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[RESENHA #953] A Deusa Tríplice: Em busca do Feminino Arquetípico, de Adam McLean

A Deusa é um dos arquétipos mais eternos da psique humana. Ela sempre está ao nosso lado, mesmo quando desprezada, reprimida ou negada exteriormente como em nosso mundo atual.

Este livro é um valioso recurso para quem se interessa pela natureza do Feminino Sagrado que reside dentro de nós.

Ele descreve e examina a estrutura da Deusa Tríplice e mostra como, mediante o relacionamento com esse arquétipo, as mulheres (bem como os homens) podem vencer e compensar a tendência interior de dualismo alinhando suas energias dentro de si, por meio da unificação com os três aspectos do ser: corpo, alma e espírito. O autor Adam Mclean apresenta também uma visão inédita das várias deusas da Antiguidade.

RESENHA


Um arquétipo feminino é uma imagem simbólica que representa um aspecto da essência feminina, como a donzela, a mãe, a feiticeira ou a anciã. Essas imagens são parte do inconsciente coletivo, que é um reservatório de experiências e memórias compartilhadas pela humanidade. Os arquétipos femininos podem ajudar as mulheres a se reconhecerem, se expressarem e se fortalecerem em diferentes fases da vida. Eles também podem ser usados para criar personagens e histórias que reflitam a diversidade e a complexidade da feminilidade. Os arquétipos fazem parte da história da humanidade, como podemos observar em pinturas rupestres, restos mortais ou documentações históricas. Algumas das histórias dos arquétipos mais conhecidas são:

A Grande Mãe: Uma história que representa esse arquétipo é a de Deméter, a deusa grega da agricultura e da fertilidade, que perde sua filha Perséfone para o deus do submundo, Hades. Deméter fica tão triste e desesperada que faz com que a terra se torne estéril e fria, até que consiga recuperar sua filha por uma parte do ano. Essa história simboliza o amor maternal, o ciclo da vida e da morte, e a relação entre a natureza e a humanidade.

A Mulher Selvagem: Uma história que representa esse arquétipo é a de Lilith, a primeira mulher criada por Deus na tradição judaica, que se recusa a se submeter a Adão e foge do Paraíso. Lilith é considerada a mãe dos demônios, uma sedutora e uma rebelde, que desafia a autoridade patriarcal e busca sua liberdade e independência. Essa história simboliza o aspecto selvagem, instintivo e natural da mulher, que não se conforma com as normas sociais e busca sua própria essência.

A Esposa: Uma história que representa esse arquétipo é a de Penélope, a esposa fiel de Ulisses na Odisseia, que espera por seu marido por 20 anos, enquanto ele vive suas aventuras pelo mundo. Penélope é assediada por vários pretendentes, mas ela os engana com sua astúcia, tecendo e destecendo uma mortalha para seu sogro, prometendo que escolherá um deles quando terminar. Penélope é a personificação da lealdade, da paciência, da inteligência e da devoção conjugal.

O livro A Deusa Tríplice: Em busca do Arquétipo Feminino, de Adam McLean, é uma obra que explora a estrutura interna da Deusa Tríplice e mostra como, ao se relacionar com esse arquétipo, é possível superar e redimir a tendência interna ao dualismo. O autor oferece insights originais sobre a natureza da Deusa Tríplice e descreve várias formas de trabalhar com sua mitologia e simbolismo. O livro é um panorama único das diversas Deusas da antiguidade e se apresenta como um recurso valioso para quem se interessa pela natureza do Feminino.

O livro é dividido em três partes, correspondentes às três faces da Deusa Tríplice: a Virgem, a Mãe e a Anciã. Essas divisões não são claras, pois as narrativas ocorrem de forma linear, não dependendo de uma divisão em capítulos ou uma introdução elaborada. Em cada parte, o autor analisa os aspectos psicológicos, espirituais e simbólicos dessas faces, bem como suas manifestações nas diferentes culturas e tradições. O autor também apresenta exercícios práticos para se conectar com a energia da Deusa Tríplice e integrá-la na vida cotidiana.

