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Análise: As diferenças entre “Alice no país das maravilhas” de Lewis Carroll e do seriado “Alice”.

A literatura e o cinema têm uma longa e complexa relação, pois ambos se influenciam mutuamente em suas técnicas e narrativas. No entanto, essa relação nem sempre é pacífica, pois há quem defenda que o cinema depende da literatura por considerá-la superior ou que o cinema não consegue reproduzir fielmente a obra literária.


Porém, o cinema não se resume a uma cópia da literatura, pois ele é uma arte que combina vários discursos, como o fotográfico e o sonoro, como afirma o crítico Ricardo Zani: “o cinema é composto de diversos meios, entre eles, o fotográfico e o sonoro, tornando-se um exemplo de inter-relação de discurso” (2003, p.125). Assim, o cinema permite a interação com diferentes formas de comunicação e expressão. O filme é, portanto, o produto da relação entre diferentes meios e linguagens.


A literatura e o cinema são linguagens artísticas que se diferenciam em seus modos de produção, mas que se aproximam pela visualidade que algumas obras literárias apresentam e que possibilitam a sua adaptação para o cinema. Dessa forma, a literatura é, de certa forma, uma inspiração para a criação cinematográfica. Por isso, Curado (s/n, p.2) ressalta que ao se analisar as relações entre o texto literário e o cinematográfico, deve-se respeitar as especificidades de cada um, pois o autor de um romance não escreve pensando em um roteiro de cinema; seu objetivo é, evidentemente, literário. Logo, a transformação de uma novela ou romance para o cinema é uma forma de interação entre mídias, que abre espaço para interpretações, apropriações, redefinições de sentido. O filme é, então, apenas uma experiência formal da mudança de uma linguagem para a outra, pois o escritor e o cineasta têm sensibilidades e propósitos diferentes. Por isso, “a adaptação deve dialogar não só com o texto original, mas também com seu contexto, [inclusive] atualizando o livro, mesmo quando o objetivo é a identificação com os valores neles expressos” (XAVIER, 2003, p. 62).


Ou seja, a adaptação da obra literária para o cinema é um desafio bastante grande, pois há elementos que existem no texto literário e que não são necessários no cinema, assim como há elementos que surgem no filme e que não estavam no texto literário ou que estão nos dois, mas de forma diferente.


Portanto, os cineastas não se limitam aos textos literários, mas expressam na adaptação seus objetivos, suas crenças, seus conhecimentos. Eles procuram adaptar a obra literária ao cinema, observando as possibilidades de conexão entre as duas artes, tendo em vista os elementos que querem expressar. Fiorin (2006) destaca que “um texto pode passar de um gênero para o outro quando for colocado em outro contexto, ou seja, em outra esfera de atividade” (p.72). Isso significa que o texto adquire novos significados e possibilidades de ser explorado de acordo com objetivos previamente definidos.


No entanto, essa atividade de adaptar uma obra literária para o cinema exige conhecimentos específicos de cada uma dessas linguagens artísticas, de modo que a fusão desses dois sistemas de arte resulte em um movimento bastante intenso, que articule a linguagem literária à linguagem cinematográfica.


Nesse processo, a busca pela sutileza de ideias é essencial para garantir a eficácia da transposição dessas artes, pois se trata de recriar com um novo olhar, um texto já existente, tentando preservar sua originalidade.


Neste estudo, nosso propósito é fazer uma análise crítica e comparativa da obra literária clássica “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll, com o seriado “Alice”, baseando-nos nas concepções de Curado (s/n), Fiorin (2006), Ricardo Zani (2003), Eco (2008), entre outros.


Nosso principal objetivo é debater a relação entre o cinema e a linguagem literária, examinando as similaridades e diferenças entre a estética literária e a estética cinematográfica, considerando que o seriado “Alice” é uma adaptação que utiliza, modifica e explora elementos presentes no romance “Alice no país das maravilhas”. É importante destacar, por fim, que a adaptação de uma obra literária para o cinema se fundamenta em um texto pré-existente, o que implica vários pontos de convergência e de divergência. Apesar dos cortes, que às vezes são inevitáveis, é essencial tentar preservar a originalidade do texto fonte.


