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[RESENHA #503] Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus

Viver em uma favela abandonada pelo estado pode ser extremamente difícil. Muitas vezes, essas áreas carecem de serviços básicos, como água potável, saneamento, energia elétrica, transporte público, educação e saúde. Isso faz com que as pessoas que vivem nestas áreas vivam em condições muito difíceis. Além disso, os moradores também enfrentam a violência urbana, que é frequente nas favelas. Essa violência inclui ações como tráfico de drogas, assaltos e outros crimes. Devido à falta de serviços básicos, os moradores também sofrem com a falta de emprego e oportunidades de desenvolvimento pessoal. Como resultado, as pessoas que vivem nas favelas abandonadas pelo estado geralmente enfrentam condições de vida muito ruins. Neste meio, nasceu o maior relato de todos os tempos acerca das dificuldades de se viver na favela, quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus.

O livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, relata a vida de uma mulher pobre e seus três filhos em um cortiço em São Paulo, no ano de 1960. O livro é dividido em três partes que abordam suas experiências vividas naquele espaço.

A primeira parte se concentra na descrição do local ao qual Carolina está submetida. Ela vive em um cortiço muito simples, que está cheio de lixo e ratos. Há uma quantidade enorme de pessoas vivendo lá, e todas elas precisam lutar para sobreviver. Carolina descreve seu ambiente como um "quarto de despejo".

A segunda parte aborda a vida diária de Carolina. Ela trabalha duro para sobreviver e para sustentar seus três filhos. Ela coleta e vende lixo para ganhar um pouco de dinheiro para comprar comida. Ela também recolhe e recicla materiais para vender e criar um pequeno negócio.

Em sua vida diária, Carolina experimenta muitas formas de discriminação. Ela é vista como uma pessoa inferior e é constantemente tratada com desprezo e falta de respeito. Ela enfrenta muitos preconceitos e desigualdades em seu dia-a-dia.

A terceira parte aborda a busca de Carolina por sua liberdade. Ela é uma mulher forte e determinada, que luta para sair de sua situação de miséria. Ela busca sua independência e faz o que for preciso para conseguir. Ela se torna uma escritora e publica seu livro, com o qual conquista fama e reconhecimento.

O livro Quarto de Despejo é uma história emocionante sobre a vida de uma mulher pobre e sua luta para encontrar sua liberdade. É uma narrativa poderosa que retrata as desigualdades e preconceitos que Carolina tem que enfrentar. É uma história inspiradora sobre a força e a determinação de um indivíduo, além de uma lembrança importante de que é possível superar dificuldades e alcançar a liberdade.

No diário não confidencial de Carolina, ela descreve a realidade da favela do Canindé em São Paulo, junto às margens do rio Tiete, desde o aniversário de sua filha em 15 de julho de 1955. Ela reflete e critica a política da zona, denunciando as condições desfavoráveis sob as quais seu povo vive. Carolina luta diariamente para encontrar alimentos para ela e seus três filhos, Vera Eunice, João José e José Carlos, e precisa buscar água na torneira para evitar as filas e os comentários maldosos das outras mulheres da favela. Ela faz o café para as crianças, mas muitas vezes não tem pão para servir, e eles acabam comendo o que têm disponível. Vera vai à escola e Carolina a acompanha, mesmo sem ter sapatos para a menina. Carolina se esforça para que sua família não passe fome, mas desde há dois anos deseja comprar uma máquina de moer carne e uma máquina de costura, sem sucesso.


A vizinhança era um mar de conflitos, pois as mulheres brigavam e zombavam dos seus filhos. Quando essas mulheres entravam em fúria e invadiam o barraco de Carolina para espancar as crianças, elas se defendiam atirando pedras nas vizinhas. Carolina, não se envolvia nas brigas, mas sim acolhia as crianças e as consolava. Ela prometeu que escreveria um livro sobre a favela, mostrando tudo o que acontece e as cenas desagradáveis oferecidas. Ela tratava as crianças com gentileza, mesmo aquelas que eram ensinadas a falar mal pelas mães.

Há 8 anos Carolina lutava para sobreviver. Catava papel, ferro e estopas nos lixões, buscava alimentos para comer, pegava os legumes descartados nas feiras e ganhava ossos no frigorífico. Mas ela desejava sair da favela e sonhava em ter uma casa de alvenaria.

