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Resenha: Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus


Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico exemplo de literatura-verdade, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. Com uma linguagem simples, mas contundente e original, a autora comove o leitor pelo realismo e pela sensibilidade na maneira de contar o que viu, viveu e sentiu durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus três filhos. Ao ler este relato-verdadeiro best-seller no Brasil e no exterior- você vai acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu sua atualidade.

ISBN-13: 9788564296015
ISBN-10: 8564296012
Ano: 2013 / Páginas: 200
Idioma: português
Editora: Ática

RESENHA:

Carolina com seu diário nada confidencial vem nos mostrar a realidade da favela do Canindé em São Paulo, as margens do rio Tiete, iniciando sua historia 15 de julho de 1955, relatando o aniversário de sua filha e o que pretendia comprar, mas o custo de vida atual em que vivia a impossibilitava. Ela em seu livro faz reflexões e criticas sobre a favela e sobre a politica, denunciava as condições desfavoráveis, representava a voz deste povo miserável. Com grande esforço ela busca o pão de cada dia, para ela e seus três filhos, Vera Eunice, João José e José Carlos o primogênito, ia cedo buscar água na torneira para evitar as filas e os comentários maldosos das mulheres da favela, mas nem sempre conseguia, a fila era grande comentavam de tudo e de todos, Fazia o café para as crianças, sempre faltava o pão, comiam o que tinha e às vezes era a fome que os acompanhavam, os meninos vão à escola e Vera a acompanha nesta jornada, a menina não tem sapatos e não gosta de andar descalço, Carolina se desdobra para criar seus filhos e tenta não deixar faltar o principal, “comida”, pois é de partir o coração para qualquer mãe, ver seu filho lhe pedir alimento e você não ter o que oferecer, faz 2 anos que ela pretende comprar uma máquina de moer carne e uma máquina de costura, mas pelo jeito só vai ficar na vontade.


A vizinhança não dava sossego, brigavam e implicavam com seus filhos, quando as mulheres furiosas invadiam seu barraco para espancar suas crianças, elas se defendiam jogando pedras nas vizinhas, Carolina nem se envolvia abrigava as crianças no barracão e dizia às mulheres que iria escrever um livro referente à favela e citaria tudo que se passa e o que elas fazem e as cenas desagradáveis que as fornecem á ela. Carolina tolera criança, não encontra defeitos nelas, dirigia a elas com palavras agradáveis, mesmo aquelas que eram influenciadas pelas mães a falar mal.


Carolina guerreira catava papel, ferros e estopas, pegava alguns alimentos no lixo, com receio, mas de fome ela não queria morrer, na feira catava os legumes que eram desprezados e no Frigorifico ganhava alguns ossos, se virava como podia. Faz 8 anos que catava papel, mas seu desgosto era residir na favela e seu sonho era morar numa casa de alvenaria.


As brigas entre os casais da favela eram constantes, o show sempre ao ar livre, as mulheres desnudas e o bate boca muitas vezes varavam a noite, a diversão na favela para muitos era a bebida, bebiam por tristeza ou alegria e assim as brigas mudavam o rumo, era entre vizinhos, aqui tudo se resolvia na violência, Carolina era contra, para ela o dialogo bastava, como não resolvia ela apelava para Rádio Patrulha, para ela a melhor coisa a fazer era escrever em seu diário ou ler um livro.


Ela não se casou, porque as condições que os homens impunham eram horríveis, e muitas mulheres casadas da favela são obrigadas a pedir esmolas e são sustentadas por associações de caridade, enquanto seus maridos estão em casa dormindo ou curando-se de embriaguez.


Na época de eleição os políticos visitavam a favela para pedir votos e fazer promessas que nunca eram cumpridas, os problemas sociais estavam presentes, faltava saneamento básico, atendimento médico, moradias dignas, sem falar da alimentação adequada para este povo. Quando procurava o serviço social ela se sentia triste, com o descaso com que os pobres eram tratados.


A prostituição de menores, o abuso sexual e o uso de drogas são os outros problemas citados por ela, comparava também a vida na favela onde havia excremento e barro podre com a da cidade, que era a sala de visita e a favela era um objeto fora de uso. O dono do Centro Espirita da Rua Vergueiro 103 dava auxilio os pobres favelados, ajudava-os com comida e agasalhos.
Frei Luiz administrava a catequese para as crianças, passava filmes bíblicos para os demais interessados e tinha também um carro capela, de onde fazia as missas para os favelados, tudo isso a fim de transmitir um ar cristão para este povo tão descrente com a vida que leva.


As Editoras do Brasil que Carolina tentou enviar seu livro, não deram esperanças a ela, então resolveu enviar seu livro para uma Editora nos Estados Unidos. Sua mãe formou seu caráter, ensinou a gostar dos humildes, então ela sempre tinha uma palavra amiga ou de sabedoria para falar a alguém que esta desenganada pela vida.
No correio ao retirar seus cadernos que retornaram dos Estados Unidos, ficou muito decepcionada com a devolução de sua obra original, sua vontade foi de queimá-los.
Tinha alguns pretendentes, mas os esquivava, seu Manoel era o que ela tinha o maior respeito, relata que era um homem gentil e educado, ia de casa para o trabalho e do trabalho para casa e não se via envolvido em escândalos. Teve cena de ciúmes da parte do senhor Manoel, pois Carolina estava muito ligada com um cigano viúvo que recém residia na favela, mas com o passar do tempo Carolina percebeu as intenções do cigano e não deu muita importância ao vê-lo partir e as coisas melhoraram com o senhor Manuel.