Conceituar arte é uma tarefa árdua, pois há uma variedade de definições, cada uma enfatizando um aspecto e, como diz Coli (1995, p.3) na Introdução do seu livro “O que é Arte”: “Dizer o que seja a arte é coisa difícil. Um sem-número de tratados de estética debruçou-se sobre o problema, procurando situá-lo, procurando definir o conceito. Mas, se buscamos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos: elas são divergentes, contraditórias, além de frequentemente se pretenderem exclusivas, propondo-se como solução única.”


Podemos notar que essas definições muitas vezes empobrecem a arte, pois usam poucas palavras, não expressando todas as características e riquezas do objeto definido. Tradicionalmente, a definição de arte variou entre “afirmar que arte é fazer, arte é forma, arte é comunicação, arte é representação. Ou ainda, nos tempos modernos, entende-se a arte como uma forma especial de conhecimento ou de expressão”. (ARAÚJO, 2000, p.252).


Para Platão, a arte está muito afastada do belo. O filósofo acreditava que o homem alcança a beleza mais pela moral e pela ciência do que pela arte. Ou seja, o belo pode ser uma das qualidades da arte, mas não é a única, nem a mais importante, pois o feio também pode fazer parte dela, além disso, a missão do artista é criar e não pregar a verdade, a beleza, etc. A arte deve ser bem-feita. Isso, porém, não significa que a arte não alcance a beleza ou a verdade.


Araújo (2000) destaca que: Não há dúvida de que as definições de arte que envolvem beleza, verdade, forma, expressão são históricas, pois estão relacionadas a um universo de valores culturais. Cada cultura cria a sua própria concepção de arte. Parece-nos inviável uma definição geral e única que abarque a universalidade da arte e de toda a experiência artística em todos os tempos. Toda definição requer uma situação no espaço e no tempo. E definir é estabelecer limites.

Isso significa que devemos ressaltar que é um engano pensar que uma definição particular possa cobrir todo o universo da arte, visto que cada cultura tem o seu conceito de arte, e que, internamente, é verdadeiro e absoluto, mas que, quando comparado às outras culturas, é relativo. Assim, as definições de arte são históricas, pertencentes às culturas. Logo, arte é beleza, verdade, criação, forma, expressão. Mas é, principalmente, uma linguagem que fala e ao mesmo tempo esconde, pois toda arte tem um caráter enigmático, é autorreferente, sendo esse ar misterioso que nos proporciona tanto prazer. Nas palavras de Dino Formaggio, “Arte é tudo aquilo que os homens chamam arte”.


A arte tem diferentes funções, segundo Araújo (2000, p.274) A arte pode servir à política, à religião, à ideologia, pode se tornar mercadoria ou proporcionar apenas prazer. A arte pode ainda revelar as contradições da sociedade, prestando-se, assim, a uma crítica social. Pode também ser uma forma de conhecimento ou revelação, oscilando entre o desejo e a realidade, é sempre a realidade ampliada ao imaginário ou a realidade não atenuada.


Portanto, a arte pode ser crítica, evocativa, reforçadora de uma ideologia, de um sentimento ou emoção, pode ser religiosa ou política, pode ser recusa, crítica ou transgressora da realidade. Mas ela é essencialmente constituinte da realidade, é uma forma do ser e, por meio de olhos e ouvidos, se dirige à nossa alma.


De todas as funções da arte, a mais importante e a mais simples, de acordo com Araújo (2000, p.275) é “a função lúdica. Arte é essencialmente prazer. (…). O prazer da arte pode ser experimentado na sua capacidade de revelar o ser”. Ou seja, a arte, diferentemente dos conhecimentos que só revelam o que está no objeto, nos ensina a ver e a criar. O ser da arte vive quando ela possibilita uma experiência de prazer. Este prazer da arte é também o prazer da reflexão.


