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Lançamentos de março da Global Editora

 

Correspondência

Autor: Bartolomeu Campos de Queirós

Ilustrações: Lelis

Sugestão de faixa etária: A partir de 8 anos;

R$ 65,00


Correspondência, de Bartolomeu Campos de Queirós, é uma carta de amor ao Brasil, a Democracia e a busca por um país melhor e mais justo.
A obra é composta por uma sequência de breve cartas trocadas por um grupo de amigos. Votos de que a nossa “Carta maior” (a Constituição) viesse a ser justa, verdadeira e atendesse aos sonhos de nosso povo.


#Correspondência #BartolomeuCamposDeQueirós #Bartô #literaturainfantil #livrosparacrianças

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Coração e Mente - Uma história de amizade

Autora: Nishi Singhal

Ilustrações: Lera Munoz

Tradução: Flavia Baggio

Sugestão de faixa etária: a partir dos 8 anos

R$ 65,00


Coração & Mente: Uma história de amizade é um livro a ser lido em família. Adultos e pequenos leitores juntos numa jornada sobre a importância de equilibrar pensamentos e sentimentos para viver uma vida feliz e divertida.
Formada em psicologia, Nishi Singhal apresenta a aventura de dois melhores amigos: o Coração e a Mente. Eles trabalham sempre juntos para se manter em harmonia. O Coração traz alegria e amor ao momento presente, já a Mente age no dia a dia.


#CoraçãoEMente #NishiSinghal #acutoconhecimento #literaturainfantil #livrosparacrianças


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Conheça nossos lançamentos mais recentes:

Correspondência

Autor: Bartolomeu Campos de Queirós

Ilustrações: Lelis

Sugestão de faixa etária: A partir de 8 anos;

R$ 65,00


Correspondência, de Bartolomeu Campos de Queirós, é uma carta de amor ao Brasil, a Democracia e a busca por um país melhor e mais justo.
A obra é composta por uma sequência de breve cartas trocadas por um grupo de amigos. Votos de que a nossa “Carta maior” (a Constituição) viesse a ser justa, verdadeira e atendesse aos sonhos de nosso povo.


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Coração e Mente - Uma história de amizade

Autora: Nishi Singhal

Ilustrações: Lera Munoz

Tradução: Flavia Baggio

Sugestão de faixa etária: a partir dos 8 anos

R$ 65,00


Coração & Mente: Uma história de amizade é um livro a ser lido em família. Adultos e pequenos leitores juntos numa jornada sobre a importância de equilibrar pensamentos e sentimentos para viver uma vida feliz e divertida.
Formada em psicologia, Nishi Singhal apresenta a aventura de dois melhores amigos: o Coração e a Mente. Eles trabalham sempre juntos para se manter em harmonia. O Coração traz alegria e amor ao momento presente, já a Mente age no dia a dia.


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Dicionário Escolar da Língua Portuguesa - Edição atualizada, revista e ampliada

Autor: Silveira Bueno

Sugestão de faixa etária: a partir dos 6 anos

R$ 59,00


Nova edição, revista e ampliada, do mais brasileiro dos dicionários de língua portuguesa contém mais de trezentos novos verbetes.
De fácil consulta, a obra traz cerca de 35 mil verbetes representativos da língua portuguesa falada hoje em dia no Brasil.
Nesta 5ª edição, as áreas de Ciências da Natureza e Informática receberam ainda mais atenção com inclusão de diversos termos. As novidades também abordam gírias e outras palavras recentemente dicionarizadas. Um exemplo é "pelé®" – verbete que pode ser tanto adjetivo como substantivo de dois gêneros, sinônimo de extraordinário e incomparável –, em referência ao rei do Futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.


#DicionárioEscolar #SilveiraBueno #ObraDeReferência #usoescolar #línguaportuguesa

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Resenha: O Brasil como problema, de Darcy Ribeiro

 

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

Os textos aqui reunidos são um retrato da paixão imensa que Darcy Ribeiro tinha pelo nosso país. Ele sonhou o Brasil como uma nova civilização, e foi à luta. Aqui Darcy fala claramente o que pensa sobre o Brasil e seus desafios, a história das sociedades humanas, as Américas, abrangendo as relações sociais básicas e os meios de subsistência dos povos.


RESENHA


O livro 'O Brasil como problema', do autor Darcy Ribeiro, é uma antologia de ensaios e estudos acerca dos problemas de desenvolvimento, sustentabilidade e sociedade no país. A obra é dividida em quatro seções, sendo elas: "O Brasil em causa", que visa analisar sob várias óticas os problemas relacionados à crise ética e política, às causas, aos problemas e ao envolvimento dos indígenas na história do desenvolvimento do Brasil. A segunda parte, intitulada "ensaios", é uma análise minuciosa da origem e formação dos povos latino-americanos, da Amazônia e de seus povos e das diferenças existentes entre o governo e o ato de governar e pensar social da Suíça como exemplo a ser seguido. O terceiro capítulo, "temas e fazimentos", narra o memorial da América Latina e a universidade do terceiro milênio, enquanto o quarto e último capítulo, "temas e problemas", se dedica a uma investigação empírica da urgência de temas como o Estado, as universidades e a chacina promovida pela lei agrária no país.


O Brasil é um país que se construiu independentemente dos desígnios de seus colonizadores, surgindo como um novo povo distinto de qualquer outro. Resultado da colonização europeia nas Américas, o Brasil é uma mistura de raças e culturas que se fundiram para criar uma nova civilização. Apesar de suas origens europeias, africanas e indígenas, os brasileiros são únicos e desafiados a se reinventarem, sendo herdeiros de uma terra exuberante que precisa ser preservada. O país é uma nação étnica e coesa, com potencial para se tornar uma civilização autônoma, solidária e influente no mundo. A população brasileira é unida pela língua e cultura, marcada pela criatividade e diversidade provenientes das influências de suas matrizes. Apesar dos desafios enfrentados, como a inclusão dos povos indígenas e negros, a pluralidade do Brasil é sua força para conquistar um futuro baseado no desenvolvimento.


Os capítulos podem ser analisados separadamente ou em uma única unidade de sentido, analisando o panorama proposto pelo autor em relação aos problemas que impedem, de certa forma, o desenvolvimento do Brasil e as problemáticas que povoam mortes e pobrezas entre os povos mais explorados.


