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Resenha: Fict-Essays e contos mais leves, de Bert Jr.

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

O humor inteligente e afiado de Bert Jr. alça voo e vem a público em Fict-Essays e contos mais leves, coletânea que apresenta sete contos inéditos. Alguns mais sutis, outros mais complexos, mas sempre com uma narrativa de estilo forte, vivo e sagaz, os textos abordam situações inusitadas da vida comum, enfrentadas por personagens peculiares. Em suas próprias palavras: “Surpreendeu-me a velocidade com que o livro emergiu, trazendo à tona personagens e situações bastante diferentes entre si, como também o tom humorístico subjacente, comum a todos os contos. O resultado foi que me diverti muito no processo e agora desejo compartilhar essa sensação maravilhosa com o público”.


RESENHA

A obra fict-essays e contos mais leves, do autor Bert Jr, é um livro de contos leves publicados pela editora Labrador. O primeiro conto, Neandertala Brasiliensis, narra a história de Faberson, um jovem estudante universitário na antessala dos 20 anos de idade, viu sua vida mudar após assistir ao filme "O dia depois de amanhã" no cinema. O filme despertou nele um fascínio pela Pré-História e o levou a se envolver cada vez mais com o estudo dessa área. Seu interesse era tão grande que ele se tornou um arqueólogo e se juntou a um grupo de amigos chamado "Alphabrains" durante seus estudos na pós-graduação em Arqueologia.

O grupo, formado por Faberson, o colombiano Pablo (também conhecido como Escobar Díaz) e o californiano Peter Palmer (apelidado de Spider) compartilhou ideias, projetos e sonhos por quase cinco anos. Mesmo com conflitos e rusgas, eles se mantiveram unidos e influenciaram o desenvolvimento intelectual um do outro. Durante uma experiência com uma pastilha alucinógena, Faberson teve um sonho enigmático que despertou uma inquietação profunda nele. Esse sonho se tornou um ponto de virada em sua vida e motivou os Alphabrains a discutirem o futuro e as adaptações necessárias diante de desafios como o aquecimento global.

A narrativa é rica em detalhes, explorando não apenas o desenvolvimento acadêmico de Faberson e seus amigos, mas também as dinâmicas de grupo e as reflexões sobre a evolução humana e a adaptação a mudanças climáticas. O conto apresenta uma combinação cativante de ficção científica, elementos filosóficos e uma pitada de humor, tudo isso narrado de forma fluida e envolvente. O conto é profundo em questões como a relação entre os personagens, especialmente as  Faberson, e o impacto do sonho em sua jornada. Além disso, algumas partes da narrativa aceleram o processo narrativo do conto, o que faz com que o leitor conta-se imerso na narrativa do autor.

O conto explora de maneira interessante temas como a evolução humana, a adaptação a mudanças e a importância do trabalho em equipe. Com uma escrita envolvente e personagens cativantes, ele proporciona uma leitura instigante e reflexiva sobre o potencial humano diante de desafios futuros.

Já no conto 'VegaLight' nos apresenta a personagem Talívida Mara, uma mulher que se tornou vegana e decidiu se aprofundar nos benefícios dos alimentos para melhorar sua saúde e acelerar a queima de calorias de forma saudável. Ao descobrir as propriedades da alcachofra e do pimentão, Talívida se sente encantada e decide incluir esses vegetais em sua dieta diária durante os encontros com uma irmã gêmea onívora.

A história nos apresenta o sucesso de Talívida como autora de um livro sobre sua dieta chamada VegaLight, que mistura leveza e energia. A personagem se torna uma referência de beleza e saúde, inspirando aqueles ao seu redor a adotar uma alimentação mais saudável. O conto explora não apenas a dieta de Talívida, mas também sua rotina de exercícios e os segredos de sua beleza.

As regras simples da dieta VegaLight são apresentadas de forma clara e detalhada, tornando fácil para o leitor entender como aplicar esse regime alimentar em sua vida. As preferências pessoais de Talívida em relação aos alimentos são descritas com detalhes, mostrando seu cuidado e atenção com a escolha dos ingredientes para suas refeições.

