[RESENHA #496] Campos de morangos: uma história sobre exploração humana, de Sandra Saruê

uma história sobre a exploração humana

Editora Melhoramentos / Arte Digital


Campos de morangos é um livro de ficção escrito pela autora paulista Sandra Saruê, que traz reflexões acerca dos sonhos, da vida e do trabalho escravo em suas facetas.

Vale ressaltar que este livro foi lido de forma gratuita no formato digital pelo aplicativo BibliON, uma iniciativa do governo de São Paulo ao fomento da literatura acessível. 

A narrativa nos conta a vida de Celeste e José e seus gêmeos, Lara e Luís. Uma família pobre, porém, batalhadora que luta para se manter no dia-a-dia. Celeste trabalhava costurando durante a madrugada em casa, enquanto seu marido, José, trabalhava como motorista de ônibus no turno da noite, seus filhos, jamais se preocuparam em fazer nada além dos afazeres domésticos, pois seus pais se preocupavam muito com o seu futuro, desta forma, estudavam o quanto podiam para sustentar a chance de um futuro melhor.

Tudo começou quando Eusébia (comadre e vizinha de Celeste) chegou certo dia em sua casa eufórica para lhe contar uma novidade que acabara de bater em sua porta: a chance de mandar Lara e Luís para estudarem em Paris em um programa de estudos mantido por uma ONG na figura de uma mulher extremamente bem vestida e que inspirava confiança: Madame Claudine.

— Lembra que lhe contei sobre a madame Claudine (...) Pois é, uma da ONG's que ela administra está com um novo programa de mandar jovens para o exterior, com bolsa de estudos, tudo grátis. Tudo pago: estadia, alimentação, dinheiro, extra, tudinho [...] grifos meus.

ÓBVIO, que, como todo adolescente almeja, os adolescentes ouviram toda a conversa e animaram-se com a ideia: um estudo no exterior, conhecer Paris, a torre Eiffel, museu de Louvre, arco do triunfo, e claro, os passeios e o aprendizado de uma nova cultura e um novo idioma. 

Os pais mantiveram-se incertos da proposta que parecia boa demais, sobretudo, José, um homem simples que não gostaria de afastar-se dos filhos por tanto tempo, principalmente pelo fato de que quando a esmola é demais, o santo desconfia. Assim sendo, para ter certeza da veracidade da oportunidade, todos marcaram uma reunião para conhecer Madame Claudine, que compareceu e esclareceu todas as dúvidas, com classe, um sotaque francês forte e com boas vestes.

Não era uma mulher jovem, talvez beirasse os cinquenta anos. Difícil dizer se era bonita, porque, com toda aquela roupagem de sofisticação, qualquer mulher ficaria deslumbrante.

É claro que como qualquer boa oportunidade, esta era limitada:

[...] Já tenho quarenta jovens inscritos aqui no Brasil. Vamos viajar com cinquenta jovens. Aliás, se seus filhos tiverem amigos para indicar seria ótimo, assim, eles vão na mesma turma. [..] aguardo sua resposta, seu José, até no máximo amanhã. (grifos meus)

É claro que, para assegurar que os filhos não fossem sozinhos, a noticia espalhou-se, até chegar à Samantha e Jorginho, seus vizinhos, com quem conviveram a vida toda. Samantha estudou desde cedo com Lara, enquanto Jorginho, cresceu como irmão de Luís, já que sua amizade perdurava desde o jardim de infância.

A partir deste ponto, a narrativa ganha forma e novos personagens nos são apresentados, como: Selma (responsável por organizar os documentos e embarcar os jovens), João Ramiro (responsável por acompanhar o transporte até Paris) e Cheval (responsável por levá-los do ônibus ao seu destino final).

A narrativa é simples, direta e muito objetiva, a autora preocupou-se em construir uma história com pirâmides de um procedimento criminoso: o tráfico de humanos e a exploração do trabalho com falsas promessas de trabalho. O livro é extremamente acessível em linguagem e a leitura flui perfeitamente, durante duas horas de entretenimento.

O livro casa-se bem com uma reportagem exibida no SBT por Roberto Cabrini, ao qual, os envolvidos narram todo esquema criminoso para levá-los para fora do Brasil com promessas de melhora de vida, tudo muito bem esquematizado e elaborado. Assim como neste livro, na vida real, cada qual é distribuído segundo sua beleza e capacidade de trabalho, alguns ficam anos trabalhando de forma escrava em campos, enquanto outros são vendidos para se prostituírem e/ou, seja lá qual for a finalidade do comprador.

A reportagem pode ser assistida no vídeo abaixo:

Indico o livro pra todos os amantes de uma boa escrita e de um livro rápido, a autora, Sandra Saruê possui uma sutileza na narrativa dos fatos, o que torna tudo mais agradável de ler. O livro é repleto de gatilhos mentais, a leitura requer atenção.


Editora Melhoramentos / arte digital 

A AUTORA

Sandra Saruê nasceu em São Paulo, capital, no dia 08 de outubro de 1968. Um ano revolucionário, como ela se orgulha de dizer. Publicitária formada e atriz (quase formada), teve que abandonar o curso de artes cênicas, incentivada pelos professores que abominavam sua atuação como atriz, mas apreciavam muito os textos que criava para as peças. Não interprete, apenas escreva! Diziam os professores. E foi o que ela fez: começou a escrever, escrever, escrever… e nunca mais parou. Atualmente escreve livros para adultos, crianças e adolescentes. Tem se dedicado também ao assunto “cultura para a paz, tolerância e respeito às diferenças”. Mora com o marido e dois filhos adolescentes em São Paulo e adora visitar escolas, conversar e conhecer pessoalmente seus leitores.


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