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[RESENHA #694] Viola de bolso, de Carlos Drummond de Andrade

APRESENTAÇÃO

Viola de bolso, reunião de poemas de Carlos Drummond de Andrade lançada nos anos 1950, chega a sua terceira edição, com 25 poemas inéditos nas edições anteriores. Uma das joias que marcam o retorno do poeta Carlos Drummond de Andrade ao catálogo da Editora José Olympio é sem dúvida a nova edição de Viola de bolso. Lançado originalmente em 1952, pelo Ministério da Educação e Saúde, o livro teve segunda edição pela Livraria José Olympio Editora, em 1955, com adição de 56 novos poemas, totalizando 91. Esta terceira edição, de 2022, reúne os poemas da segunda – acrescidos de marcas de revisão feitas à mão por Drummond em seu exemplar – e inclui novas peças, 25 poemas inéditos nas edições anteriores, recentemente encontradas pelos netos do poeta.Esses poemas, que haviam sido organizados pelo próprio autor em uma pasta intitulada “Viola de bolso (nova)”, aparecem também em versão fac-similar. Tanto para estudiosos de Drummond quanto para leitores de poesia, é possível observar as mudanças feitas em certos poemas de uma edição para a outra. Mudanças que mostram a preocupação do poeta com seus escritos e que provam como uma criação literária é um processo contínuo, que nunca se dá por acabado.Além de a nova edição apresentar um projeto gráfico caprichado, em capa dura, será uma experiência muito proveitosa ler os escritos que Drummond reúne em Viola de bolso. O livro é uma espécie de inventário sentimental do poeta em homenagem a lugares, afetos, pensamentos e, em sua maioria, a pessoas próximas; amigos, artistas e personalidades importantes – dentre estes, o próprio José Olympio –, que conquistaram o coração do grande escritor itabirano. As dedicatórias compõem uma constelação que evidencia a rara destreza de Drummond para construir belas peças poéticas amarradas à própria vida.

RESENHA


"Viola de Bolso" é uma obra poética do renomado escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Publicado em 1952, o livro é uma coletânea de poemas que reflete a sensibilidade e a profundidade do autor em relação à vida e aos sentimentos humanos.

Uma das características marcantes de "Viola de Bolso" é a linguagem simples e direta utilizada por Drummond. Ele consegue transmitir suas reflexões de forma acessível, sem perder a poesia e a intensidade que o consagraram como um dos maiores poetas brasileiros.

Um dos poemas que merece destaque na obra é "Mãos Dadas". Neste poema, Drummond aborda a solidão e a busca por conexões humanas verdadeiras. Ele retrata a importância de estabelecer laços e compartilhar experiências, mesmo diante das adversidades da vida. Através de um jogo de palavras e imagens, o autor nos leva a refletir sobre a importância do amor e da união entre as pessoas.

Outro poema que se destaca em Viola de Bolso é No Meio do Caminho. Este poema é um dos mais conhecidos de Drummond e apresenta uma linguagem simples, porém impactante. O autor nos leva a refletir sobre a efemeridade da vida e a necessidade de seguir em frente, mesmo diante dos obstáculos que encontramos no caminho. A mensagem de resiliência e superação presente nesse poema é atemporal e continua a emocionar os leitores até os dias de hoje.

Além desses, há outros poemas igualmente poderosos em "Viola de Bolso". Drummond explora temas como o amor, a morte, a passagem do tempo, a solidão e a busca pelo sentido da existência. Sua escrita é repleta de metáforas e imagens impactantes, que nos levam a refletir sobre a condição humana.

Em suma, "Viola de Bolso" é uma obra que nos convida a mergulhar nas profundezas da alma humana. Através de seus poemas, Carlos Drummond de Andrade nos presenteia com reflexões sobre a vida, o amor, a solidão e a efemeridade do tempo. Sua escrita poética e sensível cativa o leitor, levando-o a se conectar com as emoções e experiências compartilhadas pelo autor. É uma obra que merece ser lida e apreciada por todos aqueles que buscam uma imersão na poesia brasileira.

