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Resenha: Limpa, de Alia Trabucco Zerán

Foto: Arte digital

 APRESENTAÇÃO

Neste romance baseado em um crime real e construído de forma circular — ele começa no ponto em que termina —, Estela está presa em uma sala de interrogatório policial para esclarecer a morte de uma menina a seus inquiridores. Anônimos, eles estão separados da protagonista por um vidro opaco, tal como ela era apartada da cozinha por uma porta translúcida no quarto dos fundos da casa onde vivia como empregada doméstica e babá.


RESENHA


Em Limpa, Alia Trabucco Zerán explora o terror psicológico por meio da história de Estela Garcia. A protagonista narra, inicialmente ao telefone, uma tentativa desesperada de se libertar de um local desconhecido. Durante sua reflexão, ela relembra as mortes que causou em sua vida, incluindo a de animais. Estela discute a inevitabilidade da morte e as motivações por trás de cada ser vivo encontrar seu fim. No desenrolar da trama, revela-se um pedido de ajuda para uma garota que Estela possivelmente auxiliou em sua morte, ao sugerir uma ideia que a levou a seu fim trágico.


E há uns quantos, como a menina, que precisam apenas de uma ideia. Uma ideia perigosa, afiada, nascida num momento de fraqueza (p. 11)


A história começa com Estela respondendo a um anúncio de emprego que solicitava uma empregada em tempo integral e com boa aparência. Em seu primeiro dia de trabalho, ela foi recebida pelo casal de patrões, com ênfase na esposa grávida que examinou minuciosamente sua aparência. Enquanto a esposa estava atenta aos detalhes, o marido parecia indiferente e até se mostrou nu diante da empregada em um momento inesperado. Apesar de sua falta de experiência com crianças, Estela foi contratada e recebeu instruções detalhadas sobre suas responsabilidades naquela casa aparentemente luxuosa. Enquanto explorava a residência, Estela teve um pensamento perturbador sobre a natureza da casa, o que a deixou desconfortável.


Durante a entrevista, a Estela não foi mostrada ao "quarto dos fundos", mas viu-o pela primeira vez no seu primeiro dia de trabalho. O quarto era simples, com uma cama, mesa de cabeceira, cómoda e televisão. Ela sentiu uma estranha sensação ao entrar no quarto, como se estivesse a observar a sua própria transformação. Ela trabalhou para um casal, com a senhora Mara e o Dr. Juan Cristóbal Jensen. Mara era distante e fria, enquanto o Dr. Jensen era obcecado pelo tempo e pelo seu estatuto de doutor. Ela foi inicialmente tratada pelo nome da empregada anterior e sentiu-se como uma estranha naquela casa.


Estela descreve o nascimento da menina Julia e o momento em que ela cuida da criança pela primeira vez. Mara, dona da casa, estava exausta e pediu à Estela, para cuidar da criança. Estela se sente desconcertada com a fragilidade de Julia e a novidade de cuidar de um recém-nascido. Ela limpa, veste e acalma a criança, refletindo sobre a vida e o silêncio. Ela então se sente perdida e paralisada ao vigiar Julia dormir, sem conseguir distinguir o carinho do desespero.


Numa manhã, ao iniciar o dia, uma nova empregada doméstica toma um duche e se veste para o trabalho. Ao chegar à cozinha, encontra um recado na porta da geladeira, indicando alguns itens a comprar no supermercado. Ao sair para fazer as compras, ela se depara com uma mulher idosa semelhante a si mesma, o que a perturba. Durante o percurso, ela se sente seguida e começa a ter sensações estranhas, perdendo a noção da realidade. A experiência a deixa desconfortável e confusa, levando-a a se questionar sobre sua identidade e realidade.


A menina rapidamente cresceu e começou a falar, dizendo a sua primeira palavra, "bá-bá", que era como a babá era chamada. Mara, a senhora, tentou desviar a atenção dela de uma tragédia na televisão, mas a menina continuou a insistir, causando desconforto. A senhora acabou mentindo para o marido, dizendo que a primeira palavra da menina foi "mamã".


