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[RESENHA #797] Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

Grande sertão: veredas é um romance publicado em 1956 pelo escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), considerado um dos mais importantes da literatura brasileira e universal. A obra faz parte da terceira fase do modernismo, caracterizada pela experimentação linguística e pela abordagem de temas existenciais.

O livro narra a vida de Riobaldo, um ex-jagunço que conta suas aventuras, seus conflitos, seus amores e suas angústias ao longo de uma extensa conversa com um interlocutor desconhecido. Riobaldo vive no sertão, um espaço geográfico e simbólico que representa o cenário das lutas entre os bandos de jagunços, mas também o palco das reflexões sobre o bem e o mal, o destino e a liberdade, Deus e o diabo.

A obra se destaca pelo estilo inovador de Guimarães Rosa, que cria uma linguagem própria, baseada na oralidade, na inventividade, no uso de arcaísmos, neologismos, regionalismos e estrangeirismos. O autor também explora os recursos sonoros, rítmicos e imagéticos da língua, criando uma prosa poética de grande beleza e expressividade.

Os principais personagens do romance são Riobaldo, o protagonista e narrador; Diadorim, seu amigo de infância e grande amor, que esconde um segredo; Joca Ramiro, o chefe dos jagunços que representa a honra e a justiça; Hermógenes, o inimigo de Riobaldo e Joca Ramiro, que encarna o mal; Medeiro Vaz, o sucessor de Joca Ramiro e mentor de Riobaldo; e Zé Bebelo, o fazendeiro que se rebela contra os jagunços e depois se alia a eles.

O romance é repleto de ensinamentos, que podem ser extraídos das falas de Riobaldo, das histórias que ele conta, das citações que ele faz de autores clássicos e populares, e das metáforas que ele usa para ilustrar suas ideias. Alguns exemplos de citações marcantes são:

- "Viver é muito perigoso..."

- "O diabo na rua, no meio do redemunho..."

- "O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."

- "O sertão é do tamanho do mundo."

- "Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo."

O romance também é rico em simbologia, que pode ser percebida nos nomes dos personagens, nos animais, nas plantas, nas cores, nos números, nos gestos, nos objetos, nos rituais, nos mitos e nas lendas que compõem o universo sertanejo. Por exemplo, o nome Riobaldo remete ao rio e ao fogo, elementos que representam a vida e a morte, a purificação e a destruição, a fluidez e a paixão. O nome Diadorim significa "o que atravessa o rio", o que sugere uma travessia, uma transformação, uma passagem de um estado a outro.

O romance também tem uma importância e uma relevância cultural imensas, pois retrata a realidade e a cultura do sertão brasileiro, valorizando a sua diversidade, a sua riqueza, a sua originalidade e a sua resistência. Além disso, o romance dialoga com outras obras da literatura nacional e universal, como Os Sertões, de Euclides da Cunha; Macunaíma, de Mário de Andrade; Dom Quixote, de Miguel de Cervantes; e Fausto, de Goethe.

Guimarães Rosa foi um escritor, médico e diplomata, que nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, em 1908, e morreu no Rio de Janeiro, em 1967. Foi um dos maiores renovadores da literatura brasileira, criando uma obra única e original, que mescla o regional e o universal, o erudito e o popular, o real e o fantástico. Além de Grande sertão: veredas, escreveu outras obras importantes, como Sagarana, Corpo de Baile, Primeiras Estórias e Tutaméia.

Grande sertão: veredas é, sem dúvida, uma obra-prima, que merece ser lida, relida, estudada e admirada por todos os que amam a literatura e a arte. É um livro que nos desafia, nos emociona, nos ensina e nos encanta, com sua linguagem, sua história, seus personagens, seus temas e seus mistérios. É um livro que nos revela o sertão, o Brasil e o mundo, mas também nos revela a nós mesmos, em nossa complexidade e nossa humanidade.

[#AnáliseLiterária] A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa


“A terceira margem do rio” é uma das narrativas que compõem o volume Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, publicado originalmente em 1962. Agora, graças às belas ilustrações de Thaís dos Anjos, o pai, aquele “homem cumpridor, ordeiro, positivo”, a mãe e os três filhos adquirem novos matizes, e o rio “grande, fundo, calado que sempre”, permanece “de meio a meio” a cada quadrinho, fazendo outra vez, nessa renovada leitura do conto rosiano, nosso coração bater “no compasso do mais certo”.

