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[RESENHA #678] Fumo, de Juliano Costa

APRESENTAÇÃO

Fumo é o diário de alguém que tenta parar de fumar, mas acaba gostando tanto de escrever sobre cigarro que passa a questionar sua decisão. Ao longo das páginas e dos dias, a dúvida que surge é: escrever para parar de fumar ou fumar para continuar escrevendo?

RESENHA

Fumo, de Juliano Costa, é um emaranhado poético descritivo acerca do uso do cigarro. Assim como aconteceria com qualquer outro, aconteceu com o autor. O livro é parte da iniciativa do em parar de fumar enquanto registrava seu progresso em um diário, porém, ao iniciar seu processo, o autor interessou-se demasiadamente pela força da escrita, do que pelo dito exercício do cessar do cigarro, o que ocasionou em reflexões acerca da real necessidade de se parar. Assim surgiu este livro. O autor narra em diversas histórias uma série de acontecimentos que se casam com o uso do cigarro, suas nuances transitam entre amizade, trabalho e cotidiano e são carregadas de um sentimentalismo extremamente forte e exagerado acerca da vida, o que torna a leitura muito mais palpável e interessante do que se espera, e isso é uma poderosa armadilha para nos fazer cativar por sua escrita.

Publicado pela editora Patuá, a obra possui uma característica única que é parte crucial da narrativa: ela é crua. Já no primeiro conto, intitulado não me abandone jamais, o autor faz alusão do corpo a um barco de luxo. Assim como em um barco, onde as tarefas são cautelosamente distribuídas, e cada qual ultrapassa seus limites cientes das consequências, assim é o vício com o cigarro. O autor conta que sua jornada em busca de por fim ao vício durou 28 dias, e que agora, seria para valer. Suas metáforas acasalam-se perfeitamente com a noção de poder que o cigarro tem sob a vida e visão das pessoas em suas participações sociais.

Já o sexto conto consta com uma forte referência ao filme Harry Potter (a pedra filosofal), o autor descreve em detalhes as primeiras cenas, onde, o professor Dumbledore com sua varinha (aqui, isqueiro) suga na primeira cena todas as luzes dos postes, enquanto se aproxima dele uma senhora que logo se transforma de um gato para sua real figura (Sra. Mcgonagall), seguido do surgimento de uma moto que aterriza sob o asfalto (Hagrid). Seguindo:

[...] Dessa vez, minha mãe interceptou a correspondência e deu fim nela. No dia seguinte, dezenas de corujas pairavam sobre a minha casa, jogando os envelopes por toda a construção. [...] a partir desse momento tudo fez sentido e eu soube o que sempre fui aquilo o que me tornara: um fumante.

No dia 11, o autor descreve o retorno para casa de uma peça de teatro de Mel Lisboa, o autor descreve que, em um ponto de ônibus, encontrou-se com uma mulher que tirou do bolso um maço de malboro vermelho e o colocou na boca para fumar despreocupadamente pensando em absolutamente nada, com a mente vaga. Aquela cena faz o autor pensar em como sua vida estava triste e vazia, comparando aquele momento com um buraco na minha alma (p. 52).

O livro segue uma linha tênue de descrições cotidianas, sempre intercalando sua luta com o cigarro e as reflexões do autor, algo extremamente inusitado em termos de literatura, ainda que o tópico não seja novo, podemos notar que há sempre algo de inovador em cada linha, o autor transfere uma carga reflexiva e emocional forte para suas histórias breves, que poderiam, sem nenhuma dúvida, render cada uma um livro único. A atmosfera criada pelo autor é altamente penetrante e única, o que torna a leitura cada vez mais prazerosa e enriquecedora.

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