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[RESENHA #974] Sinto muito por não sentir mais nada, de Tutu Machado

Foto: Arte Digital / Canva / Direitos Reservados

Começar pelo fim pode ser errado, mas também conceitual. Pode ser esquisito, mas também necessário. Pode ser sobre o que já foi, mas também sobre o que é hoje. Partindo de um término abrupto, o poeta recolhe seus cacos e remonta o espelho como quer. Pode ser doído, mas é seu remédio. Em sinto muito por não sentir mais nada, o autor tenta dar sentido ao sentimento (e à falta dele). O jeito que encontrou para amenizar a dor do término de um relacionamento longevo foi escrever enquanto acompanhava a evolução do próprio luto. O que não virou lágrima, virou poesia; e hoje é livro. Hoje é livre. Quem já passou por baixo do rolo compressor que é um “adeus” vai entender tudo nestas páginas. Nelas, o final é triste e feliz — primeiro um, depois o outro.


RESENHA



Em "Desculpe por não sentir mais nada", Tutu Machado nos convida a mergulhar em uma obra que começa pelo fim, desafiando as convenções e nos levando por uma experiência conceitualmente enriquecedora. Pode parecer estranho, talvez até necessário, mas o autor tece suas palavras de forma a construir uma narrativa que nos leva a refletir sobre o que já foi e o que é hoje.

Partindo de um término abrupto, o poeta recolhe os cacos de seu coração partido e reinventa a si mesmo através da escrita. Enquanto acompanha a evolução de seu próprio luto, Machado busca dar sentido ao sentimento e à sua ausência. Através das palavras, ele transforma a dor em remédio, fazendo com que aquilo que não se converteu em lágrima se torne poesia. Assim, o livro nasce, livre como uma ave em pleno voo.

Nestas páginas, o autor nos convida a uma jornada íntima que toca a alma daqueles que já passaram pelo rolo compressor de um "adeus". Com uma mistura única de tristeza e felicidade, Tutu Machado nos conduz por caminhos complexos do coração humano. Suas palavras transbordam de emoção e verdade, levando-nos a compreender profundamente essa experiência universal.

"Desculpe por não sentir mais nada" é mais do que uma obra poética, é um convite à reflexão sobre o amor e as despedidas em uma relação que se findou abruptamente. É uma ode à superação, à resiliência e à capacidade do ser humano de transformar dor em arte. Neste livro, encontraremos palavras que nos desafiarão a encarar nossas próprias dores, a ressignificar nossos términos e, quem sabe, encontrar a liberdade que tanto buscamos. Embarque nessa jornada poética e deixe-se levar pelas profundezas do sentimento e pela força transformadora das palavras de Tutu Machado. "Desculpe por não sentir mais nada" é um lembrete poético de que, mesmo nas maiores despedidas, sempre há uma possibilidade de renascimento.

A obra começa com uma dedicatória ao próprio autor, o que revela que, talvez, a obra tenha sendo escrita durante um período tortuoso de sua vida em um término de um relacionamento paulatinamente frequente e constante. A obra segue com pedidos de desculpa sinto muito por não ser(mos) mais nada, o que revela que, ainda que despedaçado, o autor nos convida à entender a ótica da perda entre dois indivíduos que estão, em igual, sofrendo pela despedida do findar de uma relação.


O autor segue sua poética analisando os motivos pelos quais o término ocorreu:


tentar te mudar foi errado
me mando; você é quem manda
e pra me mudar tô ferrado


Uma forma de ilustrar que as circunstâncias da relação estavam em seu êxtase profundo, onde ambos não se conectavam como antes. No verso 'tentar te mudar foi errado', o autor nos revela que encontrou impedimentos ao deparar-se com uma pessoa completamente oposta ao que se esperava. A narrativa ainda sugere que ambos eram resilientes em dar o braço a torcer pelo outro em 'você é quem manda', revelando assim, que ambos estavam dispostos à mudar o outro, não a si próprio, porém, o verso segue em 'e para me mudar tô ferrado',  revelando que, ambos possuíam problemas e estavam desconexos em não buscar dentro de si motivos que causaram a ruptura no racionamento e a vontade interna de não se mudar pelo outro por não haver reciprocidade.


eu já não conheço mais ninguém
e quem me conhece já sabe
só quero reconhecer alguém
que me lote do que me cabe


Os versos acima revelam que o autor sente-se desconhecido por si de forma profunda, ao afirmar não conhecer mais ninguém, o autor também revela sua dificuldade em entender os outros e as mudanças existentes nas pessoas, mas segue dizendo 'quem me conhece já sabe', revelando, que, todos o conhecem de forma interna para saber como ele funcionava, mas e a si próprio? 'só quero reconhecer alguém', é uma forma de tentar descobrir em palavras e ações de forma automática o que o outro tem a oferecer fazendo-lhe o parceiro que lhe falta. Mas, ainda assim, o eu lírico do poema revela uma dificuldade constante em esquecer o parceiro, o que significa que o relacionamento foi dotado de uma profundidade conexa e firme, mas também rasa e temporária, revelado nos versos 'e se quiser voltar', deixando as expectativas de uma mudança futura em aberto.

Seguindo a poética, ao autor descreve:


mudança forçada
triângulo das permutas
para trocar de endereço
sem pagar multa
sem pagar muito


O eu lírico do poema expressa sua infelicidade em perceber que a relação tornou-se apenas uma série de permutas, onde ambos só se davam por vencidos em prol de uma mudança no outro, não sendo assim, uma relação de cumplicidade, mas de barganha, tornando o relacionamento monótono e problemático. Ao declarar 'para trocar de endereço', o autor refere-se ao sentimentalismo e a forma como ele enxergava a si próprio, em outras palavras, mudar quem se é para agradar o outro, algo que como ele menciona nos próximos versos sem pagar multa/sem pagar muito é estranhamente complicado.


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