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Resenha: O segredo da alegria, de Alice Walker

Apresentação:O segredo da alegria apresenta a história de vida de Tashi, heroína africana cindida entre a imposição da tradição e a felicidade de descobrir-se sujeito da própria vida. Aqui, Alice Walker, ganhadora do Prêmio Pulitzer e do American Book Awards por A cor púrpura, presenteia o público, mais uma vez, com o seu dom e coragem de narrar histórias de violência e bravura de maneira fascinante.

Tashi tem sua primeira aparição em A cor púrpura, representando o povo (ficcional) Olinka. A força da personagem foi tão intensa que impeliu a autora a explorar seu universo em outro livro. Aqui, a história de Tashi não é uma continuação do primeiro romance, mas uma novela própria. Criada na África e posteriormente levada para os Estados Unidos, seu desejo de honrar as tradições faz com que buscasse a prática da mutilação genital feminina. A escolha corajosa, no entanto, revela o início de um doloroso processo físico e psíquico que irá envolver todos aqueles tocados por sua trajetória – até mesmo o célebre psicanalista Carl G. Jung. Os caminhos tortuosos da mente de Tashi serão responsáveis por levar as personagens e seus leitores e leitoras por uma batalha representativa até o mito de origem da opressão das mulheres.

Em O segredo da alegria Alice Walker dá mais uma prova do poder da ficção em fascinar e revelar a todos nós um pouco do mistério da resistência e da felicidade frente a opressão e a angústia.


RESENHA



O segredo da alegria é uma obra de ficção escrita pela autora americana Alice Walker, autora do Best-Seller a cor púrpura. A obra conta a vida de Tashi, uma mulher afriana da tribo dos Olinkan que sofre de problemas mentais e se casa com o americano Adam, com quem muda-se para viver no Ocidente, o que a faz não se reconhecer pela dualidade de culturas que experiencia: ocidente e oriente. Tashi possui um bom relacionamento com Olivia, irmã de Adam, à quem está sempre próxima aconselhando, ouvindo e dando respaldo às decisões de Tashi. 

A irmã de Tashi, dura, morrera durante um procedimento de mutilação genital na aldeia, o que deixa Tashi com cicratizes profundas e dores incomensuráveis.


Não sabíamos que uma das irmãs de Tashi havia morrido na manhã em que chegamos à aldeia. Seu nome era Dura, e ela havia sangrado até a morte. Isso foi tudo o que disseram a Tashi; tudo o que ela sabia [...] (p.218)


A dor começa se intensificar, quando, Tashi vê-se proibida de falar da irmã ou chorar sua perda. A tribo acreditava que receber visitantes estrangeiros com choro, tristeza ou qualquer sentimento negativo ocasionava em azar. O não cumprimento acarretaria em isolamento social por longo períodos.


Como eu poderia acreditar que aquelas eram as mesmas mulheres que havia conhecido a vida inteira? [...] Era um pesadelo. De repente, era proibido falar de minha irmã. Ou chorar por ela. (p.264)


Após o casamento e mudança de país, Tashi conversa com Olivia sobre passar pelo procedimento de mutilação genital, o que claro, Olivia se opõe:


Olivia implorou que eu não fosse. Mas ela não entendia [...] só não faça isso consigo mesma, por favor, Tashi. (p.326)


Após a falha no procedimento, Tashi passa a não se reconhecer e mudar radicalmente. Antes, ela era vista como uma mulher alegre e repleta de causos e sorrisos, mas agora sua luz se apagou. Tempos depois, Tashi engravida, mas devido à um erro médico, seu filho nasce com problemas mentais e deformações no crânio, seu nome? Benny.


O obstetra quebrou dois instrumentos na tentativa de fazer uma abertura grande o suficiente para a cabeça de Benny [...] sua cabeça era amarela e azul, e totalmente deformada (p.624)


Tashi começa a sofrer com problemas em sua relação, devido ao procedimento mal feito em seu corpo, não conseguindo sequer ser tocada por seu marido, Adam.


Toda vez que me tocava, eu sangrava. Toda vez que se movia em minha direção, eu estremecia. Não havia nada que ele pudesse fazer comigo que não machucasse (p. 635)



Tashi passa por inúmeros problemas, até começar a se tratar com diversos psicólogo e terapeutas, o que acaba não funcionando muito bem. A união da perda da irmã, com o procedimento mal sucedido, o casamento ruim, o relacionamento com suas raízes culturais enfraquecidos, os problemas mentais e o filho com retardado enfraquecem muito Tashi, que agora vê toda sua alegria transforma-se em raiva, o que a faz retornar para tribo Olinkan em busca de M.Lissa, a curandeira responsável pelos procedimentos de mutilação na aldeia, buscando por vingança.


A obra é dividida em vinte capítulos com descrições elaboradas por Tashi, Olivia, Adam e por Evelyn (nome de casada de Tashi), as vezes por Tashi e Evelyn ou por Tashi Evelyn.


O livro é um retrato dolorido e difícil de se ler, a obra conta com descrições precisas de momentos dolorosos e tristes vividos pela personagem. Seus medos e angústias podem ser sentidos a cada novo folhear de páginas, sobretudo, se levarmos em consideração o tema árduo e difícil compreensão como a mutilação genital como instrumento de contenção feminina disfarçado de cultura, apenas como uma ferramenta machista de frear o poder da mulher por meio de ações que mitigam ou acabem com a segurança e direitos da mulher.


Um livro indicado para todo leitor ávido, fã de um bom livro e um roteiro. Alice Walker novamente acerta-nos de modo certeiro ao nos convidar pra conhecer sua nova obra magistral.



A AUTORA

Alice Walker, uma das mais proeminentes escritoras dos Estados Unidos, é uma premiada autora de romances, contos, ensaios e poesia. Em 1983, Walker se tornou a primeira mulher afro-americana a ganhar um Prêmio Pulitzer de ficção com seu romance The Color Purple , que também ganhou o National Book Award. Seus outros livros incluem The Third Life of Grange Copeland , Meridian , The Temple of My Familiar e Possuindo o Segredo da Alegria . Em sua vida pública, Walker trabalhou para resolver problemas de injustiça, desigualdade e pobreza como ativista, professora e intelectual pública.
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