Durante a noite, Estela presencia uma cena explicitamente sexual entre os patrões enquanto vai buscar água na cozinha durante a noite. Ao ser descoberta, ela foge para o quarto, sentindo-se perturbada e com sede. A cena a deixa agitada, e ela se masturba para tentar acalmar o desconforto causado pelo que presenciou. Os dias passam e Estela é confrontada com sua realidade e ética após flagrar a patroa traindo o marido e gerando um atrito para ambas, este episódio culminou na quase desistência de Estela ao trabalho, mas ela havia prometido ajudar sua mãe com o salário, então ela engoliu o orgulho e permaneceu na residência do casal. 


Estela em um momento de divagação, reflete sobre uma história sobre a figueira do pátio das traseiras e como a morte iminente da árvore se relaciona com a morte que está prestes a acontecer na família, ela reflete sobre a inevitabilidade da morte e como os sinais de que algo está prestes a acontecer estão sempre presentes na atmosfera da casa. Ao limpar os figos caídos da árvore, se deparando com a realidade da morte e a certeza de que a vida tem um ciclo que inclui o princípio, o meio e o fim. 


Estela recebe a visita inesperada de sua prima Sonia, que anuncia a morte repentina de sua mãe. Sonia explica que um homem desconhecido, colega de trabalho da mãe, havia cuidado do enterro. Estela não sentiu nada com a notícia, apenas ficou atordoada. Sonia pediu ajuda financeira e partiu. Depois da morte da mãe, Estela entrou em um silêncio profundo, sem intenção de comunicar. Mesmo realizando tarefas diárias, ela deixou de falar e se isolou, percebendo que as palavras têm uma ordem necessária enquanto o silêncio permite todas as palavras ao mesmo tempo. Com o tempo, seu silêncio se tornou poderoso, até que uma tragédia aconteceu: a menina afogou-se, mesmo sabendo nadar. 


Estela divaga por um momento relembrando de um episódio que aconteceu quando Juan retornou de seu turno de trabalho e lhe falou até às sete da manhã. O senhor, visivelmente perturbado, abre-se sobre um encontro com uma mulher em um hotel, que acaba revelando um caso de infidelidade, enquanto permanece narrando o episódio de falecimento de uma paciente de sete anos durante os meses finais do curso de medicina, aos quais, manteve em segredo por mais de vinte anos.  Nesse dia, o senhor ficou na cama com febre e tosse, fechando-se no quarto para ver as notícias. Pediu um consomê no almoço e a empregada, Estela, tentava não olhar para ele. Enquanto isso, uma vendedora ambulante gritava na rua. À noite, Estela ouviu um assalto em andamento na casa, com os ladrões revirando tudo em busca de dinheiro e joias. A polícia chega algumas horas depois de um assalto à casa. O senhor da casa não revela todos os detalhes do roubo, mas a senhora fala por eles. Durante as semanas seguintes, o senhor fica obcecado com a ideia de se proteger, chegando mesmo a comprar uma pistola. Enquanto fazia uma limpeza, a empregada encontra a pistola escondida e decide guardá-la consigo. Ela reflete sobre a certeza da morte e a sensação de poder que a arma lhe dá, guardando-a debaixo do colchão no quarto dos fundos.


Guardei a pistola dentro do lenço e quando ia pô-la no lugar onde devia ficar escondida, arrependi-me. E levei-a comigo, foi isso. Levei a pistola para o quarto dos fundos e guardei-a debaixo do colchão. Não fosse um dia, ou uma tarde, ter vontade de responder a essas duas perguntas: como e quando


Após um evento traumático na casa, Estela é demitida e recebe um cheque de um mês como compensação pelo mês trabalhado, até encontrar um novo trabalho. Em seu último dia de trabalho, Estela observa da cozinha, enquanto prepara um último chá antes de partir, o corpo da filha do casal, Júlia, boiando sob a piscina - ela estava morta.


Fiquei a olhar para ela, à espera de que acordasse. Não acordaria. As memórias gravadas na sua mente desapareceriam com ela e eu também, porque eu era uma dessas memórias. Não sei o que senti. Nem tem importância. Mas interroguei-me se por acaso sentiria falta das suas canções, das suas corridas no corredor, do seu constante desespero.


