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Panorama com Clarice Lispector



O MISTERIOSO UNIVERSO DE CLARICE LISPECTOR


Antes de conceder a entrevista ao jornalista Júlio Lerner no ano de 1977 para o programa Panorama da TV Cultura a escritora Clarice Lispector deixa bem claro que a publicação só poderia ser feita após a sua morte. Intimidada com as câmeras e nem um pouco a vontade com a entrevista, expressão visivelmente demonstrada pelas rugas que se franziam em sua testa. Ela se mostra uma mulher impaciente e carrega um semblante cansativo, sem contar com Hollywood vermelho que acendia vez ou outra, a entrevista é um tanto enfadonha, mas a escritora afirma ser uma pessoa alegre e maternal. O principal objetivo desta entrevista era tentar desmistificar um pouco mais sobre o universo desta mulher um tanto intrigante, já que raramente ela concedia uma entrevista. Clarice nasceu na Ucrânia nas se criou no nordeste, tem duas irmãs e perdeu a sua mãe ainda muito nova. Foi morar no Rio de Janeiro, trabalhou em departamentos jornalísticos, formou-se em Direto e casou-se com um diplomata e conheceu o mundo, tiveram dois filhos, o primogênito Pedro era esquizofrênico, quando o divórcio aconteceu ela voltou para o Brasil com os filhos.

A escritora afirma que não é uma intelectual, e também esse título a rotula e isolada, não gosta de se sentir assim, diz que não tem obrigação de escrever e sua inspiração acontece sempre pela manhã, é o horário que mais gosta de trabalhar. Em um momento da entrevista ao ser perguntada se mais alguém da família escrevia Lispector declara que ficou muito surpresa ao descobrir, através de uma tia, que sua mãe escrevia, mas que nunca teve a oportunidade de ler, e que suas irmãs escreviam também. Afirma que teve uma adolescência caótica e fora da realidade, para ela todo adulto é triste e solitário. Em menos de meia hora de entrevista, o jornalista conta que estava muito nervoso e ansioso para conhecê-la pessoalmente, foi rápido nas perguntas, mas a postura assumida por Lispector não facilitou em nada para deixá-lo à vontade.

Clarice declara que quando escreve se sente viva, em alguns dos seus livros ela se vê como a protagonista como no caso do “Mineirinho”, em outros contos nem ela mesma entende o que escreveu: O ovo e a Galinha é uma incógnita para ela. Lispector publicou vários livros e contos infantis, afirma que sua escrita é simples. A grande amiga Olga Borelli talvez seja a única conhecedora do misterioso universo interior de Clarice Lispector, passou algum tempo datilografando os seus manuscritos, pois a doença até então desconhecida já consumia a sua força física.
Helen Palmer, pseudônimo usado para assinar a coluna que escrevia para o jornal carioca Correio da Manhã contava histórias de utilidades femininas, alguns dos seus trabalhos foram produzidos e apresentados no Fantástico, seus contos fazem sucesso até hoje. Seus trabalhos em geral são indicados para estudiosos em literatura brasileira. Ela é sem dúvida uma mulher fascinante.

Resenha: Laços de família, de Clarice Lispector






APRESENTAÇÃO: O texto de Clarice Lispector costuma apresentar ilusória facilidade. Seu vocabulário é simples, as imagens voltam-se para animais e plantas, quando não para objetos domésticos e situações da vida diária, com frequência numa voltagem de intenso lirismo. Mas que não se engane o leitor. Em poucas linhas, será posto em contato com um mundo em que o insólito acontece e invade o cotidiano mais costumeiro, minando e corroendo a repetição monótona do universo de homens e mulheres de classe média ou mesmo o de seres marginais. Desse modo, o leitor defronta-se com a experiência de Laura com as rosas e o impacto de Ana ao ver o cego no Jardim Botânico. Pequenos detalhes do cotidiano deflagram o entrechoque de mundos e fronteiras que se tornam fluidos e erradios, como o que é dado ao leitor a compreender acerca da relação de Ana, seu fogão e seus filhos, ou das peregrinações de uma galinha no domingo de uma família com fome, ou do assalto noturno de misteriosos mascarados num jardim de São Cristóvão. E, como se pouco a pouco se desnudasse uma estratégia, o cotidiano dos personagens de Laços de família, cuja primeira edição data de 1960, vai-se desnudando como um ambiente falsamente estável, em que vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia a dia parecia estar sendo marcado pela ameaça de nada acontecer.