O livro é escrito em um estilo claro e acessível, com referências a fontes primárias e secundárias. O autor demonstra um amplo conhecimento sobre o tema e uma abordagem respeitosa e sensível ao Feminino. O livro é recomendado para quem busca uma compreensão mais profunda e holística da Deusa Tríplice e de seu papel na psique humana.

Na primeira parte, o autor explora a face da Virgem da Deusa Tríplice, que representa a potencialidade, a criatividade e a inspiração. Ele cita o mito grego da criação, onde a Deusa surge do Caos e dá origem ao Cosmos. Ele também discute o papel das Musas, das Graças e das Moiras como expressões da Virgem.

Na segunda parte, o autor se dedica à face da Mãe da Deusa Tríplice, que simboliza a fertilidade, a abundância e a proteção. Ele analisa o mito de Deméter e Perséfone, que mostra a relação entre a Mãe e a filha, bem como o ciclo das estações. Ele também aborda o tema da dualidade entre a Mãe e a esposa, exemplificado pela rivalidade entre Hera e Zeus.

Na terceira parte, o autor se concentra na face da Anciã da Deusa Tríplice, que expressa a sabedoria, a transformação e a transcendência. Ele descreve o mito do Julgamento de Páris, que envolve as três Deusas: Atena, Afrodite e Hera. Ele também fala sobre o papel de Hécate, a guardiã dos mistérios, e das Erínias, as vingadoras do sangue.

Muitas religiões e caminhos espirituais neopagãos veneram a Deusa Tríplice, uma divindade ou um arquétipo que tem três faces ou aspectos diferentes em uma só entidade. Essas faces são a Donzela, a Mãe e a Anciã, que representam cada uma um momento diferente do ciclo feminino e uma etapa da Lua, e que dominam cada uma um dos domínios do céu, da terra e do inferno. 

A Deusa Tríplice: Em busca do Feminino Arquetípico, de Adam McLean, é um livro que explora a riqueza e a diversidade do arquétipo da deusa em suas três manifestações: a Donzela, a Mãe e a Anciã. O autor, um renomado pesquisador do simbolismo espiritual das tradições do Ocidente, apresenta uma visão inédita das várias deusas da Antiguidade, mostrando como elas expressam os diferentes aspectos da essência feminina, associados às fases da lua, aos ciclos da vida e aos reinos cósmicos. O livro é um valioso recurso para quem se interessa pela natureza do Feminino Sagrado que reside dentro de nós, e que pode nos ajudar a superar o dualismo que nos fragmenta e nos afasta de nossa verdadeira identidade. Por meio do relacionamento com o arquétipo da deusa, as mulheres (bem como os homens) podem alinhar suas energias dentro de si, por meio da unificação com os três aspectos do ser: corpo, alma e espírito. O livro é uma obra inspiradora, profunda e iluminadora, que nos convida a redescobrir e a celebrar a deusa que habita em cada um de nós.

[RESENHA #611] Maomé, o transformador do mundo, de Mohamad Jebara


APRESENTAÇÃO

Esta é uma biografia acessível e nova do fundador do islamismo. Nela, o estudioso Mohamad Jebara reúne detalhes há muito conhecidos dos eruditos muçulmanos, mas inacessíveis ao grande público e no traz a envolvente história de Maomé. A narrativa de seu dramático nascimento, do episódio em que quase foi sequestrado e escravizado, e do complô para assassiná-lo mostra como ele se transformou em um homem incansável no cumprimento de sua missão. O autor também insere a vida de Maomé em um contexto histórico mais amplo, detalhando como era a sociedade de Meca, onde o profeta nasceu, e demonstrando assim que sua visão inovadora ajudou a moldar o mundo moderno.

RESENHA

Maomé, o transformador do mundo, é, antes de mais nada, uma biografia acessível, sobre o profeta fundador do Islã, traçando seu desenvolvimento de órfão a líder político e fornecendo insights sobre sua vida e gostos pessoais. Diferente de outras obras a respeito de líderes religiosos, esta, baseia-se, sobretudo, na humanidade do profeta e suas preocupações, traços típicos de uma visão de um futuro líder.

Numa cena comovente, um menino de seis anos chora nos braços de sua mãe enquanto ela sussurra suas últimas palavras de encorajamento: “Muhammad, seja um transformador do mundo!” Numa sociedade tribal que teme a mudança, o menino se vê órfão e enfrenta enormes obstáculos para liberar seu próprio potencial e inspirar outros a fazerem o mesmo.

