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[RESENHA #511] Instinto de nacionalidade, de Machado de Assis



Resenha Crítica: ASSIS, Machado de. Notícia da atual literatura brasileira. Instinto de nacionalidade. Nova York: Revista Novo Mundo, 24/03/1873.

Um retrato importante e reflexivo de Machado de Assis

Nesse panorama da cultura literária brasileira, Machado de Assis não apenas pretende revelar “os defeitos e a beleza da literatura brasileira contemporânea”, mas também busca explorar um sentido natural do mundo, país existe na arte em questão. . . Ele divide cuidadosamente seu tópico em seções e explica cada parte. São eles: Romance, Poesia, Teatro e Linguagem.

A princípio, citou outros autores épicos do Arcadismo, Santa Rita Durão e Basílio da Gama, cujas obras eram consideradas nacionais na época, devido à temática indígena. Isso os torna considerados os pioneiros da poesia brasileira. Para comparação, Machado notou Tomaz Antônio Gonzaga, "o pastor da Arcádia"; mas, para o crítico de Assis, não é totalmente laica, não abandona o malandro do pastor e tem temas e valores puramente europeus nas letras.

Machado de Assis também cita Gonçalves Dias e José de Alencar como os principais pioneiros da ficção indígena. E com isso abriu espaço para a exibição do estilo de escrita muito presente na elite brasileira da época: o Romance. No entanto, ele argumentou habilmente que o conteúdo geral desses romances era, como dizemos hoje, coberto de açúcar. Não há romances de crítica social, mas romances que produzem e preservam a cultura comum do povo brasileiro, do centro ao litoral.

No que diz respeito à divulgação da literatura e da cultura, Machado de Assis valorizava muito as obras que falavam da cultura dos índios Tupiniquim. Para ele, porém, “nossos escritores não se limitam a essa única fonte de inspiração”. O patrimônio literário precisava de um legado universal, inspirado nos grandes clássicos europeus, talvez porque naquela época fosse reconhecido um grande número de ancestrais que compunham os brasileiros.

Como Machado escreve para um público estrangeiro, é importante para ele suprir a falta de produção de obras sobre filosofia, linguística, crítica histórica e assim por diante. E desta vez, ele deixou claro que havia preocupações.

Quanto à linguagem contida no livro, entende-se o tipo erudito e lusitano de linguagem escrita: “Uma ideia que admite todas as mudanças de linguagem, mesmo aquelas que destroem as regras sintáticas e a pureza essencial da palavra não me parece aceitável para mim. A influência popular tem imitação. Sem pestanejar, Machado de Assis disse isso claramente. Ele argumentou que "as obras clássicas não são muito estudadas no Brasil." pelo que eles escreveram, muitas vezes encontrados no estilo clássico E aqui temos, novamente: Machado de Assis se concentra no classicismo.

Segundo Machado, um sentimento de nacionalismo pode se transformar em um sentimento de proximidade que pode tornar um escritor "um homem de seu tempo e de sua pátria", independentemente do tema e da temática em questão. criar independência". “.

Por exemplo, sua análise mostra moderação em seu apreço pelo indianismo e pelo estilo europeu. No entanto, alguns vestígios de apreço pela escrita clássica devem ser notados. Isso é perceptível em O Teatro e A Língua. "Hoje, quando o gosto do público atingiu os extremos da decadência e da distorção, não há mais esperança de que alguém se sinta chamado a criar obras de arte difíceis." Sem dúvida, Machado deixou aqui um provável descontentamento com o privilégio cada vez menor do teatro na época. Mas, para equilibrar sua análise, não esqueceu de citar as peças de seu amado José de Alencar, talvez para "salvar" a imagem da cultura brasileira que ele mesmo contribuiu para manchar os contornos anteriores.

Machado de Assis nunca pareceu barato. Ele é moderado em apontar erros e citar qualidades existentes na escrita brasileira. Acima de tudo, pode transmitir a esperança de que num futuro próximo possam surgir obras mais sérias, com obras mais literárias e ainda carregadas de sentimento nacional, valorização da cor e da tradição. Sistema do Brasil.

O AUTOR

Biografia. Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras.

Análise/resenha: Esaú e Jacó, de Machado de Assis


ISBN-13: 9788508045303
ISBN-10: 8508045301
Ano: 1904 / Páginas: 192
Idioma: português
Editora: Ática

O título é extraído da Bíblia, remetendo-nos ao Gênesis, é à história de Rebeca, que privilegia o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendo-os inimigos irreconciliáveis. A inimizade dos gêmeos Pedro e Paulo, do romance de Machado, não tem causa explícita, daí a denominação de romance "AB OVO" (desde o ovo). É o romance da ambigüidade, narrado em 3ª pessoa, pelo Conselheiro Aires. Pedro e Paulo seriam "os dois lados da verdade". À medida que vão crescendo, os irmãos começam a definir seus temperamentos diversos: são rivais em tudo. Paulo é impulsivo, arrebatado, Pedro é dissimulado e conservador - o que vem a ser motivo de brigas entre os dois. Já adultos, a causa principal de suas divergências passa a ser de ordem política - Paulo é republicano e Pedro, monarquista. Estamos em plena época da Proclamação da República, quando decorre a ação do romance. Até em seus amores, os gêmeos são competitivos. Flora, a moça de quem ambos gostam, se entretém com um e outro, sem se decidir por nenhum dos dois: é retraída, modesta, e seu temperamento avesso a festas e alegrias levou o Conselheiro Aires a dizer que ela era "inexplicável". O conselheiro é mais um grande personagem da galeria machadiana, que reaparecerá como memorialista no próximo e último romance do autor: velho diplomata aposentado, de hábitos discretos e gosto requintado, amante de citações eruditas, muitas vezes interpreta o pensamento do próprio romancista. As divergências entre os irmãos continuam, muito embora, com a morte de Flora, tenham jurado junto a seu túmulo uma reconciliação perpétua. Continuam a se desentender, agora em plena tribuna, depois que ambos se elegeram deputados, e só se reconciliam ao fim do livro com novo juramento de amizade eterna, este feito junto ao leito da mãe agonizante. 

Ficção / Literatura Brasileira / Romance / Suspense e Mistério

ANÁLISE

Esaú e Jacó foi um romance publicado em 1904, na época foi considerado um livro de Segunda linha de Machado de Assis, comparando com outros publicados anteriormente. Os críticos da época achavam que o autor neste romance teria suavizado o seu realismo tornando o menos explicito e contundente diminuindo com isso, o seu humor acido, e seus criticas mortas da sociedade do seu tempo e o seu homem burguês.

Hoje, porém já se admite que esse romance é o mais bem elaborado de Machado e o de mais difícil compreensão e interpretação. Neste livro o autor se considera apenas o editor do romance na verdade o escritor é o conselheiro Aires no qual é personagem do livro e narrador da historia. Nesta obra nota-se claramente que a narrativa vem sendo feita por um narrador esterno a historia, ou seja, que não atua como personagem, que sabe tudo sobre a vida externa e interna dos personagens e que de cima tem a visão total da sociedade e dos lugares onde ela se move.

Ele chega a ponto de falar do conselheiro em 3º pessoa, ao qual o próprio Machado (editor fictício) apropria-se da narrativa e torna-se narrador e personagem fazendo a invenção de si mesmo. Muitos críticos consideram o conselheiro Aires um autohego de Machado de Assis, ou seja, seu dublê, um porta voz de sua opiniões. Nesta linha de raciocínio posso dizer que Machado é o autor real e conselheiro Aires autor fictício e personagem.
No romance Esaú e Jacó percebe-se bem que foi escrito sob a visão de mundo do Conselheiro e os fatos são contados através de seu ponto de vista e sua posição ideológica que é fundamentada na narrativa, ele é quem opina sobre a significância da matéria narrada, mesmoque não possa esclarecer todos os enigmas. Podemos dizer que em Esaú e Jacó, Machado de Assis Inovou o elemento mais importante da narrativa o narrador algo novo para o seu tempo, traços de sua modernidade.

BIOGRAFIA
Nascido no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, filho de mulato em uma sociedade ainda escravocrata, paupérrimo, sofrendo de gagueira e epilepsia, nada indicaria que Joaquim Maria Machado de Assis teria, ao morrer em 1908, um enterro de estadista, seguido por milhares de admiradores pelas ruas da cidade em que nasceu, viveu e morreu. Autodidata, aos 15 começa a trabalhar em tipografias, onde conhece escritores importantes, como Manuel Antônio de Almeida. Em 1855 inicia sua carreira literária com a publicação de um poema na revista Marmota Fluminense. Consegue, logo depois, um emprego na Secretaria da Fazenda. Trabalha a vida toda na burocracia, na qual vai galgando posições até ser Ministro substituto. Mas a carreira burocrática é apenas uma forma de ganhar o sustento, ainda que humilde, que o possibilita escrever. Contribui com diversos jornais e revistas e, com a publicação de seus livros de poesia, contos e romances, só vai ganhando em notoriedade e respeito. Em 1869, casa-se, enfrentando grave preconceito racial da família, com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais. Em 1876, antes mesmo de publicar a parcela de sua obra mais significativa, já é considerado, na companhia de José de Alencar, um dos maiores escritores brasileiros. Em 1881 inicia a publicação dos seus romances realistas. Em 1896 é um dos principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, do qual é eleito presidente vitalício. Em 1904 morre Carolina. Quatro anos depois, Machado de Assis, consagrado como o maior escritor brasileiro, é enterrado com pompa no Rio de Janeiro. O mulato paupérrimo do Morro do Livramento tornara-se um dos homens mais respeitados do país.

O poeta

Machado de Assis iniciou sua carreira literária como poeta. Seu livro de estréia foi Crisálidas (1864), que lhe conferiu imediata notoriedade. Embora sua poesia esteja muito aquém da prosa que o imortalizou, nunca deixou de escrever poemas. Em 1870 lança Falenas, em 1875, Americanas  e, em 1901, as suas Poesias Completas, que ainda não incluem um dos seus mais famosos poemas, o belo soneto A Carolina, escrito após a morte da esposa, em 1904.