RESENHA

“Laços de Família”, escrito por Clarice Lispector, é uma obra composta por treze contos que foi publicada em 1960 e recebeu o Prêmio Jabuti em 1961. Este livro é considerado um dos mais importantes da autora e é conhecido por seu foco na temática familiar e nos pequenos conflitos cotidianos.

A obra é caracterizada por um estilo único e irreverente de Lispector, que torna difícil descrever o que cada conto significa ou representa. Cada conto é como um abismo: você pode ler e reler, mas sempre encontrará novos significados. Alguns contos podem deixar o leitor desolado, não porque tratam de algo horrível, mas porque lidam com coisas tão corriqueiras e situações comuns.

Os contos deste livro se interligam pela abordagem dos vínculos familiares e apresentam personagens comuns que, pouco a pouco, se percebem sufocadas pelo contexto familiar e social, como o matrimônio e a maternidade. Questões aparentemente simples são refletidas de maneira profunda. A maioria das personagens realiza uma análise da própria vida, ocasionando em uma epifania que rompe com a monotonia e com as imposições sociais sofridas por elas.

Em “Laços de Família”, Lispector trata da solidão, da morte, da rotina e da falha da comunicação que temos, muitas vezes, com pessoas que estão ao nosso lado. A leitura é mais abstrata, o vocabulário é precioso e o livro é impressionante. Logo no primeiro conto, já podemos perceber que se trata de uma obra onírica e intensa.

Em resumo, “Laços de Família” é uma obra poderosa que oferece uma entrada perfeita para quem ainda não entrou no mundo de Clarice Lispector. E para quem já entrou, este é um livro indispensável para admirar ainda mais essa genial escritora.


“Laços de Família” é uma coletânea de contos escrita por Clarice Lispector e publicada em 1960. A obra se enquadra na terceira geração do Modernismo brasileiro, mais especificadamente no Neomodernismo, ou geração de 1945. O livro parece refletir as experiências da própria autora na época, com um olhar arguto para a classe média carioca dos anos 1940-1950.

Os personagens criados por Lispector são pessoas comuns, muitas vezes sufocadas pelo contexto familiar e social, como o matrimônio e a maternidade. Alguns exemplos de personagens são: uma portuguesa entediada com seu papel de esposa, mãe de família e dona de casa no conto “Devaneio e Embriaguez duma Rapariga”; Ana, uma mulher casada que possui uma vida pacata e dois filhos no conto “Amor”; e Laura, que hesita em enviar um buquê de rosas a uma amiga e reflete profundamente sobre esse ato no conto “A Imitação da Rosa”.

Os contos deste livro se interligam pela abordagem dos vínculos familiares e apresentam personagens que, pouco a pouco, se percebem sufocadas pelo contexto familiar e social. Questões aparentemente simples são refletidas de maneira profunda. A maioria das personagens realiza uma análise da própria vida, ocasionando em uma epifania que rompe com a monotonia e com as imposições sociais sofridas por elas.

Os temas recorrentes explicam o título do conjunto: os conflitos da vida familiar e suas implicações sentimentais – ressentimentos, incertezas, amores, desconfianças, segredos e os planos de felicidade. O universo da escritora, mais uma vez, estaria, aqui, vinculado a um plano existencial, moldado por um fluxo textual que foge às narrações tradicionais. O mundo doméstico é visto como um lugar de sufocamento, microcosmo de círculos sociais mais amplos e não menos tensos.