Mohamad Jebara traz à vida a história pessoal emocionante do profeta fundador do Islã, combinando detalhes há muito conhecidos pelos estudiosos muçulmanos, mas que permaneciam inacessíveis ao público. Desde seu nascimento dramático até sua fuga de um sequestro quase fatal, Muhammad se revela como um homem implacável em uma missão. Ao seu redor, encontramos mulheres dinâmicas que o nutrem, mentores judeus e cristãos que o inspiram, e indivíduos escravizados que ele ajuda a libertar, impulsionando assim o seu movimento. Jebara situa a vida de Muhammad num contexto histórico mais amplo, trazendo à vida vividamente a sociedade de Meca em que ele nasceu. O autor argumenta que a visão inovadora de Muhammad desempenhou um papel fundamental na formação do nosso mundo moderno.

Um livro notável, escrito com vivacidade e beleza, que consegue inspirar e, ao mesmo tempo, fornecer uma pesquisa cuidadosa. Os leitores ficarão encantados com a forma como Jebara retrata os numerosos atos inspiradores e muitas vezes negligenciados do Profeta Muhammad em serviço à humanidade — como empresário, filósofo, estadista, marido, humanitário e pai, entre outras funções. O autor mergulha profundamente na vida e nos feitos de Muhammad, trazendo detalhes fascinantes e pouco conhecidos sobre sua jornada. Jebara destaca o impacto transformador que o Profeta teve em várias esferas da sociedade, desde suas habilidades como empresário e líder político até sua dedicação ao bem-estar dos mais vulneráveis.

Ao longo do livro, o autor apresenta uma visão abrangente e equilibrada de Muhammad, revelando sua humanidade e suas virtudes admiráveis. Jebara destaca como o Profeta Muhammad foi um exemplo de compaixão, justiça e empatia, e como suas ações moldaram positivamente o mundo ao seu redor.

Mediante um estudo esclarecedor, o autor narra a vida de Maomé como uma jornada incessante em busca de conhecimento, que ele utilizou para iniciar um movimento cívico e construir uma nação fundamentada na igualdade de direitos e na inclusão de todas as pessoas, independentemente de raça, classe, gênero ou fé. Maomé guiou seus seguidores para longe da opressão dos menos privilegiados e trabalhou incansavelmente para erradicar a corrupção e a exploração. Ele defendeu a libertação dos escravos, tratando-os como iguais, e promoveu o empoderamento das mulheres em todos os aspectos da sociedade.

Após o início das revelações divinas, Maomé encontrou apoio em sua primeira esposa, Khadijah, para superar seus medos e dúvidas sobre sua capacidade de mudar o mundo. À medida que compreendia sua missão como profeta, ele cultivou uma mentalidade de total envolvimento com a mensagem confiada por Allah. Maomé visou guiar as pessoas para sair da estagnação, convidando seus seguidores a abandonarem a ignorância e a arrogância, abrindo seus corações e expandindo suas mentes por uma busca constante pelo conhecimento. Sua vida foi o exemplo máximo de jihad: uma luta pessoal para superar adversidades e vencer suas próprias limitações, abandonando qualquer impulso de prejudicar os outros.

Jebara também destaca como a beleza e a engenhosidade do Alcorão podem ser apreciadas através da compreensão dos diversos nomes dados a Deus, tornando-O uma entidade vibrante e multidimensional, uma presença misericordiosa e compassiva que busca sempre inspirar ações benevolentes na humanidade. Muhammad não apenas compartilhou o poder transformador do Alcorão, mas também demonstrou como cultivar a mensagem de paz e compaixão do Alcorão em um relacionamento ativo com o Divino. Jebara permite aos leitores ver como o Alcorão funcionou como uma série contínua e colaborativa de encontros que desencadearam mudanças em Maomé, que então se envolveu com a mensagem de Deus para guiar seus seguidores a desbloquearem suas próprias possibilidades de crescimento e aprimoramento.

Um livro encantador acerca da vida de um homem admirável, em uma linguagem clara e acessível, um presente para todos os leitores e devotos do Islã.