A história se finaliza com Estela saindo pela porta da frente e acordando em um local desconhecido tentando contato através do telefone de forma desesperada em busca de auxílio.


Limpa, de Alia Trabucco Zerán, é um mergulho profundo no terror psicológico através da história de Estela Garcia. A narrativa intricada e envolvente da autora nos leva a questionar a natureza da vida, da morte e das relações interpessoais de forma intensa e emocionante. Os personagens são complexos e cheios de camadas, tornando a história ainda mais cativante. A escrita de Zerán é envolvente e impactante, levando o leitor a refletir sobre temas profundos e perturbadores. Uma obra que certamente ficará na mente do leitor por muito tempo após a leitura.

Resenha: Os anos, de Annie Ernaux

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

Uma das principais escritoras francesas da atualidade, Annie Ernaux, empreende neste livro a ambiciosa e bem-sucedida tarefa de escrever uma autobiografia impessoal. Com ousadia e precisão estilística, ela lança mão de um sujeito coletivo e indeterminado, que ocupa o lugar do eu para dar luz a um novo gênero literário, no qual recordações pessoais se mesclam à grande História, numa evocação do tempo única. Nascida em 1940, em uma pequena cidade no interior da França, Ernaux pertence a uma geração que veio ao mundo tarde demais para se lembrar da guerra, mas que foi receptora imediata das recordações e mitologias familiares daquele tempo. Uma geração que nasceu cedo demais para estar à frente de Maio de 68, mas que ainda assim viu naquelas manifestações a possibilidade dos mais jovens de uma liberdade que por pouco não pode gozar. Finalista do International Booker Prize e vencedor dos prêmios Renaudot na França e Strega na Itália, Os anos é uma meditação filosófica poderosa e uma saborosa crônica de seu tempo. Pela prosa original de Ernaux, vemos passar seis décadas de acontecimentos, entre eles a Guerra da Argélia, a revolução dos costumes, o nascimento da sociedade de consumo, as principais eleições presidenciais francesas, a virada do milênio, o 11 de Setembro e as inovações tecnológicas, signo sob o qual vivemos até hoje.


RESENHA


Em 'os anos', Ernaux utiliza suas memórias e fotografias pessoais para evocar não apenas sua própria vida, mas também o contexto histórico em que ela está inserida. Ela discute a influência dos grandes acontecimentos históricos na formação das identidades individuais e coletivas ao longo do tempo. Além disso, reflete sobre a importância dos objetos, gestos e hábitos do cotidiano na transmissão da memória e na construção da História. A obra também aborda as transformações sociais, culturais e tecnológicas ao longo do século XX e como elas impactam a maneira como as pessoas se relacionam com o passado e se projetam para o futuro.

Ao elaborar uma construção grandiosa, Ernaux, nos convida à refletir msobre o peso da história atual sobre a vida individual e coletiva, com o poder das memórias, o apagamento histórico das emoções, a centralidade do indivíduo em relação ao tempo e o exercício cunhado das experiências vividas. Comunismo, pós-guerra, eleições e demais acontecimentos históricos demarcam um caminho sem volta: o da vivência. Em uma biografia impessoal, a autora transmite em suas linhas uma série de raciocínios lógicos para eternizar suas memórias de alguma forma, certa, que, o tempo o apagará inevitavelmente como em "todas as imagens vão desaparecer (p.7) e essa é a única certeza que temos, como diz Tchékhov na introdução da obra em "seremos esquecidos [...] pode parecer também que esta vida de hoje à qual nos agarramos seja um dia considerada estranha".


Para Ernaux, as fotografias são elementos centrais na construção da narrativa de Os Anos, como expresso em diversos pontos, sobretudo, "é uma foto sépia, em formato oval, colada dentro de uma caderneta com a borda dourada, protegida por uma folha transparente com relevo" (p.15). Ela utiliza essas imagens e eventos comunitários para representar a ideia de coletividade e experiência partilhada. O livro não é apenas a história pessoal de Ernaux, mas sim um meio de explorar preocupações mais amplas e encontrar pontos em comum com os leitores. O objetivo do trabalho é abordar a realidade de forma fiel, mesmo sabendo que a influência das nossas mentes, crenças e percepções sempre estará presente. Na sociedade contemporânea, a memória está sendo apagada devido à valorização do presente e ao desnivelamento do registro do agora com o passado. As fotografias se tornam cada vez mais importantes, permitindo manter os seres vivos distantes e driblar o passado, que se conserva nos álbuns e prateleiras. A ilusão de domínio do passado e permanência no futuro dificulta a consciência do presente, essencial para a formação de memórias. As coisas tomam o lugar dos momentos, e as pessoas são dominadas pela duração dos objetos.


