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[RESENHA #593] Também eu danço, de Hannah Arendt

 

APRESENTAÇÃO

Quem imaginaria que um dos maiores nomes da filosofia política do século XX nos legaria também poemas? Originalmente não destinados à publicação, temos nesta antologia 71 poemas escritos ao longo da vida de Hannah Arendt. Tendo por base a edição alemã estabelecida apenas em 2015 – uma publicação póstuma e recente, como se vê –, os poemas reunidos aqui atuam também como sinalizadores da biografia da filósofa, marcando suas alegrias, amores, amizades, perdas e reminiscências.

Segundo Patricia Lavelle, em seu texto de orelha: “Escritos entre 1924 e 1961, com uma longa interrupção entre 1933 e 1942, o lugar destes poemas líricos é a vida interior de Hannah, seus amores e amizades. Mas embora não fosse uma ‘profissional’, para usar a expressão irônica da poeta Ana Cristina César, a jovem precoce de Königsberg, que aos quatorze anos já lia Kant, Kierkegaard e os românticos alemães, também não era poeticamente ingênua.

A escrita poética prolonga a correspondência de Hannah Arendt, em endereçamentos a interlocutores que também foram intelectuais importantes. Um primeiro ciclo de poemas, que vai de 1924 à 1927, está relacionado à paixão de juventude que ela viveu com Martin Heidegger, então um carismático professor casado, mas ainda não comprometido com o nazismo. Mais tarde, compartilhou o gosto pela poesia com seu colega de estudos Gunter Anders, com quem se casou. No exílio, dedicou versos ao grande amor de sua vida, o também filósofo Henrich Blütcher, seu segundo marido.

Entre seus poemas, encontramos também homenagens a amigos como Walter Benjamin, que Arendt dizia pensar poeticamente, o escritor Hermann Broch ou ainda o sionista Blumenfeld, líder do movimento de resistência ao nazismo no qual ela atuou. Versos surgem ainda no seu ‘diário de pensamento’, em releituras de Goethe ou Platão, entre outras referências.”

RESENHA


O livro "Também eu danço" é uma coletânea de poemas da renomada filósofa e teórica política Hannah Arendt. Publicado postumamente em 1995, o livro apresenta uma faceta menos conhecida da autora, que é a sua habilidade como poeta.

Os poemas exploram uma variedade de temas, incluindo amor, solidão, natureza, morte e a condição humana. Através de sua linguagem poética, Arendt expressa suas reflexões profundas sobre a existência humana e as complexidades da vida moderna.

Além dos poemas, "também eu danço" também contém alguns ensaios e reflexões da autora. Essas reflexões ampliam nosso entendimento das ideias e preocupações de Arendt, abordando questões como a natureza da liberdade, a importância da ação política e a necessidade de pensar criticamente em tempos de crise.

Hannah Arendt é mais conhecida por suas obras filosóficas e políticas, como "Origens do Totalitarismo", "A Condição Humana" e "A Vida do Espírito". Ela foi uma das mais influentes pensadoras do século XX, contribuindo para o campo da filosofia política e para a compreensão das estruturas de poder, autoridade e liberdade.

Suas obras são caracterizadas por uma abordagem multidisciplinar, combinando elementos da filosofia, política, história e sociologia. Arendt foi uma crítica contundente dos regimes totalitários e do conformismo político, enfatizando a importância da ação individual e do engajamento político para a preservação da liberdade e da dignidade humana.

O poema "também eu danço" de Hannah Arendt é uma obra poética excepcional que merece ser apreciada e elogiada. Através de sua linguagem poética rica e evocativa, Arendt consegue transmitir uma profunda introspecção e uma reflexão sobre a existência humana.

Uma das grandes qualidades do poema é a sua capacidade de nos transportar para um mundo de imagens e emoções intensas. Arendt utiliza metáforas e analogias de forma magistral, criando uma atmosfera poética envolvente que nos faz refletir sobre os mistérios e as complexidades da vida.

Além disso, o poema aborda uma variedade de temas universais, como amor, solidão, morte e a busca por significado. Arendt mergulha profundamente nesses temas, explorando-os de maneira sensível e provocativa, o que nos leva a uma reflexão profunda sobre nossa própria existência e experiências.

A linguagem poética de Arendt é poderosa e cativante. Seus versos fluem harmoniosamente, criando um ritmo e uma musicalidade que adicionam uma dimensão adicional à experiência de leitura. Sua habilidade de escolher as palavras certas para expressar emoções complexas é notável e nos permite nos conectar de maneira íntima com suas reflexões.

Além disso, o poema "também eu danço" nos convida a uma jornada de autodescoberta e autoconhecimento. Arendt nos lembra da importância de nos conectarmos com nossas emoções e de nos permitirmos dançar com a vida, mesmo em meio às incertezas e desafios que enfrentamos.

Em suma, o poema "também eu danço" é uma obra de arte poética que nos convida a mergulhar em uma reflexão profunda sobre a existência humana. A linguagem poética de Hannah Arendt, combinada com sua sensibilidade e profundidade de pensamento, fazem deste poema uma leitura enriquecedora e inspiradora.

Um poema bastante marcante da obra ganha destaque na capa traseira da obra, sendo este, sonho:

Pés flutuando em brilho patético

Eu mesma,

também eu danço, 

livre do peso

no escuro, no imenso.

Espaços cerrados de eras passadas

distâncias trilhadas

começam a dançar, a dançar.


Eu mesma,

também eu danço,

Irônica e destemida

de nada esquecida

eu conheço o imenso

eu conheço o peso

eu danço, e danço

em brilho irônico.

O poema "Sonho" de Hannah Arendt é uma obra que carrega um significado profundo e complexo, refletindo a natureza da experiência humana e a busca por um sentido de liberdade e identidade. Através de sua poesia, Arendt explora temas como a alienação, a solidão e a esperança.

Arent usa de sua prosa prolífica e altamente fervorosa para descrever o caminho da vida por meio das tensões e dos resquícios do passado e do livre cargo das emoções e do peso do escuro e dos arrependimentos:

também eu danço, livre do peso, no escuro, no imenso. Também eu danço, irônica e destemida

A obra é extremamente visceral e dilacera o leitor de dentro para fora, usando de suas influências literárias profundas, Arent nos arrebata em sua essência para a transição do agora e do exercício de reflexão âmago que rege a vida e os momentos. A maioria de seus poemas não tem título, pois não se titula sentimentos, apenas sente-se. Indicado para todos, não há aqui exceção. HANNAH É E SEMPRE SERÁ, a poetisa mais prolífica e completa que este mundo já conheceu.

A AUTORA

Hannah Arendt foi uma filósofa e teórica política contemporânea. Judia nascida na Alemanha, Arendt vivenciou os horrores da perseguição nazista, o que motivou a sua pesquisa sobre o fenômeno do totalitarismo. Suas principais obras são “As Origens do Totalitarismo”, “Eichmann em Jerusalém”, “Entre o Passado e o futuro” e “A Condição Humana”.

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