O repórter Audálio Dantas ficou impressionado com os relatos dela no diário, marcou uma entrevista e pontualmente chegou a casa de Carolina, tomaram um taxi e foram para o Largo do Arouche, tiraram varias fotos para a revista Cruzeiro. Carolina várias vezes indisposta, sem forças, trabalhando com fome, quase desmaiando, não podia desanimar tinha que levar comida para o lar, era desiludida com os homens, seus filhos eram de pais diferentes, ela relatava que o pai de Vera é bem de vida, dono de oficina, ajudava pouco a menina e sempre atrasava o depósito da pensão, mas mesmo assim nunca revelou seu nome no livro, a pedido dele.


Sua reportagem saiu dia 10 de junho de 1959 na revista Cruzeiro, leu e ficou contente, pensou em agradecer o repórter, só algumas mulheres da favela não gostaram, pois acham que esta desmoralizando o local onde vivem. As pessoas a reconheciam na rua e a parabenizavam, uma moça loira veio a sua casa com a revista nas mãos, levou-a no Diário para conseguir um auxilio.
Carolina com sua rotina interminável, parecia nunca mais ter fim esta vida miserável, encerrou seu livro 1 de Janeiro de 1960, com a mais usada das frases “Levantei as 5 horas e fui carregar água.”

CONCLUSÃO

O diário de Carolina é narrado por ela, e é totalmente de linguagem coloquial, apresenta alguns erros ortográficos, de escrita simples e objetiva, para uma pessoa que possuía pouco estudo e recurso, pode se dizer que esta bem colocada.
A ideia que ela passa da pobreza e da miséria projeta-se na mente, como uma pessoa que era empregada doméstica pode acabar na favela catando materiais reutilizáveis para sobreviver? Isto é uma incógnita.
A vida indigna era de revolta, mas nem isso e nem as brigas na favela a desviaram do caminho, preferia escrever ou ler, a se revoltar. Lutou para sobreviver e criar seus filhos, é um ato de amor e acreditou na publicação de seu livro, ganhou algum dinheiro, o suficiente para deixar a favela, mas não o bastante para abolir a pobreza. A lição que se aprende neste livro é de superação, valores e amor à família.

REFERÊCIA BIBLIOGRAFICA

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada.
6ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1997.

Resenha: Dom Casmurro, de Machado de Assis

ISBN-13: 9788508040810
ISBN-10: 8508040814
Ano: 1997 / Páginas: 223
Idioma: português
Editora: Ática

Machado de Assis (1839-1908), escrevendo Dom Casmurro, produziu um dos maiores livros da literatura universal. Mas criando Capitu, a espantosa menina de "olhos oblíquos e dissimulados", de "olhos de ressaca", Machado nos legou um incrível mistério, um mistério até hoje indecifrado. Há quase cem anos os estudiosos e especialistas o esmiuçam, o analisam sob todos os aspectos. Em vão. Embora o autor se tenha dado ao trabalho de distribuir pelo caminho todas as pistas para quem quisesse decifrar o enigma, ninguém ainda o desvendou. A alma de Capitu é, na verdade, um labirinto sem saída, um labirinto que Machado também já explorara em personagens como Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas) e Sofia (Quincas Borba), personagens construídas a partir da ambigüidade psicológica, como Jorge Luis Borges gostaria de ter inventado.


RESENHA

A obra de Machado de Assis cujo nome é Dom Casmurro fala sobre um homem, Bento, que faz um livro contando sobre a sua vida, especificamente amorosa, onde fala de forma psicológica fazendo uma retrospectiva ao passado desde a infância até cerca de seus 54 anos de idade.

A história de Bento de Albuquerque santiago ou como é mais conhecido como Bentinho, mora na rua de matacavalos no Rio de Janeiro toda a sua infância, seu pai faleceu quando ainda era muito jovem e vive com sua mãe Dona Maria da Glória Fernandes Santiago, seu tio Cosme e sua tia Justina e o agregado José Dias, todos os irmãos eram viúvos, tanto sua mãe, como seu tio, como sua tia.

Bentinho sempre teve uma amizade muito forte com Capitolina, mais conhecida como Capitu e mora com seus pais o senhor pádua e sua mãe Fortunata; Bentinho e Capitu são amigos de infância e quando o livro se inicia eles possuem 15 e 14 anos respectivamente e começa a florescer entre essa amizade muito forte um romance, porém esse romance era impossível aos olhos da família de Bentinho, pois ao nascer sua mãe havia feito uma promessa que se o seu filho nascesse com saúde ele iria servir à Deus, como padre, pois a mãe de Bentinho já havia perdido seu primeiro filho na gravidez.

Todos sabiam da impossibilidade de Bentinho se relacionar com alguma garota e ao ver seu filho se aproximar de Capitu D. Maria se apressa para leva-lo ao seminário. Bentinho e Capitu começam a se apaixonar até que um certo dia enquanto Bentinho observava os olhos de ressaca e oblíquos de Capitu acabam se beijando e logo depois a mãe de Capitu enta no quarto em que estavam, porém Capitu tinha uma grande habilidade de desfarçar o que estava ocorrendo e agiu naturalmente a frente de sua mãe sendo que enquanto isso Bentinho não conseguia nem se mover de tão nervoso diante daquela situação.

Após o primeiro beijo entre os dois o amor entre eles floresceu e Bentinho se decidiu, mais do que nunca que definitivamente não seria padre, primeirou procurou ajuda de Capitu e depois de José Dias dizendo que gostaria de ser um advogado e que estudaria na Europa, o que era o ponto fraco de José Dias, pois amava as leis e também a Europa, através desse pedido José Dias concorda em tentar ajuda Bentinho, após José Dias, Bentinho procura sua tia Justina que também concorda em lhe ajudar. Porém Bentinho não escuta os adultos que recorre e acaba falando pra sua mãe que não deseja ir para o seminário e ela logo começa a discutir com ele e fala que ele vai sim e ponto final.

