnaluta-leitores

[RESENHA #688] A ciência tem todas as respostas?, de Sabine Hossenfelder



“Estimulante. A autora encoraja o leitor a superar suposições bem conhecidas e a se divertir fazendo isso. Ao separar as visões acientíficas das científicas, ela ajuda a delinear os limites da ciência na resposta às grandes questões da vida.” - Science Magazine

“A característica mais surpreendente e interessante do livro é a declaração de que muitos dos seus colegas físicos são tão culpados em trazer especulação e crença para o próprio pensamento científico quanto os teólogos e os místicos da Nova Era. A ciência tem todas as respostas? é um guia bem informado e divertido sobre o que a ciência pode ou não nos dizer.” - The Wall Street Journal

Há questões existenciais que seguem a humanidade desde os primórdios. Há outras que foram surgindo com o avanço das ciências. Neste livro fascinante, a física alemã Sabine Hossenfelder pincela algumas das mais intrigantes perguntas que nos acompanha. Para isso, ela conta com sua grande experiência na pesquisa, mas também em divulgação científica. A autora mostra que algumas ideias espirituais são perfeitamente compatíveis com a física moderna, sendo que outras são até amparadas por ela. A demarcação dos limites atuais da ciência não apenas destrói ilusões, como também nos ajuda a reconhecer quais crenças ainda são compatíveis com os fatos científicos. Este livro é para os que não se esqueceram de formular as grandes questões e não têm medo das respostas.

RESENHA


Existe um passado? Como tudo começou? Existem cópias nossas? O universo foi feito para os humanos? Existe uma realidade paralela? Estamos vivendo em uma simulação como um computador? A realidade pode mudar constantemente? Os líderes religiosos fazem as mesmas perguntas. Ao contrário de muitos outros escritores, a autora está menos interessado em condenar a pseudociência do que em revelar que muitas ideias espirituais são compatíveis com a física moderna. As leis naturais contradizem outras, e outras ainda são “não científicas”. “A ciência não tem nada a dizer sobre isso. Pelo menos a ciência tal como está.” Algumas crenças da moda são “mais atraentes quanto menos você entende a física”. Explora Deus e a espiritualidade, o livre arbítrio, a consciência universal, o dualismo (se a mente está separada do corpo), a teoria do big bang, a origem do universo, a possível existência de universos paralelos e se estamos vivendo em uma simulação computacional. Como observa a autora “uma afirmação ousada sobre as leis da natureza que ignora o que sabemos sobre as leis da natureza”.

Hossenfelder consegue evitar cruzar os limites da ciência porque as questões que aborda são metafísicas e não existenciais. É menos convincente quando invade o território filosófico e subitamente descarta a possibilidade do livre arbítrio. A característica mais surpreendente e interessante do livro é a afirmação de que muitos de seus colegas físicos são tão culpados de gerar especulação e fé em seu pensamento científico quanto os teólogos.

Frustrantemente, Hossenfelder não distingue consistentemente entre científico e não científico, dando por vezes ambos os rótulos à mesma ideia. Hossenfelder divide seu texto em quatro entrevistas com físicos para fornecer “outras vozes”. A obra em si é um emaranhado de questões filosóficas fortemente ligadas ao estudo da explicação básica da existência do conceito humano-metafísico, tentando de certa forma esclarecer os mais diversos problemas associados à humanidade. Hossenfelder usa sua expertise em física para abordar essas questões de forma rigorosa e científica, mas também acessível a leitores não especialistas. Ela mostra como os avanços da física nos últimos anos têm mudado nossa compreensão do universo e de nosso lugar nele.

O livro é dividido em três partes. Na primeira parte, Hossenfelder discute a natureza da realidade. Ela argumenta que a realidade é muito mais estranha e complexa do que pensamos, e que a física ainda não é capaz de explicá-la completamente.

Na segunda parte, Hossenfelder discute o livre arbítrio. Ela argumenta que a física não descarta o livre arbítrio, mas que também não o prova. Ela conclui que o livre arbítrio é uma questão filosófica, não científica.