No decorrer do conto, percebemos como Talívida se torna não apenas uma adepta da dieta VegaLight, mas também uma verdadeira influenciadora, inspirando outras pessoas a adotarem hábitos alimentares mais saudáveis. Sua imagem de beleza e saúde se torna o melhor cartão de visita para sua dieta, conquistando seguidores e admiradores tanto do sexo feminino quanto masculino.

'VegaLight' é uma história envolvente que nos faz refletir sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada, mostrando como pequenas mudanças nos nossos hábitos podem trazer grandes benefícios para nossa saúde e bem-estar.É uma grande propaganda para os veganos conhecerem a mais sobre a alimentação.

O conto um tal recital narra a história de Said Cozid, um solitário e talentoso violonista que vive em um pequeno apartamento com uma varanda estreita. Said passa seus dias dedicado ao violão, preparando um repertório e uma peça autoral para um recital em sua varanda, que ele chama de "audição varandística".

O autor nos leva a mergulhar nos pensamentos e dilemas de Said, que se preocupa não só com a qualidade técnica e interpretativa de suas peças, mas também com aspectos como a estrutura do repertório, o estilo de interpretação, e até mesmo a possibilidade de quebrar o violão no final do recital para um efeito dramático.

A narrativa nos mostra o processo criativo e a paixão de Said pela música, enquanto ele trabalha no desenvolvimento de sua própria composição, "Varandeana", com a intenção de impressionar o público e a crítica especializada.

O conto é marcado por detalhes minuciosos sobre a música, os desafios enfrentados por um músico em busca da perfeição e da originalidade, bem como a busca por uma identidade musical própria. Com uma escrita fluida e envolvente, o autor nos conduz pelo universo íntimo de Said Cozid, um personagem complexo e fascinante que encontra na música não só uma paixão, mas também um caminho para se expressar e se destacar no cenário artístico.

Já no conto 'sincronicidade', mergulha nas complexidades da psicossociologia, explorando a formação e o funcionamento das bolhas megaegogênicas e as relações de poder subjacentes à sociedade. O autor, Dr. Raul Reis, apresenta o conceito de megaego como um ente que acumula poder, mas que, devido a traços ultranarcísicos, tende a perdê-lo por não saber lidar com as imperfeições dos outros e com uma ordem que não depende apenas dele para subsistir.

Ao longo do conto, o autor discute a importância da identificação conarcísica, que ocorre entre os megaegos e que contribui para a estabilidade das relações de poder. Ele também apresenta a ideia de conexões conarcísicas secundárias, as quais podem ser estabelecidas por indivíduos comuns, projeta uma imagem idealizada de si mesmos nos megaegos.

Dr. Raul Reis especula sobre as possíveis ramificações do fenômeno das bolhas megaegogênicas, traçando dois cenários futuros - um otimista e um pessimista. No cenário otimista, a dissolução das projeções conarcísicas secundárias levaria a convulsões sociais, mas também a um fortalecimento dos laços afetivos e a um desenvolvimento mais equilibrado e saudável. Já no cenário pessimista, os megaegos manipulariam a moral pública e as leis para produzir uma elite super-humana, levando a humanidade a uma divisão entre os dotados de faculdades superiores e os demais.

O conto provoca reflexões profundas sobre as dinâmicas sociais, as relações de poder e a busca pelo entendimento da complexa realidade política e social. Com uma escrita densa e reflexiva, "Conarcisismo" desafia o leitor a questionar as estruturas dominantes e a considerar os possíveis caminhos para o futuro da humanidade.

"Freddy Quin" é um conto que nos apresenta o personagem Quintino, um homem excêntrico, porém talentoso, que é indicado para um cargo na agência de publicidade ZeroBala por seu amigo Rodrigo Dambrósio. Logo de início, Quintino se mostra encantado com suas novas funções e faz um juramento silencioso de fidelidade ao trabalho.

No decorrer da história, vemos as peculiaridades de Quintino, como seu modo peculiar de falar e agir, que acabam causando preocupações para Dambrósio. Mesmo assim, Dambrósio acredita no talento de Quintino e o defende dos outros sócios da agência, que querem indicar outras pessoas para o cargo disputado.

