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A formação do Brasil em Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre

Foto: Divulgação

APRESENTAÇÃO

Em 1933, após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre publica "Casa-grande & Senzala", livro que revoluciona os estudos no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade literária. É considerado o livro capital da cultura brasileira. Passados 80 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura, mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela mistura de raças e culturas. A atual edição possui introdução de Fernando Henrique Cardoso.


RESENHA

Foto: Divulgação

O clássico obra de Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala, analisa a formação do povo brasileiro, destacando suas características positivas e negativas, bem como as peculiaridades de sua origem. O autor ressalta a sociedade patriarcal brasileira, descrevendo aspectos cotidianos na colônia, como a escassez de escolas e a criação das crianças no meio selvagem.

Freyre também compara o estilo de colonização portuguesa com a espanhola e inglesa. Ele investiga a miscigenação no Brasil, que ocorreu intensamente devido à falta de mulheres brancas na colônia. A obra aborda o mito da promiscuidade brasileira, erroneamente atribuída aos indígenas e escravos, assim como a opressão contra as mulheres.

O autor também destaca a influência da igreja católica na colônia, mencionando a proibição de negros e mestiços ao sacerdócio. Casa-grande & senzala é uma análise profunda sobre a sociedade brasileira e suas origens.

O livro aborda a formação do Brasil a partir de dois pilares fundamentais. O primeiro destaca a influência da monocultura latifundiária e do sistema escravocrata na colonização, onde Portugal não se preocupou em distribuir terras de forma equitativa, resultando em uma enorme concentração de propriedades. Devido à resistência dos índios em realizar trabalhos repetitivos, os africanos foram trazidos como escravos para trabalhar nos latifúndios.

Um aspecto interessante do livro é a análise da fusão das culturas africana e indígena, que se mesclaram e influenciaram elementos como vestimentas, culinária, comportamento e crenças. Essa mistura cultural, somada à presença europeia, resultou na formação do povo brasileiro, caracterizado pela diversidade cultural.

O comportamento dos portugueses foi essencial nesse processo, pois, ao contrário de outros europeus, demonstraram ser mais receptivos a influências externas e permitiram a miscigenação de culturas, como já haviam feito anteriormente com a cultura árabe dos mouros. Essa abertura para a diversidade é apontada como um dos motivos que contribuíram para a ausência de conflitos étnicos profundos no Brasil, apesar do passado escravocrata. Embora o racismo ainda persista, a resolução pacífica em comparação com outros países é destacada como uma característica positiva do Brasil. O segundo eixo fundamental do livro, intitulado "Casa-Grande e Senzala", aborda a divisão entre os poderes político, econômico e social na sociedade brasileira. Enquanto a Casa-Grande representava o centro do poder, com todos os privilégios e luxos, a Senzala era o lugar onde os escravos viviam desprovidos de direitos e sujeitos aos abusos dos senhores. Essa divisão criou um contraste entre os aceitos e relegados, deixando marcas profundas na estrutura social do país.

A cultura da Casa-Grande, de mandar e de privilégios, perdurou mesmo após a abolição da escravidão em 1888. O livro Raízes do Brasil destaca que os habitantes da Casa-Grande mantinham essa mentalidade no trato dos cargos públicos, beneficiando apenas amigos e negando oportunidades ao restante da população. Esse sistema de compadrio perpetuou desigualdades e injustiças na sociedade brasileira por muito tempo.

O livro expõe a complexidade do povo brasileiro, tanto em termos culturais quanto de formação. É importante considerar nosso passado para entender as dificuldades atuais do país, especialmente em relação às decisões políticas que parecem beneficiar apenas os governantes. A confusão entre interesses públicos e privados, talvez herança da Casa-grande e do compadrismo de Freyre, é um tema recorrente. A resistência a reformas e a manutenção do status quo também podem ter raízes históricas. A leitura de "Casa grande e senzala" pode ajudar a compreender melhor a realidade brasileira.

No geral, Casa-grande & senzala é uma obra fundamental para compreender a formação e a complexidade da sociedade brasileira. Freyre conseguiu analisar de forma profunda as raízes do Brasil, destacando tanto aspectos positivos quanto negativos. Sua abordagem da miscigenação, das influências culturais e da estrutura social do país é extremamente relevante até os dias de hoje. A obra nos leva a refletir sobre as origens das desigualdades e injustiças presentes na sociedade brasileira, e nos ajuda a compreender melhor os desafios que o país enfrenta atualmente. Em suma, Casa-grande & senzala é um livro que merece ser lido e estudado por todos que desejam compreender a essência do Brasil.

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