Bentinho vai para o seminário e lá conhece Escobar, que acaba virando o seu melhor amigo e depois de um tempo no seminário Bentinho com a ajuda do padre Carlos que diz para sua mãe que se colocar um órfão no lugar de Bentinho para se tornar padre não ocorrerá problema algum, e é o que acontece e Bentinho vai estudar direito na Europa após isso e com 22 anos volta para o Rio de Janeiro, porém, antes de ir, ele e Capitu fazem uma promessa que eles terão que se guardar um para o outro e se casarem. E a promessa é cumprida quando Bentinho volta ao Rio e seu amigo Escobar se casa com Sancha que era amiga de infância de Capitu.

Os dois casais eram muito unidos por suas amizades serem muito fortes e Escobar e Sancha têm seu primeiro filho primeiro que Capitu e Bentinho, depois de um tempo o filho de Capitu e Bentinho nasce, recebendo o primeiro nome de Escobar, cujo era Ezequiel e a amizade entre os casais só aumenta, Escobar vivia na casa de Bentinho e muitas vezes foi pego sozinho em casa com Capitu, uma vez Bentinho foi à uma peça de teatro e voltou antes do termino da peça e quando chegou em casa encontrou Escobar na porta de sua casa e Capitu não tinha ido por dizer que estava doente e ela mesmo afirmou para Bentinho não estar doente, que não queria era ir à peça.

Um tempo depois seu amigo Escobar morre se aventurando no mar forte e no velório de seu amigo Bentinho desconvia de que sua esposa estava o traíndo esse tempo todo, e começa a perceber fatores que comprovam essa traição de capitu, pois ele já havia encontrado Escobar nervoso em sua casa quando chegara e encontrara os dois a sós e Capitu estava a agir naturalmente, igual quando jovem quando algum adulto quase pegava ela aos beijos com Bentinho; Seu filho, Ezequiel era a cara de Escobar, era idêntico e também Escobar vivia na casa de Bentinho sozinho com Capitu. Dentre esses fatores Bentinho começou a acusar Capitu de estar o traíndo com o falecido Escobar, com isso ele tenta matar "seu" filho invenenando sua bebida, porém não possui tamanha coragem de fazer isto.
Bentinho, Capitu e Ezequiel vão para Suíça, para poderem se distanciar um pouco destes fatos e Bentinho se separa de Capitu e volta ao Brasil. Ele recebe diversas cartas de Capitu, carinhosas e tudo mais, porém não responde nenhuma e alguns anos depois seu filho Ezequiel vai visitá-lo e conta que Capitu morreu na Suíça e que estava indo viajar para a Ásia estudar as civilizações antigas e segue sua viagem, um tempo depois Bentinho descobre que seu filho morreu de febre tifóide em fora enterrado em Jerusalém.
Bentinho acabou sozinho, não se casou com nenhuma outra mulher, teve muitas aventuras amorosas, mas nenhuma conseguiu tomar o lugar da sua única amada, a senhorita Capitu, de olhos oblíquos, de ressaca.
O livro Dom Casmurro, conseguiu me surpreender, não espera que fosse um livro tão bom, eu tinha um certo preconceito por ser um livro antigo e tudo mais, porém quando comecei a ler não consegui mais parar, a história me comoveu muito e a minha crítica a história é que Capitu traía sim Bentinho, pois apesar de ela sem dúvida amar ele, ela conseguia se demonstrar feliz, mesmo estando muito triste por dentro, conseguia desfarçar muito bem as situações complicadas, era Bentinho quem sempre corria atrás de Capitu, ela nunca o procurava, Escobar vivia na casa de Bentinho, sendo que quase todas as vezes ele era encontrado sozinho com Capitu, o dia do teatro foi crucial para perceber que eles planejavam fazer algo antes de Bentinho chegar em casa, também o seu filho Ezequiel ser uma cópia cuspida de Escobar. Todos esses fatores influenciam para eu pensar desta maneira.

CRÍTICA/ANÁLISE: Helena, Machado de Assis


Todo este material produzido apresenta e relaciona múltiplos ramos ligados à obra Helena. Dentre estas ramificações, encontram-se: o contexto histórico (Romantismo), biografia do autor (Machado de Assis) e os elementos da narrativa, incluindo uma sucinta narração. Trata-se de uma atividade escolar disciplinar – correspondente à Língua Portuguesa, abrangente da Literatura -, contextualizada e regularizada, com o objetivo de repassar, não só simples dados superficiais do tema abordado, mas, sim, informações com mais extensão, influência e profusão.