Se pudéssemos analisar de forma mais elaborada as idéias do autor, poderíamos começar inferindo que a crise ética e política no Brasil é evidente, com escândalos de corrupção e desmandos que comprometem a normalidade institucional. O impeachment do Presidente da República e as investigações no Congresso Nacional mostram a gravidade da situação. A falta de punição para os envolvidos e as tentativas de limitar as investigações levantam questões sobre a capacidade do país de combater a corrupção e formar cidadãos íntegros. O Parlamento e o Judiciário também são alvo de críticas, com acusações de corrupção, injustiça e falta de transparência. A população exige uma atuação ética e responsável dessas instituições, que devem estar a serviço da nação e não de interesses particulares. Também menciona os desafios enfrentados pelo país na atual conjuntura, ressaltando a importância de uma política econômica voltada para a soberania nacional e o desenvolvimento independente e sustentável. Por fim, enfatizamos a necessidade de negociar a dívida externa e preservar as empresas públicas como estratégias para garantir o futuro do Brasil.


O autor destaca a corrupção e o clientelismo como graves problemas que afetaram a máquina administrativa brasileira, causando distorções e prejuízos. Ele critica a prática de nomeações políticas para cargas públicas e aponta a influência nociva das grandes empresas e multinacionais na economia nacional. Além disso, ele questiona a capacidade do empresariado brasileiro em promover o progresso e a distribuição de riqueza, apontando para a concentração de renda e a predominância de interesses estrangeiros no cenário econômico. As elites do Brasil, formadas por patronado e patriciado, são responsáveis ​​pela falta de ameaças no país, privilegiando a concentração de riqueza e poder em suas mãos. Enquanto nos Estados Unidos, as elites abriram oportunidades para os pioneiros cultivarem terras, no Brasil, a lei de terras de 1850 instituiu o monopólio da terra.


O atraso e a pobreza no Brasil são causados ​​principalmente pelo caráter retrógrado das classes dominantes, que sempre atuaram em benefício próprio, explorando o país para atender demandas externas. É preciso buscar caminhos de superação do subdesenvolvimento autoperpetuante e romper com a perversão econômica que perpetua a pobreza da maioria da população. É um desafio encontrar uma solução para os problemas comuns do Brasil e do mundo subdesenvolvido, que aguardam uma mudança de postura em relação ao mercado internacional. Vivemos uma conjuntura trágica, onde as diretrizes econômicas são insensíveis e alienadas aos interesses nacionais. Para avançar, é preciso formular um projeto de integração baseado no desenvolvimento social e na associação com os povos explorados. Todos somos prejudicados pela desigualdade social, pela falta de preocupação com as necessidades do povo e pela manutenção de uma sociedade injusta. 

Diante da atualidade marcada pela dívida externa e pela política de privatizações, os brasileiros enfrentam o desafio de compreender e equacionar essas questões para o destino da nação. Em um contexto em que um pensamento de direita é predominante, é necessário buscar alternativas diante do fracasso das esquerdas socialistas. As sociedades evoluem de maneiras diversas, com algumas se destacando e impondo sua hegemonia sobre outras. O Brasil, por absorver os frutos da Revolução Industrial sem se tornar um polo autônomo, acabou se tornando dependente e recolonizado. No entanto, o país, com suas condições únicas e sua população homogênea, tem potencial para se tornar uma sociedade vanguardeira, autônoma e próspera. A política atual, baseada no lucro e na privatização, leva ao empobrecimento generalizado e à concentração de riqueza. É necessário buscar uma abordagem mais responsável, que promova a colaboração das empresas estrangeiras com os interesses nacionais e a distribuição equitativa dos investimentos regionais. A submissão ao mercado global, sem uma vigilância eficaz, pode comprometer a soberania e as potencialidades do povo brasileiro.


Atualmente, o Brasil enfrenta dois desafios cruciais: a negociação da dívida externa, principalmente com os EUA, e o aumento das privatizações inspiradas pelo FMI. A dívida externa tornou-se um instrumento de chantagem e extorsão dos países ricos, controlando as nações pobres que produzem insumos para o capitalismo. O governo Collor tentou resistir aos banqueiros internacionais, mas acabou impondo medidas que causaram recessão e desemprego. Já o governo Itamar aprofundou o neoliberalismo, alegando não haver alternativa para a modernização econômica. O histórico da dívida brasileira remonta ao Império, onde o endividamento se tornou um vício. A exceção foi Getúlio Vargas, que modernizou o Estado e lançou as bases do desenvolvimento autônomo. Atualmente, não se sabe ao certo a situação real da dívida externa brasileira, que explodiu na última década, tornando-se a causa principal da crise econômica.


Estudos do professor Luiz Fernando Victor da Universidade de Brasília mostram que, de 1956 a 1988, o Brasil assumiu empréstimos e financiamentos de 267 bilhões de dólares, enquanto pagava 287 bilhões de dólares em serviço da dívida. Além disso, o país recebeu 33,5 bilhões de dólares em capitais de risco, mas remeteu 24,5 bilhões em lucros e dividendos, resultando em um saldo positivo de apenas 4,5 bilhões de dólares. Isso evidencia que o Brasil é, na verdade, um exportador de capital, com uma dívida crescente. A situação se agrava na América Latina, onde houve um prejuízo de 200 bilhões de dólares de 1982 a 1988 devido à transferência líquida de capital para os países credores. A política de privatizações, fortemente influenciada pelos países ricos, não resolverá os problemas econômicos do Brasil e apenas agravará a situação. A privatização da Companhia Siderúrgica Nacional foi um escândalo na história econômica do Brasil, sendo entregue a banqueiros por um preço muito baixo. A empresa junto com a Companhia Vale do Rio Doce representaram um marco na industrialização nacional, mas foram espoliadas por interesses privados durante a ditadura militar. Atualmente, a Vale possui um patrimônio enorme e está na mira dos tecnocratas que querem privatizá-la. Outras empresas estatais como Petrobras, Eletrobras e Embratel estão sendo alvo de privatização, o que representaria um prejuízo irreparável para o país. A tendência de privatização adotada pelo governo brasileiro está sendo questionada, pois em outros países, a desestatização é feita de forma mais cautelosa e responsável. A privatização na Inglaterra, por exemplo, resultou em problemas sociais e na queda do país no ranking das potências mundiais. O processo de privatização no Brasil está sendo conduzido de forma imprudente e prejudicial à economia nacional.


