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[#988 RESENHA] Coelho maldito, de Bora Chung


SORE O LIVRO

Os contos presentes em Coelho maldito, livro finalista do International Booker Prize, transitam entre realismo mágico, folclore, horror, ficção científica e fantasia, partindo de elementos insólitos para narrar histórias assombrosas que tocam em temas profundamente reais. A coletânea é a primeira obra de Bora Chung, uma das mais notáveis escritoras sul-coreanas da atualidade, publicada fora da Coreia.Em uma família cujos negócios consistem em criar objetos de maldição, o avô relembra um episódio envolvendo um amigo de infância e um abajur amaldiçoado em formato de coelho. Uma gestante precisa encontrar um pai para o filho o mais rápido possível, e evitar que a criança sofra consequências terríveis. Despertando no completo escuro após sofrer um acidente, uma professora confia na única coisa que tem por perto para levá-la de volta à luz: uma voz desconhecida.

As dez histórias que compõem Coelho maldito partem de imagens grotescas, assombrosas e incômodas para tratar, por meio de um olhar aguçado e impiedoso, da humanidade e da condição feminina. Uma das mais proeminentes escritoras sul-coreanas da atualidade, Bora Chung usa elementos fantásticos e surreais para refletir sobre os horrores e crueldades do patriarcado e da sociedade capitalista contemporânea.


 "Com a linguagem concisa e eficaz de Chung, é impossível parar de ler." -- Tor. com


resenha

O livro "Coelho Maldito", escrito pela autora sul-coreana Bora Chung, é uma obra de contos de assombro e do imaginário popular. O conto "Coelho Maldito" é narrado em primeira pessoa por uma neta não nomeada, que nos fala sobre uma conversa que teve com seu avô acerca de um abajur curioso em formato de coelho, que possuía um interruptor entre os pelos para ligar a luz ao passar as mãos, como em um coelho de verdade.


"Todo objeto tem sua própria história. Esse abajur não foge à regra, principalmente porque também foi usado para rogar uma praga. Sentado em sua poltrona ao lado do abajur, meu avô narra e repete essa história que ouvi inúmeras vezes. O abajur foi feito para um amigo. Não se deve produzir nem usar objetos de maldição para interesses pessoais. Essa era a regra da minha família, que há gerações produzia esse tipo de objeto. O coelho foi a única exceção." (p.4)


Ela, juntamente com sua família, vêm de uma família de ferreiros, porém, todos sabiam qual era o verdadeiro negócio da família: xamanismo, bruxaria.


"Chamados gentilmente de xamãs nos dias de hoje, os bruxos, benzedeiros ou defuntos na época pertenciam todos à mais baixa classe social [...] "Trabalhávamos com algo relacionado ao xamanismo, mas ninguém ousava dizer em voz alta qual era a verdadeira ocupação dessas pessoas que oficialmente consertavam ferramentas em sua loja de ferragens."


Em um tempo não muito distante, o avô da garota narra que havia um amigo que herdara uma fábrica de bebidas destiladas e possuía uma receita secreta de uma bebida gaseificada elaborada à base de arroz que mudaria os rumos dos negócios. Porém, ele tinha um concorrente direto que dominava o mercado, mas sua nova receita estava pronta para assumir o trono. Após uma nova política interna do país proibir o uso de arroz no desenvolvimento de bebidas, ele se sente desanimado, porém, consegue pensar em uma alternativa igualmente cativante usando outros elementos além do gás e do sabor artificial.


"O que travou sua ambição foi uma nova política agrícola do governo, cujo objetivo principal era atingir a autossuficiência em arroz. Assim, o uso do produto na fermentação de certos tipos de bebida alcoólica foi proibido."


O outro competidor que fabricava as bebidas era infinitamente maior que o negócio do amigo, possuía fortes ligações políticas e contatos que colocaram sua bebida em um pedestal como uma bebida tradicional da família, entre outros. Conforme a notícia se espalhou, também se espalharam boatos de que a bebida produzida pelo amigo era simplesmente uma bebida barata elaborada com gases, corante e sabores artificiais, ou seja, ela não era tão saudável quanto anunciavam. Essa manobra levou as vendas ao chão, o amigo teve que vender sua fábrica para o concorrente, junto com sua receita. Isso o fez acumular diversas dívidas e acabar falindo. A falência do negócio levou o amigo à depressão e morte, seguida por sua esposa, que não conseguiu lidar com um mercado tão cruel. O avô da garota, então, triste e abalado com o acontecimento, decide enviar o coelho para o escritório do responsável pela queda e morte do amigo. O coelho carregava uma forte maldição que colocaria o negócio em rota de falência.


"A pessoa amaldiçoada deve tocar no objeto. Essa é a chave para lançar uma maldição e também a parte mais difícil. Meu avô mobilizou todos, próximos ou distantes, para conseguir o contato de alguém que conhecesse alguém que trabalhasse em uma das empresas parceiras da responsável pela morte de seu amigo."