2. CONTEXTO HISTÓRICO DA OBRA

ROMANTISMO (EUROPA)

No século XVIII, há uma renovação nas formas de expressão, na escolha dos temas e na busca de modelos e fontes de inspiração, o que se denomina Pré-Romantismo e tem sua origem na Alemanha e Inglaterra. Tal renovação assume grandes proporções no século XIX. Adquirindo liberdade formal e sentimento de contemporaneidade, resultando no romantismo.
O Romantismo surgiu na Europa em uma época em que o ambiente intelectual era de grande rebeldia. Na política, caíam sistemas de governo despóticos e surgia o liberalismo político (não confundir com o liberalismo econômico do Século XX). No campo social imperava o inconformismo. No campo artístico, o repúdio às regras. A Revolução Francesa de 1789 é o clímax desse século de oposição.
Gerado sob o impacto da Revolução Industrial  e da Revolução Francesa, de fins do século XVIII, o romantismo surgiu no início do século XIX, na Alemanha, França  e Inglaterra. Na ocasião, a sociedade se reorganizava e as classes sociais criavam ou redefiniam suas visões da existência e do mundo. Com o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais: a burguesia, com riquezas provenientes do comércio, e os operários das indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual a ideologia defendida por seus autores.
O Romantismo, iniciado como reação ao Neoclassicismo, exaltava a beleza ideal, a tradição e o nacionalismo e ao mesmo tempo era profundamente anti-absolutista. Da imensa produção da época, destacam-se Lord Byron, Percy Shelley, Jane Austen, Walter Scott, Johann Wolfgang Goethe, Friedrich Hegel, John Keats, Victor Hugo, Alfred de Musset, François-René de Chateaubriand, Alexandre Dumas Filho, Giacomo Leopardi, Alessandro Manzoni, Nikolai Gogol, etc.
Em Portugal, Almeida Garrett inaugurou o movimento com o poema Camões, em 1825. O s primeiros anos do Romantismo em Portugal coincidem com as lutas civis entre os liberais e conservadores, acirradas por uma guerra que durou dois anos.
Mais do que uma escola literária, o Romantismo foi uma expressão do espírito da época. A solidão, a noite, a morte, o gosto pelo fantástico, a exaltação da natureza e o espírito idealista foram mais que tema, foram modos de se expressar a consciência de que a realidade era intolerável. As formas fixas do Neoclassicismo foram rejeitadas, em prol da liberdade individual da criação. Dois pontos de referência dos românticos foram a Grécia e a Idade Média, que enxergava nelas, respectivamente, o equilíbrio perdido e uma era de sonhos.

ROMANTISMO (BRASIL ‘1836-1881’)

O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de poemas "Suspiros poéticos e saudades", de Domingos José Gonçalves de Magalhães, em 1836, e durou 45 anos. Nos primórdios dessa fase literária, 1833, um grupo de jovens estudantes brasileiros em Paris, sob a orientação de Gonçalves Magalhães e de Manuel de Araújo Porto Alegre, inicia um processo de renovação das letras, influenciados por Almeida Garret e pela leitura dos românticos franceses. Em 1836, ainda em Paris o mesmo grupo de brasileiros funda a Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes, cujos dois primeiros números traziam como epígrafe: "Tudo pelo Brasil e para o Brasil".
Brasil do início do século XIX foi palco de várias transformações que contribuíram de forma decisiva para a formação de uma verdadeira identidade nacional e, consequentemente, uma literatura com características mais brasileiras.
A chegada da família real portuguesa em 1808 já era um indício de que aquele seria um século de profundas mudanças na estrutura política, econômica e cultural do país. D. João VI, através de medidas importantes visando ao desenvolvimento nacional, abriu os portos para comércio com o mundo, o que significava a fácil entrada de novas tendências culturais, principalmente europeias. Além disso, criou novas escolas, bibliotecas e museus, e deu incentivo à tipografia, que implicou a impressão de livros, até então feitos em Portugal, e a edição de jornais.
O eixo político-econômico-cultural do Brasil sai então de Minas Gerais para ganhar as portas da realeza no Rio de Janeiro, onde nasce um público consistente de leitores principalmente formado de mulheres e jovens estudantes, provenientes da classe burguesa em ascensão.
Enquanto isso, o restante da nação, ainda movido pela estrutura agrária e mão de obra escrava, assiste à transição do Colonialismo ao Império. Era a tão sonhada independência política das correntes de Portugal, numa busca pela liberdade e pelo patriotismo, que iria acolher de braços abertos os ideais românticos.
De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a Guerra do Paraguai; a dissolução da Assembleia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abdicação. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo. 

ALGUNS ESCRITORES ROMÂNTICOS BRASILEIROS
* Gonçalves Dias: principal poeta romântico e uns dos melhores da língua portuguesa, nacionalista, autor da famosa Canção do Exílio, da nem tão famosa I-Juca-Pirama e de muitos outros poemas.
* José de Alencar: principal romancista romântico. Romances urbanos: Lucíola; A Viuvinha; Cinco Minutos; Senhora. Romances regionalistas: O Gaúcho, O Sertanejo, O Tronco do Ipê. Romances históricos: A Guerra dos Mascates; As Minas de Prata. Romances indianistas: O Guarani, Iracema e o Ubirajara.
* Machado de Assis: estilo único, dotado de fase romântica e realista. Em sua fase romântica destacam-se "A Mão e a Luva" e "Helena". Ainda em tal fase realizava análise psicológica e crítica social, mostrando-se atípico dentre os demais românticos.

2. BIOGRAFIA DE MACHADO DE ASSIS

Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1899.
Passagem de ano. Virada de século.

"Quanto ao século, os médicos que estavam presentes ao parto reconhecem que este é difícil, crendo uns que o que agora aparece é a cabeça do XX, outros que são os pés dos XIX. Eu sou pela cabeça, como sabe."

