Mostrando postagens com marcador editora ascensão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador editora ascensão. Mostrar todas as postagens

Estão abertas as inscrições para o 3ª Prêmio Reflexo Literário

2ª edição do Prêmio Reflexo Literário reuniu autores, artistas e produtores culturais.

O Prêmio Reflexo Literário 2023 está com inscrições abertas até o dia 23 de dezembro.  A premiação é uma iniciativa independente de jovens escritores da Zona Oeste do Rio de Janeiro para celebrar e incentivar a Literatura, a Arte e a Cultura nacionais. Na 3ª edição do evento, podem se inscrever autores, músicos, editoras, profissionais da área editorial, produtores culturais, influenciadores e artistas em geral.


Com o tema “Noite do Oscar”, a segunda edição contou com uma cerimônia de premiação realizada em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Assim como na primeira edição, o evento incluiu a entrega de troféus e certificados, música ao vivo e um coquetel de premiação.


O evento reúne categorias, como: Melhor Autor Nacional, Melhor Livro de diversos gêneros, Melhor Iniciativa Cultural, Melhor Podcast, Melhor Bookstagram, Melhor E-book, entre outras. O objetivo é abranger as diversas formas de publicação e fazer artístico, sem esquecer o trabalho de artistas independentes, impulsionando quem resiste fazendo arte no Brasil.


1ª edição do Prêmio Reflexo Literário, realizada em 2022.

Apesar de ter origem na Zona Oeste do Rio, a premiação recebe inscrições de diversas partes do país, permitindo que os autores e artistas conheçam outros trabalhos e compartilhem suas experiências.


A terceira edição promete continuar incentivando e impulsionando vozes do meio literário e artístico. A votação será, mais uma vez, realizada por voto popular. Para ler o edital e conferir as regras, acesse o Instagram do Prêmio Reflexo Literário: @premioreflexoliterario.


Organização Prêmio Reflexo Literário.

Formulário de Inscrições: https://forms.gle/oCm4P9R4jk6Gi8RA7

[RESENHA #579] Bruxaria em poesia, de Mateus Cabot



APRESENTAÇÃO

Bruxaria em poesia é um livro de poesias escrito pelo autor e jornalista Mateus Cabot, a obra é um emaranhado poético elucidativo e filosófico do autor em relação à religião wicca, ou, mas comumente conhecido, a bruxaria. A obra desmistifica tabus e receios criados por intermédio do preconceito herdado da heresia das igrejas cristãs, da inquisição e da perseguição às bruxas, tudo de forma velada e nas entrelinhas. O autor preocupou-se em desenvolver uma escrita prolífica e sensata acerca dos encantamentos, feitiços e do real significado da bruxaria em relação à natureza, aos animais e ao bem estar.

RESENHA

Bruxaria em poesia é o primeiro livro do autor e jornalista Mateus Cabot, publicado em 2022 através da Editora Ascensão. 

A obra se inicia com uma carta do autor que explicita como se deu o envolvimento com a bruxaria em sua vida. Tudo começou por volta de seus doze anos, o autor descreve a casa de sua família alegre e repleta de risos, mas que naquele dia em específico, o silêncio pairava. Havia uma caixa pesada no quarto dentro de um armário que carregava alguns títulos específicos do universo do encantamento e da feitiçaria. Mateus descreve o caminho de autodescoberta como algo jamais sentido antes, todos os primeiros contatos e todos os envolvimentos que se desenvolveram com a natureza foram cruciais para o desenvolvimento de seus conhecimentos e na busca de novas experiências com a natureza.

o primeiro poema da obra, a descoberta da primeira página, 12, é uma descrição poética do primeiro contato do autor com os livros que o inseriram no meio da magia.

sobra o pó / cavuca e encontra / vira a folha / o som ecoa / o silêncio grita / sobe pela espinha / vê o bosque / olha as copas / dançam lá acima / olha à volta /  um breu de sol [...] (p.12)

Já o segundo poema, grande mãe, é um poema dedicado à deusa mãe, a divindade primordial desde o despontar da História da Humanidade. Em todas as religiões, a figura feminina é posta com destaque pelo seu poder de prover vida e fertilidade, e aqui, não é diferente. O poema discorre sobre os sentimentos do autor em relação aos sentimentos aflorados entre ele e a Deusa Mãe, um poema lindo, simples e repleto de energia.

