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5 Poemas de Mário L. Cardinale


Mário L. Cardinale, um jovem autista e bacharel em farmácia, tem conquistado seu espaço no mundo da literatura com suas poesias de intensa sensibilidade e reflexão. Natural de Poá - SP, o autor encontrou na poesia uma forma de expressar suas ideias e percepções sobre o mundo ao seu redor, começando sua trajetória literária em 2016. Em 2020, ele autopublicou seu livro de estreia "O Mundo do Poeta", e em 2023 lançou pela editora Pedregulho o livro "Tempo Diabo", o segundo da tetralogia poética pensada pelo autor. Neste livro, Cardinale aborda temas como a crise política no Brasil pós-golpe, a pandemia do coronavírus, a depressão, a militância política e a tecnologia a serviço do mal, em uma mistura de poesia e reflexão sobre os tempos turbulentos em que vivemos. Acompanhe a seguir um mergulho no mundo poético e provocador de Mário L. Cardinale.

Confira cinco poemas deste poeta ilustre:


Palavras e palavras

Rima, versa, azucrina
letra por letra ferina
métrica, estrofe, aglutina
cansaço, torpor, morfina

Cessa, retroage, contra fluxo
estômago, corrói, refluxo
tristeza, vazio, abandono
alma, matéria, carbono

Molda, lapida, emoldura
canta, recita, arruma
sonha, acredita, entra numa
viver sem sentido, acostuma.

Originalmente publicado no livro "O mundo do Poeta", 2020

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A poesia e o belo

A Poesia e o Belo são inseparáveis!
como o prego e o martelo,
o açougueiro e o cutelo,
macunaíma e grande otelo,
o prazer e o pinguelo,
o sertanejo e o flagelo,
a linha do equador e o paralelo,
a bebida e o refestelo,
a praia e o chinelo,
a fome e o magricelo,
o fim e o lírio amarelo
sobre o jazigo caramelo.

Originalmente publicado no livro "O mundo do Poeta", 2020

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Clara

Clara luz de sóis distantes
brilha a lua nua, pura,
inverno no hemisfério sul.

Claro orvalho sobre a rosa
amor obducto nuvens
manchas no céu marinho-azul.

Velho coração improdutivo
latifúndio à espera de reforma,
invadido pelos afetos e sonhos.

Distância incômoda, frio
vento na madrugada, sopro
brisa arrepia pele e pelos.

Mentalizo, construo imagens
tijolo por tijolo púrpura-cetim
cerro lábios ouvidos olhos.

Clara a vida, último suspiro.

Originalmente publicado no Portal Olhar para Dentro; seção poesia em 29/08/2022; https://olharparadentro.com/2022/08/29/clara/

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Deus atroz

Por que, ó deus atroz, devora-nos sempre?
Por que, pois, nos devora,
de dentro pra fora?
Por que nos implode?
Não sei, clamo por luta ou piedade?
Urge minh’alma por coragem
para desconstruir a fé que corrói.
Haja fé!
Fé na humanidade.
Libertai-vos, irmãos!
Libertai-vos!

Originalmente publicado no livro "Tempo Diabo", editora Pedregulho, 2023.

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Espólio da nação

Sangue e suor
    escorrem
pulso acorrentado
corpo ensopado
suor e sangue
arder do sol
escaldando
a pele escura.

Regaço carcomido
fricção forçada,
forjada a horas
junto da terra seca,
vermelha e dura.

Grilhões ferrosos-oxidados
 punhos quebrados;
respinga suor e sangue
 na moringa, pinga.

Vergasta cortante
marca a lomba
corta, machuca e arde
sinhô covarde.

A pedra fundamental
de um país cruento
esculpida à matança,
sofrimento.
Afro-cativo, escravização:
espólio maldito da nação.

Originalmente publicado no livro "Tempo Diabo", editora Pedregulho, 2023.
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