Quem escreveu isso foi um mulato que, naquela passagem de século, tinha 61 anos incompletos. Nunca fora bonito e consta que era meio gago. Nessa altura da vida, uma das figuras mais ilustres da literatura brasileira daquele e de todos os tempos: Joaquim Maria Machado de Assis, ou simplesmente Machado de Assis, como já era conhecido em 1899.
A vida do sexagenário Machado transcorria em normalidade. Não era rico, mas vivia confortavelmente. Trabalhava bastante, era respeitado e famoso. E, sobretudo, muito amado por sua Carolina, com se casara 30 anos antes e a quem confessara um dia: "eu vivo e morro por ti".
No entanto, nem sempre tinha sido assim. Criança pobre, neto de escravos alforriados, nascido no morro, já confessava, desde cedo, sentir "umas coisas estranhas": talvez as primeiras manifestações da epilepsia. Apesar dessa limitação, o menino Joaquim Maria costumava emaranhar-se pelas ruas da cidade onde nasceu, escreveu, amou e morreu: o Rio de Janeiro.
A arquitetura das "chácaras" dos ricos contrastava com as humildes casas da gente comum. Foi numa dessas casas, no morro do Livramento, que o pintor de paredes Francisco de Assis e a lavadeira portuguesa Maria Leopoldina da Câmara Machado viram nascer o menino Joaquim Maria, um pouco antes da segunda metade do século. Mais precisamente em 21 de junho de 1839.
Nos primeiros anos, com certeza, o menino frequentou a Chácara do Livramento, sob a proteção da madrinha, senhora muito rica, dona da propriedade, com quem provavelmente aprendeu um pouco de francês.
Aos 6 anos, presenciou a morte da única irmã. Quatro anos depois, morre-lhe a mãe. Em 1854 o pai casou-se com Maria Inês. Aos 14 anos, já podemos encontrar o menino Joaquim Maria ajudando a madrasta a vender doces para sustentar a casa, tarefa difícil depois da morte do pai. Morava em São Cristovão nesta época. Se frequentou escolas regularmente, não se sabe. O que se sabe é que nessa altura já sabia escrever.
É certo também que o adolescente não pouparia esforços para sair do anonimato do morro e integrar-se à vida intelectual da cidade. Aqui começa, de fato, a trajetória do escritor Machado de Assis.
Lances espetaculares de sorte, sucesso imediato, consagração instantânea do público e da crítica, riqueza, fama... Nada disso ocorreu com Machado. Sua perfeição artística resultará de um longo amadurecimento. Tudo ocorreu passo a passo. A alta qualidade da sua literatura vai revelar-se nas obras da idade madura. É por isso que a crítica costuma falar nas "duas fases da literatura machadiana".
Joaquim Maria era menino de subúrbio e a vida intelectual do subúrbio era muito diferente da vida intelectual da Corte. Era essa última que atraía Machado de Assis.
As coisas elegantes do Rio de Janeiro da época aconteciam nos cafés da Rua do Ouvidor, onde as pessoas da classe detentora do poder se encontravam, se divertiam, exibiam suas roupas importadas da Europa. Era por aqui que Joaquim Maria passava grande parte de seu tempo. Trabalhando. Caixeiro de livraria, tipógrafo, revisor foram profissões que provavelmente exerceu antes de se tornar jornalista e cronista. Não terá sido fácil para o adolescente de arrabalde firmar-se como um intelectual na Corte. Além disso, as teorias racistas que se espalhavam pelo século XIX sustentavam a superioridade natural da raça branca sobre negros, índios e mestiços. Joaquim Maria era mulato.
Na verdade, sua ascensão intelectual só se completará por volta de 1880 quando, no cenário da literatura brasileira, ninguém superava Machado de Assis em fama e importância. Mas o percurso foi longo...
No dia 6 de janeiro de 1855, a Marmota Fluminense, jornal de notícias, curiosidades e literatura, publicou o poema "A palmeira". Na segunda estrofe, o poeta afirmava:

Tenho a fonte amortecida
Do pesar acabrunhada!
Sigo os rigores da sorte,
Nesta vida amargurada!

Nada de excepcional, é bem verdade. Era apenas o começo: a estreia literária de Joaquim Maria Machado de Assis.
O jornal em que se publicou o poema era editado numa livraria que havia se transformado em ponto de encontro dos escritores da época. Foi lá que Machado de Assis ganhou protetores como Paula Brito - dono da livraria e do jornal -, Manuel Antônio de Almeida - já conhecido romancista -, e um padre que ensinava latim ao adolescente.
Logo Machado já era membro da redação da Marmota Fluminense. Outros jornais também passaram a publicar seus trabalhos.
Machado de Assis, homem da cidade, cada vez mais se distanciava de Machadinho, com era conhecido, menino de subúrbio. Nas roupas, na postura, na expressão.
Os meios literários da Corte tornavam-se pouco a pouco, terreno conhecido para ele. Ele tornava-se cada vez mais conhecido nesse terreno.
Machado cronista escreveu para diversos jornais, mas não vá imaginar que no Brasil da época era possível viver de escrever. Não! Para sobreviver, aceitou um emprego público que lhe garantiria o sustento.
A ascensão na carreira burocrática vai ocorrendo paralelamente à sua consagração como escritor. Ajudante do diretor do Diário Oficial; primeiro-oficial da Secretaria do Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, mais tarde oficial de gabinete de ministro; diretor-geral da Viação; membro do Conservatório Dramático; oficial da Ordem da Rosa... Em 1889, o mais alto grau da carreira: diretor de um órgão público, a Diretoria do Comércio. Aos poucos, foi chegando a estabilidade econômica e mais tempo para escrever.
Durante 40 anos Machado escreveu suas crônicas. Utilizando-se de histórias do dia a dia, o escritor ia refletindo sobre a História que se desenhava à sua volta.
Machado não passou ao largo dos grandes acontecimentos de seu tempo - apesar de ter reagido discretamente às transformações que presenciou, como a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. É possível entrever, no registro do cotidiano feito por suas crônicas - assim como posteriormente nos romances -, a ligação com o contexto social mais amplo.
Entre uma crônica e outra, entre uma crítica teatral e um poema, Machado de Assis ia tecendo a parte mais importante de sua obra: o conto e o romance.