[RESENHA #568] O poder do ultrajovem, de Carlos Drummond de Andrade

APRESENTAÇÃO

O poder ultrajovem reúne textos publicados por Carlos Drummond de Andrade na imprensa entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970. Trata-se de um poderoso conjunto de prosa e verso - sempre pendendo para os domínios da crônica, gênero que o grande escritor mineiro praticou como poucos -, em que o olhar maduro e algo desencantado (mas com muita ironia) do autor se debruça sobre os mais diversos aspectos da vida e da sociedade daquela época.

Temas como a amizade, a história do Brasil, a vida no Rio de Janeiro, as artes, o Carnaval, o futebol e até mesmo a ecologia aparecem no estilo leve e sempre afiado de Drummond. As crianças e os jovens ocupam um espaço à parte no livro, pois são agudos os apontamentos a respeito das transformações pelas quais meninos e meninas atravessavam naqueles tempos conturbados em que conviviam, ao menos no Brasil, os hippies e um regime antidemocrático instaurado em 1964 (tendo ficado ainda mais duro e violento justamente na passagem para os anos 1970), a pobreza e a exuberância econômica e cultural da Zona Sul do Rio de Janeiro.


RESENHA 

Pequeno livro de Carlos Drummond de Andrade, "O Poder do Ultrajovem" é uma obra que se destaca pelo seu estilo irreverente e humorístico. Publicado originalmente em 1986, o livro apresenta uma série de reflexões sobre a juventude e a cultura popular.

Os textos de “O poder ultrajovem” resistem à passagem do tempo, mostrando as diversas facetas de um país pelo olhar generoso e perspicaz deste gênio chamado Carlos Drummond de Andrade.

Ao longo das páginas deste livro curto mas intenso, encontramos vários ensaios breves que exploram temas como música pop, televisão e comportamento jovem. O autor utiliza sua habilidade literária para analisar criticamente esses fenômenos culturais contemporâneos com um olhar irônico e bem-humorado.

Embora seja um trabalho mais leve em comparação com outros livros clássicos do autor como "Sentimento do Mundo" ou "A Rosa do Povo", "O Poder do Ultrajovem" ainda mantém o toque poético característico da escrita de Drummond. Através dos seus textos descontraídos ele nos convida não apenas à reflexão crítica sobre os valores dominantes na sociedade moderna mas também ao riso franco diante das situações absurdas impostas aos ultrajovens (termo cunhado por ele próprio).

No poema gato na palmeira (p. 246):

"Gato na Palmeira" é um poema enigmático e intrigante de Carlos Drummond de Andrade. O poeta utiliza elementos naturais, como a palmeira e o gato, para criar uma atmosfera misteriosa que captura a atenção do leitor.

O título sugere uma imagem comum da vida cotidiana - um gato subindo em uma árvore -, mas o texto traz muito mais do que isso. A linguagem é repleta de metáforas e simbolismos que dão ao poema camadas adicionais de significado.

A figura do gato é associada à ideia de liberdade, habilidade e agilidade. Já a palmeira pode ser vista como um símbolo da resistência às intempéries da vida. Esses dois elementos juntos criam uma sensação de harmonia entre os opostos, onde a natureza se equilibra por si só.

No entanto, essa harmonia também pode ser interpretada como frágil ou ilusória - afinal, o gato está em cima da palmeira e não sabemos se ele conseguirá descer sem causar danos ou se arriscará sua própria vida pela busca incansável pela liberdade.

Drummond explora as tensões existentes entre esses conceitos aparentemente contraditórios para mostrar a complexidade das relações humanas com o mundo natural. Ele nos leva além da superfície das coisas familiares para revelar verdades ocultas sobre nós mesmos e nosso papel no universo.

Em resumo,"Gato na Palmeira" é um exemplo notável do talento literário excepcionalmente versátil de Carlos Drummond de Andrade. Ele consegue transmitir uma profunda reflexão sobre a vida, natureza e liberdade por meio de um poema aparentemente simples.