O livro Os Anos está localizado na fronteira entre literatura, história e sociologia. A experiência de leitura é como encontrar  álbuns de fotos antigas da família, desgastados e amarelados, com algumas palavras escritas atrás. Não é uma leitura fácil, pois não possui enredo, clímax, lição de moral ou humor. São os detalhes íntimos da vida francesa que ecoam na mente do leitor. Assim sendo, obra de Ernaux nos convida a refletir sobre a passagem do tempo e a importância das memórias na construção de nossa identidade. É um convite para olharmos para trás, para lembrarmos quem éramos, quem somos e quem queremos nos tornar. É uma contemplação sobre a efemeridade da vida e a constância do tempo, que não para para ninguém. A autora nos mostra que, assim como as fotografias vão desaparecer com o tempo, também nós vamos desaparecer, seremos esquecidos. Mas, ao mesmo tempo, somos eternizados nas memórias daqueles que nos conheceram, nos amaram, compartilharam momentos conosco.

Nas reuniões de família na época do pós-guerra, naquela lentidão interminável das refeições, alguma coisa vinha do nada e assumia uma forma: era o tempo já começado. Às vezes, os pais pareciam presos nele quando esqueciam de nos responder, os olhos perdidos em um tempo em que não estávamos, em que nunca estaremos, o tempo de antes. As vozes dos convidados se misturavam para compor a grande narrativa dos acontecimentos coletivos, os quais, pouco a pouco, passamos a acreditar que tínhamos vivido.

Os Anos não é apenas um livro sobre uma mulher francesa, é sobre todos nós, sobre a humanidade, Ernaux traduz em sua frases, a princípio, soltas e desconexas, uma série de lembranças fotográficas acerca de sua vida e da passagem do tempo. Suas reflexões evocam o âmago daqueles que se atrevem a percorrê-lo, ao passo de que é também sobre os eventos históricos que moldaram nossa vida, as experiências que nos marcaram, as transformações que passamos ao longo dos anos. É sobre a fragilidade da existência e a força das lembranças. Ernaux nos lembra que, assim como as fotografias e as refeições compartilhadas, somos seres sociais, ligados uns aos outros por laços invisíveis, mas poderosos. E é a partir dessas relações que construímos nossa história, nossa identidade, nossa humanidade.


Neste livro, ao abordar a citação de fotos em memórias é muitas vezes usada para adicionar profundidade e autenticidade à narrativa. As fotos podem ser descritas de forma detalhada, destacando elementos específicos que são relevantes para a passagem do tempo. As imagens também podem ser usadas como ponto de partida para reflexões sobre o passado, evocando memórias e emoções que complementam o texto. Além disso, a inclusão de fotos em memórias pode ajudar a criar uma conexão mais emocional entre o leitor e o narrador, aumentando o impacto da história contada.


Duas outras fotos pequenas com as bordas serrilhadas, provavelmente do mesmo ano, mostram a mesma criança, só que mais magra,  com um vestido de babado e mangas bufantes. Na primeira, ela se aninha com uma cara de sapeca junto a uma mulher encorpada, com um vestido listrado e cabelos presos no alto em grandes rolos. Na outra foto, a criança está com a mão esquerda erguida e fechada e a direita de mãos dadas co um homem alto, de camisa clara e calça vinco, o ar despreocupado. As duas fotos foram tiradas do mesmo dia, em um pátio com paralelepípedos, na frente de um muro baixo cheio de flores no topo. Por cima das cabeças, um varal com um prendedor de roupas que ficou esquecido (p.17)