Assim, podemos ver que todo esse contexto aqui exposto nos faz entender que é quase impossível encontrar uma função ou significado único para a arte, pois uma pintura, uma música, um poema, um romance, um filme podem ter significados diferentes para épocas e espectadores diferentes. Logo, as definições da arte são pontos flexíveis, originados de um tempo e de uma sociedade e que mudam de cultura para cultura, pois cada conceito é uma escolha, uma interpretação, em que se busca o sentido da arte. Portanto, qualquer definição de arte estará ligada à história e ao desenvolvimento de uma sociedade ou cultura.

LITERATURA E CINEMA: AS SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE A OBRA LITERÁRIA E A ADAPTAÇÃO PARA O CINEMA


É claro que, para falar das relações entre o cinema e a literatura é preciso diferenciar as características próprias dessas duas formas de arte, que são “diferentes pela matéria artística de que se servem pela relação de fruição em que se encontram produto estético e consumidor, (…) (ECO, 2008, p.189) e, portanto, por todos os elementos que os fazem artes distintas, mas que podem se cruzar. A obra narrativa é uma arte que usa palavras, enquanto que o cinema usa imagens.


Devemos considerar que no primeiro caso (o da literatura) o fruidor é estimulado por um signo linguístico recebido de forma sensível, mas usufruído somente por meio de uma operação mais complexa, ainda que imediata, de exploração do campo semântico ligado a esse signo, de modo que, acompanhado pelos dados contextuais, o signo fará evocar na acepção adequada da palavra, uma série de imagens capazes de estimular emotivamente o receptor. Ao contrário, no caso da estimulação por meio da imagem (e é o que acontece com o filme), o caminho é justamente o oposto, e o primeiro estímulo é dado pelo dado sensível ainda não racionalizado e contextualizado, recebido com toda a vivacidade emotiva que comporta. (ECO, 2008, P.189-190)


Ou seja, a linguagem do escritor é a palavra e a do roteirista é a imagem, sendo que a palavra tem sempre vários significados. Assim, a literatura pode, e às vezes deve, se permitir ser ambígua. Porém, as imagens também podem ter vários significados, mas no cinema a ambiguidade pode causar uma indesejável confusão e deve, então, ser usada com cuidado. As imagens, no cinema, têm um impacto (emocional e intelectual) e uma velocidade que impedem uma lenta interpretação dos seus significados. Assim, no cinema, a imagem, mesmo oferecendo várias decifrações, deve sempre possibilitar ao espectador uma primeira interpretação.


Segundo esse estudioso, o leitor da obra literária recebe os estímulos quando está em relação individual e privada com a página escrita, enquanto o espectador da obra cinematográfica consome esta obra em um ambiente social com características definidas. Ou seja, a relação que o texto literário tem com o leitor, acontece de forma isolada e tem como matéria-prima a linguagem e não a imagem, ao contrário do filme que é feito para projeções em salas escuras, onde alcança um público específico, porque o cinema “não pode existir sem o mínimo de audiência imediata” (BAZIN, 1999, p. 100).

A Literatura é a arte da palavra, seu material é a palavra, na qual o artista, partindo das suas experiências pessoais e sociais em que vive, transcreve ou recria a realidade, originando uma realidade ficcional. Ao transcrever a realidade se pode usar a imaginação, tanto o autor como o leitor, são livres para recriar livremente a realidade ao escrever e ao ler o texto. Enquanto que no cinema há uma maior quantidade e diversidade de linguagem não-verbal, onde possuem diferentes significados na construção do filme. Este consegue descrever principalmente o que pertence ao visual, como os objetos filmados, movimentos, expressões, gestos, olhares das personagens, ao sonoro, como as músicas, ruídos, tons, tonalidades das vozes. Ou seja, no cinema dar ênfase a imagem.


Apesar de estarmos lidando com estéticas diferentes, a literatura e o cinema têm pontos em comum. Segundo Eco (2008, p.191) “ambas são artes da ação, (…), uma relação que se estabelece entre uma série de fatos, um desenrolar de acontecimentos reduzidos à estrutura de base”. Isto é, apesar de a ação no romance ser narrada e no cinema, representada, não elimina o fato de que em ambos os casos, ser estruturada uma ação. Para Eco (2008, p. 194)


O filme, quando descobre a possibilidade de jogar, através da montagem, com vários “presentes”, pondo em causa, deste modo, uma certa noção da sucessão temporal, serve-se dessa sua prerrogativa como de um meio para representar algo de diferente; enquanto a narrativa, no momento em que descobriu esta possibilidade, elevou-a a objeto de discurso, isto é, não se serviu da combinação de séries temporais para contar uma história que exigisse este artifício, mas, de fato, contou certas histórias para poder aprofundar a possibilidade de combinação de séries temporais, isto é, elevou a “tema” da narrativa o problema do tempo (e, através dele, o problema da consciência).


