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[RESENHA #546] Rita Lee : uma autobiografia, de Rita Lee


Rita Lee, a compositora que marcou o rock brasileiro e, posteriormente, o mundo pop, apresentou em sua última grande obra um formato inusitado. Em vez de compor versos, ela optou por pequenas crônicas que descrevem detalhes de sua vida, desde a infância em São Paulo, vivida em um casarão com a família, meio americana e meio italiana, até sua vida adulta, repleta de parcerias musicais das quais ela sempre foi a grande estrela. Em "Rita Lee: uma autobiografia", com 294 páginas, pode-se esquecer que é a mulher que ajudou a difundir o tropicalismo para o mundo, inovando os formatos da MPB e que vendeu mais de 55 milhões de discos em meio século de carreira. Ela própria se desvaloriza, classificando-se como "não tocava, nem cantava porra nenhuma" e, constrangida, escrevia apenas "compositora" ou, nos dias bons, "musicista" nas fichas de hotéis. A baixa autoestima, no entanto, explica, em parte, suas intoxicações em álcool e drogas, várias internações e problemas em sua vida pessoal. Muito mais do que traumas da infância, ou brigas com outros músicos, o primeiro porre de Rita Lee foi aos 8 anos de idade, diagnosticado com "O defeito da Ritinha é não saber quando parar", profetizado pela tia Mary. Mas ela não quer se colocar como vítima das situações, e assume total responsabilidade por suas falhas, reconhecendo que suas melhores músicas foram compostas em estado alterado, e também as piores. Mesmo agora, Rita Lee não adota um discurso religioso anti-drogas, apesar de ter renunciado a todas as substâncias depois do nascimento de sua neta Ziza. Ela encontrou um novo "barato" na meditação e na vida reclusa em sua casa no campo.

Os críticos que mencionaram a ausência de datas e informações técnicas no processo criativo estão corretos, pois de fato não os há. Isso pode ser visto como um pecado mortal que perturba os jornalistas. Entretanto, as próprias páginas do livro mostram a resposta, com a memória da autora sendo "já queimada pelos incêndios existenciais que ela mesma ateou". Apesar da falta de informações técnicas, o livro apresenta muitas histórias do contexto cultural dos jovens paulistanos dos anos 60 e das influências estrangeiras. Entre essas histórias, Rita recebe a ajuda de um amigo estudioso de sua vida, o jornalista Guilherme Samora, que atua como apoio, como alusão aos ghost writers de outras autobiografias. Para ser justa, a obra tem alguns problemas de revisão que deixam passar erros de grafia, como o guitarrista Lanny Gordin, apresentado como Lenny Gordon. Embora Rita Lee não seja obrigada a saber como se escrevem os nomes de todos os personagens citados, a editora Globo Livros sim. O livro é uma grande homenagem à família da autora, com histórias divertidas, como as aventuras de "Rito, o menino baiano", e suas estimações de animais. Rita lembra-se com carinho de grandes amigos, como Elis Regina, Hebe e Ney Matogrosso - o cupido de seu relacionamento com Roberto. Em um momento em que as mulheres estão cada vez mais fortes, é bom lembrar como Rita abriu caminho, ainda nos anos 70, para a emancipação feminina e a liberação sexual das mulheres em suas músicas e ações. Ao final, fica claro que Ritinha fez e ainda fará muita gente feliz.

Rita Lee, Autobiografia, é a história da vida da cantora de rock nacional Rita Lee desde o nascimento, passando por aventuras musicais, formando seus primeiros grupos musicais e canções, até ingressar no grupo Os Mutantes do qual faz parte. . Ele é sócio e participa de momentos importantes da nossa música, como os festivais da canção popular. Após esses primeiros momentos, Rita conta como conheceu seu atual marido, Roberto de Carvalho, e sua futura carreira. Tudo isso em meio a centenas de histórias passadas, envolvendo drogas e álcool, uma prisão confusa e claro, todo o seu trabalho musical ao longo das décadas.

O mais interessante da escrita de Rita é a história da sua vida que ninguém desconhece. O passado, diz ele, não é um lugar para comemorar, apenas lembrado como uma parte importante de quem somos hoje. Assim, Rita nunca se desculpa com os outros, consigo mesma ou com as suas canções e, com a sua habitual franqueza e liberdade, raramente comenta todos os acontecimentos da sua vida.

Posso dar alguns exemplos, como a relação dele com os caras da banda Os Mutantes, Sérgio e Arnaldo. Rita, ex-namorada de Arnaldo, nunca demonstrou desejo ou amizade com eles. Claro, ele mostra que admira Arnaldo, mas chega a dizer que a relação do grupo tem mais a ver com o conforto de morar na casa dos meninos do que com a identidade. Então o principal mito da nossa música é, o amor dos dois, pode ser o mais importante para o Arnaldo, mas para a Rita é o que aconteceu, uma história de juventude.

Outra lembrança memorável é o encontro entre Rita e a anfitriã Hebe. O contraste entre os estilos de vida dos dois é contado com humor e amor gentil. Rita lembra de Hebe como uma diva, uma mulher de verdade, com força, determinação e humor. Hebe ainda ajudou o cantor a se livrar das drogas e o abrigou em sua casa, ato pelo qual Rita sempre agradece. A incisão de Hebe? Começaram com Rita, que disse que iria participar do programa e sentou ao lado da apresentadora que iria com ela.

E assim o livro se torna um gênio, porque destrói a hierarquia que as memórias e os livros de história tentam encobrir, criando uma horizontalidade das coisas que coloca tudo no mundo em pé de igualdade. Hebe é sinónimo de Festival Internacional da Canção e Edu Lobo é apenas uma das pessoas que se recusa a falar com os "roqueiros", enquanto Vinícius de Moraes os convida para um copo. Segundo ele, o Programa do Ratinho é um daqueles lugares onde ele é mais acolhido e tem espaço para se expressar, ao contrário de outros apresentadores que sempre rebaixam os artistas. A própria Elis Regina, que antes era considerada "uma mulher comum da MPB", mais tarde encontrou em Rita Lee uma grande amiga, ela o ajudou a sair da prisão e formar uma dupla explosiva.

É verdade, não poderia deixar de ver em Rita Lee nosso maior exército de mulheres pós-68 do século XX. Eu vou dizer ela, Elke Maravilha e Rogéria. O que Rita Lee defende em levar as coisas a sério, colocando-a num nível de contracultura, fazendo do humor e humor a melhor forma de política para derrubar as instituições explícitas e a seriedade do nosso país. Só para se ter uma ideia, Rita até zomba de si mesma ao inserir um fantasminha no meio de suas páginas biográficas que, às vezes, parece corrigir algum fato ou ação que Rita esqueceu de mencionar.

Rita Lee, Autobiografia é o livro que o Brasil precisa. Qualquer mudança política que nosso país precise está nestas páginas, seja de direita ou de esquerda. A nossa roqueira, com a sua liberdade, mudou o que sabia e vai mudar o que pode e mesmo aposentada continua a fazê-lo. Somos sortudos.


A AUTORA

Rita Lee foi uma cantora e compositora nascida em São Paulo e conhecida como a “rainha do rock brasileiro”. Defensora dos direitos das mulheres, ela foi uma das primeiras a tocar guitarra em um palco. Dona de cabelos lisos, com franja e pintados de vermelho, a artista participou do grupo Os Mutantes, nos anos 1960 e 1970, tornando-se famosa nacionalmente. 

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