A importância da etnia na formação do ser humano é destacada, ressaltando que a comunidade étnica é essencial para a transmissão de conhecimento, valores e cultura. A língua e os saberes verbais são fundamentais para a identidade e sobrevivência de um grupo étnico. Mesmo diante de ameaças e influências externas, as comunidades étnicas têm uma notável capacidade de resistência, desde que consigam manter a tradição e criar os filhos dentro dos valores e conhecimentos do grupo. Além disso, é destacado que as microetnias, formadas a partir da divisão de grupos maiores, tendem a manter uma identidade própria e uma hostilidade em relação a outras microetnias.


Temas e problemas: Qual a causa real de nosso atraso e pobreza?

Esse capítulo, em especial, critica a ideia de Estado mínimo defendida pelos neoliberais, argumentando que o Estado brasileiro precisa ser recuperado e fortalecido para cumprir suas funções essenciais, como assistência social, educação e segurança. Destaca a necessidade de um Estado que atue em prol do povo brasileiro e não apenas dos interesses dos mais ricos. Critica também as políticas neoliberais que resultaram na precarização dos serviços públicos e na deterioração da máquina do Estado. Propõe uma reforma do Estado que o torne mais eficaz, ético e responsável, capaz de promover o desenvolvimento nacional autônomo e garantir o bem-estar da população. Em vez do Estado mínimo, defende o Estado necessário.


O capítulo também ameaça de genocídio imposta pela Lei Agrária brasileira, que impede a distribuição de terras improdutivas para os sem-terra. O movimento dos sem-terra reivindica direito à terra para viver e trabalhar, em oposição à concentração de terras nas mãos de poucos latifundiários. A história do regime fundiário brasileiro é descrita como injusto e desigual, resultando na expulsão de milhões de pessoas do campo para as cidades. A reforma agrária proposta por João Goulart foi interrompida pelo golpe de 1964, impedindo a distribuição de terras e perpetuando o domínio dos latifundiários. A solução para a questão agrária no Brasil requer a distribuição de terras improdutivas aos sem-terra e a promulgação de uma lei do uso lícito da terra, revertendo terras mal adquiridas para programas de colonização. O texto conclui que o Brasil precisa escolher entre manter o sistema fundiário arcaico e injusto ou construir uma sociedade livre, justa e participativa.


O texto se consolida também narrando a experiência de vida do autor que dedicou sua vida a lutar por diversas causas, como a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária e o socialismo em liberdade. Ele se inspirou na generosidade e no compromisso dos antigos comunistas e acredita que a juventude atual precisa se engajar mais politicamente para superar as desigualdades e injustiças no Brasil. Ele ressalta a importância da unidade nacional, do orgulho da identidade brasileira e da responsabilidade histórica de construir uma sociedade mais justa e democrática. Ele conclama os jovens a se envolverem ativamente nas lutas por uma economia mais justa e pela democratização do acesso à terra.


O livro se finaliza com um capítulo intitulado 'Universidades, para quê?' com um discurso pronunciado durante a cerimônia de posse do reitor Cristovam Buarque, em 16 de agosto de 1985. Onde reflete sobre a importância e o significado da Universidade de Brasília, destacando as figuras que contribuíram para sua criação e desenvolvimento. Ele ressalta a necessidade de uma universidade séria no Brasil que possa promover a criatividade científica e cultural, e critica a universidade brasileira anteriormente existente. Darcy também elogia o novo reitor, Cristovam Buarque, e expressa a esperança de que a UnB renasça e cumpra seu papel como uma instituição de ensino de alta qualidade.


Em resumo, 'O Brasil como problema' é uma obra rica em análises e reflexões sobre os desafios enfrentados pelo Brasil em seu desenvolvimento como nação. Darcy Ribeiro apresenta uma visão crítica e propositiva, apontando os problemas estruturais e éticos que impedem o progresso do país, ao mesmo tempo em que destaca o potencial e a força da cultura brasileira. O autor enfatiza a necessidade de uma atuação responsável por parte do Estado e da sociedade, visando a construção de uma nação mais justa e solidária. É uma leitura fundamental para quem busca compreender as complexidades do Brasil e as possibilidades de transformação rumo a um futuro mais promissor.

Resenha: Campo geral, de João Guimarães Rosa

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

A infância é o tempo de descobertas. É a fase da vida em que o ser humano recebe e retribui os sentimentos à sua volta com maior vigor e integridade. Com Miguilim, menino que protagoniza esta novela de João Guimarães Rosa, não é diferente. Contudo, a visão de mundo repleta de sensibilidade que vinca a personalidade da criança transforma o conjunto de situações que ela experimenta num redemoinho sem precedentes de sensações. Os leitores de Campo Geral naturalmente se envolvem e se emocionam ao tomar contato com as impressões e conclusões do menino sobre o mundo que o cerca. Tanto os medos mais profundos de Miguilim quanto seus sonhos mais intensos são concebidos pelo pincel multicor de Guimarães Rosa.

O convívio familiar, o cultivo das amizades, a dura vida no sertão e a necessidade incontornável de encarar os desafios que a condição humana apresenta são elementos centrais desta narrativa. Neste livro, tem-se o privilégio de captar o âmago da vida no sertão através do olhar de uma criança, uma escolha que revela a grandeza literária de Guimarães Rosa.

Foto: Arte digital

RESENHA

O livro “Campo Geral”, escrito por João Guimarães Rosa, é uma obra que nos transporta para o sertão mineiro, onde a vida se desenrola em meio à simplicidade e à complexidade das relações humanas. Através da história de Miguilim, um menino de oito anos, somos convidados a explorar os sentimentos, as memórias e os conflitos que permeiam sua existência.

O cenário é o remoto lugar chamado Mutúm, nos Campos Gerais. A mãe de Miguilim, apesar de bela, vive entristecida pela distância de tudo e pelo tempo sempre sombrio. O morro que separa o Mutúm do mundo exterior é uma barreira que ela não consegue transpor. A mata próxima causa medo em Miguilim, que tenta compreender o inexplicável.