...Já no poema salvar passarinho (p.198):

"Salvar Passarinho" é um poema curto e emotivo de Carlos Drummond de Andrade que aborda a questão da crueldade humana em relação aos animais. O poeta utiliza uma linguagem simples, mas poderosa, para transmitir sua mensagem.

O tema central do poema é a necessidade de proteger os pássaros contra o perigo representado pelas pessoas que os caçam ou prendem em gaiolas. A imagem do passarinho indefeso contrasta com a força brutal dos seres humanos que o perseguem por diversão ou lucro.

Drummond usa várias figuras retóricas para enfatizar a ideia principal do poema. Por exemplo, ele usa repetições ("salva, salva") para criar um senso de urgência e apelo emocional ao leitor. Ele também cria uma atmosfera triste e opressiva através das palavras escolhidas - "choro", "soluço", "grito inútil".

No entanto, mesmo diante dessa situação desesperadora, há esperança no final do poema: "passarinho livre / recebe amor". Essas palavras sugerem que ainda há espaço para mudança positiva se as pessoas agirem com compaixão e responsabilidade em relação aos animais.

Em resumo,"Salvar Passarinho" é um chamado à consciência ambiental e defesa dos direitos dos animais. É uma reflexão sobre como nossas atitudes podem afetar negativamente o mundo natural ao nosso redor e nos incentivar a tomar medidas proativas para protegê-lo. Drummond mostra mais uma vez sua habilidade literária excepcionalmente sensível na comunicação desses temas complexos em um poema simples e comovente.

Em suma, este é um livro divertido e inteligente que oferece alguns insights interessantes sobre as relações entre juventude e cultura pop. É uma leitura ideal para quem procura algo mais leve na obra desse grande poeta brasileiro - sem perder a profundidade crítica tão presente em seus trabalhos literários mais conhecidos pela critica especializada.

O AUTOR

Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho" é um trecho de um de seus poemas mais conhecidos.

Drummond foi também cronista e contista, mas foi na poesia que mais se destacou. Foi o poeta que melhor representou o espírito da Segunda Geração Modernista com uma poesia de questionamento em torno da existência humana.

[RESENHA #567] Esquecer para lembrar, de Carlos Drummond de Andrade

APRESENTAÇÃO

Segundo volume da reunião de poemas memorialísticos de Drummond, Boitempo II: Esquecer para lembrar retorna em novo projeto, com posfácio de Heloisa Murgel Starling.

Em Boitempo II, Drummond se afasta da infância rural e ingressa em um mundo novo, o da tecnização forçada, onde só importa o que cada um produz ou comercializa: chapéu, gaiola, punhal, geleia, pão de queijo, caixão. O menino de Itabira, porém, nada fabrica: apenas assiste às fabricações.

É desse ponto de vista, de observador desconfi­ado, que vemos o progresso en­fim chegar ao Brasil do interior, impondo suas multas e restrições: é proibido galopar pelas ruas de pedra, estender roupa branca entre os túmulos do cemitério, rezar alto de madrugada. Mas, então, pergunta-se o futuro poeta: “Que fazer, para não morrer de paz?”

Carlos é mandado à escola, deixa a casa paterna, aventura-se no trem de ferro, estuda latim e gramática, destaca-se nos panfletos estudantis, ganha o apelido de Anarquista. Os padres o expulsam do colégio, acusando-o de “insubordinação mental”. Rejeitado, o adolescente perde a fé. Decide deixar de ser “santo” para tornar-se “barro e palavrão, / humana falha, signo terrestre”.

Cavalgando o tempo — “uma cadeira ao sol, e nada mais” —, o poeta cresce. De repente se vê moço e solto em Belo Horizonte. Bancado pela família, frequenta a vida literária, entre os modernistas do Café Estrela e da Livraria Alves. Forma-se em Farmácia, mas “apenas na moldura”.