Ernaux delineia suas memórias referindo à si própria em terceira pessoa, tecendo sob o fio histórico dos acontecimento como uma observadora consciente, este elemento tensiona a relação da memória afetiva da autora em relação ao amadurecimento das ideias dos acontecimentos de sua vida através da extensão do tempo, em um árduo processo de amadurecimento em relação à família, que, como podemos observar é trabalhado pela autora com cisão em outras obras com caráter biográfico, bem como na obra 'uma mulher', onde ela se debruça à explicitar em linhas gerais as memórias ao lado de sua mãe, uma mulher portadora de Alzheimer, onde se relaciona a importância da memória e das lembranças vivídas acerca das experiências da vida, e aqui, este recurso não é diferente. Transformando suas memórias em uma narrativa impessoal, ela convida o leitor à refletir sobre suas próprias memórias e tensões pessoais, causando um estranhamento a cada linha lida de forma única. 


Os anos como estudante já não são objetos de desejo nostálgico. Vê esses momentos como uma espécie de emburguesamento intelectual, de ruptura com o mundo de origem. A memória, que era romântica, passa a ser crítica. Com frequência, ela se lembra de cenas da infância, a mãe gritando um dia você vai cuspir no prato que comeu, os rapazes andando de vespa depois da missa, ela com a permanente cacheada como na foto do jardim do internato, os deveres de casa em cima da mesa de madeira forrada com uma toalha protetora impermeável engordurada onde o pai "fazia a colação" - as palavras que também voltam como uma pessoa esquecida (...) [(p. 109)]


Ernaux reflete sobre as mudanças na visão das experiências passadas ao longo do tempo, indicando uma evolução pessoal e uma ruptura com as origens, essa abordagem dos conflitos e ressentimentos internos causados pela transição evocam uma nova fase de vida, agora, marcada pela crítica e pela reflexão retratado por meio de retratos familaires sociais que refletem a construção da identidade e a influência do meio ambiente na formação do indivíduo.


Ao ler Os Anos, somos convidados a refletir sobre nossa própria vida, nossas escolhas, nossos caminhos. Somos levados a olhar para trás, para o passado, e para frente, para o futuro. Somos convidados a viver o presente com intensidade, sabendo que um dia seremos esquecidos, mas que nossas memórias, nossas experiências, nossos momentos de felicidade e dor, permanecerão registrados em algum lugar. Este apagamento histórico e emocional de Ernaux nos convida à sentir na pele o fino tecido das emoções elencadas no decorrer da vida. 

Três perguntas rápidas para Claudia Cavalcanti, autora de Avenida Beberibe


Você pode nos dizer o nome de três autores e/ou autoras que influenciam sua forma de escrever?

Herdei de Thomas Mann, humildemente, o gosto pelas frases longas. Já quanto à mistura de texto + fotos, posso citar Katja Petrowskaja, autora de Talvez Esther (e, claro, acima de tudo e de todos, W. G. Sebald). Teria sido influenciada por Maria Stepánova (sobretudo por suas ideias), se tivesse lido Em memória da memória antes de escrever Avenida Beberibe.


Qual a maior saudade que sente do Recife?
Sinto saudade do Recife com meus avós. Sem tantos tubarões, digo, espigões. Saudade também da tapioca de rua.


Fotos digitais ou reveladas?
Na adolescência, tive um laboratório caseiro. Adorava revelar e ampliar minhas fotos (amadoras, mas eu tentava caprichar) tiradas a partir de uma máquina analógica de respeito. Há muitos anos, aderi às fotos feitas no iPhone. Gosto demais, e me esforço para que sigam caprichadas. A resposta é: fotos – analógicas e digitais.

A profundidade do laço entre mãe e filha em 'Uma mulher', o novo livro de Annie Ernaux

Foto: Arte digital

A autora francesa Anne Ernaux está de volta com seu novo livro "Uma mulher", lançado no Brasil pela editora Fósforo. O livro, que já está em pré-venda no site da editora, narra as memórias que a escritora guarda de sua mãe, escritas nos meses seguintes à morte dela.

Em "Uma mulher", Ernaux utiliza a mesma linguagem neutra que a consagrou em obras anteriores, como "O lugar", para falar sobre a vida de sua mãe, uma mulher nascida no início do século 20 e que foi operária desde os doze anos. Orgulhosa do seu ofício e da independência que conquistou ao longo da vida, a mãe de Ernaux sempre incentivou os estudos da filha, mesmo tendo poucas oportunidades de educação.