quando ouvi seu nome, já conhecia / o seu rosto, já via / quando dormia / e me perdia / me permitia / voar [...] (p.14)

O terceiro poema é profundo e histórico, chifres, aqui, o autor desvencilha os tabus acera do chifre e do medo que ele desperta em algumas pessoas. O medo e o desenvolvimento do medo acerca dos chifres é fruto dos tabus impostos pelas religiões, sobretudo, o cristianismo. Os chifres na bruxaria indicam a figura do deus cornífero, uma entidade que rege e guarda as matas, florestas e os animais, porém, sua simbologia foi distorcida historicamente por consta da perseguição e da intolerância da igreja com as bruxas e com o culto à deuses pagãos, o que ocasionou em sua demonização. O poema é repleto de frases que denotam o real sentido do culto, dos chifres e da presença onipresente do deus cornífero em tudo o que tocamos ou vemos, sobretudo, a vida verde e animal.

quem tem medo de chifres? / na penumbra, a silhueta / no bosque à espreita / sob a lua o uivo / e os sons da mata / latidos, arbustos, rusgos / rugidos, talvez / quem tem medo de chifres? [...] o verde das plantas / o tronco da árvore / a flor na savana e a lama / a lama e a campina branca e a mata fechada e a floresta / lá no topo eu vejo (p.15)

 poema, a brilhante, é um ensaio acerca da deusa Aine de Knockaine deusa solar, soberana da luz, da fertilidade da terra e do amor, cujo nome significava “prazer, alegria, esplendor”.

o Efêmero / o sopro, a Tentativa / o sonho / o brilho / Ela brilha / Áine, A Brilhante / da colina de Knockaine. (p.21)

O livro não é apenas um emaranhado poético, mas uma descrição histórica, filosófica e bastante rica da bruxaria no meio em que vivemos. Em seus versos, desmistificam-se tabus, medos e desinformação. Mateus trouxe uma escrita proeminente acerca da existência da poesia e do encantamento por meio da essência wicca, a feitiçaria em carne crua, o desvencilhamento dos caminhos e das óticas que percorrem o universo material por meio do imaterial e do aguço dos sentidos. Um livro para se ler mais de uma vez, para se aprender em cada página, e sobretudo, para se sentir além.

A união entre a fé a poesia.

[RESENHA #575] Entre cinzas e areia, de Laion Okuda



APRESENTAÇÃO

Como lidar com as culpas e traumas? O quão longe ir por redenção?  Em um momento de pesar e luto, Davi tem que enfrentar o seu passado para conseguir traçar algum caminho de esperança para o seu futuro. Num deserto de cinzas e areia, ao caminhar por entre suas memórias, ele tem que conviver com seus fantasmas e aceitar suas escolhas, mas em quais pontos a ilusão se encontra com a realidade? Seria Davi um homem delirando por conta de sua abstinência, louco por sua própria culpa ou forças maiores realmente o estariam acompanhando?

RESENHA

Entre cinzas e areia é um livro de drama escrito pelo autor Laion Okuda, a obra apresenta uma série de acontecimentos dramáticos mesclados entre passado, presente e várias doses de remorso. Davi, sente-se culpado pela morte de seu irmão Levi, que era casado com Sheila, seu último desejo era participar da caminhada até à meca [cidade sagrada dos muçulmanos], não tendo seu corpo cremado como todos os outros de sua família, porém, seu último desejo acabou sendo desrespeitado pelo seu irmão, que optou por cremá-lo, criando um clima tenso entre todos de sua família que acredita que ele desrespeitou completamente a última vontade de seu irmão, que agora, morrera pelo que acredita-se ser sua culpa.

Agora, Davi precisa viajar para concretizar a última vontade de seu irmão, levando suas cinzas até a grande pedra negra, uma vez que era necessário realizar todo caminho para formalizar uma promessa feita por Levi à esposa de seu irmão, Sheila. Porém, todo o caminho é marcado por monólogos advindos de um sentimento de culpa e pela vontade de reaver toda sua família reunida como antes, livre de toda dor e sofrimento causado pela partida precoce e recente de Levi, e para isso, contará com a ajuda do tio de Sheila, Yaroff para concretizar mais este ciclo em sua vida.

