Maternidade e Poder: O debate de Elisabeth Badinter em 'O conflito'

Foto: Arte digital
 

APRESENTAÇÃO

Um livro que questiona o mito de que toda mulher tem o desejo e o instinto natural de ser mãe. Em O conflito: A mulher e a mãe, a autora reflete e pondera sobre os efeitos e causas da queda acentuada nas taxas de natalidade em todos os países desenvolvidos, o aumento do número de mulheres que não querem ter filhos, o renascimento do discurso naturalista para conquistar as mulheres no seu papel de mães e uma espécie de "ditadura do aleitamento materno". A maternidade agora está carregada de expectativas, restrições, obrigações e Badinter reflete sobre essas mudanças na sociedade de hoje.O conflito vendeu mais de 80.000 exemplares na França. O livro retoma o assunto de O mito do amor materno, que fez estrondoso sucesso na década de 80 e ficou meses em primeiro lugar nas listas dos mais vendidos da Europa, tornando-se um best seller na França. Existe grande interesse da imprensa em entrevistar a autora quando o livro for lançado. "[...] este livro torna urgente o questionamento sobre o lugar da maternidade em nossos dias, mas, sobretudo, afirma a liberdade de cada mulher." ― Márcia Tiburi"Denuncia a tirania da maternidade, que está mandando mulheres de volta para casa." ― L'Express"Um livro pungente." ― Le Point


RESENHA


O estilo de vida da mulher, caracterizado naturalmente pela diferença histórica e social a torna, sobretudo, donas de seu próprio caminho, podendo construir ou derrubar pontes sem pensar muito além do bem-próprio e de suas próprias intuições, independente do local onde se está inserida e o meio ao qual atravessa, claro que isso nem sempre foi assim, e este livro debate essa mudança de perspectiva na vida da mulher, sobretudo, do direito de optar ou não por ser uma profissional qualificada, uma mãe dedicada, uma esposa, ou simplesmente uma mulher solteira com ambições próprias e sem planejamentos concretos derivados de diálogos sociais impostos pela pressão social do ser mãe. Élisabeth Badinter nos lembra que a maternidade, apesar de ser gratificante, não é o único caminho para a realização pessoal. Na França, o modelo iluminista valorizava a emancipação feminina da maternidade, separando a identidade das mulheres desse papel. Atualmente, a ênfase está no desenvolvimento pessoal e na escolha consciente de ter filhos para enriquecer emocionalmente a vida de cada indivíduo. Para Badinter, a sociedade contemporânea é caracterizada pelo hedonismo e individualismo, influenciando as decisões relacionadas à maternidade.


Desde a década de 1970, testemunhamos uma revolução na forma como encaramos a maternidade. Esta transformação coincide com as revoluções sexuais e contraceptivas daquela época. E então, o que passou a ser uma forma natural de ser mãe, advinda do pensamento de que se é natural que toda mulher em idade fértil tenha um filho, Badinter discute sobre as múltiplas perspectivas que se acenderam com o passar dos anos, tornando as mulheres menos propensas à maternidade e elevando assim, a idade 'fértil' das mulheres, fazendo-as focar em relacionamentos saudáveis, vida a dois ou uma vida profissional despreocupada por um tempo sem o peso e responsabilidade da maternidade, o que as leva a desejar ou não ter filhos de forma mais tardia, não mais na casa dos vinte anos, mas agora, dos trinta e cinco aos quarenta, o que em sua maioria, ocorre apenas pela pressão do relógio biológico feminino, temendo então, desta forma, 'se atrasar' para se tornar mãe, embora algumas jamais optem por esta escolha.