ISBN-13: 9788520929292
ISBN-10: 852092929X
Ano: 2012 / Páginas: 64
Idioma: português
Editora: Nova Fronteira

ANÁLISE

A reflexão sobre o conto de Guimarães Rosa, a análise visual da obra de Guto Lacaz, a leitura auditiva da música de Caetano Veloso, e da obra de arte da artista Marilá Dardote, essa última diferenciada com relação ao titulo, nos permite analisar intertextualmente de acordo com os elementos contidos nelas e interrelacionados umas as outras.

O conto é narrado em primeira pessoa pelo narrador-personagem, o filho narra a jornada de um pai que passa a viver no meio de um rio em uma canoa estabelecendo ali uma terceira margem. A travessia infinita do pai num rio que está representado por três margens, que nos remetem o irreal.
Partindo para a análise dos recursos de estilo o autor vem nos trazer a estranheza vazada em seu estilo típico.

Na prosa, o tempo é cronológico a vida do narrador, ou seja, o filho está aprisionado ao tempo e ao princípio de continuidade para ele, o tempo corre numa fatalidade devoradora de tempo vivido, o amadurecimento que o mesmo adquiriu na difícil tentativa de entender a decisão do pai. O espaço, esse como intervalo de tempo à presença do rio que limitava o encontro entre pai e filho, mistério no descrever da decisão tomando pelo pai, passando transcendentemente aos olhos do leitor no ir e vir do rio e da vida de ambas as pessoas. O ambiente onde ocorre a descrição da história dando a entender que a mesma se passa às margens de um rio.

O que vem a ser “A Terceira Margem”?

A tal expressão nos leva a analisar o subconsciente, a fim de despertamos para o entendimento do mundo abstrato. A terceira margem é aquilo que não se vê, não se toca, não se conhece, ou seja, aquilo que está além do compreensível. É o enigmático.

A psicanálise tenta compreender o homem. O pai busca sempre em silêncio a compreensão de si mesmo, assim o personagem resolve abandonar a família e o mundo e mergulha numa busca de um vazio existencial. Seu itinerário oscila entre as fronteiras do real e do surreal e a canoa construída pela imaginação do autor leva o personagem para uma zona enigmática e obscura para a condição humana.

Na composição da letra da música de Caetano Veloso “A terceira margem do rio”, temos uma releitura da obra de Guimarães Rosa, pois a mesma a reproduz de maneira poética. O cantor usou a técnica da metalinguagem para fazer um intercambio simbólico dos elementos descritos na prosa utilizando os mais variados neologismos da interpretação de cada significado.

Portanto podemos demonstrar uma proposta traçada por uma linha que evidência as relações entre a literatura, a música e a filosofia através da leitura desta canção.

Em seus primeiros versos, Caetano Veloso se refere ao silêncio característica peculiar do pai, onde é encenado entre sons de paus ocos e uma imagem de águas, o rio em seu movimento são expressos por um conto, nesse conto do rio, a madeira representa a canoa no silêncio nas águas, sendo assim, a palavra se faz margem ao expressar o silêncio.

O pai que permanece sempre na terceira margem do rio-linguagem, se torna o próprio rio. Ambos com a mesma característica, silencioso e sério.
“Um dos contos mais enigmáticos de Guimarães Rosa, A terceira margem do rio possui um jogo de palavras e uma estruturação que velam e revelam leituras diferentes do mesmo conto. Este jogo textual e estas diferentes leituras são percebidas por Caetano Veloso e reveladas em sua canção. O musico capta estes elementos e os condensa em texto poético.”

Já nas obras de arte contemporânea de Guto Lacaz, ao criar dois barcos iguais com cores distintas, e fazendo uso de um espelho posto entre ambos, o qual refletia a imagem de um terceiro, homônimo ao conto de Guimarães Rosa e a música de Caetano Veloso “A terceira margem do rio”. Os barcos representavam a canoa usada pelo pai no navegar do longo rio, o espelho dar ideia de limitação em relação a existência do filho e a inexistência do pai.

Podemos destacar que Guto Lacaz é um artista plástico que procura cruzar os campos da ciência com o do imaginário. Pois ele mostra em sua obra explicitamente que a arte responde com a incerteza e a indeterminação, instigando a curiosidade de compreensão daqueles que a apreciam.
Uma curiosidade a ser observada na obra de Guto é que ele usou três cores primárias para diferenciar os barcos e três nomes para distinguir seus significados, ressaltando que, tanto as cores como os nomes são alusivas ao tema da obra. E os nomes usados nas embarcações foram inspirados nas canções antigas usadas por Caetano Veloso.

Terra: representa o filho, bem como a distância entre a primeira margem onde se encontra o mesmo, e a terceira margem onde ele enxerga a miragem, vulto do pai.