O que podemos notar é que esta obra é repleta de gatilhos emocionais, inclusive, na abertura do livro o autor nos atenta para qualquer gatilho que a obra possa proporcionar, afinal, ela fala de culpa, dores, sofrimento, estupro e outros sentimentos que podem causar desconforto em alguma leitura desatenta. Davi nunca se deu bem com o pai, todas as lembranças mencionadas são de puro desafeto ou episódios de dor e sofrimento, a todo momento suas reflexões abordam sua vontade íntima de que seu pai, falecido, deveria falecer de forma miserável diversas outras vezes, não seu irmão, ele não merecia morrer tão cedo.

O caminho até meca é marcado por um sol que que penetra a pele, rasga a garganta e superaquece o corpo, Davi sente-se durante todo o percurso inseguro, não somente pelo fato do calor tomar conta de todo ambiente, mas pelo ar ser irrespirável e completamente seco com zero vegetações, passando inclusive, por tempestades de areia tenebrosas e um caminho marcado por encontros nada amistosos por pessoas que habitam o deserto.

Em determinado momento, Davi vê-se separado do grupo responsável por guiá-lo até a meca, eles adormecem durante uma tempestade de areia, e ao acordar, o calor toma conta do lugar de forma avassaladora, ele nota que está sem transporte [camelo], sem água, e sem ninguém ao redor para ajudá-lo, todos sumiram, não há nada além do sol e areia no horizonte. Seu corpo dói, seus joelhos enfraquecem, sua cabeça superaquece e as cinzas de seu irmão desaparecem. O desespero toma conta de Davi, que não imagina uma saída plausível daquele ambiente, sem qualquer recurso, assim, ele é tomado por alucinações sobre o passado, e principalmente, alucinações sobre seu irmão. Levi, surge como um guia encorajador para Devi em meio ao calor, ajudando-o à se levantar e prosseguir, neste momento, Davi começa delirar e impor opções para todo aquele acontecimento: estaria ele morto, louco ou sofrendo de alucinações severas? qual era a real explicação para tudo aquilo? Ele se dá conta que, de fato, seu irmão não poderia estar ali, ainda que muito palpável e com uma imagem bastante real, ao caminhar, ele não deixava pegadas na areia.

Todo percurso elaborado a partir dai por Davi e Levi é repleto de histórias, encontros, desencontros, uma revisitação ao passado e aprendizados. O principal aprendizado no decorrer do encontro dos dois é o fato de que jamais devemos olhar para o passado, uma forma de dizer que não devemos nos condenar ou martirizar por acontecimentos passados, evitando assim, fadigas emocionais e problemas psicológicos, que era justamente o que Davi estava passando pela morte do irmão. Uma sequência de imagens se formam na areia, no fogo e em toda paisagem ao redor dos irmãos, cada história narrada por Levi transforma-se em uma verdadeira experiência de revisitação, reflexão e aprendizado.

A história é emocionante e prende o leitor do inicio ao fim, nota-se que o autor é especialista em desenvolver grandes enredos com uma narrativa impecável que prende o leitor do começo ao fim. O choque cultural, as narrativas, histórias e encontros e desencontros aqui elaborados são infinitamente bem desenvolvidos e repleto de simbolismo, o que torna ainda mais a experiência única. 

Um livro para se ler mais de uma vez, memorável e atemporal. 

[RESENHA #574] Casa de incertezas, de Ana Carla Longo


APRESENTAÇÃO

Este livro é sobre perguntas, mas nem tanto sobre respostas. Somos nossa casa, isso é fato, mas carregamos todas as possibilidades do “ser” dentro da gente. Uma coletânea de crônicas e poemas sobre lar, acolhimento, amor-próprio e individualidades. Um livro intimista que despe os sentimentos mais profundos e sinceros da autora. Abram as portas e se sintam em casa. Podem reparar a bagunça.


RESENHAS

Casa de incertezas é de fato um livro sobre perguntas. A obra de Ana Carla Longo é um emaranhado poético que mescla poesia e crônicas, todas carregadas de uma individualidade única, nota-se o trabalho desenvolvido pela autora acerca dos sentimentos e reflexões diversas, que como nos é conhecido, próprios da vida. No prefácio da obra somos apresentados a uma frase que sintetiza toda poder poético da obra: não há lugar como a nossa casa, por sorte, eu moro em mim.