Quando a agência se depara com uma campanha importante para uma empresa de microtratores, Quintino se destaca ao apresentar ideias criativas e inspiradoras, que surpreendem a todos presentes na reunião. Sua forma de pensar fora da caixa e sua capacidade de enxergar o que realmente importa na vida trazem um novo olhar para a campanha, mostrando seu valor e talento.

No final, o conto nos faz refletir sobre a importância de valorizar as pessoas por seu verdadeiro potencial e não apenas por suas peculiaridades. Quintino é um exemplo de como a genialidade pode estar presente nos lugares menos óbvios, e como devemos dar oportunidades para aqueles que pensam de forma diferente. A narrativa habilmente construída pelo autor nos envolve e nos faz apreciar a singularidade de cada personagem, tornando "Freddy Quin" uma leitura cativante e instigante.

O conto "Ensino Fundamental", nos leva de volta aos anos 70, em um colégio de elite no Sul do país, onde Beto, um dos garotos do Primário, desfruta dos momentos de diversão no recreio, correndo atrás de tampinhas de refrigerante e bolas de meia. A narrativa traz à tona as diferenças sociais entre os alunos, mas o protagonista, Beto, parece não se importar com essas questões, vivendo sua infância de forma simples e despreocupada.

O texto também aborda de forma crítica a presença das irmãs da ordem católica no colégio, que punem os alunos de forma violenta. A figura do padre Adamásio, professor de religião, revela-se como um personagem controverso, com uma verdadeira vocação para consolar viúvas e senhoras em crise conjugal.

A história toma um rumo inesperado quando Beto se encanta por uma aluna mais velha, que se destaca pela sua beleza e elegância. O conto explora a inocência e a ingenuidade do protagonista, que recebe conselhos de um colega para se aproximar da garota através de uma carta.

Com uma escrita envolvente e detalhada, o autor nos transporta para o universo da infância, com suas brincadeiras, relações sociais e descobertas. "Ensino Fundamental" é um conto que, além de retratar a vida escolar de forma nostálgica, também nos faz refletir sobre as complexidades e sutilezas da convivência humana.

O conto "Quatro Teses sobre Deus" aborda de maneira divertida e irônica a questão da existência de Deus e a relação entre Ciência e religião. O narrador, de forma sarcástica, questiona a ideia de que a Ciência pode explicar tudo e descarta a possibilidade de um universo sem a presença de um Ser superior, comparando a ideia a um diálogo entre rochas.

O texto critica a visão materialista da Ciência, argumentando que ela não é capaz de explicar a origem misteriosa de tudo e seu destino, apenas descrever como as coisas funcionam no universo. Além disso, o conto ironiza as teorias científicas sobre o Big Bang e a origem da vida, sugerindo que são tão absurdas quanto a ideia de um Ser supremo criando o universo.

Ao personificar as diferentes áreas da Ciência como personagens em uma peça teatral, o autor destaca a diversidade e complexidade do conhecimento científico, mas também ressalta suas limitações e lacunas. No final, o narrador sugere que, apesar de toda a complexidade da Ciência, ainda existe uma dimensão misteriosa e transcendental que não pode ser explicada apenas pelos métodos científicos.

Em resumo, "Quatro Teses sobre Deus" é um conto provocativo e bem-humorado que questiona as certezas da Ciência e convida o leitor a refletir sobre a relação entre a busca pelo conhecimento e a espiritualidade.