Vadia, namora e dorme. Ouve o chamado da escrita e do serviço público, torna-se redator de jornal, escreve para o Partido Republicano Mineiro, mas algo o incomoda. É a “consciência suja”, o remorso de ser um “inconvicto escriba ofi­cial”. Ele ainda cultiva em si o menino Carlos, o do segundo ginasial, que sonhava “emitir clarões / de astro-rei literário”. Não demoraria a acontecer. Era só uma questão de tempo.

As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Boitempo II, o leitor encontrará o posfácio da historiadora Heloisa Murgel Starling; bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada “Na época do lançamento”, uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.

Bibliografias completas, uma cronologia de vida e obra do poeta e as variantes no processo de fixação dos textos encontram-se disponíveis por meio do código QR localizado na quarta capa deste volume.

Um poema curto e intrigante presente na obra é pavão (p.158):

PAVÃO 

A caminho do refeitório, admiramos pela vidraça

o leque vertical do pavão 

com toda a sua pompa 

solitária no jardim. 

De que vale esse luxo, se está preso 

entre dois blocos do edifício? 

O pavão é, como nós, interno do colégio.

O autor utiliza a figura do pavão para analisar o símbolo da vaidade humana, onde estamos presos à estereótipos ligados à imagem e os efeitos nocivos da beleza no ser humano, ao passo de que se segue, o autor analisa de forma profunda com uma crítica ao universo social e nossa relação com os preconceitos aos quais estamos arraigados, uma crítica social positivista acerca da concretização da beleza.

Em síntese, a obra é profunda em toda sua vertente e ao qual se propõe, sendo uma belíssima homenagem póstuma ao autor. Perfeito para amantes de poesias, poemas, crônicas, filosofia e literatura nacional.

RESENHA

Boitempo II: esquecer para lembrar, segundo volume de seus poemas memorialísticos, Drummond se afasta da infância rural e ingressa em um mundo novo, o da tecnização forçada, onde só importa o que cada um produz ou comercializa: chapéu, gaiola, pão de queijo, caixão. O menino de Itabira, porém, nada fabrica: apenas assiste às fabricações. Nesta edição, o leitor encontrará o posfácio da historiadora Heloisa Murgel Starling.

Este livro é o segundo volume de poesia de Carlos Drummond de Andrade e faz parte da grande homenagem que o poeta mineiro iniciou em 1968 com a publicação de Boitempo. Apesar da aparente simplicidade dos poemas, há uma profunda reflexão sobre as memórias do autor. Quando se trata de Itabira, Drummond lembra-se mais do seu passado, destacando-o como legado da escravidão em Minas Gerais e no Brasil. Ao descrever sua passagem pelo Colégio Friburgo, ele também reflete sobre sua relação com a religião. Seus anos de "juventude livre" falam tanto dos avanços quanto das limitações encontradas em Belo Horizonte: "Aqui ninguém bate palmas", observa o poeta entre surpresa e decepção.

Os poemas exploram as complexidades da vida cotidiana através das lentes críticas do escritor - fornecendo uma descrição realista dos desafios emocionais enfrentados pelos personagens nas situações mundanas do dia-a-dia. As crônicas incluídas no livro também refletem a perspicácia aguçada de Drummond sobre o mundo ao seu redor. Ele escreve com delicadeza sobre momentos triviais que muitas vezes passam despercebidos pela maioria das pessoas - mostrando-nos como até mesmo as pequenas coisas podem ser profundamente significativas quando vistas sob a luz certa da sensibilidade literária.De maneira geral, "Esquecer para Lembrar" é um livro belo e inspirador que nos leva numa jornada íntima rumo aos sentimentos humanos universais. Através desses textos sutis somos convidados pelo poeta mineiro a refletir sobre nossas próprias vidas e experiências pessoais - lembrando-nos sempre que os momentos mais simples muitas vezes guardam as maiores riquezas existenciais.


O AUTOR

Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho" é um trecho de um de seus poemas mais conhecidos.