O AUTOR

Mohamad Jebara é um filólogo bíblico e exegeta proeminente conhecido por seu estilo oratório eloquente, bem como por seus esforços para unir divisões culturais e religiosas. Semanticista e historiador das culturas semíticas, ele serviu como Imã Chefe e também como diretor de várias academias de língua corânica e árabe. Jebara deu palestras para diversos públicos em todo o mundo; informou os decisores políticos seniores; e publicado em jornais e revistas de destaque. Uma voz respeitada nos estudos islâmicos, Jebara defende uma mudança social positiva.

[RESENHA #573] Meu nome é Selma, de Selma Van de Perre



APRESENTAÇÃO

A autobiografia de uma judia, disfarçada de ariana que sobreviveu às atrocidades da Segunda Guerra e combateu um dos regimes mais autoritários da nossa história. Mas, não espere uma biografia qualquer, a autora Selma van de Perre revela com firmeza - e também delicadeza - como saiu viva de Ravensbruck, na Holanda. As palavras de Selma são repletas de esperança e coragem. Ela tinha 17 anos quando foi deflagrada a Segunda Guerra Mundial. Até aquele momento, ser judia na Holanda não era algo digno de nota. Já em 1941, era questão de vida ou morte. Ela se juntou ao movimento de Resistência e assumiu uma identidade falsa para se passar por ariana. Usando o nome “Marga”, Selma fez “o que foi preciso” para combater o regime nazista. Mas, em 1944, sua sorte acabou, e ela foi levada como prisioneira política para o campo de concentração de Ravensbrück. Hoje, prestes a completar cem anos, ela continua sendo uma força da natureza.

RESENHA

A extraordinária biografia de uma combatente da resistência judaica holandesa e sobrevivente do campo de concentração de Revensbruck. 

Quando o exército do terceiro reich invadiu a Holanda em 1940, Selma, uma estudante de apenas dezoito anos, viu sua vida mudar da noite para o dia com a perseguição sistemática do povo judeu. Afastados e despojados de seus bens, trabalho, educação e vida cívica, o povo judeu holandês se viu perseguido pela Gestapo, pela policia colaborativa, pelos delatores e pelos milhares de aliados. Enviados para o campo de extermínio de Ravensbruck. Começava ali, um início do cenário de horror inimaginada.

Ravensbrück é uma cidade no nordeste da Alemanha, isolada, mas facilmente acessível a partir de Berlim. Os primeiros prisioneiros chegaram em 18 de maio de 1939. Havia cerca de 132.000 mulheres e crianças trancadas no campo de concentração, 92.000 das quais morreram de fome, doenças e execuções. [p.100]

Selma conseguiu fugir da perseguição por um tempo, adotando um nome diferente (Marga), agindo clandestinamente entre Holanda, Bélgica e França, falsificando documentos, abrigando centenas de judeus expatriados, até que foi presa em 1944 e enviada para o campo de extermínio Ravensbruck, ela conseguiu manter-se viva até o dia de sua libertação sob o uso de um pseudônimo, o que não ocorreu da mesma forma que seus pais e irmãos que acabaram sendo mortos no campo.

Nada em nossos rostos denuncia o que estava por vir nos próximos três anos: as mortes de meu pai, minha mãe e Clara, minha avó, tia Sara, seu marido Arie e seus dois filhos, e muitos outros membros da família, não por causas naturais ou um acidente, mas das atrocidades que se espalhavam na Europa na época da foto e logo chegariam também à Holanda. [p.11]

O livro foi escrito por Selma no auge de seus 98 anos de idade, suas descrições acerca dos ocorridos, da infância e de todo processo de expatriação são incrivelmente profundos e tocantes. Assim como toda grande catarse, a obra desenvolve primeiramente na narrativa acerca da infância e vida com a família, uma grande e amorosa família e seus desdobramentos até o dia de sua remoção social até o campo de extermínio. 

[...] . É uma imagem banal de uma família normal; estamos passando uma tarde agradável, curtindo o jardim e a companhia um do outro. Uma imagem de como deve ser o tempo gasto com os membros da família: amoroso, seguro, agradável, previsível. (grifos meus) [p.11]

Selma narra que o processo de expatriação ocorreu de forma gradativa, os oficiais retiravam aos poucos os seus poderes sociais e sua participação política, bem como limitavam seus ganhos, participação pública e empresas.