A partir deste ponto, o que se pode observar no contexto geral da obra é o uso e o destrinchamento de características pertencentes às áreas de estudo da qual o conto se debruça, o que revela, que, talvez, o livro seja destinado à um público específico, que, de certa forma, apreciará as nuances e curiosidades expressas nos contos, como qualquer estudante de alguma licenciatura ou área ligada à alimentação, história ou nutrição. Como podemos observar em VegaLight (página 47): A alcachofra. além de reduzir os níveis do colesterol e açúcar no sangue, combate a anemia, e de bônus, nos livra dos gases intestinais. Ou até mesmo no primeiro conto, neandertala brasiliensis: nos longos períodos gelados, os neandertais tinham preferência por acampar no interior de caverna, abrigos naturais nos quais era mais fácil aquecer e proteger o grupo (p.25)

Em suma, o livro de Bert Jr cumpre o que promete com boas doses de bom humor, enredos cativantes e descrições pouco convencionais. A narrativa do autor é algo marcante, o que pode ajudar os leitores a identificar seus próximos trabalhos com mais afinco. Uma prosa libertadora de um livro extremamente bem escrito e elaborado. Um charme à parte o trabalho editorial desenvolvido pela editora labrador.


O AUTOR
BERT JR., cujo nome de batismo é Colbert Soares Pinto Junior, nasceu em Porto Alegre (RS), em 1962. É formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco. Como diplomata já serviu em cinco países, foi cônsul-geral e atualmente exerce a função de embaixador. Aos 18 anos, dois poemas de sua autoria foram premiados em um concurso que tinha Mario Quintana e Lya Luft como membros do júri. Sempre gostou de música, considerando-se um violonista amador intermitente. Mantém um canal no YouTube e uma página no Facebook para a divulgação de trabalhos literários e musicais. Fict-Essays e contos mais leves é seu livro de estreia na ficção.

[RESENHA #979] Mogens, de Jens Peter Jacobsen

No final do século XIX, a Dinamarca viveu um período de intensa efervescência intelectual e literária, sendo que essa época foi marcada por influências significativas. Enquanto George Brandes proferia discursos sobre as principais correntes da literatura do século XIX, Henrik Ibsen questionava de maneira profunda e incisiva a teoria evolucionária e o darwinismo que encontravam eco na Inglaterra, do outro lado do Mar do Norte. Nesse cenário de conflitos e controvérsias entre o velho e o novo, teorias eram defendidas e atacadas com extrema violência. Entretanto, nesse contexto, Jens Peter Jacobsen se destacou como um artista singular, preocupado unicamente em ser um criador de beleza e um buscador da verdade.


As suas obras, repletas de cores vívidas e que jamais desbotam, mostram a paixão de Jacobsen pela forma e estilo, estampando-os suavemente, mas com força e intimidade, assemelhando-se ao toque singular de um violino ao interpretar a leitura da vida. Além disso, Jacobsen é muito mais do que um simples estilista; ele é preciso em sua observação e minucioso nos detalhes, revelando uma compreensão profunda e íntima do coração humano. Os seus personagens são construídos a partir de uma combinação entre experiência e imaginação, revelando como são moldados e modificados por fatores físicos, hereditários e ambientais.


Jacobsen acreditava que todo livro de verdadeiro valor deve incorporar a luta de uma ou mais pessoas contra tudo o que tenta obstruir sua existência única. Esse espírito essencial permeia toda a sua obra, sendo presente em personagens como Mogens. Nascido em 1847, em uma pequena cidade dinamarquesa, Jens Peter Jacobsen já demonstrava talento para a ciência desde jovem, mas acabou optando pela literatura após contrair tuberculose. O restante de sua vida foi vivido de maneira simples e corajosa, sendo marcada por uma devoção apaixonada à literatura e batalhas constantes contra problemas de saúde.

O seu método de trabalho era lento e meticuloso, evitando os círculos literários da capital para ter tempo de realizar a sua obra antes que o tempo lhe fosse tirado. Sob a influência de George Brandes, que o encorajou, Jacobsen publicou diversos romances. Embora de pequena quantidade, a sua contribuição para a literatura escandinava foi monumental, já que ele criou um novo método de abordagem literária e uma nova forma artística que influenciou diversos escritores desde então.


