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Resenha: TOXIC: Mulheres, fama e a misoginia dos anos 2000, de Sarah Ditum

Foto: Arte digital


APRESENTAÇÃO


Britney, Paris, Lindsay, Aaliyah, Janet, Amy, Kim, Chyna, Jennifer. Em Toxic: Mulheres, fama e a misoginia dos anos 2000 , a jornalista Sarah Ditum descreve como cada uma delas sofreu por ser uma celebridade em uma das épocas mais hostis para ser mulher.

Considerando o período entre 1998 e 2013, o livro de Ditum mostra como a cultura de celebridades considerava aceitável difamar mulheres, revirando a vida delas de cabeça para baixo, porque, afinal, ser “famosa” significava não ter privacidade. Tudo era assunto para os tabloides, desde a virgindade de Britney Spears, o divórcio e a fertilidade de Jennifer Aniston, as consequências do vício de Amy Winehouse, ao fatídico show de Janet Jackson no Super Bowl... O limite do que temos como tolerável hoje em dia era constantemente ultrapassado em todos os casos discutidos.

Com escrita afiada, Toxic destrincha a misoginia que estampava as manchetes e impulsionava vendas e cliques. Ainda adolescente na época retratada neste livro, a autora levanta a questão: tivemos conquistas nos últimos vinte anos, como leis contra crimes virtuais e uma forma mais empática de ver o outro, mas talvez, com a cultura de cancelamento, será que as coisas mudaram tanto assim?


RESENHA


Toxic narra os problemas de gênero na sociedade e a forma com a qual os crimes sexuais ou de violação de espaço no universo das celebridades femininas nos anos 2000 foram crescendo em uma escala acelerada e jamais vista antes, sobretudo, pelo advento dos celulares com câmeras digitais, onde, de certa forma, todos estavam com seu espaço privado inundado pela ausência de responsabilidade jurídica, retirando assim, a culpa da invasão de privacidade dos homens, que eram, em sua maioria, os grandes responsáveis pelos atos. Para ilustrar a raiz do problema, a autora narra um episódio ocorrido em 2006, quando uma jovem anônima teve a parte debaixo de sua saia fotografada sem sua permissão, o que levou a prisão do indivíduo, que foi, posteriormente inocentado sobe a desculpa de que 'a pessoa fotografada não estava em local com expectativa razoável de privacidade', em outras palavras,  a privacidade não lhe assegurada em ambientes públicos, uma vez, que, não se espera este direito em um ambiente público de livre circulação, onde, claro, estamos aptos a nos deparar e até mesmo presenciar situações constrangedoras como esta. A nota do júri foi replicada em outros casos, o que deixou as mulheres em uma situação desfavorável e complicada em relação à sua privacidade.


Ela ainda explica que, o site, Fleshbot, responsável por replicar fotos debaixo das saias de mulheres famosas sempre se postulavam como 'inocentes', uma vez, que, as mulheres famosas sempre mostram 'sem querer' suas partes famosas para os paparazzis é, justamente, de forma proposital, afinal, que jeito melhor de chamar a atenção da mídia para se manter no estrelato? Após o ocorrido, sites que divulgam fotos de mulheres seu seu consentimento as levando ao constrangimento, perseguições de paparazzis e apoio da rede jurídica, este problema se tornou cada vez mais avassalador, uma vez, que, tornou-se demasiadamente complicado evitar que situações como essas ocorressem, uma vez, que, o tempo, normalizaria tudo. Emma Watson, atriz da série de filmes Harry Potter, comenta ao Daily Mail que em seu aniversário de 18 anos, na época, fora inundado por fotógrafos que empenhavam-se cada vez mais em tirar fotos de si com o semblante de bêbada, sobretudo, debaixo de suas saias, alguns, até deitando no chão. Ela comenta como isso se tornou um problema que a fez duvidar de sua privacidade e se sentir extremamente violentada.


Ditum explora como a cobertura negativa dessas mulheres afetou não apenas elas, mas também as mulheres que as consumiam. Com o advento das redes sociais, as celebridades ganharam mais controle sobre suas narrativas, mas ainda enfrentam desafios em relação à privacidade.


A jornalista britânica Ditum começa seu ensaio analisando o início da carreira de Britney Spears, cujo álbum de estreia “…Baby One More Time” foi lançado em 1998. Segundo a autora, o sucesso da estrela pop era baseado em sua capacidade de combinar sensualidade e inocência, especialmente por ter sido uma ex-membro do Mickey Mouse Club que usava um anel de pureza. A questão da virgindade de Spears era constantemente discutida, culminando em uma entrevista polêmica com Diane Sawyer, na qual a cantora foi levada às lágrimas ao falar sobre sua vida sexual. Ditum destaca que o tema do sexo foi tratado de forma séria e sombria, fazendo com que Spears se sentisse pressionada a se desculpar publicamente.


A autora também destaca a diferença entre celebridades como Spears e Lindsay Lohan, que se tornaram famosas antes da era digital; Paris Hilton, que se tornou uma estrela durante essa revolução; e Kim Kardashian, que se destacou depois que smartphones e a pornografia na internet se popularizaram. No segundo ensaio, Ditum se concentra em Hilton, a herdeira que ganhou destaque como socialite em 1999. A autora retrata Hilton como uma jovem empreendedora e adaptável, que entendia que seu papel na mídia era representar um estilo de vida privilegiado.


Sobre Kardashian, Ditum comenta que sua busca pela fama ocorreu no final da década, o que lhe permitiu utilizar a internet a seu favor, ao invés de ser prejudicada por ela. A autora destaca a habilidade de Ditum em trazer novos insights sobre figuras conhecidas, além de sua capacidade de argumentar sobre a importância de ídolos e bodes expiatórios na sociedade, como no caso da comunidade negra em resposta ao abuso de R. Kelly.


O livro Toxic: Mulheres, fama e a misoginia dos anos 2000, de Sarah Ditum, é uma leitura extremamente relevante e necessária para entendermos como a cultura de celebridades tratava as mulheres durante essa época. A autora apresenta uma análise afiada e perspicaz sobre os problemas de gênero na sociedade e como isso afetava as celebridades femininas, como Britney Spears, Paris Hilton, e Kim Kardashian. Ditum expõe de forma corajosa e incisiva a misoginia que permeava a cobertura midiática dessas mulheres, mostrando como a invasão de privacidade, o julgamento público e a objetificação eram constantes em suas vidas. Além disso, ela destaca o impacto que essa cobertura negativa tinha não só sobre as celebridades em si, mas também sobre as mulheres que consumiam essa mídia.


Com uma escrita envolvente e argumentos bem fundamentados, Ditum nos faz refletir sobre como a cultura de celebridades mudou ao longo dos anos e se as conquistas em termos de leis e empatia realmente foram suficientes para proteger as mulheres no mundo do entretenimento. Toxic é uma obra que nos faz questionar o papel da mídia e da sociedade na forma como tratamos as mulheres famosas e nos faz repensar nossos próprios preconceitos e julgamentos.

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