Um certo Miguelin, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais. (p.7)

A narrativa nos leva a passeios pela fazenda dos Barbóz, momentos de brincadeira, comida e interações com animais. Miguilim nutre um carinho especial pelos cachorros e, principalmente, pela cachorra Pingo-de-Ouro. Quando ela é levada por tropeiros, Miguilim chora e espera seu retorno, mesmo sabendo que ela está quase cega. A história triste do Menino que perdeu sua cuca no mato ecoa em sua mente, e ele passa a chamá-la de Cuca, nunca a esquecendo. No entanto, a vida de Miguilim não é apenas marcada por momentos felizes. Ele presencia a briga violenta entre seus pais, o pai agredindo fisicamente a mãe. Vovó Izidra é a única a defendê-lo, mas os irmãos estão acostumados com as brigas. Miguilim, em castigo, reflete sobre a natureza e o vaqueiro que prevê chuva. Seu sorriso para Dito, seu irmão, é um gesto de apoio silencioso.

Miguilim presencia uma briga entre seus pais, em que o pai agride fisicamente a mãe. O irmão mais novo, Dito, tenta distraí-lo e levá-lo para longe da situação, mas Miguilim entende o que está acontecendo. O pai bate em Miguilim, que chora e é colocado de castigo, enquanto a mãe chora no quarto. Vovó Izidra defende Miguilim, mas ninguém mais o protege. Os irmãos estão acostumados com as brigas, mas Dito espiava de longe, preocupado. Miguilim fica pensando enquanto está de castigo, até que o cachorro Gigão entra e ele brinca com suas verônicas, misturando suas lágrimas. Miguilim estava sob castigo, com sede, mas não queria pedir água para não ouvir reprimendas. 

— Pai está brigando com Mãe. Está xingando ofensa, muito, muito. Estou com medo, ele queira dar em Mamãe…(Pág. 14)

O Dito era considerado a melhor pessoa, mas não devia conversar com Mãitina, que bebia cachaça e falava bobagens. Mãitina era uma mulher velha, negra fugida do cativeiro, que acharam há muito tempo. A casa envelhecida durante a tempestade é um microcosmo de crenças e superstições. Miguilim, apesar de sua pouca idade, absorve as nuances do mundo adulto e busca compreender os mistérios que o cercam.

Miguilim passa seu último dia de vida deitado na cama, cercado pelo ambiente da fazenda e pelos cuidados de sua família. Ele reflete sobre a vida e a morte, sentindo saudades de todos que ama. Enquanto Drelina o consola, ele teme a morte iminente. Seo Aristeu chega para ajudar, mas Miguilim sente que está morrendo e chama pela mãe. Um dia triste chegou quando o Patorí foi encontrado morto. O pai precisou fazer uma visita ao Cocho, enquanto a mãe levou a família em um passeio noturno, sob a lua cheia. A morte de Dito abala profundamente Miguilim. Ele se sente desorientado e diferente dos outros, alternando entre tristeza e raiva. As lembranças da Mãe abraçando o corpo de Dito o atormentam, e ele busca desesperadamente guardar cada detalhe desse momento crucial de sua vida. No entanto, Miguilim ainda se sente perdido e confuso, buscando respostas em meio às conversas triviais dos outros.

[...] veio uma notícia meia triste: tinham achado o Patorí morto, parece que morreu mesmo de fome, tornadiço vagando por aquelas chapadas. Pai largou de mão o serviço todo que tinha, montou a cavalo, então carecia de ir no Cocho, visitar seo Deográcias, visita de tristezas. (pág.78)

Miguilim estava desorientado e entristecido com a morte do Dito e a presença de tantas pessoas em seu velório. Ele se sentia diferente de todos e tinha dificuldade em lidar com suas emoções, alternando entre tristeza e raiva. Lembranças da Mãe abraçando o corpo do Dito o atormentavam e ele se perguntava o que teria sido se o irmão não tivesse morrido. No meio de sua dor, Miguilim buscava desesperadamente guardar cada detalhe desse momento. Miguilim precisava de respostas sobre o Dito, havia falecido, mas todos ao seu redor só falavam de assuntos triviais. A única pessoa que parecia compreender seu sofrimento era a Rosa, que descrevia o Dito como uma alma especial. Miguilim e Mãitina decidiram fazer um enterro simbólico para o Dito, e Miguilim se emocionou ao ver as lembranças dele sendo enterradas. 

O Pai o obrigava a realizar tarefas na roça, mesmo quando ele não estava bem. Miguilim sentia raiva do Pai, que o tratava com desdém. Seu único amigo era o gato Sossõe, que o fazia se lembrar do falecido amigo Patorí. Seu pai expressava descontentamento com ele, comparando-o sempre ao falecido irmão Dito, que era considerado um bom menino. Mesmo se sentindo mal, ele pensou em cumprir uma promessa de rezar três terços e ficar um mês sem comer doces, frutas e café. Mesmo com o apoio de seu irmão, ele começou a se sentir fraco e com dor de cabeça. No entanto, ao sentir o cheiro da terra sombreada e lembrar de momentos felizes na fazenda dos Barboz, ele encontrou um pouco de conforto. 

Miguilim estava capinando quando de repente começou a sentir mal-estar, tonteira e tremores de frio, vomitando e sendo levado para casa carregado por Luisaltino. Ele estava com uma dor forte na nuca e acabou ficando prostrado e doente, perdendo a força e sendo cuidado por sua família. Enquanto estava doente, Miguilim viu seu Pai chorar desesperadamente, preocupado com a doença dos filhos. Ele também recebeu um presente do Grivo e viu seu pai trazer frutas para tentar melhorar sua saúde. Ele queria sonhar com seu irmão Dito, mas não conseguia. Quando Miguilim finalmente melhorou, descobriu que seu pai havia matado Luisaltino e se enforcado no mato. Vovó Izidra cuidou dele e contou sobre a morte do Pai, mas também falou sobre a eternidade de Deus e Jesus Cristo. Miguilim rezou e dormiu, buscando paz em meio à tragédia que envolveu sua família.

Seu Pai também está morto. Ele perdeu a cabeça depois do que fez, foi achado morto no meio do cerrado, se enforcou com um cipó, ficou pendurado numa môita grande de miroró… Mas Deus não morre, Miguilim, e Nosso Senhor Jesus Cristo também não morre mais, que está no Céu, assentado à mão direita!… Reza, Miguilim. Reza e dorme!” (pag. 116)

Miguilim após a morte de seu pai, com a chegada de parentes e vizinhos para prestar condolências. Miguilim está doente e se recupera aos poucos, recebendo visitas de Seo Aristeu e de um homem de fora. Aos poucos, Miguilim melhora e começa a apreciar a comida e a natureza ao seu redor. Ele sorriu para o tio que se parecia com o pai. Todos estavam chorando, inclusive o doutor. Miguilim entregou os óculos ao doutor e sentiu um soluço. Todos se despediam com tristeza, exceto Miguilim, que sempre foi alegre. Ele não sabia o que era alegria e tristeza. Sua mãe o beijava e sua irmã preparava doces para ele levar na viagem. 