"A minha história passada do coração resume-se em dous capítulos: um amor, não correspondido; outro, correspondido. Do primeiro, nada tenho que dizer; do outro, não me queixo; fui eu o primeiro a rompê-lo.”

O amor de verdade, de carne e osso, viria na figura de D. Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais, amigo de Machado, de nacionalidade portuguesa e mais velha que o escritor. Em carta Machado declarou-lhe:

"Tu não te pareces com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espíritos e corações como o teu são prendas raras [...] Como te não amaria eu?"

Viram-se. Amaram-se. Casaram-se em 12 de novembro de 1869.
O casamento durou 35 anos. Consta que na mais perfeita harmonia.
No ano seguinte ao casamento publica-se o primeiro volume de contos (Contos Fluminenses). Não seria ainda nessa obra que o excepcional escritor iria se revelar. A crítica considerava apenas medianos os contos desse livro. De qualquer forma, já aparecem características marcantes do estilo machadiano: a conversa com o leitor, a ironia e o estudo da alma feminina.
Três anos depois, surge outro volume de contos: Histórias da meia-noite, também considerado pela crítica no mesmo nível do primeiro livro.
Papéis alvulsos (de 1882) é o nome do terceiro livro de contos de Machado. Nesse livro revela-se a maturidade do contista Machado de Assis. No conto, este livro marca a passagem para a segunda fase machadiana, a fase da maturidade artística.
Na trajetória de Machado, Papéis Avulsos assume grande importância, portanto. Revela o amadurecimento de novos recursos de estilo, o aprofundamento de temas anteriores de sua literatura e o surgimento de outros novos. Enfim, a consagração definitiva de Machado como um grande (talvez o maior) ficcionista de todos os tempos em nossa literatura.
Essas narrativas revelam o universo dos temas que interessam a Machado: a loucura, a alma feminina, a vaidade, a sedução, o casamento, o adultério.
Aceitando a divisão de sua literatura em duas fases - conforme já está consagrado pela crítica -, os romances se distribuem desta forma:
1° Fase: Ressureição (1872); A Mão e a Luva (1874); Helena ( 1876); Iaiá Garcia (1878).
2° fase: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacob (1904); Memorial de Aires (1908).
Como resultado do estudo, da reflexão, da leitura de autores clássicos, Machado vai caminhando em direção à plenitude de seu estilo; uma maneira de escrever pessoal, própria, inconfundível, com características únicas, só dele. E com qualidade, é claro.
Nenhum artista consegue evitar as influências do momento histórico em que vive. Desde o início, sente-se a preocupação dele de desligar-se da moda reinante em sua época. Tendo passado pelo Romantismo e pelo Realismo, Machado assimilou características de ambos, mas não se enquadra radicalmente em nenhum desses estilos.
Podemos dizer, grosso modo, que os romances da primeira fase tendem ao Romantismo e os da segunda fase ao Realismo.
Quando Carolina Novais morreu, em 1904, a vida de Machado de Assis desmoronou.

"Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...] Aqui me fico, por ora, na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a minha meiga Carolina. Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei tempo em recordá-la. Irei vê-la, ela me esperará."

Para Machado, o "eterno aposento" se abriria quatro anos mais tarde. As únicas coisas que o mantinham vivo eram o carinho dos amigos - tantas vezes expresso em cartas -, o interesse pela literatura e pela Academia Brasileira de Letras, que ajudara a fundar em 1896, e da qual fora eleito presidente primeiro e perpétuo.
Apesar da serenidade que o escritor aparentava, o prazer de viver tinha mesmo se esvaído com a ausência da Carolina.
Vista fraca, infecção intestinal, uma úlcera na língua.
Em 1° de agosto vai à Academia pela última vez.
Lúcido, recusando a presença de um padre - manteve a coerência de quem nunca tinha sido religioso -, Machado morre às 3 h e 20 min. da madrugada no dia 29 de setembro de 1908.
Decreta-se luto oficial no Rio de Janeiro. Seu enterro, com enorme acompanhamento de figuras conhecidas e do povo, atesta a fama que Machado havia alcançado. Foi sepultado ao lado de Carolina, a quem prometera o conhecido soneto:

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei; pobre querida,
Trazer-te o coração de
-------------------------------------companheiro.

OBRAS DO AUTOR

Poesia
Crisálidas (1864); Falenas (1870); Americanas (1875); Poesias Completas (incluindo Ocidentais) (1901).

Romance
Ressurreição (1872); A Mão e a Luva (1874); Helena (1876); Iaiá Garcia (1878); Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908)

Contos
Contos Fluminenses (1870); Histórias de Meia-Noite (1873); Papéis Avulsos (1882); Histórias sem Datas ( 1884); Várias Histórias (1896); Páginas Recolhidas (1899); Relíquias de Casa Velha (1906).

Teatro
Queda que as mulheres têm para tolos (1861); Desencantos (1861); Hoje avental, amanhã luva (1861); O caminho da porta (1862); O protocolo (1862); Quase ministro (1863); Os deuses de casaca (1865); Tu, só tu, puro amor (1881); Teatro coligido (incluindo Não consultes médico e Lição de Botânica) (1910).

Algumas Obras Póstumas
Crítica (1910); Outras relíquias (contos) (1921); A semana (crônica) (1914, 1937) - 3 vol.; Páginas escolhidas (contos) (1921); Novas Relíquias (contos) (1932); Crônicas (1937); Contos Fluminenses - 2°vol. (1937); Crítica Literária (1937); crítica teatral (1937); Histórias Românticas (1937); Páginas esquecidas (1939); casa velha (1944); diálogos e reflexões de um relojoeiro (1956); crônicas de Lélio (1958).