Na terceira parte, Hossenfelder discute o sentido da vida. Ela argumenta que não há um sentido único da vida para todos, e que cada indivíduo deve encontrar seu próprio sentido. Ela também argumenta que a ciência não pode nos ajudar a encontrar o sentido da vida, mas que pode nos ajudar a entender melhor o mundo ao nosso redor e a tomar melhores decisões.

Um livro que ecoa a luz no fim do túnel com explicações lógicas baseadas no estudo e conhecimento de realidades alternativas.

A AUTORA

Sabine Hossenfelder é uma física teórica alemã, autora e musicista que pesquisa a gravidade quântica. Ela é pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados de Frankfurt, onde lidera o grupo Superfluid Dark Matter.

[RESENHA #678] Sociologia da educação, de Nelson Piletti


O que a Sociologia tem a ver com a educação escolar? Muito! Pois a escola não está isolada em relação à comunidade e à sociedade em que está inserida. A escola é, até certo ponto, reflexo das condições e das exigências estabelecidas pela sociedade, em seu sentido mais amplo, e pela comunidade, no mais restrito. Por outro lado, no interior da escola, multiplicam-se os grupos sociais, formados por todos os agentes do processo educacional, que têm enorme influência sobre a educação e o comportamento dos alunos. Com linguagem acessível, Nelson Piletti estimula neste livro a reflexão sobre esse entrecruzamento de relações que se estabelece entre a sala de aula, a escola, a comunidade e a sociedade. O autor apresenta a contribuição da Sociologia da Educação por meio de dois aspectos: o teórico, de conhecimento da realidade educacional, e o prático, de mudança para melhor dessa mesma realidade a partir desse conhecimento. Além disso, no final de cada capítulo, traz textos complementares e questionamentos que se constituem em estímulo à pesquisa, à reflexão e à discussão.

RESENHA


Em sociologia da educação, o professor e autor Nelson Piletti estuda a importância de compreensão do círculo social em sala de aula para uma compreensão mais assertiva acerca da sociedade, como instrumento de fomento dos fenômenos na aprendizagem em detrimento das particularidades de cada aluno.

A obra desvencilha em seus capítulos a importância de se conhecer e estudar os reflexos particulares dos efeitos da sociedade e das comunidades na vida do aluno. Para tal, o professor fornece ferramentas acessíveis de estudo que viabilizem concisamente a interpretação dos sinais do aluno em suas dificuldades latentes em sala de aula, para que assim, torne-se, de forma facilitada, a compreensão real das problemáticas que refletem significativamente no desempenho do aluno nos processos de aprendizagem. O autor também estuda como se dá o processo de organização e hierarquização da sala de aula entre professor e aluno, criando, assim, discussões acaloradas do papel do profissional da educação no centro do seio do ensino em sala de aula.

Para que se torne facilitada a compreensão das realidades, o livro também carrega em si um capítulo dedicado a suprimir o isolamento do aluno, criando assim, um ambiente de cooperação entre alunos e o professor, para que assim, todos possam se inteirar e participar concisamente na aprendizagem do conteúdo por meio da participação mútua, isso pode ser elaborado de forma categórica mediante trabalhos de grupo ou numa simples disposição das cadeiras em sala de aula para uma maior participação e controle do aprendizado por meio da figura do profissional ao centro da sala, que assim, controla de forma mais assertiva a participação de todos os envolvidos em seu campo de visão.

Em síntese, a obra fornece detalhes e estudos que fomentam uma participação maior do professor, não apenas na ministração da aula propriamente referida, mas também na participação e observação dos fenômenos sociais em sala de aula e das diferentes visões e realidades presentes no seio escolar.

O estudo de sociedades com culturas diferentes desempenha um papel importante na análise sociológica. Ao compreendermos como diferentes culturas se reproduzem e educam seus indivíduos, podemos obter uma visão mais abrangente dos processos estruturais que compõem a educação na totalidade. A sociologia da educação é uma extensão da sociologia que se dedica a estudar a realidade socioeducativa, permitindo aos pesquisadores compreender que a educação ocorre no contexto da sociedade, e não apenas na sala de aula. Isso caracteriza a relação entre ser humano, sociedade e educação, explorando diferentes teorias sociológicas.