Através de uma narrativa rica em detalhes e sentimentos, João Guimarães Rosa nos presenteia com uma obra poética e cheia de simbolismos. A história de Miguilim nos convida a refletir sobre a vida, a morte, o amor e a solidão, explorando de forma sensível as complexidades da existência humana. Com uma linguagem cuidadosamente elaborada, o autor nos transporta para o sertão mineiro e nos faz sentir a poesia e a melancolia que permeiam cada página. “Campo Geral” é uma obra que nos emociona e nos faz refletir sobre a nossa própria jornada, destacando a importância do amor e da memória na construção de nossas experiências. Uma leitura imperdível para quem busca se conectar com as profundezas da alma humana.

O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro

Foto: colagem digital
 

APRESENTAÇÃO

Obra magistral de Darcy Ribeiro, um dos maiores antropólogos brasileiros, "O Povo Brasileiro" é uma tentativa de compreender quem somos, o que somos e a importância do nosso país. Este clássico retrata o inconformismo pela desigualdade social e percorre a história da formação da civilização brasileira.

RESENHA

Foto: colagem digital


No livro, Darcy Ribeiro apresenta sua interpretação da formação do povo brasileiro a partir de três matrizes básicas: os índios nativos, os colonizadores europeus (portugueses) e os africanos escravizados. Ele destaca a miscigenação e diversidade cultural que resultaram nesses encontros, formando um povo e uma sociedade singular. O livro analisa a diversidade étnica e cultural do povo brasileiro, desde os povos indígenas até os dias de hoje. Ribeiro demonstra como a mistura de índios, europeus e africanos resultou em uma cultura única no Brasil, marcada pela diversidade e pela miscigenação. O autor ressalta a importância dos povos indígenas na formação da cultura brasileira e critica o tratamento dado a eles ao longo da história, além de abordar a influência da escravidão africana na cultura do país.

Darcy explora a origem do nome "Brasil" e como ele foi associado à nova terra, bem como o papel das três principais culturas na formação da identidade nacional. Ele destaca a resistência e as lutas dos povos indígenas, africanos e brasilíndios na construção da identidade brasileira.

O autor também aborda a introdução do trabalhador europeu nas fazendas de café e a formação de diferentes culturas regionais no Brasil, como a caipira, a camponesa, a crioula, a cabocla e a sertaneja.

Em seu livro, Darcy Ribeiro aborda diversos temas relacionados à identidade brasileira e destaca a importância de valorizar as raízes culturais do país. Ele defende uma visão positiva da miscigenação e da diversidade cultural como aspectos essenciais da identidade nacional. No entanto, também questiona a trajetória do Brasil e busca compreender as razões por trás de seus desafios. O autor analisa a complexa interação de diferentes grupos étnicos e as consequências de processos históricos violentos, como a escravidão. Ele destaca a influência da cultura africana na formação da identidade brasileira, ressaltando sua importância em diversos aspectos da sociedade. Ribeiro também introduz o conceito de "ninguendade" para descrever a experiência de grupos mistos na busca por uma identidade própria em meio a diversas influências culturais.

Ao contrário de Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro não acredita que a mestiçagem tenha possibilitado uma democracia racial no Brasil. Para ele, o país necessita antes de tudo de uma democracia social, já que a desigualdade entre classes sociais é evidente na história brasileira, com concentração de riqueza para uns e miséria para outros. Apesar das críticas por sua abordagem romântica da mestiçagem e falta de referências contemporâneas, o livro "O Povo Brasileiro", lançado em 1995, é uma contribuição importante para a compreensão dos diferentes "brasis" que compõem o país.

Fruto de três décadas de pesquisas e reflexões, o livro se divide em cinco partes que abordam questões étnicas, culturais e históricas do Brasil. A obra de Darcy Ribeiro é considerada um clássico e traz reflexões sobre as diferentes realidades e estruturas sociais do país. Mesmo com suas falhas, é uma leitura essencial para quem deseja entender a complexidade da identidade brasileira.

Em suma, "O Povo Brasileiro" de Darcy Ribeiro é uma obra fundamental que destaca a diversidade e riqueza cultural do Brasil, enfatizando a importância da valorização das raízes e identidades que formam a sociedade brasileira. Apesar das críticas, o livro proporciona uma visão profunda e reflexiva sobre a complexidade e a pluralidade do povo brasileiro, contribuindo para uma maior compreensão da identidade nacional.

A formação do Brasil em Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre

Foto: Divulgação

APRESENTAÇÃO

Em 1933, após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre publica "Casa-grande & Senzala", livro que revoluciona os estudos no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade literária. É considerado o livro capital da cultura brasileira. Passados 80 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura, mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela mistura de raças e culturas. A atual edição possui introdução de Fernando Henrique Cardoso.


RESENHA

Foto: Divulgação

O clássico obra de Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala, analisa a formação do povo brasileiro, destacando suas características positivas e negativas, bem como as peculiaridades de sua origem. O autor ressalta a sociedade patriarcal brasileira, descrevendo aspectos cotidianos na colônia, como a escassez de escolas e a criação das crianças no meio selvagem.

Freyre também compara o estilo de colonização portuguesa com a espanhola e inglesa. Ele investiga a miscigenação no Brasil, que ocorreu intensamente devido à falta de mulheres brancas na colônia. A obra aborda o mito da promiscuidade brasileira, erroneamente atribuída aos indígenas e escravos, assim como a opressão contra as mulheres.

O autor também destaca a influência da igreja católica na colônia, mencionando a proibição de negros e mestiços ao sacerdócio. Casa-grande & senzala é uma análise profunda sobre a sociedade brasileira e suas origens.

O livro aborda a formação do Brasil a partir de dois pilares fundamentais. O primeiro destaca a influência da monocultura latifundiária e do sistema escravocrata na colonização, onde Portugal não se preocupou em distribuir terras de forma equitativa, resultando em uma enorme concentração de propriedades. Devido à resistência dos índios em realizar trabalhos repetitivos, os africanos foram trazidos como escravos para trabalhar nos latifúndios.