No ano seguinte, em maio de 1942, além de documentos valiosos, também tivemos que entregar todos os nossos bens, e um dos escritórios do banco tornou-se depósito de nossas mercadorias. Era preciso depositar obras de arte, joias e móveis, além de objetos mais cotidianos como louças e bicicletas: enfim, tudo que pudesse render renda aos nazistas. Nada era muito insignificante; até as colheres de chá foram confiscadas.  [p.37]

Em 1942, o governo iniciou a divisão dos povos que futuramente seriam levados aos campos de concentração, marcando-os obrigatoriamente com marcas que pudesse tornar fácil a identificação de um grupo específico, para os judeus, todos os documentos de identidade foram carimbados com um J, enquanto eram obrigados à costurar em suas vestes a estrela de Davi no alto do peito, nascia ali, o começo do fim de uma população.

Em 23 de janeiro de 1942, os judeus foram carimbados com um grande "J" em seus documentos de identidade, que serviam para distingui-los do resto da população. Em 3 de maio, todos os judeus com seis anos ou mais receberam a ordem de usar uma estrela de Davi amarela com a palavra Jood, "judeu". A estrela tinha que ser costurada em nossas roupas na altura do peito, para que fôssemos facilmente reconhecíveis. Foi um momento terrível: percebemos o quanto éramos estigmatizados. [pag.37]

A autora descreve que a situação tornou-se cada vez mais sombria. Em 1942, exatos setecentos judeus foram detidos em Amsterdã e, no dia seguinte, transportes para o campo de trânsito de Westerbork, com destino final em Auschwitz, na Polônia ocupados por alemães.

A partir deste ponto, Selma narra todo seu medo, anseio e luta durante os anos de cárcere no campo de concentração. Seus relatos são repletos de sofrimento e de uma resiliência inimaginada para alguém de 98 anos descrevendo tais acontecimentos.

A escrita de Selma é honesta e envolvente, transmitindo as emoções vividas durante esse período sombrio da história. Ela nos faz refletir sobre a importância da coragem e da solidariedade em tempos de opressão. Um livro memorável e obrigatório a todo leitor que busca uma compreensão mais assertiva dos eventos da ocupação nazista durante o terceiro reich na Holanda por meio da visão de uma resistente.

[RESENHA #565] Amazonas, abolicionistas e ativistas, de Mikki Kendall e A. D'amico

APRESENTAÇÃO

Esta graphic novel, da escritora, ativista e crítica cultural Mikki Kendall, é uma obra divertida e fascinante que apresenta as principais figuras e acontecimentos que promoveram os direitos das mulheres, desde a Antiguidade até a Era Moderna. Além disso, este interessante livro apresenta as proezas de mulheres notáveis ao longo da história de rainhas e combatentes da liberdade a guerreiras e espiãs , além de citar importantes passagens sobre os movimentos progressistas liderados por mulheres que moldaram a história, entre eles, abolição, sufrágio feminino, trabalho, direitos civis, libertação do grupo LGBTQ+, direitos reprodutivos e muito mais.

RESENHA

A obra amazonas, abolicionistas e ativistas é uma graphic novel (HQ) elaborada por Mikki Kendall com colaboração das ilustrações de A. D'amico, ambas ativistas políticas do universo e das causas feministas e representação midiática. A obra é um fomento necessário à literatura em prol da valorização do poder da mulher na conquista do direito e do feminismo como um movimento pela busca de direito em todas as esferas públicas e privadas, bem como suas iniciativas.