BIOGRAFIA DA AUTORA
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, na aldeia Tchetchenilk, no ano de 1925. Os Lispector emigraram da Rússia para o Brasil no ano seguinte, e Clarice nunca mais voltou á pequena aldeia. Fixaram-se em Recife, onde a escritora passou a infância. Clarice tinha 12 anos e já era órfã de mãe quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Entre muitas leituras, ingressou no curso de Direito, formou-se e começou a colaborar em jornais cariocas. Casou-se com um colega de faculdade em 1943. No ano seguinte publicava sua primeira obra: “Perto do coração selvagem”. A moça de 19 anos assistiu à perplexidade nos leitores e na crítica: quem era aquela jovem que escrevia "tão diferente"? Seguindo o marido, diplomata de carreira, viveu fora do Brasil por quinze anos. Dedicava-se exclusivamente a escrever. Separada do marido e de volta ao Brasil, passou a morar no Rio de Janeiro. Em 1976 foi convidada para representar o Brasil no Congresso Mundial de Bruxaria, na Colômbia. Claro que aceitou: afinal, sempre fora mística, supersticiosa, curiosa a respeito do sobrenatural. Em novembro de 1977 soube que sofria de câncer generalizado. No mês seguinte, na véspera de seu aniversário, morria em plena atividade literária e gozando do prestígio de ser uma das mais importantes vozes da literatura brasileira.

Resenha: Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector


ISBN-13: 9788532531735
ISBN-10: 8532531733
Ano: 2020 / Páginas: 160
Idioma: português
Editora: Rocco

Publicado pela primeira vez em 1971, Felicidade clandestina reúne 25 contos que falam de infância, adolescência e família, mas relatam, acima de tudo, as angústias da alma. Como é comum na obra de Clarice Lispector, a descrição dos ambientes e das personagens perde importância para a revelação de sentimentos mais profundos. A nova edição conta com um novo projeto gráfico assinado pelo prestigioso designer Victor Burton e um posfácio de Marina Colasanti.

 “Felicidade clandestina”

Nesta crônica a narradora gostava muito de ler, mas sua situação financeira não permitia compra de livros. Por isso, ela vivia pedindo livros emprestados a uma colega, todavia era filha do dono de uma livraria. Essa colega não valorizava a leitura e inconscientemente se sentia inferior às outras, sobretudo a nossa narradora-personagem. Certo dia, a filha do livreiro a “menina má” oferece o livro As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato emprestado para a narradora. A narradora-personagem passou a sonhar com o livro. Mal sabia que a colega, que tinha um enorme talento para a crueldade e que ela queria, na verdade, vingar-se por sentir-se inferior. Para tanto, a filha do livreiro pedira a narradora-personagem que passasse em sua casa todos os dias e o livro nunca aparecia. A garota invejosa, filha do livreiro, sempre alegava já ter emprestado para outra amiga.
Esse suplício durou muito tempo e a narradora-personagem bate muitas vezes àquela porta com o coração pulando de esperança de botar as mãos no livro, no entanto, para maltratá-la mais ainda, a filha do livreiro despeitada afirmava ter ficado com o livro durante toda a manhã, porém a narradora-personagem sé aparecera à tarde perdera a vez do empréstimo, outra amiga levara.

Até que, a esposa do livreiro, mãe da menina cruel, interveio na conversa das duas e percebeu a atitude da filha e a amplitude de sua perversidade. Então, a mãe da menina com a voz severa a fez emprestar o livro à narradora-personagem, dizendo: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser". O que para nossa narradora-personagem tinha o mesmo de ter ganhado o livro.
E essa foi a Felicidade Clandestina da menina, nossa narradora-personagem apaixonada pela leitura, que chegara em casa reservara-se a não ler aquela obra, só para depois Ter a surpresa de saber que o tinha nas mãos. Era uma felicidade tão grande que até mesmo fazia questão de "esquecer" onde o guardava, ou de que estava com o livro para depois ter novamente a "surpresa" de revê-lo.
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