A sociologia da educação teve suas bases estabelecidas por pensadores como Marx e Engels, que discutiram o surgimento dessa disciplina em capítulos específicos de suas obras. Eles relacionaram a educação à produção, analisando as sociedades de sua época. Suas concepções surgiram durante a Revolução Industrial, quando propuseram a ideia de uma educação politécnica, que combinava a instituição escolar com o trabalho produtivo. Eles acreditavam que essa relação poderia ser um poderoso meio de transformação social.

O AUTOR
Nelson Piletti é graduado em Filosofia, Jornalismo e Pedagogia; mestre, doutor e livre-docente em Educação pela Universidade de São Paulo (USP); ex-professor do ensino fundamental e médio; ex-professor de Sociologia do ensino médio e superior; professor aposentado do Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da USP. Pela Contexto, é autor do livro Aprendizagem: teoria e prática, além de coautor de O Brasil no Contexto 1987-2017; Dom Helder Camara: o profeta da paz; Psicologia do desenvolvimento; Psicologia da aprendizagem; História da educação; Principais correntes da Sociologia da educação e Sociologia da educação: da sala de aula aos conceitos gerais.

[RESENHA #677] Linguística aplicada, de Ana Elisa Ribeiro e Carla Viana Coscarelli

APRESENTAÇÃO

O ensino da língua portuguesa está presente durante toda a trajetória da educação básica. Assim, é um tema inescapável para professores e futuros professores. A Linguística Aplicada, por sua vez, busca compreender os usos da linguagem (ou das linguagens) e como ela é adquirida e usada para resolver problemas e situações da nossa vida. Esta obra, repleta de exemplos e atividades, apresenta uma cronologia do desenvolvimento da Linguística Aplicada, mostrando como ela influenciou e segue influenciando nossas concepções de educação e, mais especificamente, de ensino de português nas escolas.

Sobre a coleção: A sala de aula é o principal campo de atuação tanto do profissional graduado em Letras quanto em Pedagogia. A coleção Linguagem na Universidade, coordenada por Kleber Silva e Stella Maris Bortoni-Ricardo (ambos da UnB), abrange as questões de linguagens e suas interseccionalidades a partir de disciplinas que são obrigatórias nos currículos desses dois cursos. Com linguagem didática, leve e acessível, as obras são voltadas para estudantes de graduação, auxiliando o futuro professor em sua prática pedagógica.


RESENHA

O livro Linguística aplicada — ensino de português é um manual de ensino escrito para professores de língua portuguesa como um farol de ensino metodológico acerca da importância da compreensão do ensino de linguística em sala de aula. A obra possui como foco o desmembramento das problemáticas arraigadas no ensino de forma estrutural, desmistifcando e identificando os problemas decorrentes no ensino de língua portuguesa em sala de aula. 


A introdução da obra compreende na explicação básica do que é de fato o campo de estudo da linguística aplicada, fomentando assim, uma maior compreensão acerca do seu real significado e valor. A linguística aplicada (LA) é um campo de estudo transdisciplinar, indisciplinar e intercultural que identifica, investiga e busca soluções para problemas relacionados à linguagem na vida real.


Os objetivos da LA são:


Identificar problemas relacionados à linguagem;

Investigar esses problemas a partir de uma perspectiva linguística;

Desenvolver soluções para esses problemas.


A LA é uma área de estudo ampla e diversificada, que abrange uma variedade de tópicos, incluindo:


Ensino de línguas;

Tradução e interpretação;

Linguística forense;

Linguística clínica;

Linguística aplicada à informática;

Linguística aplicada à educação;

Linguística aplicada à saúde;

Linguística aplicada ao direito;

Linguística aplicada à mídia;

Linguística aplicada à tecnologia.


A LA é uma área de estudo em constante crescimento, que se desenvolve a partir de um diálogo entre a linguística e outras disciplinas, como a psicologia, a sociologia, a antropologia, a educação e a tecnologia.


Alguns exemplos de problemas relacionados à linguagem que a LA pode investigar e solucionar:


Como ensinar uma língua estrangeira de forma eficaz?