Uma forma de diferenciar a literatura e o cinema é observar como eles narram uma história. O romance apresenta uma sequência de fatos passados, enquanto o filme mostra uma série de cenas presentes, que depois são organizadas na montagem. Assim, o filme cria um discurso que revela as motivações e os conflitos dos personagens.


A literatura e o cinema não se distinguem apenas pela linguagem escrita ou visual, mas também pelo que cada um pode fazer melhor. O cinema tem limitações para fazer algumas coisas que a literatura faz facilmente, e vice-versa.


A literatura e o cinema sempre se relacionaram, mas essa relação é controversa. Muitos teóricos criticam o cinema por usar a literatura como fonte de histórias, pois acham que isso tira a originalidade do filme. Por outro lado, o cinema se inspira na literatura porque ela já tem dramas humanos prontos, ou porque ela permite conectar outras artes e mídias.


A literatura e o cinema são dois modos de produção diferentes que podem se aproximar pela visualidade de alguns textos literários, que podem virar filmes. Isso significa que a literatura é um motivo para criar outros signos, que envolvem não só a linguagem, mas também os valores do produtor do filme. Além disso, a linguagem de cada modo deve ser respeitada e avaliada de acordo com seus próprios critérios, e não pelos do outro.

A literatura e o cinema têm características próprias que devem ser respeitadas ao se analisar suas relações. O autor de um romance não escreve pensando em como sua obra seria adaptada para o cinema, mas sim em como expressar sua arte literária. A adaptação de um texto literário para o cinema é uma forma de interação entre mídias, que envolve interpretações, apropriações e redefinições de sentido. O filme não é uma cópia fiel do texto, mas uma experiência formal de mudança de linguagem, que reflete as sensibilidades e os propósitos do cineasta. Por isso, “a adaptação deve dialogar não só com o texto original, mas também com seu contexto, [inclusive] atualizando o livro, mesmo quando o objetivo é a identificação com os valores neles expressos” (XAVIER, 2003, p. 62).

Muitos filmes do século XX foram baseados em enredos e personagens da literatura, segundo Aguiar (2003, p.119). O estudioso acredita que isso se deve ao prestígio de certos autores e obras, que garantiriam o sucesso da adaptação. Um exemplo é o livro “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll, um clássico da literatura mundial, que inspirou várias adaptações para o cinema e para a televisão, como o seriado “Alice”.


O livro conta as aventuras de Alice no País das Maravilhas, um lugar fantástico onde ela chega ao seguir um Coelho Branco com um relógio de bolso. Alice entra num buraco e cai num corredor cheio de portas, onde encontra uma chave que abre uma porta pequena, que leva a um lindo jardim. Alice quer ir até lá, mas a porta é muito pequena. Ela encontra uma garrafa com um líquido que diz “Beba-me”, e um bolo com uma etiqueta que diz “Coma-me”. Alice descobre que o líquido a faz diminuir e o bolo a faz crescer. Ela tem problemas para usar os dois, pois ou fica grande demais para a porta ou pequena demais para a chave. Quando está pequena, ela cai numa piscina formada por suas próprias lágrimas, onde encontra várias criaturas, inclusive um rato. Alice ofende as criaturas ao falar de sua gata que caça ratos e pássaros, e elas a deixam sozinha. Alice segue o Coelho Branco até sua casa, onde bebe outro líquido e fica grande demais para sair. Ela encontra um bolo que a faz voltar ao normal. Na floresta, Alice encontra uma Lagarta num cogumelo gigante, que lhe dá conselhos e ensina a usar o cogumelo para mudar de tamanho. Alice prova o cogumelo e estica seu corpo, especialmente o pescoço, os braços e as pernas. Ela coloca a cabeça nas árvores e vê um Pombo que acha que ela é uma serpente e manda ela se calar.