O cronista

Seguindo a linha dos textos de Ao Correr da Pena, de José de Alencar, Machado de Assis contribuiu durante toda a sua carreira com textos breves para jornais, em que comenta os mais variados assuntos da vida do Rio de Janeiro e do país. Esses textos leves, de temática cotidiana, podem ser considerados os precursores da crônica moderna, em que se haveriam de destacar, no século seguinte, escritores como Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade. A produção do Machado cronista se inicia já em 1859 e se estende até 1904, com raras interrupções. Sua produção mais madura foi publicada nas colunas do jornal  Gazeta de Notícias, em que contribui de 1881 a 1904: Balas de Estalo (1883-1885), Bons Dias! (1888-1889) e principalmente em A Semana (1892-1897).
 
O crítico
Também para os jornais, Machado de Assis escreveu durante toda a vida textos críticos. Sua produção infindável envolve ensaios teóricos, como O passado, o presente e o futuro da nossa literatura (1858), O ideal do crítico (1865) e Notícia da atual literatura brasileira - instinto de nacionalidade (1873), diversas resenhas críticas importantes, como aquela ao livro O Primo Basílio, de Eça de Queirós (1878) e inúmeras críticas de teatro.
 
O contista
Muitos das centenas de contos que Machado de Assis escreveu ao longo da vida se perderam, com o desaparecimento dos números dos jornais em que foram publicados. Outros estão apenas agora sendo republicados em livro. Sua versatilidade como contista é imensa. Escreveu tanto para os jornais mais sentimentalóides quanto para publicações seriíssimas. A qualidade dos contos varia de acordo com a publicação e o público leitor a que se destinavam. Entre as coletâneas de contos que publicou, destacam-se Papéis Avulsos (1882), com o grande conto, ou novela, O Alienista, Teoria do Medalhão e O Espelho, e Várias Histórias (1896) em que se encontram, entre outras obras-primas da concisão e do impacto narrativo, A Causa Secreta, A Cartomante e Um Homem Célebre.

CONTEXTO SOCIAL
AUTOR
Machado de Assis foi um dos mais geniais escritores. Prolífico, produziu crônica, poesia, contos, romances, crítica e peças de teatro. Seu estilo é marcado pela ironia, pela digressão, metalinguagem e profunda análise psicológica, mergulhando na alma humana e revelando seus cantos mais escuros e ocultos.
Destacou-se principalmente como contista e romancista. Entre seus mais famosos romances destacamos Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, D. Casmurro. Entre os livros de contos, vale citar Papéis Avulsos, Histórias sem Data, Várias Histórias e Relíquias da Casa Velha

OBRA

A obra esta inserida em uma época de grande divergência política, de um lado as pessoas que eram republicanas e de outro os monarquistas. E numa ascensão rápida de uma burguesia industrial ascendente no qual o autor conhecia muito bem, e os fazendeiros barões do café em grave crise, os quais ocasionam grandes conflitos políticos.
A historia se passa no Brasil durante a sua proclamação da republica em que os ideais políticos vindos da Europa, principalmente da França se deparam juntamente com a cultura e as crendices deste país.
Os personagens são burgueses vivem dentro do contexto político brasileiro.
O autor da um duplo sentido na obra indo do realismo até o irrealismo total, nem tudo que está escrito é o espelho fiel e exato da vida real, e o autor não faz questão que seja, e nem tenta explicar porque.

RESUMO

O título é extraído da Bíblia, remetendo-nos ao Gênesis, é à história de Rebeca, que privilegia o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendo-os inimigos irreconciliáveis. A inimizade dos gêmeos Pedro e Paulo, do romance de Machado, não tem causa explícita, daí a denominação de romance "AB OVO" (desde o ovo).
É o romance da ambigüidade, narrado em 3ª pessoa, pelo Conselheiro Aires. Pedro e Paulo seriam "os dois lados da verdade". À medida que vão crescendo, os irmãos começam a definir seus temperamentos diversos: são rivais em tudo. Paulo é impulsivo, arrebatado, Pedro é dissimulado e conservador - o que vem a ser motivo de brigas entre os dois. Já adultos, a causa principal de suas divergências passa a ser de ordem política - Paulo é republicano e Pedro, monarquista. Estamos em plena época da Proclamação da República, quando decorre a ação do romance.
Até em seus amores, os gêmeos são competitivos. Flora, a moça de quem ambos gostam, se entretém com um e outro, sem se decidir por nenhum dos dois: é retraída, modesta, e seu temperamento avesso a festas e alegrias levou o Conselheiro Aires a dizer que ela era "inexplicável". O conselheiro é mais um grande personagem da galeria machadiana, que reaparecerá como memorialista no próximo e último romance do autor: velho diplomata aposentado, de hábitos discretos e gosto requintado, amante de citações eruditas, muitas vezes interpretam o pensamento do próprio romancista.

As divergências entre os irmãos continuam, muito embora, com a morte de Flora, tenham jurado junto a seu túmulo uma reconciliação perpétua. Continuam a se desentender, agora em plena tribuna, depois que ambos se elegeram deputados, e só se reconciliam ao fim do livro com novo juramento de amizade eterna, este feito junto ao leito da mãe agonizante.

CRITICA
DIÁRIO DO NORDESTE

Dos escritores brasileiros, poucos podem se comparar ao mestre do Realismo, Machado de Assis. Sua prosa recheada de ironia, ceticismo e crítica aos valores burgueses é imortal e universal. Um dos clássicos da chamada primeira fase de Machado, “Helena”, obra-prima lançada pouco antes dos três livros que marcaram o realismo machadiano - “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Quincas Borba”, “Don Casmurro”, “Helena” faz parte da série Clássicos para o Vestibular do Diário do Nordeste, lançada pela editora ABC e indispensável para responder as questões de literatura e português de qualquer vestibular. “A trama do romance é acidentada, constituindo uma exceção na sobriedade dos enredos machadianos”, explica Vera Moraes, mestre em teoria da literatura e professora-assistente do Departamento de Literatura da UFC. “É sua única narrativa longa romanesca e pode, do ponto de vista da surpresa e do suspense, ser considerada uma obra bem realizada”. O livro conta às desventuras da personagem título, uma moça pobre que o destino coloca como falsa herdeira de uma família rica. Ela sustenta o equívoco, mas não consegue tirar proveito da situação e apaixona-se por Estácio, seu suposto irmão. Decorre daí um enredo envolvente. A história passa-se na chácara do Conselheiro Vale, no bairro da Tijuca.
Pode-se resumir o romance “Helena” como um retrato da família patriarcal brasileira. Tanto cultiva a dignidade pessoal e toda sorte de valores espirituais, no que é auxiliado pela Igreja Católica, como a escravidão e as desigualdades sociais, mantidas pela mesma Igreja. A personagem principal é a mulher romântica por excelência e personagem condenada por antecipação, fatalmente fadada a intrometer-se de maneira equivocada na família.
Carioca, o mulato Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, em 1839. Passou sua infância na chácara de sua madrinha onde seus pais eram agregados. Após a morte da irmã e da mãe, o pai casa-se com Maria Inês e muda-se para São Cristóvão. Segundo críticos literários contemporâneos, o mito de que o escritor era gago, tinha sífilis e era extremamente pobre não se sustenta. Como também é inconsistente a tese de que teria aprendido francês com um forneiro de padaria. A rua e a padaria não existiram.
Após 1872, Machado iniciou sua obra romanesca, com “Ressurreição”, “A Mão e a Luva”, “Helena” e “Iaiá Garcia”. Mesmo presos ainda à linguagem que caracteriza o Romantismo, já nesses escritos pode-se encontrar temas constantes em Machado: o interesse de ascensão social a todo custo e a crítica da moral burguesa. Em 1881, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foi publicado, sendo posteriormente considerado o marco zero do Realismo. Vieram então “Quincas Borba” e “Don Casmurro”. Nesses três o tema central é o pessimismo corrosivo e a hipocrisia social. Nesse sentido, Machado criou uma galeria de tipos inesquecíveis, para quem o interesse é a mola mestra do mundo.
Paralelo aos livros, Machado também era um mestre da crônica e do conto. Nos últimos livros, de acordo com a crítica, “Esaú e Jacó” (1904) e “Memorial de Aires” (1908), predomina a sobriedade, o apaziguamento, a inexistência da ironia e do pessimismo e, sobretudo no último, temos de maneira sensível a noção do tempo que passa, a memória proustiana que é despertada pelos pregões da rua, e que ilumina a vida do narrador Aires.

CRÍTICA
PROF. TEOTÔNIO MARQUES FILHO
Ao estudar a obra de Machado de Assis, a crítica divide-a em duas fases bem distintas cujo marco delimitado é o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881. Até essa data, a obra machadiana é marcadamente romântica, onde sobressaem poesia, contos e os romances Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e laiá Garcia (1878).
  A partir de 1881, com a publicação das Memórias, Machado de Assis muda de tal forma, que Lúcia Miguel Pereira, chega a afirmar que “tal obra não podia ter saído de tal homem”. A partir daí, “Machado liberou o demônio interior e começa uma nova aventura”: a análise de caracteres, numa verdadeira dissecação da alma humana. É a segunda fase - fase marcadamente realista, sem a qual “não teríamos Machado de Assis”.
  Além de contos, poesia, teatro, crítica, integram essa fase os romances seguintes, entre os quais está o nosso Esaú e Jacó (1904): Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires (1908), seu último romance.
  Criticamente, Esaú e Jacó não é o melhor romance de Machado de Assis, chegando Massaud Moisés a colocá-lo como “um declínio”, principalmente se comparado aos outros romances da segunda fase: “Esaú e Jacó é simples, mas simples por fora e por dentro”, conclui o crítico.
  Entretanto, vale a pena ler o livro não só pelas virtuosidades do estilo de Machado de Assis como pela história narrada e outras pérolas que o escritor vai jogando ao longo do romance.
  Como já ficou situado, Esaú e Jacó se enquadra no estilo realista, o que procuraremos mostrar a seguir.

  O ESTILO DE ÉPOCA
Cronologicamente, Esaú e Jacó é um livro que surgiu nos fins do Realismo (1904), estando fora da fase áurea do Realismo brasileiro e da ficção machadiana (1880-1900). Isso quer dizer que se torna difícil enquadrar o romance nos moldes realistas, como quer a crítica, ao situá-lo na segunda fase de Machado de Assis. Talvez mais correto seria localizá-lo numa terceira fase... Além do mais, por essa época (1893), surgia um novo estilo - o Simbolismo, que, apesar de ser um movimento essencialmente poético, vai manifestar-se no livro de Machado de Assis.

