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[RESENHA #545] A revolução burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes

Foto: Colagem digital / Post Literal


APRESENTAÇÃO:

Como resposta ao golpe de 64 Florestan Fernandes publicou “A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica”. Não demorou para que o livro se tornasse um dos clássicos do pensamento sociológico crítico no país.

Em 2020, ano do centenário do autor, a Editora Contracorrente, em parceria com a Kotter Editorial, inaugura a Coleção Florestan Fernandes com essa antológica obra, que conta com prefácio dos Professores André Botelho e Antonio Brasil Jr., ambos da UFRJ, e um posfácio do Prof. Gabriel Cohn.

A Coleção Florestan Fernandes é coordenada pelo Professor Bernardo Ricupero, da USP, para quem “A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica” é a culminação da obra de Florestan Fernandes e “corresponde a uma espécie de encruzilhada, na qual o sociólogo que foi encontra o publicista revolucionário que se torna. É, portanto, um bom lugar para começar a reedição da obra desse sociólogo comprometido, no sentido mais pleno do termo”.



RESENHA


Florestan escreveu o livro A Revolução Burguesa no Brasil para analisar como o capitalismo brasileiro mudou. Ele mostrou como as classes dominantes e a dominação de classe influenciaram essa transformação, discutindo os elementos econômicos, sociais, ideológicos e utópicos. Ele discordou de outros sociólogos que acreditavam que a revolução burguesa brasileira se deu sob o contexto da dominação imperialista, como Barrington Moore Jr., que achava que a última revolução burguesa foi norte-americana. Florestan acredita que a Revolução Burguesa é a força que está por trás da mudança social e do progresso, mas também acredita que existem certos limites ao longo do tempo que podem diminuir sua eficácia.


Florestan Fernandes começa a escrever uma obra em 1966, mas acaba desistindo no mesmo ano. Ele volta de exílio em 1972 e conclui a obra em 1974. A obra mistura conceitos e procedimentos de Max Weber, Karl Mannheim e Karl Marx para explicar processos históricos e sociais. Esta obra marca um novo posicionamento de Florestan Fernandes devido a uma crise social que mostrou o esgotamento de sua proposta de "Brasil moderno".


Florestan estudou como as pessoas e seus ideais influenciaram o desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Ele buscou descobrir quais eram os agentes humanos responsáveis pelo espírito do capitalismo, que criou a ordem social competitiva típica desta fase.


A dependência econômica do Brasil é mantida por um mecanismo dual de extração de excedente econômico, onde os países centrais não agem diretamente no Brasil, mas através da sua própria burguesia. Para que isso aconteça, a burguesia tem que ter o poder político, o que Florestan chamou de "revolução burguesa" ou autocracia burguesa. Esta concentração de poder político, por sua vez, direciona o destino da nação ao destino do seu parceiro externo, o capital estrangeiro.


No final do século XIX, o Brasil começou a entrar na era do capitalismo dependente. A partir de 1880, o país passou por diversas mudanças econômicas, políticas e sociais que influenciaram a história do país. Esta era foi dividida em duas fases principais: o capitalismo competitivo (de 1880 a 1964) e o populismo demagógico (de 1964 em diante). Durante o capitalismo competitivo, o país viveu um momento de aceleração industrial, enquanto durante o populismo demagógico houve a ampliação da industrialização e a entrada de empresas multinacionais no Brasil.


Florestan diria que governantes ricos que tentam se identificar com as pessoas comuns, mas que estão ligados a interesses de sua própria classe, são demagogos populares. Ele acreditava que esses demagogos podiam ser revolucionários e às vezes a preferência da população pelo demagogo significava que a melhor maneira de lutar pela causa popular seria o demagogo. No entanto, isso nunca aconteceu no Brasil.


Mesmo que os governos tenham tentado manter as pessoas trabalhadoras com promessas populares, nos anos 1960 surgiram movimentos de massa anti-burgueses. Estes movimentos influenciaram pessoas de todos os grupos sociais e estendiam suas influências revolucionárias para as classes mais baixas. Apesar disso, o governo ainda usava o populismo para manter o status quo.


A elite brasileira achou que as pessoas estavam querendo mudar a sociedade e se livrar dos costumes antigos. Eles não queriam que isso acontecesse e fizeram um golpe militar para tentar impedir o que acreditavam ser uma revolução socialista. Eles tentaram conter a pressão que havia para mudar a sociedade por meio de uma ditadura militar.


Sem os militares, o poder político não seria concentrado tão facilmente. A ditadura militar foi responsável por ajudar o país a se integrar às economias e ao sistema de poder dos países capitalistas centrais e de sua superpotência. Isso resultou em uma nova forma de exploração da periferia, mais cruel e completa que as anteriores, nascidas da dominação colonial direta e do indirect rule.


As classes dominantes (ricos e poderosos) usaram os militares para mudar o Brasil de uma economia competitiva para uma economia monopolista, mantendo o país dependente de outros países. Eles realizaram uma modernização conservadora do país, em vez de realizar uma revolução nacional, como aconteceu em Cuba.


Em 1964, os militares do Brasil aplicaram uma estratégia contrarrevolucionária para a "modernização" do país. Isso criou um Estado autoritário com três principais características: uma aparência democrática, uma política econômica conservadora e um caráter fascista para reprimir qualquer protesto. Amodernização criada pelo governo militar não era realmente uma modernização, pois ainda havia dependência. A única maneira de modernizar o país seria conquistando independência dentro ou fora da ordem, seja com revolução ou com socialismo.


Florestan estava examinando como os ricos e poderosos controlam a situação no Brasil, ao longo da história. Ele percebeu que, quando havia uma transição para uma democracia, havia acordos que mantinham os processos de modernização, mas não mudavam a realidade das classes dominantes.


Em síntese, uma obra magistral da análise da revolução burguesa no Brasil. Um livro completo para se ler por todos os leitores ávidos pelo conhecimento.


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