Um aspecto interessante do livro é a análise da fusão das culturas africana e indígena, que se mesclaram e influenciaram elementos como vestimentas, culinária, comportamento e crenças. Essa mistura cultural, somada à presença europeia, resultou na formação do povo brasileiro, caracterizado pela diversidade cultural.

O comportamento dos portugueses foi essencial nesse processo, pois, ao contrário de outros europeus, demonstraram ser mais receptivos a influências externas e permitiram a miscigenação de culturas, como já haviam feito anteriormente com a cultura árabe dos mouros. Essa abertura para a diversidade é apontada como um dos motivos que contribuíram para a ausência de conflitos étnicos profundos no Brasil, apesar do passado escravocrata. Embora o racismo ainda persista, a resolução pacífica em comparação com outros países é destacada como uma característica positiva do Brasil. O segundo eixo fundamental do livro, intitulado "Casa-Grande e Senzala", aborda a divisão entre os poderes político, econômico e social na sociedade brasileira. Enquanto a Casa-Grande representava o centro do poder, com todos os privilégios e luxos, a Senzala era o lugar onde os escravos viviam desprovidos de direitos e sujeitos aos abusos dos senhores. Essa divisão criou um contraste entre os aceitos e relegados, deixando marcas profundas na estrutura social do país.

A cultura da Casa-Grande, de mandar e de privilégios, perdurou mesmo após a abolição da escravidão em 1888. O livro Raízes do Brasil destaca que os habitantes da Casa-Grande mantinham essa mentalidade no trato dos cargos públicos, beneficiando apenas amigos e negando oportunidades ao restante da população. Esse sistema de compadrio perpetuou desigualdades e injustiças na sociedade brasileira por muito tempo.

O livro expõe a complexidade do povo brasileiro, tanto em termos culturais quanto de formação. É importante considerar nosso passado para entender as dificuldades atuais do país, especialmente em relação às decisões políticas que parecem beneficiar apenas os governantes. A confusão entre interesses públicos e privados, talvez herança da Casa-grande e do compadrismo de Freyre, é um tema recorrente. A resistência a reformas e a manutenção do status quo também podem ter raízes históricas. A leitura de "Casa grande e senzala" pode ajudar a compreender melhor a realidade brasileira.

No geral, Casa-grande & senzala é uma obra fundamental para compreender a formação e a complexidade da sociedade brasileira. Freyre conseguiu analisar de forma profunda as raízes do Brasil, destacando tanto aspectos positivos quanto negativos. Sua abordagem da miscigenação, das influências culturais e da estrutura social do país é extremamente relevante até os dias de hoje. A obra nos leva a refletir sobre as origens das desigualdades e injustiças presentes na sociedade brasileira, e nos ajuda a compreender melhor os desafios que o país enfrenta atualmente. Em suma, Casa-grande & senzala é um livro que merece ser lido e estudado por todos que desejam compreender a essência do Brasil.

[RESENHA #989] O povo brasileiro - A formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro

Obra magistral, e o maior desafio de Darcy Ribeiro, O povo brasileiro é uma tentativa de compreender quem somos, o que somos e a importância do nosso país. Talvez uma tarefa dura, mas imprescindível, pois segundo Darcy: “Este é um livro que quer ser participante, que aspira a influir sobre as pessoas e ajudar o Brasil a encontrar-se a si mesmo”.


RESENHA



O povo brasileiro, obra de Darcy Ribeiro publicada em 1995 pela editora Global Editora, relata a história da formação étnica e cultural do povo brasileiro, com ênfase nos indígenas. Dividido em cinco partes e 17 capítulos, totalizando 480 páginas, o livro descreve desde a chegada dos europeus ao Brasil, caracterizados como brutos e doentes, até a formação da sociedade colonial, marcada pela mestiçagem e pela divisão em classes. O autor destaca a guerra biológica provocada pelas doenças trazidas pelos europeus, que resultaram na morte de milhares de indígenas. Apesar das adversidades, a obra ressalta a capacidade de resistência e adaptação dos povos nativos, que contribuíram para a formação do Brasil como nação.


O cunhadismo é uma instituição social que possibilitou a formação do povo brasileiro, incorporando estranhos à comunidade indígena. O sistema de parentesco classificatório dos índios permitia que todos fossem relacionados uns com os outros. Os europeus que chegaram à costa puderam estabelecer muitos casamentos do tipo cunhadismo, sendo recrutados para a colônia indígena. Esse sistema também foi utilizado para fazer prisioneiros de guerra que poderiam ser resgatados em troca de mercadorias. Os índios ficavam encantados com as riquezas europeias e aproveitavam os casamentos para obter essas coisas valiosas.


O cunhadismo desempenhou um papel fundamental na formação da população mestiça no Brasil. Com base nessa prática, foram criadas populações mestiças. Os índios adotaram costumes dos europeus, como o uso de joias, participação em rituais e o aprendizado da língua e cultura europeias. Eles também trabalhavam na agricultura e realizavam trocas comerciais.


Com o estabelecimento do regime das donatarias pela coroa portuguesa, a economia colonial cresceu significativamente. O sistema das donatarias foi implantado, trazendo os primeiros cabeças de gado e mudas de cana. No entanto, surgiram várias dificuldades à medida que a sociedade crescia, especialmente a hostilidade indígena.


O primeiro governador chegou ao Brasil em 1549, trazendo consigo civis, militares, soldados, artesãos e jesuítas. Em 1550, vários indivíduos se descreveram como "moços perdidos, ladrões e maus, que aqui chamam de patifes" chegaram à Bahia. A convivência igualitária do cunhadismo deu lugar a uma comunidade mais disciplinada e religiosa. Os pastores tentaram controlar os índios que mantinham relações sexuais com as índias e enforcaram alguns deles.


Os registros mostram que o número de escravos indígenas trabalhando para os donatários começou a aumentar. A escravidão indígena prevaleceu ao longo do primeiro século, até ser superada pela escravidão negra no século XIX.


Muitos indígenas foram incorporados à sociedade colonial para trabalhar até a morte como escravos. As mulheres indígenas trabalhavam na agricultura junto com as crianças. Embora os atos administrativos proibissem explicitamente o cativeiro, os indígenas podiam ser escravizados se fossem capturados ou aprisionados.


