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[RESENHA #547] O que é educação, de Carlos Rodrigues Brandão

 

BRANDÃO, Carlos R. O que é educação. 26. Ed., São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 7 – 35.


Carlos Ribeiro Brandão nasceu no Rio de Janeiro em abril de 1940 e é licenciado em Psicologia pela PUC/RJ. Participou de centros de cultura popular, estudou antropologia nas Universidades de Brasília e São Paulo. Hoje, dedica-se a estudos, aulas e pesquisas de Antropologia Social. Brandão é muito conhecido por suas pesquisas em Antropologia e por seus livros na área da educação, direcionados a educadores, estudiosos e curiosos do campo da educação.

Esta resenha será baseada no livroO que é educação que se constitui de nove subdivisões e um item com indicações de leitura. Destes, comentarei sobre as três primeiras subdivisões (Educação? Educações: aprender com o índio; Quando a escola é a aldeia; Então, surge a escola). Brandão pretende com esta obra falar sobre educação, como ela acontece, em quais lugares, sobre as diferenciadas formas de educação e como surgiu a escola que conhecemos hoje. A obra é destinada para um público bem diverso, pois tem uma linguagem clara e objetiva.

Brandão começa sua obra afirmando que a educação existe em diferenciados locais, dentre eles, nas ruas, nas casas e nas igrejas. Se esta educação se dá em diversos locais, ela também acontece de formas diferentes. O autor utiliza o exemplo das comunidades tribais, onde a educação acontece por meio de práticas, observações depessoas que sabem-e-fazem porpessoas que não-sabem-e-aprendem, uma maneira diferente da qual vemos hoje. Na educação que temos hoje, os alunos aprendem através de aulas expositivas, na maioria das vezes, e os mesmos tem um tempo especial e obrigatório de permanência na escola, enquanto nessas tribos os ensinamentos aconteciam quando surgia uma determinada situação, proposital ou não, que consequentemente haveria uma aprendizagem.

Outro ponto importante abordado pelo autor é a questão do objetivo das educações. Na maioria das vezes essa educação é regida por um sistema centralizado, que busca tornar a sociedade condicionada a sempre seguir regras e normas impostas pelos dominantes. Essa educação reforça a ideia de individualismo e de desigualdade entre a sociedade. Diminuindo, assim, o senso crítico e as manifestações e lutas do povo por seus ideais e seus direitos. Partindo desta perspectiva, creio que nasce nessa problematização o real papel de um pedagogo: formar pessoas críticas, pensantes e que usam os seus conhecimentos para o bem comum, levando em consideração a realidade de cada sociedade, pois o que serve para um local nem sempre serve para o outro.

Brandão na continuidade de sua obra fala sobre educação de uma forma mais ampla, fala sobre como este tema foi primeiramente utilizado e como eram as situações de aprendizagem em algumas comunidades. Essas respostas surgiram quando antropólogos decidiram pesquisar sobre asculturas primitivas. Dificilmente, era utilizado o termo educação, embora muitas delas narrassem atividades cotidianas e rituais onde tinham crianças que estavam ali para produzir conhecimentos.

Radcliffe-Brown, antropólogo inglês, fez uma pesquisa em uma sociedade tribal que acreditava que as crianças precisavam seeducar para viver em sociedade. Essa educação era chamada pelos antropólogos deprocessos sociais de aprendizagem. Esses processos aconteciam em momentos separados para meninos e meninas e também, com diferentes pessoas. As meninas aprendiam com suas mães, avós, velhas sábias da tribo e, os meninos aprendiam com jogos e brincadeiras, pais, tios, guerreiros e os xamãs.

Brandão destaca seis situações que existem em qualquer processo de aprendizagem, essas situações falam sobre a prática, o ato de praticar algo, repetição de tal prática, observações de quem sabe fazer e autocorreção. O autor se refere também à questão da autocorreção, as maneiras de punição pelo erro que são o castigo, a ridicularização e a advertência. No meu ponto de vista, a ridicularização é uma forma errada de corrigir uma falha, pois dessa maneira se podem deixar traumas e marcas negativas no educando. Acredito que a forma mais adequada de corrigi-lo seria fazer com que o aluno observe seu erro e compreenda a maneira correta de resolver determinada situação. Brandão também expõe a presença política nas comunidades do Havaí, onde o poder era de uma linha de descendentes, o filho passava toda sua adolescência estudando, praticando, para quando voltar a sua tribo ser o novo chefe. Esta situação nos remete ao ensino formal que temos hoje, onde se busca que o aluno se especialize em alguma área para conseguir um bom emprego.

Brandão ressalta a importância de se conhecer a diversidade de formas de educação e mostra que, apesar de muitos séculos de evolução, ainda existem muitas semelhanças entre a educação passada e a educação atual. É inegável que as pessoas sempre tiveram o interesse em dar o melhor ensino para seus filhos e que essa educação sempre foi guiada por interesses políticos. Este livro nos ajuda a compreender melhor nossa história e nos traz novas ideias para serem aplicadas na educação moderna.
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