4. ELEMENTOS DA NARRATIVA

4.1 – O Narrador

“As cartas de Estácio chegaram uma tarde em que as duas senhoras e Mendonça se achavam na varanda, acabando o jantar, bebendo as últimas gotas de café.”

(Página: 78)

O fragmento acima fora retirado do livro com o intuito de comprovar que, por apresentar-se em terceira pessoa, o narrador da obra encontra-se em estado de NARRADOR OBSERVADOR.

4.2 – Os Personagens Protagonistas e suas Características Físicas e Psicológicas

Helena

Físicas

“Era uma moça de dezesseis a dezessete anos, delgada sem magreza, estatura um pouco acima de mediana [...] A face, de um moreno-pêssego, tinha a mesma imperceptível penugem da fruta de que tirava a cor [...]”.
(Página: 21)

Psicológicas

“Helena tinha os predicados próprios a captar a confianças e a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. [...] Havia nela a jovialidade da menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes.”
(Página: 24)

Eugênia

Físicas

“Era de pequena estatura; tinha os cabelos de um castanho escuro, e os olhos grandes e azuis, dois pedacinhos do céu, abertos em rosto alvo e corado; o corpo, levemente refeito, era naturalmente elegante [...]”.
(Página: 28)

Psicológicas

“Caprichosa, rebelde, superficial, Eugênia não teve a fortuna de ver emendados os defeitos; antes foi a educação que lhos deu.”
(Página: 73)

Estácio

Físicas

“Seu olhos, grandes e serenos, com o espírito que os animava, pousaram benevolamente no interlocutor.”
(Página: 17)

Psicológicas

“[...] era uma gravidade jovial e familiar, igualmente distante da frivolidade e do tédio [...] Juntava às outras qualidades morais uma sensibilidade, não feminil e doentia, mas sóbria e forte; áspero consigo, sabia ser terno e mavioso com os outros.
(Página: 18)

Camargo

Físicas

“[...] absorvido em suas próprias reflexões, ora arranjando maquinavelmente um livro da estante, ora metendo a ponta do bigode entre os dentes [...]”.
(Página: 12)

Psicológicas

“Naquele homem céptico, moderado e taciturno, havia uma paixão verdadeira, exclusiva e ardente: era a filha. Camargo adorava Eugênia: era a sua religião.”
(Página: 72)

4.3 – Narração

Morre o conselheiro Vale ás 7 horas da noite de 25 de abril de 1850. Morreu de apoplexia fulminante; instantaneamente. Ocupava nenhum cargo do Estado, contudo, fazia-se um homem de elevada classe social.
A pequena família fora deixada com vistosa estabilização. Seu filho Estácio, sua irmã D. Úrsula e sua filha Helena - a ignota e formidável filha do conselheiro que, segundo o testamento por ele deixado, deveria mudar-se para a casa da família e ser tratada como parte de tal. O que dizia respeito à história de vida de Helena, cercada de inescrutáveis mistérios, o conselheiro Vale levou consigo para o túmulo.
Em sua chegada ao novo e inexplorado lar, a moça deparou-se com vários julgamentos quanto a sua vinda para a família. Inicialmente, lidou com os sentimentos de Estácio; sentimentos estes que, por enquanto, estavam intensamente ligados à efetivação dos desejos de seu finado pai. Posteriormente, teve de enfrentar os olhares avaliativos e a dura oposição de D. Úrsula, da qual só obteve carinho e total assentimento, através de desgastantes cuidados que teve para com a tia, quando esta adoeceu. Empenhando-se em suas atividades domésticas e revelando a boa educação que lhe foi dada, sem pressa alguma, conquistou com êxito a família e todos os que ligavam-se a ela.
Antes mesmo de Estácio descobrir ter uma meia-irmã, ele vivia um romance com Eugênia, filha de Dr. Camargo, médico e grande amigo da família. Pretendia casar-se logo, desejo ambicionado pelo pai da moça, mas para o desgosto deste, Estácio era sempre interceptado por contratempos ou por si mesmo, quando questionava-se sobre Eugênia e o que sentia por ela. Camargo associava esta demora à influência que Helena passara a ter sobre o irmão.
Já não bastava ela haver diminuído a herança que garantiria o futuro da filha através do casamento que realizar-se-ia?
Por meio do conhecimento das visitas frequentes que Helena fazia a uma pobre casa situada por ali, Camargo ameaçou-a: ela deveria incentivar Estácio ao casório, assim sendo, ele nada contaria. De tal modo, alcançou o tão cobiçado pedido de casamento.
Mendonça, velho amigo de Estácio, apaixonou-se por Helena. A moça, ansiosa por elevar-se a uma boa situação social e sob conselhos do guia espiritual da família, padre Melchior, aceitou passivelmente o pedido. Estácio, que encontrava-se em viagem com a família de sua noiva, tratou de voltar para Andaraí de imediato. Instantânea e única fora sua oposição ao tal casamento. O pretexto utilizado para consolidar sua posição quanto ao casamento era de que, certa vez, Helena revelara-lhe que amava impetuosamente alguém. Temia que a irmã se casasse com alguém que não amasse verdadeiramente e viesse a cometer alguma condenável ação no casamento. Entretanto, não era este o real motivo, ele próprio não tinha conhecimento disto; inconscientemente, deixava escapar os camuflados sentimentos que por Helena sentia. Bem como Helena, que aceitou casar-se com Mendonça para evitar que o amor pelo meio-irmão florescesse e se tornasse uma frondosa, cálida e, ao mesmo tempo, pecaminosa árvore que os levassem a realizar imperdoáveis atos. Porém, ao contrário de Estácio, Helena já não mais ignorava o profano amor.
Após refletir sobre tudo o que estava a ocorrer, Estácio cedeu e deu o seu consentimento para o casamento. Contudo, arrependeu-se; em um de seus passeios matinais, avistou Helena retirando-se de uma mísera casa.
Será o morador da casa o homem que a meia-irmã tanto amava?
É o meu pai, Helena confessou quando fora indagada por Melchior e Estácio. À procura de uma verdade palpável, os dois foram até a casa onde morava o homem. Salvador o seu nome, logo souberam. Através de uma delongada e comovente história sobre a vida de Helena, a paternidade de Salvador fora confirmada.
Ainda com o perdão da família e com a possibilidade de casar-se com Estácio, Helena naufragava vagarosamente em um imenso mar de depressão. Após uma súbita chuva, a moça debilitou-se. A saúde fraca e as fortes emoções de Helena levaram-na ao leito da morte. Morte que fora sentida por todos ligados à família. Estácio beijou-a uma única vez, porém um corpo sem vida.