"Depois de passar uma tarde inteira abandonado na mesa do dono da empresa, algum funcionário levou o coelho para o depósito antes do fim do expediente. Naquela noite, o coelho começou a roer os papéis que estavam ali."


Em uma manobra para contornar os tempos difíceis da empresa, o dono decide oferecer um dia de degustação grátis no pátio da fábrica para que todos possam beber à vontade. Porém, seu neto, em certo momento, senta-se em frente à porta e declara estar brincando com os coelhos. A mãe, ao ser questionada se poderia levar o material para casa, acaba levando-o. Os dias passaram e o coelho foi para a casa do neto do dono da fábrica, ele acariciava o coelho diariamente, o que fez com que as infestações piorassem. Com o tempo, os coelhos começaram a destruir paredes, móveis e recibos da fábrica, o que fez com que ele precisasse pagar inúmeras contas novamente, uma vez que era impossível declarar de forma documentada o pagamento dessas dívidas. O garoto adoeceu aos poucos até falecer em sua cama, com um apetite insaciável e perdido no mundo, sem se lembrar de nada, mas ele nunca deixou de acariciar o coelho. Abalado pela morte do filho, o filho do dono da fábrica chorou por dias até sofrer um acidente e precisar fazer uma cirurgia de emergência. Acabou falecendo, deixando o dono da fábrica abalado em todos os sentidos. Ele, então, toma uma atitude drástica e impensada.


"Coelho Maldito" é uma história brilhantemente escrita por Bora Chung. O enredo é cativante em um nível devastador, suas histórias são repletas do grotesco e do paranormal, o que faz dessa autora uma forte promessa na literatura mundial. Certamente, a melhor leitura até o momento em 2024.

Resenha: Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto


Publicado pela primeira vez há sessenta anos, o poema mais conhecido de João Cabral mudou os rumos da poesia no Brasil.

Um dos poemas mais populares de João Cabral de Melo Neto, "Morte e vida severina" dá voz aos retirantes nordestinos e ao rio Capibaripe, em cenas fortes e contundentes. Clara crítica social, o autor descreve a viagem de um sertanejo chamado Severino, que sai de sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Durante a jornada, Severino se encontra tantas vezes com a Morte que, desiludido e impotente, percebe que a luta é inútil ― como ele, tantos outros severinos padecem com a miséria e o abandono. Apenas o nascimento de um bebê, uma criança-severina, renova as esperanças e o espírito cansado daquele que já não tinha motivos para continuar a viver."Morte e Vida Severina", escrita entre 1954 e 1955, é uma obra-prima do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto. Este poema dramático é um auto de Natal com temática regionalista que retrata a trajetória de Severino, um retirante nordestino que deixa o sertão em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida.

RESENHA

A obra apresenta o percurso de morte e vida do retirante Severino, que é um entre muitos outros, com o mesmo nome, a mesma cabeça grande e o mesmo destino trágico do sertão. O poema pode ser dividido em duas partes: a primeira com o seu caminho até o Recife e a segunda a sua chegada e estadia na capital pernambucana.

A primeira parte da narrativa é marcada pela presença constante da morte, no meio da paisagem agreste e do chão duro de pedra. Severino encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão. A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor.

Conforme Severino se aproxima do litoral, a terra começa a ficar mais mole, mas a morte não abranda. O solo se torna mais fértil e o canavial é grande, mas, mesmo em meio à abundância, a paisagem é vazia de pessoas. Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo carpinteiro José, que fala do nascimento do filho.

"Morte e Vida Severina" é uma obra que se mostra extremamente importante e, infelizmente, muito atual, quando se pensa na forma como o Estado ainda mantém diversas regiões do país em estado de esquecimento e negligência. A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos. O poema choca pelo realismo demonstrado na universalidade da condição miserável do retirante, desbancando a identidade pessoal.Enredo

A obra retrata a trajetória de Severino, um retirante que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. Severino encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão. A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassinado a mando de latifundiários. Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente ela, a morte, a maior empregadora do sertão.

Influências e Inspirações

Inspirado nos autos pastoris medievais ibéricos, “Morte e Vida Severina” também se inspira na cultura popular nordestina. A obra é caracterizada por uma forte crítica social e também por uma construção essencialmente dramática. O autor transformou em poesia a condição do retirante nordestino, sua morte social e miséria.

Importância Histórica

“Morte e Vida Severina” é muito importante para a terceira fase do modernismo brasileiro (geração de 45), ao abordar a vida miserável dos nordestinos a sofrerem com a seca e com o descaso dos governantes. A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos.