A visão da criança e da maternidade foi transformada ao longo dos séculos, passando pela filosofia de Rousseau no século XVIII, pela ideologia natalista do final do século XIX e pelo advento da psicanálise no século XX. Isso fez com que a sociedade criasse um ideal de boa mãe que está sempre próxima e vigilante durante a criação do filho, o que claro, em partes, se perpetua até os dias atuais, e este é, talvez, um dos motivos que norteiam as decisões de mulheres em se tornar mães de forma mais tardia, assim, o filho se tornaria parte de uma vida agitada e vivida, não mais obrigacionista e direcionada unicamente ao desenvolvimento da criança. Essa visão de que toda mãe deve ser 'boa' e presente, trouxe consigo alguns problemas de curto e longo prazo, um deles, claro é o claro abandono da mulher em suas outras obrigações, ou, na maioria das vezes, agindo como um redutor de possibilidades na vida. Se antes a preocupação da criação do filho era uma preocupação social, pois, lidava diretamente com a felicidade da família, da mãe, da sociedade e do bem-estar da criança, hoje as preocupações se transformaram em uma onda de cuidados para o desenvolvimento humano, social e psicológico do individuo.


Tradicionalmente, há uma distinção entre o feminismo igualitário, defendido por Élisabeth Badinter, e o feminismo diferencialista, essencialista e, acima de tudo, naturalista. O autor critica fortemente este último, por ignorar a questão da igualdade de gênero. As mulheres desta corrente enfatizam suas diferenças de identidade e experiências biológicas, celebrando a natureza e qualidades femininas ligadas à maternidade. O naturalismo contemporâneo é influenciado por preocupações ecológicas, com pais cada vez mais interessados em práticas mais naturais, como parto natural e uso de fraldas reutilizáveis. No entanto, a autora critica esse naturalismo contemporâneo, acusando-o de alienar as mulheres. Esse modelo de parentalidade tem ganhado adeptos, especialmente entre as classes mais altas, muitas vezes mulheres qualificadas com alto capital cultural que optam por ficar em casa com os filhos. Isso contrasta com as advertências de Élisabeth Badinter. Embora nem todas as mulheres possam seguir esse modelo, está se tornando cada vez mais presente na sociedade, impactando as mães de maneiras variadas.


Outro problema, ou não, é o favorecimento da política acerca das práticas reprodutivas das mulheres, funcionando como uma válvula catalisadora da economia do país. Embora nem todos os países conseguem, de forma satisfatória, criar quadro de leis e imposições em prol da maternidade, o mesmo não ocorre na França, onde a taxa de natalidade é superior à de outros países da Europa, embora exista o paradoxo, da mãe que trabalhava em tempo integral à mãe que que esta sempre presente no seio da família. O que torna o peso da responsabilidade materna menor, em alguns aspectos, é o papel do Estado na educação do indivíduo, o que, como sabemos, recai totalmente sobre a educação, não sobre a criação recebida pela criança em casa, menos ainda sobre suas faltas psicológicas, problemas emocionais e outros fatores que norteiam o comportamento da criança. 


Neste trabalho, Élisabeth Badinter destaca a persistente contradição enfrentada pelas mulheres em relação à maternidade e ao trabalho. As mães que trabalham são criticadas pelos defensores da família tradicional, enquanto o mundo profissional as censura por terem filhos repetidamente. Embora a maternidade seja considerada a maior conquista das mulheres, ainda é socialmente desvalorizada.


Cada mulher vivencia a maternidade de maneiras distintas, buscando encontrar o equilíbrio entre sua vida pessoal, vida de casal e papel de mãe. Algumas decidem não ter filhos para focar em seu tempo e energia, enquanto outras escolhem ter filhos e abandonar o trabalho para lidar com as responsabilidades familiares.


Em meio a essas diferentes experiências, a maioria das mulheres francesas adota um modelo misto, continuando a trabalhar enquanto criam seus filhos. Elas buscam estratégias para conciliar essas vidas duplas, encontrando soluções para cuidar dos filhos e trabalhar em meio período, se necessário. As mulheres francesas são mulheres emancipadas, que buscam afirmar sua individualidade independentemente da escolha que fazem em relação à maternidade.


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