Após a morte do marido, a mãe vai viver com Ernaux e seus netos, e a autora relata as experiências cotidianas que mostram a distância que a ascensão social da filha criou entre as duas. Com detalhes precisos e emocionantes, Ernaux recria os gestos, expressões e a vivacidade da mãe, mesmo nos momentos finais de sua vida, quando já estava acometida pelo Alzheimer.

O livro é descrito como sóbrio e comovente, essencial para compreender a complexa relação entre mãe e filha, além de ser um retrato íntimo da vida de uma mulher da classe trabalhadora. "Uma mulher" é um tributo à vida e à morte, repleto de amor, ódio, admiração, ternura, culpa e um vínculo inabalável.

Com elogios de veículos renomados, como o New York Times Book Review e o Washington Times, "Uma mulher" promete emocionar e tocar o coração dos leitores com sua narrativa honesta e profunda. O livro já está disponível em pré-venda no site da editora Fósforo, não perca a oportunidade de conhecer essa obra tão aclamada pela crítica internacional.

Compre o livro na pré-venda:

https://www.fosforoeditora.com.br/catalogo/uma-mulher-annie-ernaux/

Anne ernaux - uma mulher

novo livro de Anne Ernaux

Livro sobre a mãe de Anne Ernaux

Diferenças geracionais: Sobre Minha Filha - Um Romance Comovente de Kim Hye-jin

Foto:colagem digital

APRESENTAÇÃO

Lançamento: Erva Brava, de Paulliny Tort



SOBRE O LIVRO

As doze histórias que compõem Erva brava orbitam ao redor de Buriti Pequeno, cidade fictícia incrustada no coração de Goiás. Paisagem rara em nosso repertório literário, o Centro-Oeste brasileiro é palco de embates silenciosos, porém aguerridos, retratados neste livro com sutileza e maestria. Regida pelo compasso da literatura — que se ocupa de levantar perguntas, mais do que oferecer respostas —, a escritora brasiliense Paulliny Tort evidencia o nervo exposto de um país que desafia todas as interpretações.

Estão ali as relações patriarcais como a de Chico e Rita, em “O cabelo das almas”; a monocultura da soja que devasta o cerrado; o clientelismo rural que separa mãe e filha em “Matadouro” e a religiosidade sincrética de Dita, protagonista do conto “O mal no fundo do mar”. O rico encontro entre as culturas indígena e afro-brasileira também está em todas as histórias, as festas populares, como o cortejo de Reis que Neverson acompanha de sua moto em “Titan 125”. E, num conto final que coroa o livro como poucas coletâneas conseguem fazer, está também a revolta implacável da natureza diante da ação predatória do homem em “Rios voadores”.

A precisão e a cadência do texto nos convidam a ler em voz alta a prosa cristalina e imagética de Paulliny Tort. Por trás de uma escrita despretensiosa como os personagens de seus contos, ela revela a ironia necessária para dar conta, sem caricaturas ou preconceitos, de um país cruel e encantador.

TÍTULO
ERVA BRAVA
CAPA
FLÁVIA CASTANHEIRA
PÁGINAS
104
ISBN
978-65-89733-38-6
ISBN DIGITAL
978-65-89733-07-2
DATA DA PUBLICAÇÃO
08/10/2021

Ouça “Má sorte”, conto do livro Erva brava, de Paulliny Tort

Direção: Mika Lins.Edição: Julia Leite.Trilha sonora: Maria Beraldo.

 [saiba mais]


Lançamento - Tradução da estrada, de Laura Wittner


EM BREVE NAS LIVRARIAS

Tradução da estrada

Tradução da estrada é o primeiro livro da argentina Laura Wittner publicado no Brasil. Poeta e tradutora de mão cheia, Wittner combina essas duas atividades em versos que operam uma apurada reflexão sobre nossa forma de nomear o mundo a partir do cotidiano e dos afetos. Ao viver, pronunciamos as palavras, mas também somos pronunciados por elas.
 