CRÍTICA
MANUEL BANDEIRA
Poeta modernista e ensaísta e tradutor.Tem a sedução dos pormenores. Uma ironia displicente. Um sorriso tão discreto. E sabe ver sempre as grandes franjas de algodão que remontam os mantos de veludo das virtudes, como escreveu inexcedivelmente em A Igreja do Diabo, nas Histórias Sem Data. Machado de Assis cronista quer capturar o tempo. Sim, "o desejo de capturar o tempo é uma necessidade da alma", como está em Esaú e Jacó. E ele nos diz, naquele seu estilo tão dele, que há homens cujo olho "serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio" (Esaú e Jacó)
Cronista e contista se completam. Há uma perfeita unidade na sua obra. Leiam-se Papeis Avulsos , História sem data, Páginas recolhidas, Várias histórias, Memórias de casa velha, com aquelas notáveis páginas que são O espelho, O alienista, A Igreja do Diabo, Cantiga de Esponsais, Um Homem Célebre, Idéias de Cenário, Missa do Galo, Uns Braços, A Causa Secreta, Surge-se gordo!, Noite de Almirante. E leiam-se as levíssimas crônicas, em que Machado se condensa, com a sua volúpia, a sua agilidade, o seu recato. O despudor e o pudor da inteligência.
Trata com leveza os assuntos graves. E com gravidade os assuntos leves. A teoria da alma exterior se insinua no cronista, a da equivalência das janelas, a Teoria do Medalhão, tudo aqui está, maliciosamente, gracejantemente, entre um bocejo e um piparote, com a leveza absoluta da imponderabilidade total.
E mistura tudo. E faz a sua salada. Muito à maneira de Montaigne, um falar simples e espontâneo, tal no papel como na boca, suculento e nervoso. Breve e denso, longe de afetação a artifício, desordenado, descosido e audaz. Um humor ávido de coisas desconhecidas, de coisas novas.

Um mozartiniano. A graça. A desenvoltura. Um não sei quê de trêfego. Uma vivacidade quase excessiva. Há o divertimento e há o delírio. As desconexões desaparecem. Tudo se aproxima. "Unidade impalpável e obscura."

Podemos dizer que Machado de Assis é a mais alta expressão do humorista brasileiro. A mais autêntica. Ele e Nabuco representam as expressões mais nítidas desse humanismo universalista brasileiro, que tem no Dom Casmurro e na Minha formação – ambos de 1900 – as suas imagens mais puras. Graça Aranha os aproximou na sua página mais bela, o prefácio enternecido e objetivo à Correspondência entre Machado e Nabuco, que ele conhecera tão bem.

O paralelo entre os dois amigos – um mais moço dez anos que o outro – nos lança em cheio naquela atmosfera de aticismo do Segundo Reinado, de que eles foram projeções aladas na República dos Conselheiros.
Escreve com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, como ele próprio disse nas Memórias Póstumas. Elíptico e reticente.

Machado de Assis:
Em seus contos, crônicas e romances, certos temas aparecem com bastante freqüência:
1-  a relatividade dos conceitos morais
2-  o tédio
3-  a transitoriedade da vida
4-  a loucura (como o Alienista)
5-  a vaidade
6-  a inconstância do ser humano
7-  a predominância do mal sobre o bem
8-  o adultério (tema suposto em Dom Casmurro)
9-  a contradição entre a aparência e a essência
10-  a inconstância do ser humano.

ANALISE DA OBRA
O texto literário realiza-se como um espaço no qual se cruzam diversas linguagens, variadas vozes, diferentes discursos. O procedimento pelo qual se estabelece esse múltiplo diálogo é a intertextualidade. Ora, as vozes que se cruzam nesse espaço intertextual são vozes diferentes e às vezes opostas - caracterizando-se portanto o fenômeno da polifonia.
O romance Esaú e Jacó é rico nesses dois procedimentos. Sirva de modelo o capítulo I. Natividade e sua irmã Perpétua sobem o Morro do Castelo para consultar Bárbara, a cabocla vidente. Essa motivação e a cena da entrevista com a adivinha caracterizam o discurso mítico, a esfera da religiosidade e da crendice. Nesse caso, relacionado a um contexto popular. Mas o narrador faz referência a Ésquilo, considerado o criador da tragédia grega, a sua peça As eumênides e à personagem Pítia, sacerdotisa do templo de Apolo que pronunciava oráculos. Temos aqui novamente o discurso mítico, só que agora no contexto da antiguidade clássica, ambientado na sofisticada Grécia.
A referência ao teatro, por sua vez, remete a uma outra linguagem, e temos então a voz narrativa do romance dialogando com a voz da personagem teatral.
Observe-se, ainda, que durante a consulta, lá fora o pai da advinha tocava viola e cantarolava "uma cantiga do sertão do Norte" - portanto, outra voz / outro discurso se cruzando com os demais: a música e a poesia sertaneja.
E assim vamos encontrar ao longo do romance inúmeras referências, alusões, citações (inclusive em francês e latim), situações... - relacionadas com a Bíblia, com personagens famosos do mundo da política, da literatura, do teatro, da filosofia, da mitologia.
É bom salientar que um dos procedimentos intertextuais mais curiosos é o fato de, com certa freqüência, o narrador transcreve trechos do romance Memorial de Aires - uma espécie de diário do diplomata aposentado, e que ainda não havia sido publicado!

CONCLUSÃO

A obra Esaú e Jacó de Machado de Assis foi uma obra significativa para a leitura e importante por trazer traços de uma historia passada a muito tempo atrás, mas que transformada e trazida para os novos tempos mostra que outras historias ou romances passados podem servir como exemplo e modelo para os nossos dias.
Esaú e Jacó ou Pedro e Paulo mostram as divergência que acontecem entre irmãos, famílias e na política, como Machado de Assis utilizou a obra em relação a Esaú e Jacó duas nações divididas assim Pedro e Paulo por dois partidos distintos e opostos um ao outro.
No romance Esaú e Jacó percebe-se que podemos ter pontos significativos de passado e trazidos para a atualidade.

Resenha

Em Esaú e Jacó machado de Assis conta a historia de dois meninos gêmeos que tem uma inimizade, desde o útero e sem motivo aparente, parecido com a historia da Bíblia em que Rebeca privilegia o filho Jacó em detrimento ao outro filho Esaú, o qual segundo o autor e que deu origem ao nome do livro.
O romance da ambigüidade, narrada em 3ª pessoa, pelo Conselheiro Aires, o qual é autor e personagem do livro, ele mostra durante toda a narrativa, os dois lados da verdade tanto de Pedro como a de Paulo.
Os dois Personagens à medida que vão crescendo, começam a definir seus temperamentos, rivais em tudo. Paulo é impulsivo progressista e já na idade adulta se torna Republicano, Pedro é dissimulado e conservador e na idade adulta se torna Monarquista. Não podemos deixar de lembrar que esta historia acontece em plena Proclamação da republica.
Até no amor os gêmeos são competitivos, os dois gostam da mesma mulher. Flora moça indecisa que não sabe com quem quer ficar, e não consegue se decidir por nem um dos dois, a qual o conselheiro Aires descreve como “inexplicável”.
Neste livro o autor faz uma critica, as divergências políticas da época, e que dois irmãos, gêmeos, filhos da mesma mãe “Brasil”, briguem tanto por coisas bobas e sem explicação.
As brigas e as diferenças de opiniões dos dois irmãos seguem embora tenha jurado junto ao tumulo de sua mulher amada (Flora), uma reconciliação eterna, mas eles continuam a se desentender, eleitos deputados um por cada Partidos, agora os seus desentendimentos partem para as tribunas, acabam se reconciliam novamente no leito agonizante de sua mãe, o que não dura muito tempo. E segue suas divergências até o final do livro.
O autor do livro deixa bem claro o seu estilo contemporânea, o qual é um dos primeiros escritores a escreve um romance em terceira pessoa, mostrando as mazelas da sociedade, e da política do Brasil da época da Proclamação da Republica, o autor não fez questão de explicar as coisas, ele descreva as coisas daquele modo porque são assim, e não tem explicação, por isso não as tenta explicar.

Resenha: O alienista, de Machado de Assis


ISBN-13: 9788502065673
ISBN-10: 850206567X
Ano: 2007 / Páginas: 108
Idioma: português
Editora: Saraiva

As crônicas de Itaguaí, contam que viveu ali em tempos remotos um certo médico o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza do lugar e o maior dos médicos do Brasil, Portugal e Espanha. Com o fim de estudar a loucura, ele trancafia no asilo que construíra e dera o nome de Casa Verde, um quinto da população da vila. Para ele o normal seria algo homogêneo repetido ao infinito, qualquer pessoa com um gesto ou pensamento que fugisse a rotina era objeto de seus estudos. A população aterrorizada se revolta, e aí outros tantos passam a morar no asilo. Mas, Simão Bacamarte tão atento às estatísticas, lembra que a norma está sempre com a maioria, e que é esta afinal quem tem razão. Refaz a teoria, solta os recolhidos e sai ao encalço daqueles poucos que, possuíam coerência moral. Em pouco tempo ele cura a todos, ninguém mais possuía nobres sentimos morais. Só um. Ele o próprio alienista era o único digno de ser trancafiado na Casa

RESENHA

“O cientificismo é uma religião tanto quanto as que essa crença pretende combater.” (ROUDINESCOU, 2000, p. 60)


O livro “O Alienista” de Machado de Assis conta a história de um médico chamado Simão Bacamarte, amante da ciência que vive na cidade de Itaguaí no interior. Simão era casado com D. Evarista, casamento que, segundo ele, foi feito porque D. Evarista, apesar de não ser bonita, tinha as características que ele considerava necessárias para produzir bons filhos, mas eles não o tiveram. Passaram-se um ano, depois outro e depois outro, mas os filhos não vieram.