Cajuína: representa o percurso do rio, o movimento das águas, que por mais que as mesmas fossem cristalinas tornavam-se uma barreira, um obstáculo de imensa opacidade limitando o encontro ambos os personagens.
Odara: é uma palavra do dialeto baiano, cuja expressão significa supremacia, beleza, etc. E está representado o pai em busca da paz da beleza suprema, da tranquilidade, do descanso eterno.

Podemos perceber na obra de Marilá Dardote dois aspectos do objeto livro: sua forma e seu conteúdo funcional. Assim ele é usado pelas ideias como meio e veículo em diferentes funções, representando ao mesmo tempo o mundano e o enigmático.

Essa obra distinguiu-se apenas da inexistência da letra “A” e da palavra “Rio” no início e final do título, essa terceira margem é apenas a margem do pai criada pelo filho no seu inconsciente. A ausência da letra”A” e da palavra”Rio”, está ligada a falta que o filho sentia do pai, a solidão no qual ele se encontrava a ausência do diálogo entre ambos.

O livro de Marilá com a impossibilidade de ser manuseado retrata o aprisionamento do filho as margens do que não existia, as paginas infolheáveis do livro remetem a ideia de limitação entre o existente e o inexistente, o acessível e o inacessível, a tocável e o intocável. Assim como Guto, Marilá também usou três cores diferentes, preto, branco e cinza, essa representação abstrata de uma terceira margem relata em silêncio o isolamento do pai para o mundo do inconsciente, a terceira margem é o que não se vê, o pai busca o desconhecido dentro de si.

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contudo Guimarães Rosa, Guto Lacaz, Caetano Veloso e Marilá Dardote, entrelaçaram essa história imaginária e ao mesmo tempo reflexiva de três formas distintas. A palavra “A terceira margem”, ocupa o lugar da transcendência por meio da qual o escritor rompe os limites entre o mundo cotidiano e metafísico.

Deixando claro a ideia abstrata de existência do filho e a inexistência do pai, querendo deixar o leitor com ambas as ideias em seus pensamentos, relatando em silencio a característica do isolamento pai e do pensar do filho.
Na canção é possível observar o uso da metalinguagem a partir dos elementos descritos na prosa que nos fazem evidenciar as relações entre literatura, música e filosofia.

A ideia do espelho nas canoas deixa claro que para o filho, o pai ainda existe nem que seja apenas no imaginário.

Outro aspecto imperceptível e constante entre as obras é o silêncio e a impossibilidade que está presente principalmente no livro de Marilá Dardote.

Análise: Sagarana, de Guimarães Rosa


APRESENTAÇÃO

"Sagarana" traz cenários e personagens típicos do interior do país, mais especificamente do sertão de Minas Gerais. A linguagem inventiva do livro é outro aspecto que distinguiria para sempre o autor no campo da literatura brasileira. Ao mesmo tempo em que incorpora fragmentos essenciais da oralidade sertaneja, pescando regionalismos e recuperando antigas expressões de linguagem do sertão, Rosa inova com a criação de neologismos cuidadosamente lapidados. Dentre os nove contos que fazem parte do livro, destacam-se os célebres “A hora e vez de Augusto Matraga”, “Conversa de bois” e “O burrinho pedrês”

RESENHA

Sagarana foi o primeiro livro publicado por Guimarães Rosa e foi responsável por destacar o autor como um importante nome da literatura nacional. Lançado em 1946, o compêndio é composto por nove contos longos, que muitas vezes são categorizados como novelas ou noveletas. A obra se passa inteiramente no sertão mineiro e traz minuciosas descrições de suas paisagens, evidenciando o vasto conhecimento que o autor possuía sobre a região.

No entanto, Sagarana não pode ser considerada apenas uma obra regionalista. Embora o contexto regional seja central na obra, as situações e personagens criados por Rosa transitam do particular ao universal. Os temas abordados englobam as relações sociais, as culturas popular e erudita, o fantástico e o mágico, bem como as raízes da sociedade brasileira.

Sagarana teve seu início como Contos, uma versão enviada a um concurso literário no Rio de Janeiro em 1938, onde o autor ficou em segundo lugar e permaneceu desconhecido pelo grande público. Ao longo dos anos, o autor revisou a obra, cortou alguns contos e reescreveu outros, resultando em uma versão muito diferente da original que conhecemos hoje.

Foi necessário também fazer uma revisão do título, já que Contos era uma denominação muito genérica usada em várias obras. Rosa decidiu então combinar duas palavras: saga, de origem germânica, que significa "conjunto de histórias ou lendas da tradição oral", e rana, sufixo tupi que significa "à maneira de".