A abertura do livro é um resumo da necessidade real da informação e da publicação de obras como esta: informativas e necessárias. Um grupo de mulheres discute sobre os direitos obtidos pelas mulheres até aquele momento, porém, há uma divergência de ideias que ocorre por meio da ausência de informação. É comum, como na abertura desta obra, encontrar mulheres que não entendem a história das conquistas ou da necessidade de luta por direitos, algumas pessoas que acreditam que naqueles tempos existiam direitos e que a luta era uma causa perdida, outras, banalizam as conquistas se respaldando no fato de que existem muitos outros direitos à serem conquistados, então, porquê não exigi-los em uma única luta? Bom, um degrau de cada vez. A necessidade de se informar é uma mão de fácil e livre acesso nos dias de hoje, e obras como esta, nos fazem abrir nosso consciente para informação e para obtenção de novas respostas, fazendo-nos entender com clareza a real necessidade de ir à luta. É fácil dizer que foi fácil ou em vão quando não se participou de nenhum ato, e mais fácil ainda dizer que foram poucas as conquistas quando mesmo não fazendo nada, todas se beneficiam dos resultados. Conhecimento é a chave para que não se banalizem as lutas e conquistas obtidas.

A luta das mulheres pelos direitos é bastante extensa e histórica, e sua linha cronológica é fomento necessário de acesso à informação, tornando-se indispensável para a compressão da participação da mulher nas esferas públicas e privadas. A obra analisa as principais conquistas das mulheres por meio de uma série de quadrinhos lúdicos e assertivos, abordando tópicos como: os direitos na antiguidade, o poder das rainhas e da representação feminina, escravidão e liberdade, direito ao voto, marcha da igualdade, revolução sexual e feminismo em prática, ou seja, uma obra extensa e necessária.

A lista de direitos obtidos pelas mulheres é extensa, porém, a luta não pode parar, alguns dados históricos à serem mencionados:

1827 – Direito à educação básica
1879 – Direito à educação superior
1910 – Direito à representação política
1932 – Direito ao voto
1962 – Direito ao trabalho
1974 – Direito ao crédito
1977 – Direito ao divórcio
1979 – Direito de jogar futebol
1988 – Direito à igualdade
2002 – Direito à sexualidade
2006 – Direito de defesa
2015 – Direito de reparação



A primeira parte da obra esclarece-nos e nos traz a luz dos primeiros atos revolucionários das mulheres, intitulado direito das mulheres na antiguidade, afinal, faz-se necessário compreender a história pela raiz, para uma compreensão ainda mais genuína e completa acerca de todas as outras lutas que se sucederam. O trabalho da mulher durante os períodos fundamentais são explicados com clareza, um aspecto bastante marcante na obra é a intervenção de uma mulher que se manifesta inferindo que a participação das mulheres era doméstica, conferindo ao homem a tarefa árdua de caçar e prover, porém, as mulheres registravam em pinturas nas cavernas e nas mais variadas áreas o cotidiano, entre outras palavras, o trabalho delas era mais importante que o deles e tornou-se responsável pelas informações que temos atualmente acerca da participação feminina nas sociedades mais rudimentares da sociedade.

A obra é literalmente um ensino de história profunda, aqui, há uma personagem central responsável por explicar toda história dos direitos e das lutas das mulheres para uma série de alunas, todas com suas opiniões e conceitos formados por preconceitos e ausência de informação, porém, a cada ensinamento transmitido, nota-se que todo conhecimento previamente acreditado ser certo, cai por terra, dando entrada ao fomento educacional histórico, moldando e transformando as visões de cada mulher em particular, e este recurso é incrível, pois torna a tarefa de transmitir e ensinar valores e histórias por meio de uma ação pedagógica lúdica de amostra de história por meio de recursos educacionais, tornando a tarefa mais participativa com todos atentos e participando com suas dúvidas e comentários, o que também pode ser adotado por um professor ou até mesmo pelo leitor durante o procedimento de leitura.

Desde os tempos primórdios os homens foram dotados de participações públicas e direitos ilimitados, enquanto a mulher, ocupava um protagonismo secundário, tendo apenas como participação pública aquilo que lhe era inferido pela figura masculina regente, ou seja, o marido ou o pai. Essa limitação de participação é histórica e datada de períodos pré-históricos, e essa análise também é bastante explorada nesta Hq, mostrando-nos como se desenvolveram as sociedades e a vida da mulher no cotidiano. Algumas, obviamente, detinham algum direito, mas todas em áreas específicas da sociedade, não sendo estendidas à todas as outras mulheres, o que ocasionava em uma participação social menor e, consequentemente, menos relevante, uma vez que os direitos estavam nas mãos e no controle dos homens, entre outras palavras, desde a antiguidade o regime que imperava era o patriarcado. 