Mogens é uma obra de contos escrita pelo autor dinamarquês Jens Peter Jacobson, a obra marca a passagem do romantismo para o naturalismo. A escrita é marcada pela presença da descrição rica e detalhada do espaço ao qual o enredo se desenvolve, tendo suas descrições do tempo e do espaço em quase toda a obra ao qual os acontecimentos se discorrem. A princípio, a obra narra a vida de um homem, de nome Mogens, que está apreciando a natureza e a chuva, ele molha-se, canta e dança despretensiosamente enquanto é observado por uma pequena garotinha em um arbusto próximo, ele então observa seu cachecol preso e decide vê-la mais de perto enquanto seu rosto e corpo estão molhados pela água da chuva que cai. Ela assusta-se e corre desesperadamente entre a floresta e desaparece, ele, após percorrer um longo trajeto em busca da garota, decide adiar sua busca e cai na gargalhada rindo de todo acontecimento, que, em primeira análise, causa estranhamento no leitor não somente pela reação do homem, mas por sua implacável decisão de busca pela garota em meio à floresta. 


Fazia um calor sufocante, o ar tremulava e tudo ao redor guardava silêncio; as folhas dormitavam nas árvores, e nada se mexia além das joaninhas nas urtigas e das folhas murchas que se espalhavam pela grama [...] (p.6)


Tudo cintilava, luzia e chapinhava. Troncos, galhos, tudo brilhava de umidade, cada pequena gosta que caía na terra, na grama, na escada junto à cerca, no que quer que fosse, dividia-se e espalhava-se em mil pérolas delicadas [...] (p.7)


A história segue narrando o encontro do Magistrado do Cabo de Trafalgar e sua filha com Mogens. Ao caminharem até a porta da casa do guarda da floresta, Nikolai, a menina assustou-se pois viu nele o reconheceu nele o homem que cantarolava na floresta. Eles então decidem sair para velejar em seu barco, trocando breves conversas com a filha do magistrado.


“Mas poesia? Oehlenschlager, Schiller e os outros?”
“Oh, claro que os conheço; tínhamos uma estante cheia deles em casa, e a Srta. Holm —  — lia-os em voz alta depois do almoço e à noite; mas não posso dizer que me importei com eles; Eu não gosto de versos.
“Não gosta de versos? Você disse que sim, sua mãe não está mais viva?
“Não, meu pai também não.”
Ele disse isso com um tom um tanto taciturno e hostil, e a conversa foi interrompida por um momento e tornou possível ouvir claramente os muitos pequenos sons criados pelo movimento do barco na água. A garota quebrou o silêncio:
“Você gosta de pinturas?”


O conto segue entre os discursos proferidos por Kamilla e Mogens que se mostra cada vez menos interessado nos tópicos, pois suas vontades e desejos eram o oposto dos quais a Kamilla poderia prever, até mesmo seu gosto pela matéria e pela natureza era um ponto distinto em sua consciência. A obra também narra um relacionamento marcado por poucas palavras, mas com uma admiração latente que se forma entre os dois. Com o tempo, o relacionamento de ambos amadurece em admiração, fazendo-o criar coragem e pedi-la em namoro:

[...] Eu quero perguntar uma coisa à senhorita, mas antes prometa que não vai rir de mim [...] Aqui está a mesa e lá está a cerca. Se a senhorita não quiser ser minha noiva, eu vou sair correndo, pular com o cesto por cima da cerca e desaparecer. Um. (p. 26)

Kamilla continua - Dois. A expressão do rapaz é de pura palidez - eu quero, ela diz. A partir deste ponto a história se debruça sobre a relação de ambos, um acontecimento que remete ao luto e ao inesperado, ao encontro de uma jovem moça chamada Laura, ao destino e desatino entre o caminho de Mogens e uma moça de nome Tora.

Como o próprio período da obra propõe como estética e influência, a obra de Jacobsen é profundamente focada em eventos traumáticos - a criação longe do pai, a morte da mãe, a perda do primeiro amor, os momentos de fraqueza e reflexões dolorosas - como imaginar a morte de uma amante mesmo com ela viva - até mesmo seus devaneios e cânticos em meio ao nada na natureza. As descrições da natureza e dos arredores ocupam grande parte da narrativa, o que pode ser, para alguns, cansativo, mas para os apreciadores da boa arte de escrever e viver um clássico, esta característica é a primazia da felicidade do leitor, que permite que sintamos e nos conectemos de forma mais íntima com o autor e com sua vida.


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