Simão Bacamarte, então, começa a estudar as questões dos males psíquicos. Consegue um apoio do governo para criar uma casa que abrigasse os loucos da cidade. Esta casa, por ter janelas verdes, é chamada de casa verde. Simão Bacamarte passa muito tempo estudando seus loucos e a esposa começa a se preocupar. Mas Simão a manda ao Rio de Janeiro para fazer compras e se distrair.

A questão é que, enquanto D. Evarista está fora, Simão Bacamarte passa a considerar, baseado em seus estudos, que várias pessoas são doentes ou loucos. A casa verde fica lotada. Simão Bocamante começa a ser visto com desconfiança pela população. A esperança deles é que quando D. Evarista voltasse da sua viagem pudesse dar um jeito na situação e acalmar o alienista. Assim, deu-se uma grande festa em sua volta, mas não atendeu ao desejo da população, pois D. Evarista apenas se preocupava com seus vestidos e objetos que trouxe do Rio. Tanto que, em pouco tempo, até mesmo ela se encontrava na Casa Verde. A situação chegou a tal ponto, que se instaurou em Itaguaí uma revolta chama de a revolução dos canjicas. Eles foram à rua pedindo a morte do alienista, que as pessoas fossem libertadas e a Casa Verde destruída. Foram liderados pelo açougueiro, mas a revolução mudou de rumo e terminou com o açougueiro no poder.

Porém, quando ele assume o comando, não cumpre com os ideais da revolução dos canjicas e firma um acordo com o alienista, contrariando todos os desejos da população. Mas, depois, ele também é destituído do cargo e volta à função de açougueiro. Depois disto, o alienista toma uma atitude considerada inesperada. Ele segue até o prédio da prefeitura e diz que vai soltar todos os que residem na Casa Verde e destituir-lhes os valores pagos pelas estadias. Ele alega que havia errado que os loucos não eram pessoas que tinham comportamentos estranho, mas sim quem tinha uma postura reta e, assim, eram eles que deveriam ir para a Casa Verde.

A reviravolta da história do alienista teve o mesmo efeito que a situação anterior. Logo muitos estavam enclausurados na casa verde por serem “ajuizados demais”. O que não foi muito complicado de se consertar. O alienista deixava eles em situações que faziam com que algum desequilíbrio fosse desencadeado e, então, eram considerados curados.
Ao final da história, Simão Bacamarte tem um insight e ele mesmo é internado na Casa Verde. Dizia-se ajuizado, um cara de bom senso, chegou até a perguntar aos conhecidos e amigos seus defeitos. Estes, já esquecidos do seu ato de internar praticamente a cidade inteira na Casa verde, disseram-lhe que não possuía defeitos. Assim, morreu o alienista: trancado na Casa Verde e se dedicando ao estudo de sua própria cura.

A Psicologia é, muitas vezes, definida como uma ciência diferente das demais. Há quem alegue que isto não está certo, que ela é igual a todas as outras e há quem alegue que nem ciência ela é, mas, se ficarmos do lado de que ela é uma ciência, é muito mais preferível que defendamos que seja uma ciência diferente. A Psicologia, quando enquadrada nos moldes de quem define, normatiza e cataloga, perde por completo seu aspecto mais essencial, o de que é uma ciência humana, porque lida com humanos. Skinner (1981) defende que o homem é um objeto como outro qualquer, que a ciência pode estuda-lo como a qualquer átomo ou estrutura. Posição ingênua essa. Ingênua porque não importa como abordamos o homem, sempre parece nos escapar algo, algo que quando parecemos estar perto o suficiente para encará-lo face a face, foge. Sempre há um aspecto para ser visto, uma palavra para ser ouvida e uma vida para ser sentida. Este algo, para Freud (1915) é o inconsciente. Este por si só é inabordável, fugitivo, mas fundamental para entender a cisão que parece acompanhar o homem do dia do seu nascimento ao dia de sua morte.

Todas as tentativas de estabelecer padrões, entender os determinantes ou enclausurar a loucura humana em uma categoria que implica necessariamente em um padrão de ser humano, terminaria, ou igual ou parecido, a história de Machado de Assis. Por que, afinal, o que é ser humano? Como ser homem? Quem pode responder a isso sem nem mesmo quem o é sabe? Estamos, a cada momento, nos criando e recriando. Cada qual, a sua maneira, cria sua categoria de louco ou não louco, normal ou patológico. A Psicologia, mais especificadamente a Psicanálise, surge para ouvir quando essas definições não são suficientes, para tentar captar o vulto do inconsciente que é deixando quando este, que detém as verdades, insiste em nos deixar com as mentiras.

Resenha: Memória Póstuma de Brás Cubas, de Machado de Assis

É após a morte que Brás Cubas decide narrar suas memórias. Nesta condição, nada pode suavizar seu ponto de vista irônico e mordaz sobre uma sociedade em que as instituições se baseiam na hipocrisia. O casamento, o adultério, os comportamentos individuais e sociais não escapam à sua visão aguda e implacável, nesta obra fundamental de Machado de Assis.

ISBN-13: 9788572322942
ISBN-10: 8572322949
Ano: 1999 / Páginas: 224
Idioma: português
Editora: Principis

RESENHA

MACHADO, Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ed, 2009. Brás Cubas é um defunto autor que resolve escrever sua história depois de morto, contando de forma irônica suas regalias e privilégios da elite de sua época.
A obra é dividida em mais de cem capítulos, não obedecendo a mesma regra dos outros romances, pois a mesma não apresenta (início, meio e fim) sem seguir uma ordem temporal, a sua morte é contada antes do seu nascimento. Narração em primeira pessoa Brás Cubas é o narrador e ao mesmo tempo observador e protagonista de sua história.

O livro nos surpreende com um defunto autor que resolve depois de morto escrever sobre sua vida. Ele começa dedicando suas memórias ao primeiro verme que roeu seu cadáver. O autor fala de sua infância e seus privilégios patrocinados pelos seus pais. Em sua juventude teve um caso com Marcela, uma prostituta de luxo no qual Brás Cubas fala que lhe amou por quinze meses e onze contos de réis. Apaixonado por Marcela Brás Cubas gasta o dinheiro de seu pai lhe dando presentes caros. Seu pai tentando acabar com essa situação resolve mandar o filho para Coimbra na Europa para estudar.

Depois de se formar Brás Cubas volta ao Brasil e conhece Virgília seu segundo amor. Virgília era parente de um membro da corte, porém desta vez seu pai apoia o namoro dos dois com interesse na carreira política de Brás Cubas. Ele não se casa com Virgília, ela se casa com Lobo Neves e os dois se tornam amantes. Os personagens da obra são: Brás Cubas, filho abastardo da família Cubas, narrador da história; Virgília o grande amor de Brás Cubas; Marcela que foi seu amor na adolescência; Eugênia outra namorada do autor a qual não foi levada a sério; Nhã Lo Ló pretendente de Brás Cubas mas morre aos 19 anos de febre amarela; Lobo Neves marido de Virgília e político; Quincas Borba seu amigo de infância; Dona Plácida representante da classe média e Prudêncio que foi escravo de Brás Cubas na infância.

Esse romance é caracterizado pelas não realizações de Brás Cubas, nascido em família rica da classe burguesa, mas teve poucas realizações. Brás Cubas não se casa, não consegue concluir o empasto e não tem filhos. Mas o diferencial da obra é exatamente às suas não realizações.

Esta obra machadiana revolucionou o romance brasileiro, escrita em 1880 faz parte do período literário do Realismo. O Realismo é uma reação contra o Romantismo, novas formas de pensamento, é a crítica do homem. A obra caracteriza bem este período literário por conter claramente todos os aspectos necessários do estilo de época no qual o romance foi escrito. Uma obra riquíssima de extrema importância na composição da literatura brasileira.

Memórias Póstumas de Brás Cubas recomenda-se sua leitura para jovens que tenham concluído o ensino fundamental. A obra é uma narrativa lenta e de linguagem culta e direta. Sendo necessária conhecer o objetivo do autor e as características do estilo da época para o seu total entendimento. Por conter palavras que não estão em nosso cotidiano, palavras que não estamos mais acostumados a ouvir, sua leitura se torna um pouco mais complicada. Por isso a obra é indicada para jovens que já estejam cursando o ensino médio ou jovens que estejam acostumado com esse tipo de leitura.

Memórias Póstumas de Brás Cubas foi escrito por Joaquim Maria Machado de Assis, que nasceu no dia 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Foi um dos principais autores do Realismo brasileiro, escreveu diversas obras que fazem parte da nossa literatura dentre elas estão: “A mão e a Luva”, “Helena”, ”Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e etc. além das obras compôs poemas, contos e peças teatrais. Considerado um dos maiores gênios da história da literatura. Machado de Assis morreu no dia 29 de setembro de 1908.

Resenha: Quincas Borba, de Machado de Assis


ISBN-13: 9788594318855
ISBN-10: 8594318855
Ano: 2019 / Páginas: 240
Idioma: português
Editora: Principis

O romance trata da ascensão social de Rubião que, após receber toda a herança do filósofo louco Quincas Borba - criador da filosofia "Humanitas" - muda-se para a Corte no final do século XlX. Numa viagem de trem rumo à capital, Rubião conhece o casal Sofia e Cristiano Palha, que percebe estar diante de um ingênuo - e agora rico - provinciano: impressão que também é compartilhada por todos os que estão ao seu redor. As desventuras de Rubião e sua relação com os amigos parasitários dão a tônica da obra, que critica o convívio social e os valores morais e éticos vigentes na época.

Resenha Crítica:
Quincas Borba, Machado de Assis

Quincas Borba foi escrito em 1891, é um livro de Romance que tem um foco narrativo em terceira pessoa é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens e tem como tema a loucura despertada através de um processo que ativa fatores ocultos e ela é composta de inicio, meio e fim bem delineados. O narrador se distancia para observar os personagens, contudo em muitas ocasiões se aproxima para fazer zombaria do leitor.

O ambiente em que o livro é escrito inicia e termina em Barbacena, Minas Gerais. Sendo que todos os fatos intermediários ocorrem na cidade do Rio de Janeiro. A sociedade sofre alteração conforme o ambiente. Em Barbacena a sociedade era uma sociedade pacata, em Rio de Janeiro estavam os maiores, a elite, e lá havia mais uma variedade de pessoas. A Corte, durante o segundo reinado, era a Capital do Rio de Janeiro, cuja a moda era ditada pela tendência Francesa.