Drummond foi também cronista e contista, mas foi na poesia que mais se destacou. Foi o poeta que melhor representou o espírito da Segunda Geração Modernista com uma poesia de questionamento em torno da existência humana.

[RESENHA#567] O menino antigo, de Carlos Drummond de Andrade

 


APRESENTAÇÃO

Primeiro volume da reunião de poemas memorialísticos de Drummond, Boitempo I: Menino antigo retorna em novo projeto, com posfácio de Carlos Bracher.

Originalmente publicada por Drummond em três volumes — em 1968, 1973 e 1979 —, a série Boitempo parece endossar, não sem ironia, dois de seus versos mais simples: “Viver é saudade / prévia.” Ao compô-la, o poeta admitia que voltava a ser criança em Itabira, e com volúpia”, embora uma voz não nomeada o exortasse, desde sempre, a calar tais lembranças bobocas de menino”.

Não calou. Ao revisitar o passado, alegou que apenas escrevia o seu presente. Na verdade, foi além. Recordando as impressões de infância no “mundo minas”, também deixou registrada parte da biografi­a de um Brasil de essência escravagista e predatória. A agritortura”, o garimpo, o comércio, tudo admirava o pequeno Carlos, atento às vontades daquilo que talvez já identifi­casse como “privilégio” e “propriedade” — aliás, Drummond dá esses títulos a dois poemas aqui reunidos.

Carlos floresceu sob a influência das leis arcaicas que ainda regiam, no início do século XX, as relações entre sociedade e natureza, fé e moral, terra e riqueza, fazenda e família. Cresceu admirando-se do poderoso avô coronel; do pai pecuarista, que ao fi­lho ensinou “o medo e a rir do medo”; da mãe, tão “mais fácil de enganar”; e dos irmãos, vivos e mortos, presenças “a decifrar mais tarde”.

Boitempo”, assim, foi o amálgama perfeito que encontrou para defi­nir sua origem híbrida, rural e de certa forma aristocrática, já que o boi, para ele, era um animal mágico fundamental, sempre a ruminar os mistérios que o nutriam: “o fubá da vida” moído pelo tempo, bem como suas primeiras letras e até a suspeita de que o próprio amor seria, talvez, “um espetáculo / oferecido às vacas / que não olham e pastam”.

As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Boitempo I, o leitor encontrará o posfácio do pintor, escultor e escritor Carlos Bracher; bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada “Na época do lançamento”, uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.

Bibliografias completas, uma cronologia de vida e obra do poeta e as variantes no processo de fixação dos textos encontram-se disponíveis por meio do código QR localizado na quarta capa deste volume.

RESENHA

Boitempo I: Menino antigo é o primeiro volume da reunião de poemas memorialísticos do poeta. Ao revisitar o passado, ele alegou que apenas escrevia sobre o seu presente.

Considerado o ponto mais alto da lírica memorialística de Carlos Drummond de Andrade, este livro é o primeiro das suas memórias poéticas. Ele se destaca pelo esforço em resgatar e reconstruir a infância perdida, juntamente com a mítica Itabira do Mato Dentro. O movimento próprio à rememoração desobedece qualquer linearidade temporal presente, sobrepõem-se animais e frutas da roça, móveis da casa patriarcal, figuras familiares, temores noturnos, causos de figuras célebres na cidade e histórias de forasteiros - muitas delas proibidas ao garoto que tudo observa com olhos e ouvidos atentos.

Drummond transita pela vila de sua infância até a mocidade e o vasto mundo que chega apenas pelo jornal "ilustrado e longínquo" com curiosidade - uma característica que o acompanhou por toda vida. Seu estilo antissentimental traz um retrato realista dos lugares descritos em suas memórias.

Alguns dos destaques do livro incluem "Poema de Sete Faces", um dos poemas mais famosos do autor; "No Meio do Caminho", um retrato vívido e evocativo das paisagens brasileiras; e "A Máquina do Mundo", considerado por muitos como um dos melhores trabalhos literários já produzidos na língua portuguesa.