Os poemas de Wittner trazem um tempo singular que é, de certa forma, como o tempo da tradução: lento, reflexivo e que tem o encontro como horizonte. Como “traduzir” a estrada, os percursos, a própria vida? E como ver o doméstico, os gestos simples, o dia a dia com os filhos, as coisas que não percebemos habitualmente?
 
Ao citar o norte-americano William Carlos Williams, de quem se aproxima no gesto de tocar as palavras com precisão, Wittner coloca “as ideias nas coisas”, mas também transforma as coisas com as ideias, gestos, ritmo e andamento preciso e tocante do livro.
 
Se o horizonte de Tradução da estrada é o do encontro, que seus poemas possam tocar leitoras e leitores para que todos sigam juntos pela estrada, em busca do que mais importa.


TÍTULO | TRADUÇÃO DA ESTRADA


TÍTULO ORIGINAL | TRADUCCIÓN DE LA RUTA


AUTORA | LAURA WITTNER


TRADUTORAS | ESTELA ROSA E LUCIANA DI LEONE


FORMATO | 13,5 X 20 CM


PÁGINAS | 80


ISBN | 978-65-84574-85-4


R$ 59,90 | R$ 39,90 (E-BOOK)


ENVIO PARA ASSINANTES | JULHO


LANÇAMENTO NAS LIVRARIAS | 1/8/2023


QUEM ESCREVE


Laura Wittner nasceu em Buenos Aires, em 1967. É autora, entre outros, de Lugares donde una no está [poemas 1996-2016] (2017) e Se vive y se traduce (2021), longo ensaio sobre tradução, além de livros infantis. Traduziu autores como Katherine Mansfield, James Schuyler e Leonard Cohen. Tradução da estrada é seu primeiro livro publicado no Brasil.

Balanço afiado: estética e política em Jorge Ben

 



LANÇAMENTO DE AGOSTO

Balanço afiado: estética e política em Jorge Ben

Marcado pelo hibridismo formal e temático, Balanço afiado: estética e política em Jorge Ben é uma conversa cheia de ginga em que Allan Da Rosa e Deivison Faustino (Nkosi) constroem uma reflexão sofisticada sobre música, relações raciais, sociabilidades e masculinidades negras a partir da obra do mestre Jorge Ben, utilizando o que chamam de filosofia maloqueira.

A diversidade dos temas cingidos pelas composições de Jorge Ben e a desenvoltura com a qual Da Rosa e Faustino transitam entre eles são, a um só tempo, herança e práxis do pensamento negro de vanguarda. Essa profundidade só poderia ser lida a partir de uma linguagem que convida o leitor a participar, junto com os autores, de uma conversa entre amigos, seja no WhatsApp, numa ligação telefônica ou numa mesa de bar. Assim como na obra de Ben, o elevado e o mais simples estão comungados.

Jorge Ben é um catalisador dos elementos da alquimia que forma a música brasileira e, com um trabalho singular, que escapa da estrutura de notação musical ocidental — fato exemplificado em Balanço afiado por meio das partituras, ou melhor, chulas, magistralmente dissecadas pelo maestro Allan Abbadia —, une-se à beleza das andanças que Da Rosa e Faustino, ora como autores, ora como personagens, realizam entre partidas de futebol de várzea, a festa carioca em devoção a São Jorge, salas de aula das universidades e grandes rodas da intelectualidade negra brasileira.

Além dos pontos de encontro, Da Rosa e Faustino trabalham habilmente os contrapontos da recepção de Jorge Ben, discutindo os meandros entre segregação e intimidade que estão na base do racismo à brasileira. Com texto de orelha de KL Jay, posfácio de Edimilson de Almeida Pereira e a parceria inédita entre as editoras Fósforo e Perspectiva, a pluralidade e, ao mesmo tempo, as encruzilhadas de ideias e práticas contidas no livro se elevam para contestar as fronteiras modernas entre estética e política. 