O enredo é organizado, mas há episódios que destacam apenas um assunto, embora tenham relação entre si. O clímax se inicia quando Rubião se declara a Sofia e é rejeitado, daí em diante começam os “parasitas” a rodear seus bens. Quando Carlos Maria se introduz no contexto, isso faz com que Rubião se abale, ele começa a desejar a amada com enormes ciúmes do galanteador que a rodeava, se associa com Camacho e começa a perder dinheiro. O desfecho mostra Rubião iludido e explorado, ao fim, com sua cabeça totalmente confusa, ele desaparece e aparece em Barbacena totalmente desamparado. Recolhido por uma dona, ele falece na casa desta.

Nesta obra o mais importante é o caráter dos personagens. Eles não estão presos à trama da narrativa. Movimentam-se em um ambiente mais de reflexões do que de ação. Os personagens ficam sempre passivos, e esta força determina-lhes as ações.
O personagem principal é Rubião protagonista da história, é indeciso, volúvel, ambicioso, megalomaníaco, obsessivo, conflituoso, ciumento, ingênuo, herda uma fortuna de um amigo, Quincas Borba, em favor de cuidar de seu cão.

Joaquim Borba dos Santos conhecido como Quincas Borba, Filósofo doido, esquisito, com freqüente alteração de humor, extravagante, bom, alegre, lutava contra o pessimismo filósofo, tinha um cachorro com o mesmo apelido “Quincas Borba”. Ele herdara de um tio uma fortuna, que mais adiante é passada a Rubião.
Sofia é vaidosa, orgulhosa, dominadora, fria, ambiciosa, caráter ambivalente, frívola, sensual e dissimulada. Mulher de Cristiano se une com o marido a fim de explorar Rubião. È por ela quem Rubião se encanta e acaba sendo iludido

Cristiano de Almeida Palha é egocêntrico, bajulador, interesseiro, parasita, desonesto, astuto, capitalista e infiel amigo de Rubião, quer explorar as riquezas herdadas de Rubião. Maria Benedita é prima de Sofia que acaba se casando com Carlos Maria, homem por quem Sofia se encanta.

Maria da Piedade é irmã viúva de Rubião, na qual chama a atenção de Joaquim Borba dos Santos. Recusa a declaração do mesmo e acaba falecendo.
Carlos Maria é chamado de rival por Rubião, ele conquista o coração de Sofia, com seu típico modo galanteador. Ao final das contas, Carlos Maria casa-se com Maria Benedita, prima de Sofia. Camacho é advogado e falso Jornalista, aproveita a ingenuidade de Rubião para levar a assuntos políticos.

Quincas Borba, o cachorro: de meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de preto, era cachorro de Joaquim Borba de Santos, também Quincas Borba. O dono dera ao cachorro esse nome, em razão de quê se ele falecesse, o cão estaria presente para representar o dono, com o mesmo nome.

A linguagem do livro é pomposa e enriquecida com constante uso do vocabulário latino. É um livro realista, pois mostra a realidade de uma sociedade onde cada um quer ser melhor que o outro, ter mais do que o outro, retratando o homem em sua sociedade criticando seus comportamentos. A obra se concentra na filosofia de Quincas Borba “Ao vencedor, as batatas”. Que pode ser interpretada, “somente os mais fortes sobreviverão”, e Rubião, ingênuo e “fraco”, estava num meio social diferente do que ele vivia, com interesses capitalistas, os mais “fortes” tiraram proveito de sua fraqueza.

A análise psicológica dos personagens feitas por Machado de Assis é minuciosa. Nenhuma palavra, nenhum adjetivo é empregado por acaso. Ele descreve os detalhes sem ser cansativo. Esse livro expõe a teoria do filósofo Quincas Borba (Ao vencedor, as batatas!), a fragilidade psicológica de Rubião, seu relacionamento com Sofia e Cristiano Palha, enfim, a trajetória de Rubião desde que recebeu a herança do seu amigo filósofo - que lhe deixou entre as riquezas seu cão homônimo. Um bom livro, um clássico da literatura brasileira, na minha há opinião valeu a pena, pois a história relata como as pessoas abusam uma das outras sem piedade, ainda mais quando se trata de dinheiro.

Resenha: Dom Casmurro, de Machado de Assis

ISBN-13: 9788508040810
ISBN-10: 8508040814
Ano: 1997 / Páginas: 223
Idioma: português
Editora: Ática

Machado de Assis (1839-1908), escrevendo Dom Casmurro, produziu um dos maiores livros da literatura universal. Mas criando Capitu, a espantosa menina de "olhos oblíquos e dissimulados", de "olhos de ressaca", Machado nos legou um incrível mistério, um mistério até hoje indecifrado. Há quase cem anos os estudiosos e especialistas o esmiuçam, o analisam sob todos os aspectos. Em vão. Embora o autor se tenha dado ao trabalho de distribuir pelo caminho todas as pistas para quem quisesse decifrar o enigma, ninguém ainda o desvendou. A alma de Capitu é, na verdade, um labirinto sem saída, um labirinto que Machado também já explorara em personagens como Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas) e Sofia (Quincas Borba), personagens construídas a partir da ambigüidade psicológica, como Jorge Luis Borges gostaria de ter inventado.


RESENHA

A obra de Machado de Assis cujo nome é Dom Casmurro fala sobre um homem, Bento, que faz um livro contando sobre a sua vida, especificamente amorosa, onde fala de forma psicológica fazendo uma retrospectiva ao passado desde a infância até cerca de seus 54 anos de idade.

A história de Bento de Albuquerque santiago ou como é mais conhecido como Bentinho, mora na rua de matacavalos no Rio de Janeiro toda a sua infância, seu pai faleceu quando ainda era muito jovem e vive com sua mãe Dona Maria da Glória Fernandes Santiago, seu tio Cosme e sua tia Justina e o agregado José Dias, todos os irmãos eram viúvos, tanto sua mãe, como seu tio, como sua tia.

Bentinho sempre teve uma amizade muito forte com Capitolina, mais conhecida como Capitu e mora com seus pais o senhor pádua e sua mãe Fortunata; Bentinho e Capitu são amigos de infância e quando o livro se inicia eles possuem 15 e 14 anos respectivamente e começa a florescer entre essa amizade muito forte um romance, porém esse romance era impossível aos olhos da família de Bentinho, pois ao nascer sua mãe havia feito uma promessa que se o seu filho nascesse com saúde ele iria servir à Deus, como padre, pois a mãe de Bentinho já havia perdido seu primeiro filho na gravidez.

Todos sabiam da impossibilidade de Bentinho se relacionar com alguma garota e ao ver seu filho se aproximar de Capitu D. Maria se apressa para leva-lo ao seminário. Bentinho e Capitu começam a se apaixonar até que um certo dia enquanto Bentinho observava os olhos de ressaca e oblíquos de Capitu acabam se beijando e logo depois a mãe de Capitu enta no quarto em que estavam, porém Capitu tinha uma grande habilidade de desfarçar o que estava ocorrendo e agiu naturalmente a frente de sua mãe sendo que enquanto isso Bentinho não conseguia nem se mover de tão nervoso diante daquela situação.

Após o primeiro beijo entre os dois o amor entre eles floresceu e Bentinho se decidiu, mais do que nunca que definitivamente não seria padre, primeirou procurou ajuda de Capitu e depois de José Dias dizendo que gostaria de ser um advogado e que estudaria na Europa, o que era o ponto fraco de José Dias, pois amava as leis e também a Europa, através desse pedido José Dias concorda em tentar ajuda Bentinho, após José Dias, Bentinho procura sua tia Justina que também concorda em lhe ajudar. Porém Bentinho não escuta os adultos que recorre e acaba falando pra sua mãe que não deseja ir para o seminário e ela logo começa a discutir com ele e fala que ele vai sim e ponto final.

Bentinho vai para o seminário e lá conhece Escobar, que acaba virando o seu melhor amigo e depois de um tempo no seminário Bentinho com a ajuda do padre Carlos que diz para sua mãe que se colocar um órfão no lugar de Bentinho para se tornar padre não ocorrerá problema algum, e é o que acontece e Bentinho vai estudar direito na Europa após isso e com 22 anos volta para o Rio de Janeiro, porém, antes de ir, ele e Capitu fazem uma promessa que eles terão que se guardar um para o outro e se casarem. E a promessa é cumprida quando Bentinho volta ao Rio e seu amigo Escobar se casa com Sancha que era amiga de infância de Capitu.

Os dois casais eram muito unidos por suas amizades serem muito fortes e Escobar e Sancha têm seu primeiro filho primeiro que Capitu e Bentinho, depois de um tempo o filho de Capitu e Bentinho nasce, recebendo o primeiro nome de Escobar, cujo era Ezequiel e a amizade entre os casais só aumenta, Escobar vivia na casa de Bentinho e muitas vezes foi pego sozinho em casa com Capitu, uma vez Bentinho foi à uma peça de teatro e voltou antes do termino da peça e quando chegou em casa encontrou Escobar na porta de sua casa e Capitu não tinha ido por dizer que estava doente e ela mesmo afirmou para Bentinho não estar doente, que não queria era ir à peça.