Como traduzir um texto de forma fiel e natural?

Como identificar e corrigir erros de linguagem?

Como melhorar a comunicação entre pessoas de diferentes culturas?

Como usar a linguagem para promover a inclusão social?


A obra também fomenta debates acerca do ensino de língua materna na sala de aula, como sendo banalizada e fora do eixo com regras preestabelecidas de decoração de regras de gramática normativa. Para tal, descreve-se uma linha tênue de explicação e raciocínio acerca do atual método de ensino em paralelo ao ensino correto de compreensão das competências linguísticas do alunado em sala de aula, através da análise da gramática, texto e dos gêneros textuais existentes no mundo, bem como no meio digital. As autoras usam de exemplos de linguísticas e estudiosos que acreditam que a pauta de ensino deve ser mais livre levando em consideração as competências existentes no conhecimento do alunado, atribuindo, assim, ao ensino uma linha de ordem cronológica de investigação dos problemas existentes na escrita e fala nas situações sociais cotidianas:


Vários autores criticam o ensino baseado na concepção normativa da lingua, como Luft, mas também os linguistas Mário Perini, Sírio Possenti, Rodolfo Ilari [...] atentam para aspectos relaionados ao uso da linguagem nas situações da vida, como as variantes linguisticas, a adequação à a situação e o registro (grau de formalidade), a dinamicidade (mutabilidade) das línguas, a competência e a criatividade dos falantes. (p. 29).

A obra também realiza uma investigação meticulosa acerca da participação das redes sociais na criação de textos e vídeos que fomentam um maior debate dos linguistas na investigação dos fenômenos. A obra em si, é uma forma de explicar de forma clara e mais abrangente a língua e suas propriedades, não apenas para os profissionais de língua portuguesa, mas para todo alunado com mente fechada em relação à fala.


Será que devemos manter cegamente a tradição ou pode ser melhor repensar nossa abordagem, trazendo contribuições de pesquisas, de estudos, de transformações nas tecnologias de produção e de recepção de textos?  (Texto da autora no site da contexto)

A ideia de letramento é apresentada como uma forma de pensar nos usos da língua e das linguagens, reconhecendo que existem diferentes formas de se expressar e que cada uma delas pode ser adequada a determinada situação. Não se trata de certo ou errado, mas de adequação, uso, objetivo e nuance. A autora argumenta que a forma como os linguistas aplicados pensam a linguagem tem influência direta na forma como o ensino de língua portuguesa é abordado, e questiona se devemos manter cegamente a tradição ou repensar a abordagem, considerando contribuições de pesquisas, estudos e transformações tecnológicas.


As autoras destacam a importância das tecnologias digitais, que permitem a produção de textos em diferentes linguagens e o uso de recursos como a hipertextualidade. Ela defende a necessidade de desenvolver habilidades relacionadas à produção e compreensão de textos, além de promover o pensamento crítico, para que as pessoas se envolvam nas atividades propostas de forma reflexiva, dinâmica e autônoma.


também ressalta a relação entre as questões abordadas pelos linguistas aplicados e os problemas sociais, destacando que a alfabetização e o letramento são temas essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade. A autora questiona se o preconceito linguístico não é uma forma de exclusão social e discute a relação entre linguagem e identidade. Ela enfatiza a importância da Linguística Aplicada na sociedade e apresenta o livro como uma forma de familiarizar as pessoas com essa área e suas questões, convidando os leitores para a leitura e o diálogo.


AS AUTORAS


Ana Elisa Ribeiro é professora titular do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), onde atua no ensino médio, no curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens. É doutora em Linguística Aplicada e mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais, com alguns estágios pós-doutorais. É pesquisadora do CNPq e autora de diversos livros nos temas dos letramentos e da multimodalidade. 


Carla Viana Coscarelli é professora titular da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem mestrado e doutorado em Estudos Linguísticos pela UFMG. Fez pós-doutorado em Ciências Cognitivas pela University of California, San Diego, e em Educação pela University of Rhode Island. É coordenadora do Projeto de Extensão Redigir UFMG e desenvolve pesquisas sobre a leitura em ambientes digitais e letramento digital.

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