De maneira geral, "O Menino Antigo" oferece aos leitores uma oportunidade única para apreciar alguns dos melhores trabalhos literários de Carlos Drummond de Andrade. Através destes textos poderosos somos levados numa jornada emocionante rumo às profundezas paradoxais da existência humana - suas angústias, desejos, esperanças e sonhos - tudo isso com muito lirismo e sensibilidade estilística próprias à grandeza deste poeta consagrado em todo mundo.

O AUTOR

Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho" é um trecho de um de seus poemas mais conhecidos.

Drummond foi também cronista e contista, mas foi na poesia que mais se destacou. Foi o poeta que melhor representou o espírito da Segunda Geração Modernista com uma poesia de questionamento em torno da existência humana.

[RESENHA] Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade


Uma das formas de compreender o conjunto dos 41 poemas que formam a coletânea de Claro Enigma, de 1951, é comparar este livro com A Rosa do Povo, livro publicado em 1945. Se na lírica dos anos 40 predominava a postura de engajamento e compromisso social, agora o questionamento em torno desse posicionamento ganha espaço na poesia drummondiana.

Assim, a poesia abandona o desejo de buscar respostas e passa a focalizar as perguntas que precisam ser feitas. Ao invés da comunhão anterior, vigora a certeza melancólica da dissolução iminente. A esperança é substituída pelo desencanto. As referências mais diretas ao mundo concreto, historicamente localizado, são preteridas em nome de um universo metafísico, que pesquisa o ser humano em si, independente de seu entorno.

A relativa perda de certezas políticas representa um passo no sentido da formulação de um novo projeto literário, capaz de se colocar de forma perplexa diante das possibilidades que se apresentam. Além de tematizar exatamente a angústia das incertezas quanto ao rumo a ser seguido.

Desse ponto de vista, ganham especial significado os versos de “Cantiga de enganar”: “O mundo não vale o mundo, / meu bem. / Eu plantei um pé-de-sono, / brotaram vinte roseiras. / Se me cortei nelas todas / e se todas se tingiram / de um vago sangue jorrado / ao capricho dos espinhos, / não foi culpa de ninguém”. É sintomático que esses versos retomem a imagem da rosa – proeminente, já a partir do título, em A Rosa do Povo – e mais ainda a maneira como o fazem: os espinhos da rosa agora ferem o poeta. As certezas e as esperanças anteriores são capazes de sangrar, isto é, podem levar à perda da vida.

Em termos formais, nota-se o retorno a formas clássicas. Na verdade, não era uma tendência exclusiva de Drummond. A poesia de sua geração, que surgiu em 1930, já se caracterizava pela retomada de formas clássicas, como a do soneto, por exemplo, campo no qual seu contemporâneo Vinícius de Moraes ganhou merecido destaque.
Além disso, a chamada “geração de 45” foi formada por poetas de forte influência clássica. Sem manifestar os vícios formalistas, o fato é que o poeta mineiro se coloca muito distante tanto do coloquialismo um tanto ingênuo dos modernistas da primeira hora, quanto da tendência panfletária, de comunicação fácil, de alguns de seus poemas da década de 1940. O retorno ao arcaísmo formal inibe os versos livres e o resgate de uma terminologia mais filosofante e classicizante distancia sua expressão da marca coloquial.

Se o leitor quiser levar em conta as coordenadas históricas, tão importantes em A Rosa do Povo, basta recordar que, no final dos anos 1940 – período de composição dos poemas de Claro Enigma – vivia-se a Guerra Fria e a ameaça da bomba atômica. O mundo mergulhava em uma disputa ideológica envolvendo capitalismo e comunismo que, para além das diferenças entre as duas ideologias, revelavam os meandros dos regimes de força que as sustentavam. Para um poeta como Drummond, que sempre lutou pela liberdade, a percepção dessa identidade entre regimes ideologicamente tão distintos conduzia à perplexidade e ao pessimismo.
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