Um tempo depois seu amigo Escobar morre se aventurando no mar forte e no velório de seu amigo Bentinho desconvia de que sua esposa estava o traíndo esse tempo todo, e começa a perceber fatores que comprovam essa traição de capitu, pois ele já havia encontrado Escobar nervoso em sua casa quando chegara e encontrara os dois a sós e Capitu estava a agir naturalmente, igual quando jovem quando algum adulto quase pegava ela aos beijos com Bentinho; Seu filho, Ezequiel era a cara de Escobar, era idêntico e também Escobar vivia na casa de Bentinho sozinho com Capitu. Dentre esses fatores Bentinho começou a acusar Capitu de estar o traíndo com o falecido Escobar, com isso ele tenta matar "seu" filho invenenando sua bebida, porém não possui tamanha coragem de fazer isto.
Bentinho, Capitu e Ezequiel vão para Suíça, para poderem se distanciar um pouco destes fatos e Bentinho se separa de Capitu e volta ao Brasil. Ele recebe diversas cartas de Capitu, carinhosas e tudo mais, porém não responde nenhuma e alguns anos depois seu filho Ezequiel vai visitá-lo e conta que Capitu morreu na Suíça e que estava indo viajar para a Ásia estudar as civilizações antigas e segue sua viagem, um tempo depois Bentinho descobre que seu filho morreu de febre tifóide em fora enterrado em Jerusalém.
Bentinho acabou sozinho, não se casou com nenhuma outra mulher, teve muitas aventuras amorosas, mas nenhuma conseguiu tomar o lugar da sua única amada, a senhorita Capitu, de olhos oblíquos, de ressaca.
O livro Dom Casmurro, conseguiu me surpreender, não espera que fosse um livro tão bom, eu tinha um certo preconceito por ser um livro antigo e tudo mais, porém quando comecei a ler não consegui mais parar, a história me comoveu muito e a minha crítica a história é que Capitu traía sim Bentinho, pois apesar de ela sem dúvida amar ele, ela conseguia se demonstrar feliz, mesmo estando muito triste por dentro, conseguia desfarçar muito bem as situações complicadas, era Bentinho quem sempre corria atrás de Capitu, ela nunca o procurava, Escobar vivia na casa de Bentinho, sendo que quase todas as vezes ele era encontrado sozinho com Capitu, o dia do teatro foi crucial para perceber que eles planejavam fazer algo antes de Bentinho chegar em casa, também o seu filho Ezequiel ser uma cópia cuspida de Escobar. Todos esses fatores influenciam para eu pensar desta maneira.

CRÍTICA/ANÁLISE: Helena, Machado de Assis


Todo este material produzido apresenta e relaciona múltiplos ramos ligados à obra Helena. Dentre estas ramificações, encontram-se: o contexto histórico (Romantismo), biografia do autor (Machado de Assis) e os elementos da narrativa, incluindo uma sucinta narração. Trata-se de uma atividade escolar disciplinar – correspondente à Língua Portuguesa, abrangente da Literatura -, contextualizada e regularizada, com o objetivo de repassar, não só simples dados superficiais do tema abordado, mas, sim, informações com mais extensão, influência e profusão.

2. CONTEXTO HISTÓRICO DA OBRA

ROMANTISMO (EUROPA)

No século XVIII, há uma renovação nas formas de expressão, na escolha dos temas e na busca de modelos e fontes de inspiração, o que se denomina Pré-Romantismo e tem sua origem na Alemanha e Inglaterra. Tal renovação assume grandes proporções no século XIX. Adquirindo liberdade formal e sentimento de contemporaneidade, resultando no romantismo.
O Romantismo surgiu na Europa em uma época em que o ambiente intelectual era de grande rebeldia. Na política, caíam sistemas de governo despóticos e surgia o liberalismo político (não confundir com o liberalismo econômico do Século XX). No campo social imperava o inconformismo. No campo artístico, o repúdio às regras. A Revolução Francesa de 1789 é o clímax desse século de oposição.
Gerado sob o impacto da Revolução Industrial  e da Revolução Francesa, de fins do século XVIII, o romantismo surgiu no início do século XIX, na Alemanha, França  e Inglaterra. Na ocasião, a sociedade se reorganizava e as classes sociais criavam ou redefiniam suas visões da existência e do mundo. Com o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais: a burguesia, com riquezas provenientes do comércio, e os operários das indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual a ideologia defendida por seus autores.
O Romantismo, iniciado como reação ao Neoclassicismo, exaltava a beleza ideal, a tradição e o nacionalismo e ao mesmo tempo era profundamente anti-absolutista. Da imensa produção da época, destacam-se Lord Byron, Percy Shelley, Jane Austen, Walter Scott, Johann Wolfgang Goethe, Friedrich Hegel, John Keats, Victor Hugo, Alfred de Musset, François-René de Chateaubriand, Alexandre Dumas Filho, Giacomo Leopardi, Alessandro Manzoni, Nikolai Gogol, etc.
Em Portugal, Almeida Garrett inaugurou o movimento com o poema Camões, em 1825. O s primeiros anos do Romantismo em Portugal coincidem com as lutas civis entre os liberais e conservadores, acirradas por uma guerra que durou dois anos.
Mais do que uma escola literária, o Romantismo foi uma expressão do espírito da época. A solidão, a noite, a morte, o gosto pelo fantástico, a exaltação da natureza e o espírito idealista foram mais que tema, foram modos de se expressar a consciência de que a realidade era intolerável. As formas fixas do Neoclassicismo foram rejeitadas, em prol da liberdade individual da criação. Dois pontos de referência dos românticos foram a Grécia e a Idade Média, que enxergava nelas, respectivamente, o equilíbrio perdido e uma era de sonhos.

ROMANTISMO (BRASIL ‘1836-1881’)

O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de poemas "Suspiros poéticos e saudades", de Domingos José Gonçalves de Magalhães, em 1836, e durou 45 anos. Nos primórdios dessa fase literária, 1833, um grupo de jovens estudantes brasileiros em Paris, sob a orientação de Gonçalves Magalhães e de Manuel de Araújo Porto Alegre, inicia um processo de renovação das letras, influenciados por Almeida Garret e pela leitura dos românticos franceses. Em 1836, ainda em Paris o mesmo grupo de brasileiros funda a Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes, cujos dois primeiros números traziam como epígrafe: "Tudo pelo Brasil e para o Brasil".
Brasil do início do século XIX foi palco de várias transformações que contribuíram de forma decisiva para a formação de uma verdadeira identidade nacional e, consequentemente, uma literatura com características mais brasileiras.
A chegada da família real portuguesa em 1808 já era um indício de que aquele seria um século de profundas mudanças na estrutura política, econômica e cultural do país. D. João VI, através de medidas importantes visando ao desenvolvimento nacional, abriu os portos para comércio com o mundo, o que significava a fácil entrada de novas tendências culturais, principalmente europeias. Além disso, criou novas escolas, bibliotecas e museus, e deu incentivo à tipografia, que implicou a impressão de livros, até então feitos em Portugal, e a edição de jornais.
O eixo político-econômico-cultural do Brasil sai então de Minas Gerais para ganhar as portas da realeza no Rio de Janeiro, onde nasce um público consistente de leitores principalmente formado de mulheres e jovens estudantes, provenientes da classe burguesa em ascensão.
Enquanto isso, o restante da nação, ainda movido pela estrutura agrária e mão de obra escrava, assiste à transição do Colonialismo ao Império. Era a tão sonhada independência política das correntes de Portugal, numa busca pela liberdade e pelo patriotismo, que iria acolher de braços abertos os ideais românticos.
De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a Guerra do Paraguai; a dissolução da Assembleia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abdicação. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo. 

ALGUNS ESCRITORES ROMÂNTICOS BRASILEIROS
* Gonçalves Dias: principal poeta romântico e uns dos melhores da língua portuguesa, nacionalista, autor da famosa Canção do Exílio, da nem tão famosa I-Juca-Pirama e de muitos outros poemas.
* José de Alencar: principal romancista romântico. Romances urbanos: Lucíola; A Viuvinha; Cinco Minutos; Senhora. Romances regionalistas: O Gaúcho, O Sertanejo, O Tronco do Ipê. Romances históricos: A Guerra dos Mascates; As Minas de Prata. Romances indianistas: O Guarani, Iracema e o Ubirajara.
* Machado de Assis: estilo único, dotado de fase romântica e realista. Em sua fase romântica destacam-se "A Mão e a Luva" e "Helena". Ainda em tal fase realizava análise psicológica e crítica social, mostrando-se atípico dentre os demais românticos.

2. BIOGRAFIA DE MACHADO DE ASSIS

Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1899.
Passagem de ano. Virada de século.

"Quanto ao século, os médicos que estavam presentes ao parto reconhecem que este é difícil, crendo uns que o que agora aparece é a cabeça do XX, outros que são os pés dos XIX. Eu sou pela cabeça, como sabe."

Quem escreveu isso foi um mulato que, naquela passagem de século, tinha 61 anos incompletos. Nunca fora bonito e consta que era meio gago. Nessa altura da vida, uma das figuras mais ilustres da literatura brasileira daquele e de todos os tempos: Joaquim Maria Machado de Assis, ou simplesmente Machado de Assis, como já era conhecido em 1899.
A vida do sexagenário Machado transcorria em normalidade. Não era rico, mas vivia confortavelmente. Trabalhava bastante, era respeitado e famoso. E, sobretudo, muito amado por sua Carolina, com se casara 30 anos antes e a quem confessara um dia: "eu vivo e morro por ti".
No entanto, nem sempre tinha sido assim. Criança pobre, neto de escravos alforriados, nascido no morro, já confessava, desde cedo, sentir "umas coisas estranhas": talvez as primeiras manifestações da epilepsia. Apesar dessa limitação, o menino Joaquim Maria costumava emaranhar-se pelas ruas da cidade onde nasceu, escreveu, amou e morreu: o Rio de Janeiro.
A arquitetura das "chácaras" dos ricos contrastava com as humildes casas da gente comum. Foi numa dessas casas, no morro do Livramento, que o pintor de paredes Francisco de Assis e a lavadeira portuguesa Maria Leopoldina da Câmara Machado viram nascer o menino Joaquim Maria, um pouco antes da segunda metade do século. Mais precisamente em 21 de junho de 1839.
Nos primeiros anos, com certeza, o menino frequentou a Chácara do Livramento, sob a proteção da madrinha, senhora muito rica, dona da propriedade, com quem provavelmente aprendeu um pouco de francês.
Aos 6 anos, presenciou a morte da única irmã. Quatro anos depois, morre-lhe a mãe. Em 1854 o pai casou-se com Maria Inês. Aos 14 anos, já podemos encontrar o menino Joaquim Maria ajudando a madrasta a vender doces para sustentar a casa, tarefa difícil depois da morte do pai. Morava em São Cristovão nesta época. Se frequentou escolas regularmente, não se sabe. O que se sabe é que nessa altura já sabia escrever.
É certo também que o adolescente não pouparia esforços para sair do anonimato do morro e integrar-se à vida intelectual da cidade. Aqui começa, de fato, a trajetória do escritor Machado de Assis.
Lances espetaculares de sorte, sucesso imediato, consagração instantânea do público e da crítica, riqueza, fama... Nada disso ocorreu com Machado. Sua perfeição artística resultará de um longo amadurecimento. Tudo ocorreu passo a passo. A alta qualidade da sua literatura vai revelar-se nas obras da idade madura. É por isso que a crítica costuma falar nas "duas fases da literatura machadiana".
Joaquim Maria era menino de subúrbio e a vida intelectual do subúrbio era muito diferente da vida intelectual da Corte. Era essa última que atraía Machado de Assis.
As coisas elegantes do Rio de Janeiro da época aconteciam nos cafés da Rua do Ouvidor, onde as pessoas da classe detentora do poder se encontravam, se divertiam, exibiam suas roupas importadas da Europa. Era por aqui que Joaquim Maria passava grande parte de seu tempo. Trabalhando. Caixeiro de livraria, tipógrafo, revisor foram profissões que provavelmente exerceu antes de se tornar jornalista e cronista. Não terá sido fácil para o adolescente de arrabalde firmar-se como um intelectual na Corte. Além disso, as teorias racistas que se espalhavam pelo século XIX sustentavam a superioridade natural da raça branca sobre negros, índios e mestiços. Joaquim Maria era mulato.
Na verdade, sua ascensão intelectual só se completará por volta de 1880 quando, no cenário da literatura brasileira, ninguém superava Machado de Assis em fama e importância. Mas o percurso foi longo...
No dia 6 de janeiro de 1855, a Marmota Fluminense, jornal de notícias, curiosidades e literatura, publicou o poema "A palmeira". Na segunda estrofe, o poeta afirmava:

Tenho a fonte amortecida
Do pesar acabrunhada!
Sigo os rigores da sorte,
Nesta vida amargurada!

Nada de excepcional, é bem verdade. Era apenas o começo: a estreia literária de Joaquim Maria Machado de Assis.
O jornal em que se publicou o poema era editado numa livraria que havia se transformado em ponto de encontro dos escritores da época. Foi lá que Machado de Assis ganhou protetores como Paula Brito - dono da livraria e do jornal -, Manuel Antônio de Almeida - já conhecido romancista -, e um padre que ensinava latim ao adolescente.
Logo Machado já era membro da redação da Marmota Fluminense. Outros jornais também passaram a publicar seus trabalhos.
Machado de Assis, homem da cidade, cada vez mais se distanciava de Machadinho, com era conhecido, menino de subúrbio. Nas roupas, na postura, na expressão.
Os meios literários da Corte tornavam-se pouco a pouco, terreno conhecido para ele. Ele tornava-se cada vez mais conhecido nesse terreno.
Machado cronista escreveu para diversos jornais, mas não vá imaginar que no Brasil da época era possível viver de escrever. Não! Para sobreviver, aceitou um emprego público que lhe garantiria o sustento.
A ascensão na carreira burocrática vai ocorrendo paralelamente à sua consagração como escritor. Ajudante do diretor do Diário Oficial; primeiro-oficial da Secretaria do Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, mais tarde oficial de gabinete de ministro; diretor-geral da Viação; membro do Conservatório Dramático; oficial da Ordem da Rosa... Em 1889, o mais alto grau da carreira: diretor de um órgão público, a Diretoria do Comércio. Aos poucos, foi chegando a estabilidade econômica e mais tempo para escrever.
Durante 40 anos Machado escreveu suas crônicas. Utilizando-se de histórias do dia a dia, o escritor ia refletindo sobre a História que se desenhava à sua volta.
Machado não passou ao largo dos grandes acontecimentos de seu tempo - apesar de ter reagido discretamente às transformações que presenciou, como a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. É possível entrever, no registro do cotidiano feito por suas crônicas - assim como posteriormente nos romances -, a ligação com o contexto social mais amplo.
Entre uma crônica e outra, entre uma crítica teatral e um poema, Machado de Assis ia tecendo a parte mais importante de sua obra: o conto e o romance.

"A minha história passada do coração resume-se em dous capítulos: um amor, não correspondido; outro, correspondido. Do primeiro, nada tenho que dizer; do outro, não me queixo; fui eu o primeiro a rompê-lo.”

O amor de verdade, de carne e osso, viria na figura de D. Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais, amigo de Machado, de nacionalidade portuguesa e mais velha que o escritor. Em carta Machado declarou-lhe:

"Tu não te pareces com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espíritos e corações como o teu são prendas raras [...] Como te não amaria eu?"

Viram-se. Amaram-se. Casaram-se em 12 de novembro de 1869.
O casamento durou 35 anos. Consta que na mais perfeita harmonia.
No ano seguinte ao casamento publica-se o primeiro volume de contos (Contos Fluminenses). Não seria ainda nessa obra que o excepcional escritor iria se revelar. A crítica considerava apenas medianos os contos desse livro. De qualquer forma, já aparecem características marcantes do estilo machadiano: a conversa com o leitor, a ironia e o estudo da alma feminina.
Três anos depois, surge outro volume de contos: Histórias da meia-noite, também considerado pela crítica no mesmo nível do primeiro livro.
Papéis alvulsos (de 1882) é o nome do terceiro livro de contos de Machado. Nesse livro revela-se a maturidade do contista Machado de Assis. No conto, este livro marca a passagem para a segunda fase machadiana, a fase da maturidade artística.
Na trajetória de Machado, Papéis Avulsos assume grande importância, portanto. Revela o amadurecimento de novos recursos de estilo, o aprofundamento de temas anteriores de sua literatura e o surgimento de outros novos. Enfim, a consagração definitiva de Machado como um grande (talvez o maior) ficcionista de todos os tempos em nossa literatura.
Essas narrativas revelam o universo dos temas que interessam a Machado: a loucura, a alma feminina, a vaidade, a sedução, o casamento, o adultério.
Aceitando a divisão de sua literatura em duas fases - conforme já está consagrado pela crítica -, os romances se distribuem desta forma:
1° Fase: Ressureição (1872); A Mão e a Luva (1874); Helena ( 1876); Iaiá Garcia (1878).
2° fase: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacob (1904); Memorial de Aires (1908).
Como resultado do estudo, da reflexão, da leitura de autores clássicos, Machado vai caminhando em direção à plenitude de seu estilo; uma maneira de escrever pessoal, própria, inconfundível, com características únicas, só dele. E com qualidade, é claro.
Nenhum artista consegue evitar as influências do momento histórico em que vive. Desde o início, sente-se a preocupação dele de desligar-se da moda reinante em sua época. Tendo passado pelo Romantismo e pelo Realismo, Machado assimilou características de ambos, mas não se enquadra radicalmente em nenhum desses estilos.
Podemos dizer, grosso modo, que os romances da primeira fase tendem ao Romantismo e os da segunda fase ao Realismo.
Quando Carolina Novais morreu, em 1904, a vida de Machado de Assis desmoronou.

"Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...] Aqui me fico, por ora, na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a minha meiga Carolina. Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei tempo em recordá-la. Irei vê-la, ela me esperará."

Para Machado, o "eterno aposento" se abriria quatro anos mais tarde. As únicas coisas que o mantinham vivo eram o carinho dos amigos - tantas vezes expresso em cartas -, o interesse pela literatura e pela Academia Brasileira de Letras, que ajudara a fundar em 1896, e da qual fora eleito presidente primeiro e perpétuo.
Apesar da serenidade que o escritor aparentava, o prazer de viver tinha mesmo se esvaído com a ausência da Carolina.
Vista fraca, infecção intestinal, uma úlcera na língua.
Em 1° de agosto vai à Academia pela última vez.
Lúcido, recusando a presença de um padre - manteve a coerência de quem nunca tinha sido religioso -, Machado morre às 3 h e 20 min. da madrugada no dia 29 de setembro de 1908.
Decreta-se luto oficial no Rio de Janeiro. Seu enterro, com enorme acompanhamento de figuras conhecidas e do povo, atesta a fama que Machado havia alcançado. Foi sepultado ao lado de Carolina, a quem prometera o conhecido soneto:

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei; pobre querida,
Trazer-te o coração de
-------------------------------------companheiro.

OBRAS DO AUTOR

Poesia
Crisálidas (1864); Falenas (1870); Americanas (1875); Poesias Completas (incluindo Ocidentais) (1901).

Romance
Ressurreição (1872); A Mão e a Luva (1874); Helena (1876); Iaiá Garcia (1878); Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908)

Contos
Contos Fluminenses (1870); Histórias de Meia-Noite (1873); Papéis Avulsos (1882); Histórias sem Datas ( 1884); Várias Histórias (1896); Páginas Recolhidas (1899); Relíquias de Casa Velha (1906).

Teatro
Queda que as mulheres têm para tolos (1861); Desencantos (1861); Hoje avental, amanhã luva (1861); O caminho da porta (1862); O protocolo (1862); Quase ministro (1863); Os deuses de casaca (1865); Tu, só tu, puro amor (1881); Teatro coligido (incluindo Não consultes médico e Lição de Botânica) (1910).

Algumas Obras Póstumas
Crítica (1910); Outras relíquias (contos) (1921); A semana (crônica) (1914, 1937) - 3 vol.; Páginas escolhidas (contos) (1921); Novas Relíquias (contos) (1932); Crônicas (1937); Contos Fluminenses - 2°vol. (1937); Crítica Literária (1937); crítica teatral (1937); Histórias Românticas (1937); Páginas esquecidas (1939); casa velha (1944); diálogos e reflexões de um relojoeiro (1956); crônicas de Lélio (1958).

4. ELEMENTOS DA NARRATIVA

4.1 – O Narrador

“As cartas de Estácio chegaram uma tarde em que as duas senhoras e Mendonça se achavam na varanda, acabando o jantar, bebendo as últimas gotas de café.”

(Página: 78)

O fragmento acima fora retirado do livro com o intuito de comprovar que, por apresentar-se em terceira pessoa, o narrador da obra encontra-se em estado de NARRADOR OBSERVADOR.