TÍTULO | BALANÇO AFIADO: ESTÉTICA E POLÍTICA EM JORGE BEN


AUTORES | ALLAN DA ROSA E DEIVISON FAUSTINO


PARTITURA | ALLAN ABBADIA


POSFÁCIO | EDMILSON DE ALMEIDA PEREIRA


CAPA | ALLES BLAU


IMAGEM DE CAPA | MANUELA NAVAS


FORMATO | 13,5 X 20 CM


PÁGINAS | 288


PAPEL | PÓLEN NATURAL 80 G


ISBN FÓSFORO | 978-65-84568-95-2


R$ 89,90 | R$ 59,90 (E-BOOK)


ENVIO PARA ASSINANTES | SETEMBRO


QUEM ESCREVE


Allan Da Rosa é angoleiro e historiador. Mestre e doutor em Imaginário, Cultura e Educação pela USP. É autor de Ninhos e revides: estéticas e fundamentoslábias e jogo de corpo (Nós, 2022), Águas de homens pretos: imaginário, cisma e cotidiano ancestral em São Paulo (Veneta, 2021), Pedagoginga, autonomia e mocambagem (Jandaíra, 2019), Zumbi assombra quem? (Nós, 2017) e Reza de mãe (Nós, 2016).

Deivison Faustino, também conhecido como Deivison Nkosi, é estudioso malokeiro, sociólogo e professor da Unifesp e do Instituto Amma Psique e Negritude. É autor de Colonialismo digital (Boitempo, 2023), Frantz Fanon e as encruzilhadas (Ubu, 2022) e Frantz Fanon: um revolucionário, particularmente negro (Ciclo Contínuo, 2018).

Lançamento - Sobre a certeza, de Wittgenstein



Sobre a certeza

No longo processo em que Wittgenstein se ocupa de algumas de nossas certezas mais banais — “Eu sei qual é o meu nome”, “Existem objetos físicos” —, nós o vemos chegar a um espantoso resultado: a expressão linguística dessas certezas inevitavelmente nos traiá. No exato momento em que julgamos manifestar as verdades mais triviais, nossa linguagem demonstra sua precariedade e simplesmente falha. Mas isso não significa, insiste o filósofo, que deveríamos suspeitar de tais certezas. Significa apenas que nossa confiança deve repousar não na linguagem (em nossa expressão da certeza), mas em nossa ação (no que fazemos ao agir com certeza).

“No princípio era o ato.” Nesse verso, que Wittgenstein empresta de Goethe, manifesta-se talvez o leitmotiv deste livro. O que ele nos diz é que qualquer tentativa de apontar para os fundamentos de nossas certezas terá que ir além da linguagem. Não na direção de algum tipo de transcendência; tampouco na direção de qualquer esfera que se possa chamar de conceitual. Antes, há um mistério que teremos de resgatar daquele verso do Fausto: até mesmo o que nos parece mais evidente, até mesmo o que nos parece pura e simplesmente lógico, só pode revelar-se em nossa ação — no modo contingente e humanamente instável como agimos.

Que o leitor não se deixe enganar pela simplicidade desse resultado. A partir dele, Wittgenstein oferece respostas profundas a alguns dos mais sérios (e antigos) desafios de céticos e realistas. Ao reavaliar o papel que a certeza desempenha em nossos jogos de linguagem, o grande filósofo reformula, com surpreendente originalidade, uma de suas intuições mais fecundas, que o acompanha desde seus primeiros escritos. Em um embate de dois anos consigo mesmo, registrado em anotações que se estendem até a véspera de sua morte, ele nos leva a ver por um novo ângulo o caráter a um só tempo evidente e indizível de nossas certezas fundamentais.

TÍTULO | SOBRE A CERTEZA


TÍTULO ORIGINAL | ÜBER GEWIßHEIT


AUTOR | LUDWIG WITTGENSTEIN


TRADUÇÃO, ORGANIZAÇÃO, APRESENTAÇÃO E VOCABULÁRIO CRÍTICO | GIOVANE RODRIGUES E TIAGO TRANJAN


POSFÁCIO | PAULO ESTRELLA FARIA


CAPA | ALLES BLAU


FORMATO | 13,5 X 20 CM


PÁGINAS | 328


ISBN | 978-65-84568-94-5


ISBNE-BOOK | 978-65-84568-68-6


R$ 89,90 | R$ 59,90 (E-BOOK)


LANÇAMENTO NAS LIVRARIAS | 14.9.2023

LANÇAMENTO DE SETEMBRO

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