Curiosidades

A obra foi adaptada para o teatro, a televisão, o cinema e transformado em desenho animado. A cantora e atriz Elba Ramalho fez uma participação em "Morte e Vida Severina". Além disso, a obra é marcada pela constante repetição de versos, uma ferramenta muito usada por João Cabral.

Interpretação

“Morte e Vida Severina” é um poema trágico que nos apresenta um auto de natal pernambucano. O herói Severino é um retirante que foge da seca e da fome, porém, só encontra a morte em sua fuga. Até que ele presencia o nascimento de um filho de retirantes, severinos iguais a ele. A renovação da vida é uma indicação clara ao nascimento de Jesus, também filho de um carpinteiro e alvo das expectativas para remissão dos pecados.

O AUTOR

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) foi um poeta e diplomata brasileiro autor da obra Morte e Vida Severina, poema dramático que o consagrou. Tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras. 

Resenha: Lolita, de Vladmir Nabokov


Lolita é um dos mais importantes romances do século XX. Polêmico, irônico, tocante, narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, 12 anos. A obra-prima de Nabokov, agora em nova tradução, não é apenas uma assombrosa história de obssessão e ruína. É também uma viagem de redescoberta pela América; é a exploração da linguagem e de seus matizes; é uma mostra da arte narrativa em seu auge. Através da voz de Humbert Humbert, o leitor nunca sabe ao certo quem é a caça, quem é o caçador.

ISBN-13: 9788579620560
ISBN-10: 8579620562
Ano: 2011 / Páginas: 392
Idioma: português
Editora: Alfaguara

Literatura Estrangeira

RESENHA

“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta”. Muitos distinguem Nabokov como pertencente ao Olimpo da literatura russa, composto por, além dele, Dostoiévski, Tolstói e Tchekhóv. A obra mais conhecida do autor é Lolita, livro já adaptado três vezes para o cinema.

Lolita conta a história do literato Humbert Humbert desde seus primeiros anos de vida, quando tem seus primeiros contatos com uma “ninfeta”, cujo narrador define que são aquelas: “Entre os limites etários dos nove e dos catorze anos ocorrem donzelas que, a certos viajantes enfeitiçados, duas ou muitas vezes mais velhos do que elas, revelam a sua vera natureza, que não é humana, e sim nínfica (isto é, demoníaca)”. Além disso, o narrador responde a questão sobre todas as meninas nesta idade serem ou não ninfetas com um “… Claro que não”. Como se lutando contra a sua própria natureza, Humbert Humbert passa o livro entre censuras próprias e dilemas morais, tentando convencer o leitor que sua preferência por ninfetas difere totalmente do que faria um estuprador, pois, segundo ele, o homem fisgado por uma dessas meninas, sabe se conter, alimentando o seu prazer com meras olhadas e toque involuntários de braços. Mesmo buscando se inocentar perante o leitor, o personagem-narrador demonstra sua luta contra o que é ao procurar uma mulher adulta para casar; porém acabando por não dar certo. É então que ele vai embora para os EUA. Procura uma casa; e, ao achar uma, enquanto lhe é mostrada pela dona do lugar, Humbert Humbert se depara com Lolita, com doze anos de idade, fazendo com que acabe a sua relutância em morar ali e se inicie a sua paixão, que ocupará boa parte do livro.

“Oh, Lolita, és a minha pequena, como Vee o foi de Poe e Bea de Dante, e que rapariguinha não gostaria de fazer rodopiar uma saia farta, mostrando as calcinhas?” O flerte literário da história demonstra a erudição do narrador-personagem ao fazer referências a Edgar Allan Poe e Dante Alighieri, os quais a história nos conta terem se casado com mulheres muito novas; embora no caso deles fosse um contexto histórico totalmente diferente.

A prosa poética e a experimentação de linguagem de Nabokov são sentidas a cada parágrafo do texto, através de metáforas que produzem no leitor um impacto de sensibilidade. No trecho abaixo, o autor russo troca os verbos das frases, provocando graça e dizendo, por fim, ao leitor que sabe o que está fazendo. “O meu vizinho do lado ocidental, que podia ser comerciante ou professor, ou ambas as coisas, falava-me uma vez por outra, quando barbeava algumas flores tardias, no jardim, ou regava o carro, ou então, posteriormente, quando descongelava o caminho da garagem (não me importo se estes verbos estiverem todos errados)”.

Minha relutância em relação a este livro está em seu ritmo, Nabokov parece se recusar a chegar ao fim da história, como se escrever muito representasse algo mais para ele. Nalguns trechos, como nas longas viagens, o livro se torna cansativo; impondo-se uma difícil decisão a afirmativa de a prosa poética do autor ser ou não compensatória em relação ritmo da obra. A partir do meu ponto de vista, não nego ser este um grande livro, nem mesmo me arrependo de tê-lo lido, mas confesso que esperava um pouco mais da obra. Vale a cada um ter a sua própria perspectiva.

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