4.2 – Os Personagens Protagonistas e suas Características Físicas e Psicológicas

Helena

Físicas

“Era uma moça de dezesseis a dezessete anos, delgada sem magreza, estatura um pouco acima de mediana [...] A face, de um moreno-pêssego, tinha a mesma imperceptível penugem da fruta de que tirava a cor [...]”.
(Página: 21)

Psicológicas

“Helena tinha os predicados próprios a captar a confianças e a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. [...] Havia nela a jovialidade da menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes.”
(Página: 24)

Eugênia

Físicas

“Era de pequena estatura; tinha os cabelos de um castanho escuro, e os olhos grandes e azuis, dois pedacinhos do céu, abertos em rosto alvo e corado; o corpo, levemente refeito, era naturalmente elegante [...]”.
(Página: 28)

Psicológicas

“Caprichosa, rebelde, superficial, Eugênia não teve a fortuna de ver emendados os defeitos; antes foi a educação que lhos deu.”
(Página: 73)

Estácio

Físicas

“Seu olhos, grandes e serenos, com o espírito que os animava, pousaram benevolamente no interlocutor.”
(Página: 17)

Psicológicas

“[...] era uma gravidade jovial e familiar, igualmente distante da frivolidade e do tédio [...] Juntava às outras qualidades morais uma sensibilidade, não feminil e doentia, mas sóbria e forte; áspero consigo, sabia ser terno e mavioso com os outros.
(Página: 18)

Camargo

Físicas

“[...] absorvido em suas próprias reflexões, ora arranjando maquinavelmente um livro da estante, ora metendo a ponta do bigode entre os dentes [...]”.
(Página: 12)

Psicológicas

“Naquele homem céptico, moderado e taciturno, havia uma paixão verdadeira, exclusiva e ardente: era a filha. Camargo adorava Eugênia: era a sua religião.”
(Página: 72)

4.3 – Narração

Morre o conselheiro Vale ás 7 horas da noite de 25 de abril de 1850. Morreu de apoplexia fulminante; instantaneamente. Ocupava nenhum cargo do Estado, contudo, fazia-se um homem de elevada classe social.
A pequena família fora deixada com vistosa estabilização. Seu filho Estácio, sua irmã D. Úrsula e sua filha Helena - a ignota e formidável filha do conselheiro que, segundo o testamento por ele deixado, deveria mudar-se para a casa da família e ser tratada como parte de tal. O que dizia respeito à história de vida de Helena, cercada de inescrutáveis mistérios, o conselheiro Vale levou consigo para o túmulo.
Em sua chegada ao novo e inexplorado lar, a moça deparou-se com vários julgamentos quanto a sua vinda para a família. Inicialmente, lidou com os sentimentos de Estácio; sentimentos estes que, por enquanto, estavam intensamente ligados à efetivação dos desejos de seu finado pai. Posteriormente, teve de enfrentar os olhares avaliativos e a dura oposição de D. Úrsula, da qual só obteve carinho e total assentimento, através de desgastantes cuidados que teve para com a tia, quando esta adoeceu. Empenhando-se em suas atividades domésticas e revelando a boa educação que lhe foi dada, sem pressa alguma, conquistou com êxito a família e todos os que ligavam-se a ela.
Antes mesmo de Estácio descobrir ter uma meia-irmã, ele vivia um romance com Eugênia, filha de Dr. Camargo, médico e grande amigo da família. Pretendia casar-se logo, desejo ambicionado pelo pai da moça, mas para o desgosto deste, Estácio era sempre interceptado por contratempos ou por si mesmo, quando questionava-se sobre Eugênia e o que sentia por ela. Camargo associava esta demora à influência que Helena passara a ter sobre o irmão.
Já não bastava ela haver diminuído a herança que garantiria o futuro da filha através do casamento que realizar-se-ia?
Por meio do conhecimento das visitas frequentes que Helena fazia a uma pobre casa situada por ali, Camargo ameaçou-a: ela deveria incentivar Estácio ao casório, assim sendo, ele nada contaria. De tal modo, alcançou o tão cobiçado pedido de casamento.
Mendonça, velho amigo de Estácio, apaixonou-se por Helena. A moça, ansiosa por elevar-se a uma boa situação social e sob conselhos do guia espiritual da família, padre Melchior, aceitou passivelmente o pedido. Estácio, que encontrava-se em viagem com a família de sua noiva, tratou de voltar para Andaraí de imediato. Instantânea e única fora sua oposição ao tal casamento. O pretexto utilizado para consolidar sua posição quanto ao casamento era de que, certa vez, Helena revelara-lhe que amava impetuosamente alguém. Temia que a irmã se casasse com alguém que não amasse verdadeiramente e viesse a cometer alguma condenável ação no casamento. Entretanto, não era este o real motivo, ele próprio não tinha conhecimento disto; inconscientemente, deixava escapar os camuflados sentimentos que por Helena sentia. Bem como Helena, que aceitou casar-se com Mendonça para evitar que o amor pelo meio-irmão florescesse e se tornasse uma frondosa, cálida e, ao mesmo tempo, pecaminosa árvore que os levassem a realizar imperdoáveis atos. Porém, ao contrário de Estácio, Helena já não mais ignorava o profano amor.
Após refletir sobre tudo o que estava a ocorrer, Estácio cedeu e deu o seu consentimento para o casamento. Contudo, arrependeu-se; em um de seus passeios matinais, avistou Helena retirando-se de uma mísera casa.
Será o morador da casa o homem que a meia-irmã tanto amava?
É o meu pai, Helena confessou quando fora indagada por Melchior e Estácio. À procura de uma verdade palpável, os dois foram até a casa onde morava o homem. Salvador o seu nome, logo souberam. Através de uma delongada e comovente história sobre a vida de Helena, a paternidade de Salvador fora confirmada.
Ainda com o perdão da família e com a possibilidade de casar-se com Estácio, Helena naufragava vagarosamente em um imenso mar de depressão. Após uma súbita chuva, a moça debilitou-se. A saúde fraca e as fortes emoções de Helena levaram-na ao leito da morte. Morte que fora sentida por todos ligados à família. Estácio beijou-a uma única vez, porém um corpo sem vida.

4.4 - Tempo

“O conselheiro Vale morreu às 7 horas da noite de 25 de abril de 1850”
(Página: 11)

No fragmento acima, confirma-se que o estado do tempo é CRONOLÓGICO, pois apresenta mês, dia, horas, minutos e segundos exatos. Embora haja na obra, trechos em que o tempo encontra-se em estado psicológico.
4.5 – Espaço

“No dia seguinte fez-se o enterro, que foi um dos mais concorridos que ainda viram os moradores de Andaraí.”
(Página: 11)
O trecho acima profere que o enterro do conselheiro Vale ocorreu em Andaraí, um bairro na zona norte do Rio de Janeiro. Ainda que haja outros ambientes em que os personagens interagem, Andaraí é o lugar onde se passa grande parte da história. Em suma, no Rio de Janeiro.

4.6 – O Clímax

“- Suponho que se lembra de mim? disse ele.
- Perfeitamente.
- Sabe que motivo nos traz à sua casa?
- Não, senhor.
- Confessa a autoria desta carta?
Salvador estremeceu; depois respondeu com um gesto afirmativo.
- Pretende que Helena é sua filha; disse o moço depois de um instante. Confirma verbalmente o que escreveu?
- Helena é minha filha.”
(Página: 124)

O diálogo acima, entre Estácio e Salvador, ocorre logo após o primeiro ler a carta exibida por Helena; a carta que dá ao leitor a base da curiosidade para saber se Helena é ou não a filha do conselheiro Vale. Este diálogo é a confirmação.

4.7 – Desfecho

“A mão pálida e transparente da moribunda procurou a cabeça do mancebo; ele inclinou-a sobre a beira do leito, escondendo as lágrimas e não se atrevendo a encarar o final instante. Adeus! – suspirou a alma de Helena, rompendo o invólucro gentil. Era defunta.”
(Página: 14)

Que esplêndido desfecho é este! Logo que nada poderia ser feito, a morte de Helena seria a única solução. O mestre Machado expande a morte de Helena para muito além de um sacrifício romântico, ultrapassa os limites de que a morte é a única solução possível. Ele apresenta a sociedade do modo como ela realmente é. Essa mesma sociedade, se observarm, perdura-se até os dias de hoje, talvez algumas exceções.
Ele autentica que na sociedade somente exultam aqueles dotados de sorte, linhagem e situação social. Ora, pois, o livro apresenta uma colisão de ambições entre dois pais: Salvador, pobre, arriscando tudo na tentativa de elevar a filha numa boa situação social, e as de Dr. Camargo, que favorece a substituição do amor por interesses. Este segundo, triunfante, visava o futuro; calculado friamente, sem arrependimentos ou obrigações. Helena ainda prendia-se a seu passado, portanto condena-se a si mesma; recusando integrar-se inteiramente às regras impostas pelos parceiros daquele petulante jogo do mundo que se elevava.

5. CONCLUSÃO

Ao discorrer a respeito do termo “clássicos da literatura brasileira” logo me vinha à mente histórias complexas e enfadonhas. Porém, um equívoco logo percebido ao finalizar uma das obras concebidas por um conhecido mestre da literatura brasileira: Helena, de Machado de Assis.
Este romance, pertencente à chamada fase romântica da obra machadiana, expõe temas abundantemente explorados por escritores românticos: a obsessão de um amor impossível, que ocorre entre Estácio e Helena, visto como uma deturpação de leis morais e sociais, daqueles que as soluções se dão apenas através de um completo final feliz ou através de um trágico: a morte. Este, porém, ultrapassa uma simples história romanesca conflituosa, ele revela a estrutura de uma sociedade cujos valores estão em construção, transformação ou decadência.
A realização deste trabalho permitiu-me conhecer a vida de um pobre garotinho de subúrbio, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira; ele tinha grandes sonhos e sentia deveras vontade de alcançá-los, surpreendendo então a todos, ao tornar-se um dos mais ilustres escritores da literatura brasileira. Possibilitou-me ainda obter conhecimento de todo o contexto histórico desta obra e o modo como eu devo conhecer um livro para entendê-lo mais profundamente. Mas apesar de todas estas informações adquiridas, talvez a mais importante, há uma que levarei comigo primordialmente: a experiência, o primeiro contato com um clássico de nossa literatura. Honrada eu estou, por ter sido apresentada a este genial e proveitoso livro, que devia, não, DEVE ser lido por todos.

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