Cabe em nós um mar de histórias, aquilo o que somos, temos e sentimos é fruto da vivência que escolhemos ou não viver, que sentimos ou deixamos de sentir. A construção de quem somos, como reagimos à determinadas sensações, emoções e momentos são construções advindas do processo de transformação do eu, impostas pela vida. Cabe um mundo em quem a gente é. Em quem a gente foi e vem se transformando pouco a pouco [...] (prefácio).

No poema de abertura da obra, bagagem, a autora faz uma alusão de uma bagagem aos caminhos e momentos construídos durante a caminhada da vida e todos os pesos e emoções, lembranças e sentimentos que carregamos, e claro, de todas as confusões que se formam dentro de nós em meio as dúvidas, momentos distintos e incertezas e todo processo para supera-los, ou tentar ao menos.

Esses dias, abri a mala que venho trazendo comigo e percebi: ainda carrego algumas inseguranças de tentativas falhas que fiz, aquela mania de duvidar do que eu sou capaz e até umas opiniões negativas ouvi a meu respeito que ouvi por ai [...] não me venha me oferecer o espaço de um bagageiro, sou bagagem completa, me aceite inteira [...] (bagagem).

Já o poema homônimo ao título, a autora traz uma forte reflexão acerca da figura de que o corpo, ou nós, somos uma casa, um templo e carregamos e suportamos mais do que podemos perceber ou aguentar. Nos enchemos, nos esvaziamos e nos completamos com os mais variados momentos e distintos, e como uma casa, damos muita importância à tudo o que ocorre dentro da gente.

Porque essas coisas não definem a gente. Não definem. Talvez você tenha conhecido alguma versão minha numa curva dessas da vida ou só me conheça agora, pelas minhas palavras. não importa. Afinal de contas, quantas versões minhas eu já deixei para trás para ser quem eu sou agora? Não sei. Continuo não sabendo[...] (Casa de incertezas).

...mas, a obra também fala de força e estar pronta para o que der e vier...

Às vezes, ela tinha aquele riso fingido de quem teme a dor. Ela já carregava muitas. Algumas lhe roubaram o sono, outras levaram parte de sua confiança. Mas ela sempre seguia seu caminho. Ela tinha aquele olhar sincero, de quem equilibra força e sensibilidade e força dentro de si [...] (pronta).

E claro, ela nos deixa claro que seus manuscritos são repleto de questões, de várias, inclusive das que se formam durante a leitura e as reflexões, mas não, ela não fornece respostas, ainda que possamos buscá-las.

Não. Eu não trago respostas. Considerando quem sou, não entrego as carta de uma só vez. Também não vim fazer um convite ou desejar coisas boas, apesar de ter a convicção de que sou capaz de proporcionar momentos incríveis. (carta aberta).


Mas, ela também nos convida à refletir e nos perdoar. Perdoar por todos os nossos arrependimentos, escolhas e caminhos pelos quais sentimos, ansiamos e vivemos, afinal, sempre há dúvidas e incertezas que se surgem durante nossa caminhada da vida, sobretudo, sobre o porque de determinadas decisões que tomamos.

Escrevo para me pedir perdão. Perdão por todas as vezes em que esqueci de celebrar o aprendizado e foquei só nos erros. Perdão por me limitar, por tentar caber em lugares que não eram meus. Nem ao mesmo combinavam comigo. (carta de desculpas).

Em síntese, Ana Carla longo compôs uma sinfonia de reflexões acerca de sua vida e suas memórias, nota-se que ela desenvolveu uma imensa resiliência e aprendizado com a vida e com os caminhos trilhados, crescendo constantemente de forma avassaladora intimamente. Seu livro é um convite à reflexão da casa que nossa vida representa, todas as pessoas que passam por nós, todos os momentos que vivemos e vivenciamos, todos os destinos e caminhos que traçamos e escolhemos nos trouxeram exatamente para onde estamos - e isso é, incrível. Realmente, um excelente livro que abre precedentes para uma leitura envolvente e emocionante de autodescoberta e reflexão.
© all rights reserved
made with by templateszoo