Alice retorna ao seu tamanho normal e segue seu caminho pela floresta. Ela se depara com uma casinha e decide entrar. Lá dentro, encontra a Duquesa e o Cozinheiro em uma briga feroz, sem se importar com o bebê que a Duquesa balança nos braços. Alice pega o bebê para protegê-lo, mas ele se torna um porquinho e foge para a floresta. Depois, Alice encontra o Gato de Cheshire, que estava na casa da Duquesa, mas não tinha falado nada. O Gato a orienta a atravessar a floresta e a avisa que todos os que ela vai encontrar são malucos.


Alice chega à casa da Lebre, onde estão a Lebre, o Chapeleiro Maluco e o Rato do Campo, e se junta a eles para o Chá, sem ser convidada. Como o Tempo parou de funcionar para o Chapeleiro, é sempre seis horas da tarde e hora do chá. Os convidados da Festa do Chá são os que mais brigam em todo o País das Maravilhas. Alice sai da casa da Lebre e encontra uma árvore com uma porta, e ao olhar pela porta, vê o corredor onde sua aventura começou. Desta vez, ela está preparada e consegue chegar ao belo jardim que tinha visto antes. Lá, Alice descobre que está no jardim da Rainha de Copas e vê três jardineiros, que têm corpos de cartas de baralho. Eles estão pintando as rosas de vermelho. Alice os questiona e os jardineiros dizem que, se a Rainha de Copas perceber que eles plantaram rosas brancas em vez de vermelhas, eles serão decapitados. Logo depois, chega a Rainha e manda executar os jardineiros. Alice os ajuda a se esconderem em um grande vaso de flores.


A Rainha convida Alice para jogar croquê, um jogo muito difícil de ser jogado no País das Maravilhas, pois as bolas e os tacos são animais vivos. O jogo é interrompido pela chegada do Gato de Cheshire, que o Rei de Copas detesta imediatamente. A Rainha leva Alice até o Grifo, e este, por sua vez, a leva até a Tartaruga Falsa. O Grifo e a Tartaruga contam histórias estranhas sobre a escola deles no fundo do mar. A Tartaruga Falsa canta uma música triste sobre sopa de tartaruga, e logo depois o Grifo leva Alice para assistir ao julgamento do Valete de Copas. Ele estava sendo acusado de roubar as tortas da Rainha, mas as evidências contra ele eram muito fracas e Alice ficou chocada com os procedimentos absurdos do tribunal. Ela começa a crescer e é chamada para depor. Nesse momento, Alice já estava enorme, e se recusa a ser intimidada pela lógica distorcida do tribunal e pelas acusações do Rei e da Rainha de Copas. De repente, todas as cartas se levantam e a atacam. Nesse instante, ela acorda. Suas aventuras no País das Maravilhas tinham sido apenas um sonho fantástico. No seriado, Alice é uma adulta que tem uma vida aparentemente normal: é filha única, mora com sua mãe e recentemente conheceu um rapaz chamado Jack com quem tem um relacionamento amoroso.


Uma noite, Jack foi jantar na casa de Alice e, além de convidá-la para conhecer a sua família, deu-lhe um anel, mas ela não aceitou. Nesse momento, Jack recebe uma ligação e sai, mas antes de sair, ele beija Alice e sem que ela perceba coloca o anel no bolso do seu vestido.


Depois que ele saiu, Alice percebeu o anel e correu para devolvê-lo a Jack. Nessa busca, um homem tentou pegar o anel dela. Ele conseguiu levar a caixa onde o anel estava e saiu correndo. Mas ela tinha tirado o anel da caixa sem que o homem notasse. Depois que o estranho escapou, Alice correu atrás dele e caiu dentro de um espelho que a levou ao País das Maravilhas. Lá, ela se deparou com várias situações estranhas, conheceu vários personagens como o Chapeleiro Maluco, a Rainha de Copas, o Cavaleiro Branco, entre outros, e descobriu que Jack era filho da Rainha de Copas e que tinha ido ao mundo dela para convencê-la a ir com ele para o País das Maravilhas, pois só ela poderia salvar esse país da maldade da Rainha de Copas, que controlava o pai de Alice, que por sua vez, era o responsável pela perda da consciência das pessoas que eram capturadas pela Rainha. Assim, Alice descobriu que seu pai estava vivo e que ele não tinha as abandonado como ela e a mãe pensavam.