As brigas entre os casais da favela eram frequentes, muitas vezes a diversão passava por bebidas e desnudismo, Carolina não aprovava esse tipo de comportamento. Ela acreditava que o melhor a se fazer era buscar dialogar com as partes envolvidas. Quando o diálogo não surtia efeito, ela recorria a Patrulha Rádio para procurar ajuda. Em seu tempo livre, ela gostava de escrever em seu diário ou ler um livro, para que pudesse ter uma visão diferente da realidade.

Ela optou por não se casar devido às difíceis condições impostas pelos homens. No entanto, muitas mulheres da favela que se casaram são forçadas a pedir esmolas para sobreviver, enquanto seus maridos permanecem em casa dormindo ou se recuperando de uma bênção causada pela bebida.

Durante as eleições, os políticos costumavam visitar a favela para buscar votos, prometendo soluções que nunca eram cumpridas. Os moradores da favela sofriam com as condições precárias de vida: falta de saneamento básico, atendimento médico, moradias adequadas e alimentação nutritiva. Quando ela procurava o serviço social, a tristeza tomava conta de cada vez que presenciava o descaso com que essas pessoas eram tratadas.

Ela comparou a vida na favela, onde havia excremento e barro podre, à da cidade, que ela descreveu como sendo uma sala de visitas. Ela também citou outros problemas, como a prostituição de menores, o abuso sexual e o uso de drogas, bem como a descrição da favela como um objeto fora de uso. Frei Luiz, o dono do Centro Espirita da Rua Vergueiro 103, oferecia ajuda aos pobres moradores das favelas. Alimentos e roupas eram distribuídos para esta população carente. Além disso, o religioso realizava catequese para as crianças, exibia filmes bíblicos para aqueles que desejassem assistir e contava com um carro-capela, onde realizava missas para as pessoas mais desesperançadas. Tudo isso para espalhar os ensinamentos cristãos para aqueles que mais necessitavam.


Carolina buscou enviar seu livro para diversas Editoras no Brasil, mas suas esperanças não foram correspondidas. Por isso, decidiu enviar seu manuscrito para uma Editora nos Estados Unidos.

Mesmo com as decepções que a vida lhe trazia, a mãe de Maria formou seu caráter para que ela aprendesse a acolher e amar os humildes. Seu coração sempre se solidarizava com aqueles que estavam desenganados e tinha sempre uma palavra de sabedoria para oferecer. Quando a notícia da devolução de sua obra chegou, ela não se deixou abater e seguiu seu caminho.

Mesmo tendo vários pretendentes, Maria não se envolvia com nenhum deles. Seu maior exemplo era seu Manoel, pois era um homem gentil, educado e que não se envolvia em escândalos. Ele trabalhava todos os dias de forma honesta, indo de casa para o trabalho e de volta para casa.


Senhor Manoel ficou com ciúmes ao ver Carolina tão próxima daquele cigano viúvo que havia chegado recentemente à favela, mas com o passar do tempo, ele viu que ela não estava interessada no estrangeiro e as coisas melhoraram entre eles.

O repórter Audálio Dantas ficou profundamente tocado com as histórias de Carolina, que relatava suas dificuldades diárias, e marcou uma entrevista para contar a sua história. Então, eles tomaram um taxi e se dirigiram ao Largo do Arouche para tirar fotos para a revista Cruzeiro. Carolina enfrentava a fome, não tinha dinheiro suficiente para alimentar sua família, e seus filhos possuíam pais diferentes. Ela tinha um pai de vera que era dono de uma oficina, mas ela nunca revelou seu nome no livro, ao pedido dele.

Assim que a reportagem foi publicada, Carolina ficou muito contente. Ela foi parabenizada por amigos e desconhecidos na rua e até mesmo uma moça loira foi à sua casa com a revista para ajudá-la. No entanto, algumas mulheres da favela não ficaram satisfeitas com a reportagem, pois acharam que Carolina estava desmoralizando o local onde viviam. Carolina, cuja rotina parecia não ter fim, estava cansada de sua vida miserável. Ela fechou o livro em 1º de Janeiro de 1960 com o adágio mais usado: "Levantei às 5h para buscar água".


CONCLUSÃO

Carolina narra em seu diário, de maneira simples e objetiva, a sua história de vida. Apesar de suas poucas habilidades de escrita e de seus erros ortográficos, é perceptível o sentimento de revolta com a vida indigna que ela vive. Embora ela prefira ler e escrever a se revoltar, ela luta para sobreviver e criar seus filhos com amor. O resultado é a superação dos obstáculos, a valorização dos valores e a amor à família, que são lições que Carolina nos ensina em seu diário.

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