O domínio português se expandiu graças aos brasilíndios ou mamelucos, que eram filhos de pais brancos e mães indígenas. Os mamelucos eram especialmente comuns em São Paulo. Eles alcançaram prosperidade através da pobreza e foram os principais responsáveis pelo progresso dos paulistas. Os brasilíndios foram rotulados de "mamelucos" pelos jesuítas, que ficaram horrorizados com suas atitudes brutais. Eles eram considerados heróis civilizadores, mas também impuseram a dominação sobre os índios. Os mamelucos serviam como força de trabalho e enfatizavam a brutalidade selvagem.


Graças ao cunhadismo, uma nova identidade étnica foi criada, que não era mais indígena ou europeia, mas brasileira. Os neobrasileiros se desenvolveram e adotaram inovações socioculturais e tecnológicas. Eles se tornaram uma comunidade étnica integrada na economia global.


Embora fossem autossuficientes em muitos aspectos, ainda dependiam de certos artigos importados, como instrumentos de metal, sal e pólvora. Eles já não viviam isolados como os indígenas e se voltavam cada vez mais para o comércio.


O idioma Tupi era amplamente utilizado pelos neobrasileiros até o século XVIII. Ele se espalhou mais do que o português como língua da civilização. A substituição do Tupi pelo português só foi concluída no século XVIII.


O processo de formação dos povos americanos tem suas peculiaridades, com alguns progredindo rapidamente na revolução industrial, enquanto outros lutavam para se modernizar. O Brasil era conhecido como "pau-de-tinta" e os habitantes eram chamados de brasileiros. Os primeiros brasileiros conscientes de sua identidade eram os mamelucos, mestiços de brasilíndios que não se identificavam com seus ancestrais indígenas.


No século XVIII, o Brasil tinha uma população de cerca de 500 mil habitantes, sendo 200 mil indígenas integrados na colônia. Os negros, concentrados nos engenhos de açúcar e mineração, somavam 150 mil. Os brancos eram os restantes 150 mil. A economia era dominada pela produção açucareira e pelo gado. Os brancos colonizadores aumentavam através da multiplicação de mestiços e mulatos. Os negros também aumentavam, graças à importação massiva de escravos.



A contribuição cultural dos negros na formação da cultura brasileira foi limitada. Eles foram trazidos principalmente como força de trabalho para a produção de açúcar. A violência e o racismo são duas das piores heranças brasileiras. Os neobrasileiros atingiram um estágio em que podiam se livrar de suas identidades anteriores e se identificar como brasileiros. Eles se tornaram uma comunidade étnica integrada na economia mundial.


A revolta dos Cabanos era de teor classicista e também incluía conflitos interétnicos. O mesmo ocorria na de Palmares, onde a luta étnica se tornava hegemônica. Já a revolta de Canudos tinha três ordens de conflito: classicista, racial e religiosa. Os conflitos interétnicos sempre existiram, com as tribos indígenas se opondo umas às outras. Porém, esses conflitos não tinham consequências significativas. Muitas vezes, as lutas ocorriam porque os brasileiros capturavam índios para serem usados como escravos, e os próprios escravos se rebelavam, preferindo a morte.


A guerra dos Cabanos, que tinha um caráter genocida, visava eliminar as populações caboclas e é o exemplo mais claro de enfrentamento interétnico.


Outro motivo para os conflitos é o racial, com as três principais matrizes da sociedade brasileira se opondo umas às outras, com preconceitos raciais. Desde a chegada dos primeiros africanos no Brasil, eles lutam por igualdade racial, pois são constantemente oprimidos e não integrados ao resto do mundo. O terceiro motivo para as guerras são as classes sociais, com os brancos privilegiados e proprietários enfrentando os trabalhadores negros.


No Brasil, quatro formas de ação empresarial foram implantadas: a empresa escravista baseada na produção de açúcar e mineração de ouro com mão de obra africana; a empresa comunitária jesuítica com mão de obra indígena; e a multiplicidade de microempresas que produziam alimentos e criavam gado. Essas três formas de organização garantiam o sucesso do empreendimento colonial português nos trópicos e atuaram na formação do povo brasileiro.


As primeiras cidades a surgirem foram Lisboa e Bahia, seguidas pelo Rio de Janeiro, João Pessoa, São Luís, Cabo Frio, Belém, Olinda, São Paulo, Mariana e Oeiras. Essas cidades eram centros de dominação colonial criados pela Coroa para proteger toda a costa brasileira. A classe alta era composta por funcionários, militares, sacerdotes e negociantes e era considerada inferior em relação aos senhores rurais. A camada intermediária era composta por brancos e mestiços livres.


O crescimento dos centros urbanos levou ao desenvolvimento de uma burocracia civil e eclesiástica de alta hierarquia e a um comércio rico e autônomo. A economia extrativista criou pontos de exportação de borracha na Amazônia e várias vilas e cidades auxiliares. A industrialização e urbanização são processos complementares e associados, com a industrialização oferecendo empregos urbanos para a população rural.


No Brasil, processos como o monopólio da terra e a monocultura expulsaram a população do campo, fazendo com que as cidades crescessem e a agricultura se tornasse mais produtiva. Assim, o Brasil se tornou uma nação urbana, com a população encontrando soluções para seus próprios problemas, como a construção de favelas.


No Brasil, as classes ricas e pobres se separam por distâncias sociais e culturais, semelhantes às que separam povos distintos. Essas diferenças sociais são marcadas pela indiferença das classes dominantes em relação aos pobres. A falta de igualdade racial no Brasil pode ser explicada pela preferência por indivíduos mestiços europeus, que têm uma aparência mais clara. Isso também explica a discrepância entre brancos e negros no crescimento populacional, com os brancos crescendo mais. Essa separação entre brancos e negros é principalmente de natureza social.


Estima-se que cerca de 5 milhões de imigrantes europeus tenham se integrado à população brasileira no último século. A força de trabalho escrava foi uma grande preocupação para os portugueses no passado, pois era usada exclusivamente para fins comerciais e acabava se esgotando na produção.

A transição do padrão tradicional para o padrão moderno ocorre em diferentes ritmos em cada região, mas mesmo as mais progressistas são reduzidas a uma modernização reflexa. Tanto as populações rurais quanto as urbanas marginalizadas enfrentam resistência, principalmente social.