Durante a narrativa, Alice é perseguida por vários personagens que querem tomar o anel dela. Esse anel é muito desejado, pois é uma espécie de chave entre o País das Maravilhas e o mundo real, o mundo onde Alice vive, e ele que abre o espelho, que é o portal entre esses dois mundos. Mas, tudo se resolve: a Rainha perde o seu poder, Jack se torna rei e Alice volta para a sua realidade, novamente sem o seu pai que morre para salvar a vida da filha.


No final, quando Alice volta do País das Maravilhas pelo espelho, ela acorda em uma cama de hospital e, como no livro, é como se ela estivesse acordando de um sonho profundo, e tudo que viveu nesse país fantástico não passou de um sonho. Ao voltar para casa, ela recebe a visita do seu grande amigo, o Chapeleiro Maluco.


Ao analisar a narrativa literária, podemos perceber que “Alice no País das Maravilhas” é uma obra fantástica que apresenta um espaço surreal onde lugares e animais são personificados, e se caracteriza pela não linearidade dos acontecimentos e pelo caráter estético bem elaborado. Inicialmente, essa obra parece uma brincadeira. Porém, segundo Monteiro (2010, p.3-4) “consistem em uma reflexão dos exageros que as convenções dominantes durante aquele período submetiam seus subordinados.” Assim, através do jogo com as palavras e mesmo dentro de um mundo irreal e fantasioso, Carroll mostra o contexto sócio-político da sociedade em que estava inserido.


Já em relação ao seriado, ele é escrito de modo a expressar a atualidade. O que se nota é que, enquanto o livro enfoca conhecimentos sobre a época em que foi escrito - sua primeira publicação foi em 1865 -, essa adaptação abrange o conhecimento dos dias atuais, pois “dentro desse processo de adaptação de obras, um aspecto relevante é justamente a relação entre o global e o local. Obras que foram escritas em outro tempo e espaço são reutilizadas e adaptadas para compor a programação de outro período” (CASTANHAIRA; KONDLATSCH e BRUMATTI, 2010, p.02). Ou seja, a obra cinematográfica permite atualizar os padrões estéticos, comunicando aos receptores da atualidade valores e estéticas de outra época e lugar.


Kellner (2001) destaca que toda obra dialoga com o seu contexto histórico e social. Se a obra original expressa ideologias da época em que foi escrita, assim também será a adaptação, que dialogará com o seu período histórico, visões de mundo e discursos contra hegemônicos. Assim, é quase que impossível que o texto original seja reproduzido na íntegra.

Sobre a fidelidade do filme ao livro, o pesquisador e professor do departamento de espanhol e português da University of California (UCLA), Randal Johnson questionou a valorização do texto literário sobre o discurso cinematográfico, indicando que é muito comum entre os espectadores uma exigência de fidelidade do filme ao livro. Segundo o professor esse frequente discurso da fidelidade é baseado na crença difundida de que a literatura é superior ao cinema.


A adaptação da literatura para a obra cinematográfica provoca muitas mudanças, pois enquanto a base do texto literário é a escrita, o cinema trabalha com a imagem, com o som, com a música, etc. Comparato (1996) afirma que esse processo de adaptação é uma transcrição de linguagem que altera o suporte linguístico utilizado para contar a mesma história, equivalente, portanto, à recriação da mesma obra levando em consideração a linguagem própria do meio para o qual se está produzindo. Para Balogh (2005)


o filme adaptado deve preservar em primeiro lugar a sua autonomia fílmica, ou seja, deve-se sustentar como obra fílmica, antes mesmo de ser objeto de análise como adaptação ,na prática, se reconhece como adaptado o filme que ‘conta a mesma história’ do livro no qual se inspirou, ou seja, a existência de uma mesma história é o que possibilita o ‘reconhecimento’ da adaptação por parte do destinatário (p.58).