Este jogo com a linguagem, que cria e recria palavras, é uma das características estilísticas do autor e é evidente desde o próprio título. Rosa buscava romper com o automatismo da língua, a palavra literária não deve ser meramente utilitária, mas sim remodelada e reconstruída para recuperar sua significação poética.

A dimensão lendária e mítica das sagas é evidente ao longo das histórias, onde a superstição, a sabedoria popular e proverbial, e a ambientação fantástica e mágica estão presentes constantemente. Mitos indígenas e de origem africana convivem com superstições populares, retratando as aparentes "desrazões" do homem simples do sertão como tema de alta literatura.

Ambientado completamente no sertão mineiro, a paisagem é uma das principais personagens das narrativas, juntamente com o minucioso trabalho de linguagem. Centenas de espécies de animais e plantas são descritas com precisão e é através da abordagem detalhada do regional que Rosa busca explorar questões universais, como a formação da sociedade brasileira.

O regionalismo está ligado às características locais do sertão de Minas Gerais, como elementos geográficos e culturais que definem a identidade das pessoas que vivem lá. Guimarães Rosa baseia sua ficção nesse aspecto humano, transformando algo que é de interesse local em temas universais compreensíveis em diferentes nações e períodos.

Um exemplo disso é a luta entre o bem e o mal no conto "A hora e vez de Augusto Matraga". Essas são temáticas universais, assim como o conflito gerado por essas duas forças, algo que a humanidade continuará a enfrentar em qualquer lugar do mundo e por muito tempo.

Outra característica marcante do autor é o uso coloquial da linguagem pelos personagens, o que confere um tom poético à representação da vida no sertão. Esse trabalho com a linguagem revela a imaginação e criatividade do povo do sertão, que transforma sua linguagem coloquial em um elemento lírico-identitário.

No entanto, ao lado do lirismo, a violência também está presente, sendo um elemento regional e universal. É a manifestação do primitivismo humano em meio às duras condições de vida dos personagens, que lutam para sobreviver mais do que para sonhar. Em um ambiente patriarcal, o uso da força bruta para dominar o espaço e as pessoas impulsiona alguns personagens, homens que não compreendem o poder separado da violência.

Por fim, o livro é dividido em nove narrativas chamadas de "sagaranas", que se assemelham a lendas ou a histórias passadas de boca em boca. O título da obra, além de poético, adiciona um tom épico aos personagens que são apresentados aos leitores. Assim, o caráter heroico também se torna um elemento universal neste clássico do modernismo brasileiro.

Sagarana é uma coletânea de nove contos escritos por Guimarães Rosa. Cada conto retrata um aspecto diferente da cultura e do folclore brasileiro, com personagens e cenários típicos do interior do país. 

1. "O Burrinho Pedrês": A história é centrada em um burro que possui uma pelagem peculiar e é considerado um animal misterioso. O conto aborda temas como superstição e tradições locais.

2. "A Volta do Marido Pródigo": Um homem retorna à sua cidade natal após muitos anos de ausência, despertando a curiosidade e a desconfiança dos habitantes locais. O conto explora o tema da identidade e das expectativas sociais.

3. "Sarapalha": Ambientado em uma fazenda, o conto conta a história de uma moça de beleza rara e do interesse amoroso de três homens. A narrativa aborda a rivalidade, a paixão e as convenções sociais.

4. "Duelo": O conto fala sobre uma disputa entre jagunços e a estratégia que eles utilizam para resolver seus conflitos. O tema central é a violência e seus reflexos na sociedade.

5. "Minha Gente": Retrata a vida de um homem marginalizado pela sociedade, refletindo sobre sua própria existência e seu lugar no mundo. O conto traz à tona questões como desigualdade social e preconceito.

6. "A Hora e Vez de Augusto Matraga": Conta a história de um homem que, após enfrentar desventuras em sua vida, passa por uma transformação moral. O conto discute temas como redenção e perdão.

7. "A Casa do Pecado Mortal": Narra a trajetória de um casal de moços apaixonados que tentam se casar, mas enfrentam um empecilho por uma tradição macabra. O conto aborda a questão do destino e a influência do meio social.

8. "Cara-de-Bronze": O conto retrata a história de um negro que viveu entre os índios e tem sua masculinidade questionada ao competir em uma prova de caça. A narrativa aborda temas de identidade racial e construção de estereótipos.

9. "Corpo Fechado": O último conto da obra é um relato de uma tradição popular baseada na superstição das rezas e proteções contra males. O conto explora a relação entre o ser humano e o sobrenatural.

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