A resistência à Revolução Industrial e a sua lenta implementação não estão no povo ou em sua cultura arcaica, mas sim na resistência das classes dominantes. A transfiguração étnica é o processo pelo qual os povos nascem, se transformam e desaparecem como entidades culturais. Isso ocorre através de instâncias como a biótica, a ecológica, a econômica e a psicocultural, que podem levar ao extermínio de populações. Um exemplo disso é o desaparecimento dos povos indígenas devido à perda de vontade de viver.


O Brasil sulino é marcado por sua heterogeneidade cultural em comparação com as outras áreas culturais brasileiras. Suas características principais são o primitivismo de sua tecnologia adaptativa, essencialmente indígena, conservada e transmitida ao longo dos séculos. As comunidades vivem em torno dos centros de autoridade real e do comércio, tendo sua própria indiada cativa ou dependente. O crescimento do sistema de reduções limita as perspectivas de riqueza dos colonizadores. 


Já o Brasil sertanejo é uma vasta região de vegetação rala, cercada pela floresta atlântica e amazônica, com pastos naturais secos e arbustos enfezados. Essa área é habitada pela população sertaneja, especializada em pastoreio e com traços culturais específicos relacionados ao seu modo de vida, organização familiar, estruturação do poder e vestimenta típica.


O Brasil caipira, por sua vez, é marcado pela pobreza econômica. A falta de grandes engenhos de açúcar e escravaria negra e a escassez de navios que chegavam à região de São Vicente levaram a uma condição de pobreza que levava a população a se envolver em tarefas desesperadas e propensas ao saque, ao invés da produção. No Brasil crioulo, a sociedade brasileira nasce em torno do complexo econômico do açúcar, com sua grande empresa agroindustrial exportadora. Essa região é caracterizada pela extensão latifundiária, monocultura intensiva, grande concentração de mão de obra e diversificação interna em especializações. O alto custo de investimento financeiro, a destinação externa da produção e a dependência da força de trabalho escravo são características importantes dessa região.


Esses são os principais modos de ser dos brasileiros, cada um com suas particularidades e características únicas.




O Brasil foi regido primeiramente como uma feitoria escravista, tropical, habitada por índios nativos e negros importados. Depois, como um consulado, no qual um povo sublusitano, mestiçado de sangues afros e índios, vivia o destino de um proletariado externo dentro de uma possessão estrangeira. Isso tudo acabaria gerando um sistema econômico acionado por um ritmo acelerado de produção do que o mercado externo dela exigia, com base numa força de trabalho afundada no atraso grande, porque nenhuma atenção se dava à produção e reprodução das suas condições de existência. Todos esses mulatos e caboclos, envolvidos pela língua portuguesa, pela visão do mundo, foram plasmando a etnia brasileira e promovendo, simultaneamente, sua integração, na forma de um Estado Nação. Tal atitude desses imigrantes é de desprezo e incompreensão. Sua tendência é considerar que os brasileiros pobres são responsáveis por sua pobreza e de que o fator racial é que afunda na miséria os descendentes dos índios e dos negros. No Brasil, apesar da multiplicidade de origens raciais e étnicas da população, não se encontram tais contingentes esquivos e separatistas dispostos a se organizar em quistos. Falam muito da preguiça brasileira, atribuída tanto ao índio indolente, como ao negro fujão e até às classes dominantes viciosas. No caso da África, ela contrasta com o Brasil pois vive ainda sua europeização, seguida de sua própria liderança libertária. Atualmente, o Brasil deveria dominar as tecnologias da futura civilização para ser uma potência econômica de auto sustentação e independer de terceiros para progredir. Nós vivemos e um contexto no qual refletimos sobre a importância da nação brasileira passada e a maneira que o povo que lá residia viveu e contribuiu para a nossa sociedade atual. Pouco se fala de toda a luta que os indígenas passaram quando os europeus aqui chegaram e os trataram como animais e escravos. Assim, Darcy Ribeiro mostra o seu olhar sobre os europeus e índios, explicitando a maneira que sobreviviam aqui, os males e os bens que os europeus causaram e trouxeram (como doenças, mas também como armas, conhecimento, tecnologia). E isso tudo fez com que a sociedade primitiva fosse se civilizando e se capitalizando. Ele mostra a formação da língua originada no Tupi e mostra os traços deixados ao nosso português atual. É possível observar, também como as mulheres eram subordinadas aos homens e isso é refletido na nossa sociedade atual na qual algumas pessoas ainda possuem esse pensamento e inferiorizam as mulheres. O mesmo vale para os negros, pois os escravos naquela época eram negros, vindos da África, então há ainda um grande preconceito racial nos dias atuais, associado os negros e escravos e pobres, infelizmente. Um ponto interessante da obra, que chamou minha atenção foi o cunhadismo, no qual foi a origem de tamanha diversidade que existe das pessoas no Brasil e as diversas mestiçagens que aqui encontramos. Não é atoa que o Brasil é considerado o país com a maior diversidade no mundo. A obra, felizmente conseguiu trazer aspectos que captam o leitor na leitura, fazendo-o querer entender cada vez mais sobre sua nação brasileira e sentir-se orgulhoso do país em que reside. 


O autor cita os diferentes brasis, nos quais pode-se observar diferentes criações ao Brasil, uma vez que um provém da agricultura, mostrando as terras e o cultivo, o outro o caipira mostrando a pobreza, etc. Assim, a ideia de que o Brasil possui tamanha diversificação é mais comprovada ainda. É citado também como o Brasil é visto como preguiçoso e por isso possivelmente não teria a capacidade de evoluir tecnologicamente. Contudo, devo dizer que o Brasil se encontra perto de se tornar uma potencia econômica pois após tudo o que já passou, com tantas interações com Portugal e a Europa em geral, é possível ainda que sejamos uma grande potencia e que não tenhamos mais que depender de outras do tipo Estados Unidos. Nenhum outro país possuí o que nós, brasileiros possuímos, ou seja, um contexto histórico meramente diversificado, com tantas lutas, miscigenações, criações e junção de povos aliados, o surgimento de novas nações a partir de interações com povos externos que invadiram o território. Nossa história deve ser reconhecida no mundo todo pois é dela que nós da atualidade saímos e devemos agradecer. O livro, assim, conseguiu mostrar de maneira clara tamanha importância que o Brasil possui no resto do mundo e que não tivemos um passado tranquilo e calmo, fomos sempre aprendendo com os dias que passaram, até chegarmos hoje, no jeitinho brasileiro de ser.

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