Isto é, a obra adaptada traz em si um leque de modificações, já que há uma transição de uma arte para outra, porém essa adaptação deve ocorrer de forma a possibilitar que o receptor reconheça o texto original, apesar das possíveis mudanças.


No caso da narrativa “Alice no País das Maravilhas”, a adaptação “Alice”, conta a mesma história do livro que o inspirou, sendo que se antes de ver o filme, o público ler o livro, ele vai reconhecer a história da obra literária na cinematográfica, pois existem semelhanças entre a obra literária e o seriado, dentre as quais podemos citar os nomes dos personagens, o país das maravilhas, o sonho, a mesma temática, a presença do flashback, uma vez que, Alice sempre se lembra de coisas acontecidas fora do País das Maravilhas, porém, o leitor também vai perceber as modificações estabelecidas por essa adaptação.


Uma grande diferença entre o livro e essa adaptação é que nessa versão cinematográfica a personagem Alice enfrenta os desafios do País das Maravilhas já em sua condição adulta, atualizando a obra com uma relevância muito interessante ao contexto atual e no livro, Alice é uma menina valente e inocente. Neste, a “sonhadora menina” vive situações muito inusitadas, com personagens malucas, que através de suas maluquices ironizam o mundo real. Naquele, por sua vez, há um confronto entre o bem e o mal, no qual, após uma difícil jornada, os heróis conseguem vencer os vilões, e assim o bem prevalece.

No livro, a personagem Alice é um símbolo da pureza, da inocência. Ela cria um mundo totalmente mutável, onde tudo é completamente ao contrário, o país das maravilhas. Alice sonha um reinado totalmente diferente em que a identidade, personalidade, tamanho, memória, lugar, conhecimento, distância, sensação, velocidade, progresso e tempo são completamente fáceis de serem mudados. Além disso, o livro é uma obra escrita para criança, por isso há um toque de magia na narrativa. Já o seriado, por todos os elementos que o compõem, torna-se mais adequado a um público mais adulto.


Segundo o Portal Literal, na maioria das vezes, na adaptação da obra literária para o cinema os personagens são desenhados superficialmente, sem o esmero e detalhamento descritivo comum à literatura – mas como no cinema, um retratar rápido e sumário (já que o espectador vê) como se o leitor os estivesse vendo em imagem, numa tela de cinema ou de tv, e não delineando-os na imaginação; os personagens são moldados, agem e comportam-se como atores, que são vistos na tela, prontos, sem necessitar de muita elaboração.


Logo, observa-se que a adaptação deve ser elaborada de acordo com os métodos próprios e intrínsecos à sua linguagem, uma vez que, Balogh (2005) afirma que é importante manter a natureza dos meios e suas regras que definem como será feito o produto. Segundo essa mesma autora, “o filme adaptado deve preservar em primeiro lugar a sua autonomia fílmica, ou seja, deve-se sustentar como obra fílmica, antes mesmo de ser objeto de análise como adaptação” (2005, p.53).


Em outras palavras, a adaptação do texto literário em obra cinematográfica é uma transcrição de estéticas, de linguagem, na qual cada uma possui características próprias, assim, essa recriação deve levar em consideração a linguagem e o suporte linguístico do meio que esta sendo utilizado para contar a mesma narrativa, nesse caso, o cinema.


Para o Portal Literal, em sua grande maioria, a adaptação da obra literária para o cinema implica na construção de uma ‘personalidade’ própria para os personagens. No caso do seriado “Alice”, isso também acontece, pois, no livro a personagem que leva Alice ao País das Maravilhas é um Coelho, no caso do filme é um homem. Aquele está somente atrasado, enquanto este está atrás de um anel que está com ela. O personagem do livro não apresenta um caráter duvidoso como o do seriado, pois enquanto o coelho apenas confunde Alice com sua criada, o homem a ataca para lhe tomar o anel. Porém, existe uma semelhança, ambos trabalham para o vilão da história.