4.4 - Tempo

“O conselheiro Vale morreu às 7 horas da noite de 25 de abril de 1850”
(Página: 11)

No fragmento acima, confirma-se que o estado do tempo é CRONOLÓGICO, pois apresenta mês, dia, horas, minutos e segundos exatos. Embora haja na obra, trechos em que o tempo encontra-se em estado psicológico.
4.5 – Espaço

“No dia seguinte fez-se o enterro, que foi um dos mais concorridos que ainda viram os moradores de Andaraí.”
(Página: 11)
O trecho acima profere que o enterro do conselheiro Vale ocorreu em Andaraí, um bairro na zona norte do Rio de Janeiro. Ainda que haja outros ambientes em que os personagens interagem, Andaraí é o lugar onde se passa grande parte da história. Em suma, no Rio de Janeiro.

4.6 – O Clímax

“- Suponho que se lembra de mim? disse ele.
- Perfeitamente.
- Sabe que motivo nos traz à sua casa?
- Não, senhor.
- Confessa a autoria desta carta?
Salvador estremeceu; depois respondeu com um gesto afirmativo.
- Pretende que Helena é sua filha; disse o moço depois de um instante. Confirma verbalmente o que escreveu?
- Helena é minha filha.”
(Página: 124)

O diálogo acima, entre Estácio e Salvador, ocorre logo após o primeiro ler a carta exibida por Helena; a carta que dá ao leitor a base da curiosidade para saber se Helena é ou não a filha do conselheiro Vale. Este diálogo é a confirmação.

4.7 – Desfecho

“A mão pálida e transparente da moribunda procurou a cabeça do mancebo; ele inclinou-a sobre a beira do leito, escondendo as lágrimas e não se atrevendo a encarar o final instante. Adeus! – suspirou a alma de Helena, rompendo o invólucro gentil. Era defunta.”
(Página: 14)

Que esplêndido desfecho é este! Logo que nada poderia ser feito, a morte de Helena seria a única solução. O mestre Machado expande a morte de Helena para muito além de um sacrifício romântico, ultrapassa os limites de que a morte é a única solução possível. Ele apresenta a sociedade do modo como ela realmente é. Essa mesma sociedade, se observarm, perdura-se até os dias de hoje, talvez algumas exceções.
Ele autentica que na sociedade somente exultam aqueles dotados de sorte, linhagem e situação social. Ora, pois, o livro apresenta uma colisão de ambições entre dois pais: Salvador, pobre, arriscando tudo na tentativa de elevar a filha numa boa situação social, e as de Dr. Camargo, que favorece a substituição do amor por interesses. Este segundo, triunfante, visava o futuro; calculado friamente, sem arrependimentos ou obrigações. Helena ainda prendia-se a seu passado, portanto condena-se a si mesma; recusando integrar-se inteiramente às regras impostas pelos parceiros daquele petulante jogo do mundo que se elevava.

5. CONCLUSÃO

Ao discorrer a respeito do termo “clássicos da literatura brasileira” logo me vinha à mente histórias complexas e enfadonhas. Porém, um equívoco logo percebido ao finalizar uma das obras concebidas por um conhecido mestre da literatura brasileira: Helena, de Machado de Assis.
Este romance, pertencente à chamada fase romântica da obra machadiana, expõe temas abundantemente explorados por escritores românticos: a obsessão de um amor impossível, que ocorre entre Estácio e Helena, visto como uma deturpação de leis morais e sociais, daqueles que as soluções se dão apenas através de um completo final feliz ou através de um trágico: a morte. Este, porém, ultrapassa uma simples história romanesca conflituosa, ele revela a estrutura de uma sociedade cujos valores estão em construção, transformação ou decadência.
A realização deste trabalho permitiu-me conhecer a vida de um pobre garotinho de subúrbio, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira; ele tinha grandes sonhos e sentia deveras vontade de alcançá-los, surpreendendo então a todos, ao tornar-se um dos mais ilustres escritores da literatura brasileira. Possibilitou-me ainda obter conhecimento de todo o contexto histórico desta obra e o modo como eu devo conhecer um livro para entendê-lo mais profundamente. Mas apesar de todas estas informações adquiridas, talvez a mais importante, há uma que levarei comigo primordialmente: a experiência, o primeiro contato com um clássico de nossa literatura. Honrada eu estou, por ter sido apresentada a este genial e proveitoso livro, que devia, não, DEVE ser lido por todos.

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