A obra também enaltece às figuras de mulheres importantes à frente das conquistas das mulheres dentro do feminismo de cada época, mulheres que correram para que todas as outras pudessem caminhar, mulheres que acreditaram que existiam muitos outros direitos e deveres aos quais as mulheres deveriam ter acesso na sociedade, mulheres que impuseram-se diante da opressão do patriarcado estabelecendo uma conexão com todos os outros períodos, para que assim, se tornasse possível e de acesso facilitado a possibilidade de recorrer em seus direitos e exigir participação pública. 

Em síntese, esta obra é um trabalho de desenvolvimento informativo e cultural notável, sua contribuição é o ponto de partida para futuras análises na luta das mulheres, afinal, ela não pode parar. Indicado para leitores apaixonados por hq, história, filosofia e todos os outros fomentos educacionais.

[RESENHA #532] A costureira de Khair Khana, de Gayle Tzemach Lemmon


A costureira de Khair Khana
/ Gayle Tzemach Lemmon; Tradução Carmem Fischer. -- São Paulo: Seoman, 2013

A costureira de Khair Khana, de Gayle Tzemach Lemmon, é uma história poderosa e inspiradora de uma mulher extraordinária que superou todas as adversidades no Afeganistão controlado pelo Talibã. Situado no início dos anos 2000, o livro segue a vida de Kamila Sidiqi, uma jovem que desafiou as restrições do Talibã às mulheres para se tornar uma empresária de sucesso e trazer esperança para sua comunidade.

A história segue Kamila, uma jovem afegã que vive na cidade de Cabul no bairro Khair Khana. Quando seu pai é forçado a fugir para o Paquistão, Kamila é deixada para cuidar de sua família e de sua comunidade. Ela assume a responsabilidade de abrir um negócio de costura, que eventualmente cresce para empregar mais de cem mulheres. Por meio de suas decisões corajosas e trabalho árduo, Kamila é capaz de fornecer a renda necessária para sua família e sua comunidade, ao mesmo tempo em que proporciona um senso de esperança e propósito em meio a um país devastado pela guerra.

Kamila é a protagonista deste livro, mas Malika, sua irmã mais velha, também desempenha um papel fundamental. Seus pais, irmãos, amigos, colegas de trabalho e irmãs mais novas também são personagens importantes. O livro destaca as habilidades e força das mulheres, incluindo a história de uma médica que encontrou uma maneira de praticar medicina em um apartamento durante o duro período ditatorial no Afeganistão.

A família deu ênfase à educação e capacitação de todos os seus membros, dando às meninas liberdade, criatividade e apoio para criar seus próprios negócios. Embora eles operassem em um ambiente tradicional e opressor, eu admiro muito essas meninas e seus pais por escolherem ficar em casa e no seu país, mesmo sob grande risco de perigo e precariedade. Estou esperançosa de que a publicação deste livro não coloque a família em maiores riscos.

Kamila, sua família e outros personagens têm uma fé profunda que afeta suas vidas diárias e também aquelas regras e decisões estabelecidas pelo Talibã. Seu compromisso com suas crenças religiosas e práticas é destacado por Lemmon de forma constante, refletindo a importância desta fé para eles.

Kamila encontrou forças para perseverar sob as duras regras do governo fundamentalista do Talibã, graças à sua fé e estudo do Alcorão. Esta foi uma história encorajadora, que narra a união de uma família que, depois de atender às suas próprias necessidades, sentiu a necessidade de ajudar os outros. Uma leitura verdadeiramente inspiradora.

A narrativa de Lemmon é envolvente e inspiradora, levando os leitores a uma jornada pelas duras realidades da vida no Afeganistão controlado pelo Talibã. O livro é um testemunho poderoso da coragem e resiliência das mulheres diante de dificuldades e opressões inimagináveis. A história de Kamila Sidiqi é verdadeiramente inspiradora e sua coragem e determinação são uma fonte de esperança para as mulheres em todos os lugares.

A costureira de Khair Khana é um lembrete importante e oportuno do poder da coragem e resiliência das mulheres diante da adversidade. É uma leitura cativante e inspiradora que certamente deixará uma impressão duradoura. Altamente recomendado.

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