Outra personagem que sofre essa modificação em sua personalidade é o Chapeleiro Maluco, tendo em vista que a relação entre esse personagem e a personagem principal Alice é uma tarefa difícil de ser definida no livro, sendo quase que impossível descrever com exatidão o sentimento de um pelo outro, enquanto que no filme, alguns aspectos ressaltam que Alice é muito importante para o Chapeleiro Maluco e que ele também a considera especial, além disso, no livro a maioria dos personagens são animais, enquanto que no seriado são seres humanos.


Sobre a perspectiva da adaptação O Portal Literal salienta que a escrita possui maior espaço temporal e permite ao receptor dominar o momento de fruição da obra, já no cinema o espaço temporal é limitado e o telespectador não controla o processo. Sendo a ordem temporal na obra literária maior que no audiovisual, implica-se uma série de cortes da história literária narrada para a sua adaptação em uma obra de ficção cinematográfica. Por isso, muitas pessoas que vão ao cinema, ou assistem a uma novela adaptada de um livro ou de um romance de folhetim, não gostam muito do ajuste ao novo suporte, e observam que há muitas coisas que havia no livro e não estão presentes no filme ou na novela.


O que implica dizer que a ordem temporal da obra literária é maior do que a cinematográfica, assim o tempo de duração da adaptação é menor, pois no cinema a ação é rápida, por isso, os cortes são necessários, e muito da narrativa original é omitido. É por isso que quem leu o livro antes de assistir o filme, falam que o filme é muito resumido e que faltam pontos relevantes do livro para ser abordado. Portanto como não poderia ser diferente, o seriado “Alice” também omite muitos acontecimentos da narrativa principal e lhe acrescenta outros. Logo, há coisas que existem no texto original que não estão presentes no filme, da mesma forma que existem elementos que não estavam no livro e aparecem no seriado.


Em síntese, por se tratar de uma adaptação o seriado “Alice“ apresenta algumas diferenças em relação ao texto original “Alice no país das maravilhas”, pois ambos utilizam linguagens diferentes no processo da comunicação. Contudo, apesar dessas diferenças também existem muitas semelhanças, pois são suportes diferentes que narram uma mesma história. Portanto, a partir da análise supracitada, podemos perceber que a adaptação “Alice” difere essencialmente da obra original, o clássico de Carroll “Alice no país das maravilhas”. Contudo, a adaptação é uma forma do leitor reviver uma mesma história, só que em outro suporte, e reconhecer o quanto essas diferenças modificam o texto original. Assim, o cinema traz uma nova visão do livro por meio da imagem e representa uma das leituras feitas da obra de Lewis Carroll.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, analisamos a relação entre literatura e cinema, que é vasta e conturbada. O cinema incorpora técnicas literárias e influencia a narrativa literária, mas também gera discussões e críticas sobre a fidelidade à obra original. No entanto, é quase impossível seguir o texto original fielmente, pois cada arte tem seus próprios elementos, como tempo, linguagem, época, etc. A adaptação deve recriar o texto literário de forma que o público o reconheça na tela.

Um exemplo é a obra “Alice no País das Maravilhas” e o seriado “Alice”. Há muitas diferenças entre o texto original e a adaptação, mas também há semelhanças, como os nomes dos personagens, o país das maravilhas, o sonho, a temática, o flashback. O seriado “Alice” é uma adaptação que usa uma linguagem diferente da obra original “Alice no País das Maravilhas”, mas narra a mesma história em outro suporte. A adaptação fílmica não é apenas um recorte e uma remontagem do texto fonte, mas uma recriação.

Assim, podemos ver que a adaptação “Alice” se distingue da obra original de Carroll, mas também é uma forma de reviver a história e ver como as diferenças modificam o texto original. O cinema oferece uma nova visão do livro por meio da imagem e uma das leituras possíveis da obra de Carroll.

Por fim, destacamos que “Alice no País das Maravilhas” é uma das obras mais famosas da literatura infantil mundial, pois retrata a realidade por meio de fantasias e do imaginário lúdico de uma criança. Carroll explora a falta de sentido e apresenta questionamentos de vários tipos, como psicológicos, políticos, sob o véu do fantástico. Por isso, há várias adaptações dessa obra-prima para o cinema.

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